A jaqueta de couro está me fazendo suar como um porco, e meu cabelo já está embaraçando de novo. Checo meu celular pela vigésima vez esperando seu telefonema, mas parece que Ethan se esqueceu de me levar para o maldito bar. Quando estou prestes a tirar aquela porcaria de jaqueta, a campainha toca.

                - Demorou por quê? Estava fazendo chapinha?- Pergunto ironicamente. Ele revira os olhos e pega uma mecha de meu cabelo.

                - Eu não, mas pelo visto você sim. Gosto mais do seu cabelo ondulado. –Ele comenta, me tirando do sério. Eu simplesmente odeio pessoas opinando sobre meu jeito de ser, de me vestir ou de me portar. Tiro sua mão de meu cabelo e pego minha bolsa, saindo sem olhar em sua cara.

                - Ei! Espera aí! Você pensa que vai para o bar como? Andando? –Ele segura meu braço, me parando bruscamente. –Desculpa pelo comentário do seu cabelo, ta? Eu só estava dando minha opinião. –Ele me da um beijo na bochecha e me leva até sua moto.

                - Quem é esse amigo que tem uma banda? –Pergunto depois que ele me ajuda a subir na moto. Entrega-me meu capacete (eu o obriguei a comprar um capacete para mim. É rosa.) e sobe, ficando em minha frente. Prendo minhas coxas em sua perna e envolvo sua cintura com minhas mãos.

                - É meu melhor amigo. Somos amigos de infância, na verdade. Ele se chama Robbie. Acho que vai gostar dele, mesmo sendo um pouco animado demais e meio hiperativo. –Ele da de ombros e liga a moto.

                A viagem dura mais ou menos vinte minutos. Ethan devia estar bêbado quando visitou o “bar limpo e arrumado” pela última vez, porque o bar que eu via em minha frente era exatamente o oposto de limpo e arrumado. Era pequeno, com uma entrada apertada e desconfortável. Era possível sentir o cheiro de cigarro desde a porta e era barulhento demais. Ele pega minha mão e entramos, para minha infelicidade.

                Escolhemos uma mesa pequena perto do pequeno palco, enquanto um cara gordo me olhava descaradamente. Ethan percebeu o cara logo depois de mim e o olhou mortalmente, fazendo o gordo pular de susto e sair dali. Dou um sorriso um beijo em sua bochecha, que fica vermelha.

                - Ethan?! –Ouço ao longe alguém o chamando. Viro a cabeça instantaneamente e vejo um garoto um tanto bizarro. O cabelo está descolorido e liso, com uma franja maior caindo nos olhos delineados. Ele está com um sorriso enorme nos lábios e um cigarro nas mãos. Olho para Ethan, mas ele não está mais em seu lugar. Na verdade, ele está puxando meu braço e me arrastando para mais perto de quem, eu deduzi ser Robbie.

                - Robbie! Cara, quanto tempo! –Eles estão tão felizes, que eu prefiro não interromper. Dou um sorriso de lado quando eles se abraçam e vejo Robbie olhando para mim de relance. Ele logo se solta do abraço de Ethan e vem correndo em minha direção.

                -Você deve ser a Taylor! Meu Deus, Ethan não para de falar de você desde que te conheceu! Uau, você é mais bonita do que ele tinha descrito por telefone. –Ele me avalia da cabeça aos pés, me deixando vermelha. Dou um sorriso e ponho uma mecha atrás de minha orelha. Ele olha para meu cabelo e sorri. –Gostei do visual. –Ele aponta para a falta de cabelo do lado esquerdo de minha cabeça. Foi onde injetaram as agulhas quando tive o derrame. Para ele pode ser um penteado, mas para mim é uma lembrança terrível. Passo os dedos pela falha e dou um sorriso amigável. Percebo o desconforto de Ethan, que passa o braço por meus ombros, e Robbie também percebe, pois logo muda de assunto.

                - Cara, não acredito que você vai realizar seu sonho! –Ethan me contou que Robbie sempre quis ser cantor e formar uma banda com ele. Meu namorado não precisava nem dizer o porquê de não terem montado uma banda antes. Ethan sempre foi muito envergonhado. Começo a rir quando eles passam a se zoar e brincar entre si. Os dois juntos formam uma bela dupla. Só não sei o que os separou assim...

                - Ethan?! –Uma voz irritante se faz presente. Minha primeira reação é tampar os ouvidos, mas acho isso indelicado e simplesmente olho para o ponto onde a voz se encontra. Lá eu vejo uma menina um pouco mais alta que eu, com o cabelo liso e negro e com pequenas mechas rosa caindo em cascatas pelas costas. Os olhos são de um verde intenso e um deles está sendo tampado pelo cabelo. A maquiagem é no mínimo vulgar e a roupa mais ainda. Ela sai correndo e esbarra em mim, se desculpando (sem olhar em minha cara!). Seus olhos estão fixos em meu Ethan, que está com um sorriso incrédulo na cara. Ela pula em seus braços e ele a gira, que fica rindo igual a uma tapada. Levanto uma sobrancelha em desagrado, e Robbie percebe. Ele coça a nuca e da um sorriso amarelo. Ethan e a garota ainda estão conversando animadamente e parece que estou sobrando lá. Dou um suspiro alto. Com isso, Ethan percebe minha presença e instantaneamente para de falar com a garota. Dou um sorriso cínico e ele pula para meu lado. A garota parece ficar surpresa.

                - Ah, ela está com você? –Ela pergunta para Ethan, apontando aquele dedo nojento em minha direção. Levanto minha sobrancelha novamente e passo o braço em volta de sua cintura.

                - Eu sou a namorada dele. –Digo convicta. Ela arregala os olhos e fica congelada por alguns instantes, mas depois ela abre um sorriso e começa a rir logo em seguida. Ela bate a mão nas costas de Ethan, que também está por fora da graça da garota. Ela segura a barriga e posso jurar que vi uma lágrima no canto de seus olhos. Levanto as sobrancelhas, esperando uma explicação para tudo aquilo. Com o meu olhar, ela para de rir.

                - Desculpa, é que... –Ela ri um pouco mais. –Eu nunca imaginaria o Ethan com uma namorada! Você tem algum problema na cabeça? Como você o aguenta? –Ethan revira os olhos e ela, vendo que ele fica irritado, dá um beijo em sua bochecha. Um beijo! Meu Deus. Se ele não me segurar mais forte, eu juro que acabo com aquela garota.

                - E você, quem é? –Digo fria. Ela para de rir e me olha de cima a baixo. Ela dá um passo em minha direção e analisa meu cabelo.

                - Cabelo legal. Eu estava pensando em cortar assim, mas eu não sou tão louca. –Faço uma careta e ela me olha envergonhada. –Oh, desculpe. –Ela pega uma mecha e começa a analisá-lo. –Sabe o que ficaria legal em você? Azul. Combinaria com teus olhos. –Eu tiro sua mão de meu cabelo e digo que não vou pintar meu cabelo nem hoje e nem nunca. Principalmente de azul!- Ah, respondendo sua pergunta: Sou Georgia, melhor amiga do seu namorado.

                Olho para ele questionadora e ele me explica que antigamente eles eram três: Ethan, Robbie e Georgia. Perguntei do porquê de ele não ter me contado sobre Georgia e ele diz que é por questão de segurança. Os três riem quando ele diz isso, mas eu só cruzo os braços. Eu não sou tão ciumenta! Sentamos-nos na pequena mesa, mas logo Robbie tem que ir, pois sua banda está pronta.

                O resto da noite passa pior do que eu imaginava. Robbie tem a pior voz que você pode imaginar, além de um péssimo gosto musical (eles não têm músicas próprias, por isso fazem cover de outras bandas). Ethan passa a maior parte do tempo relembrando do passado com sua melhor amiga e parece não se lembrar de que estou ao seu lado, com o braço em torno da sua cintura. Ele nem dirige a palavra a mim! Argh, aquela garota está me tirando do sério. Preciso urgentemente relaxar. Saio da mesa, deixando os dois conversando sobre coisas bestas e me dirijo ao bar. Peço uma dose de vodca e tomo de uma vez, fazendo minha garganta arder e eu tossir um pouco. Ainda não fez efeito algum, por isso peço mais uma, duas, três. Depois da quarta, já estou um pouco zonza e minha cabeça mais leve. Aquela sensação de achar graça em tudo, aquele preenchimento. É uma sensação boa.

                Eu não quero mais ouvir aquele papo meloso dos dois. Não quero mais ficar perto de Ethan. Estou brava com ele. Por isso, decido que não vou voltar para mesa. Na verdade, eu saio cambaleando do bar, em direção ao nada. A noite está mais fria e uma brisa gelada sopre de vez em quando, fazendo meus pelos se arrepiarem. O salto está machucando um pouco, por isso o tiro, jogando-o longe. O chão cimentado causa cócegas na sola de meus pés, mas mesmo assim não paro de andar. A visão está turva e embaçada, e meu estômago está embrulhado.

                E se Ethan me trocar? E se ele preferir a melhor amiga dele? Afinal, eles devem ter muito mais em comum, não é? Ela também é bem mais bonita que eu... Com aquele cabelo liso... Ah, meu Deus. Ele vai se apaixonar por ela! Ela vai roubá-lo de mim! Eu tenho que... Tenho que voltar. Começo a correr de volta, com lágrimas nos olhos, mas como estou tonta, as lágrimas só atrapalham e caio no chão, batendo a boca. Não consigo me levantar. Está tudo girando.

                - Taylor?!- Ouço ao longe. Dou uma fungada e tento levantar a cabeça, mas não consigo. Sinto seus braços ao meu redor, e o calor me envolver como um manto. Solto um suspiro de alívio e começo a acariciar seu braço. Dou um sorriso.

                - Ethan..? –Arrasto minha voz. Ele responde dizendo quês estou segura. –Promete que não vai me largar por aquela vaca com mecha? –Ele solta uma risada e ouço um “ei!” de protesto do meu lado direito. Viro um pouco a cabeça e vejo a vadia andando ao meu lado.

                - Eu o ajudei a te salvar, ouviu?! –Ela diz nervosa. Ops. Dou um sorriso, mas logo o tiro da cara quando aquele enjoo de antes começa a aumentar. –Ethan! –Georgia grita, mas é tarde demais. Eu vomito em sua jaqueta. Ele dá um grito e por pouco me solta. Dou uma risada, porque a sua cara de nojo misturado com surpresa está extremamente hilária.

                - Por que você fez isso, Taylor? –Ele pergunta irritado. Ele fica tão lindo irritado...

                - Por que eu bebi. –Digo pausadamente. Dou um sorriso, mas ele revira os olhos.

                - Isso eu percebi. Eu quero saber por que você bebeu. –Então, com muita dificuldade, eu explico que bebi porque estava nervosa. Nervosa por ele não ter prestado atenção em mim um minuto sequer. Nervosa por ele ficar paparicando aquela lá e me deixar de lado. Odeio me sentir excluída. Falei também de minha suposição de ele preferir ela, por ser sua melhor amiga e o conhecer a muito mais tempo, mas quando digo isso os dois começam a rir igual a loucos.

                - Qual a graça? –Pergunto brava. Georgia chega mais perto, ainda com aquele sorriso ridículo no rosto e diz:

                - Eu sou lésbica, Taylor. –Aí ela começa a rir mais e me deixa com cara de quem viu o pai pelado. Como assim lésbica? Eles não podiam ter me falado antes, poxa?! Teria me poupado e poupado meu fígado. Depois deste momento épico, Ethan me lava no banheiro e me dá bastante água. Sinto-me melhor depois de alguns minutos.

                - Tay, deixa eu te contar uma coisa. –Ele me põe num banco alto e fica parado em minha frente. –Eu não te trocaria nem pela Megan Fox! –Faço uma cara de descrente. Até eu trocaria ele pela Megan Fox!- É sério. Eu não consigo achar alguém mais perfeita para mim do que você. E olha que eu tenho bastante experiência. Droga, você me tornou outra pessoa! Uma pessoa mais sensível, romântica e melosa. Você me fez escrever cartas e cuidar das pessoas. Me fez mais responsável. Até minha mãe percebeu! –Ele pega meu rosto e passa o polegar por minha boca entreaberta- Eu te amo, Taylor. –Ele não me dá tempo de responder, porque logo gruda sua boca na minha. Passo minhas mãos por seu cabelo e ele me levanta do banco. Envolvo sua cintura com minha perna e ficamos por mais alguns minutos se beijando. Ele encosta sua testa na minha e dá um sorriso de lado. –Você está com gosto de vodca. –Dou uma risada e acaricio sua face.

                - Eu te amo, Ethan Connan.