O Homem Do Troco escrita por judy harrison


Capítulo 2
O encontro


Notas iniciais do capítulo

Desde que se deparou com o "homem gelado", Nina não o esqueceu mais. E de repente ele estava em sua frente, cantando pra ela.



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CAP. 2 – O ENCONTRO

_ Está certo. Vamos fechar. Mas primeiro eu irei pessoalmente entregar o que é dele.

_ Vai falar com ele? Ou só entregar?

_ Vou perguntar se ele esqueceu o troco ou se deixou de propósito. Espere aqui.

Ela atravessou a rua, novamente receosa, mas decidida a ir até o fim.

Ele estava em pé e com os braços cruzados, diante de um chafariz desligado por causa da época de frio.

_ Senhor! – Nina chamou e ele se virou – Eu... – os olhares se cruzaram e Nina sentiu se coração bater forte de medo. Ele parecia pronto para hostiliza-la -–Vim trazer o seu troco.

Ela estendeu a mão com o dinheiro e seus dedos mal o sustentavam, pois tremiam.

_ Que troco?

O que ela ouviu foi como um trovão que a atingiu e tirou seu discernimento. Mas ele ainda a encarava, esperando uma atitude.

_ O... O senhor deixou na lanchonete.

Ele estendeu a mão sem nada mais dizer e esperou que o dinheiro fosse entregue. E quando ela o fez, o homem apenas se virou e continuou a olhar para o anjo com uma arpa numa mão e seu véu que tapava parcialmente sua nudez, e na outra mão um pote se virando, por onde a água sairia firmando um cruzamento com a água de outro anjo idêntico que estava do lado oposto, que formaria um arco fluvial duplo.

Percebendo que ele não ia dizer nada ela apenas agradeceu e se foi.

_ Que homem gelado! – reclamava com Lígia enquanto a levava para casa em seu carro – Nem me agradeceu!

_ Ele não disse mais nada além de “que troco”?

_ Se ele disse, ele guardou dentro dele, eu não escutei nada.

Lívia riu.

_ O que queria que ele dissesse? O homem é tão estranho que nem se lembrava de que deixou dinheiro lá! Mas, deixe isso para lá. Já devolveu o que era direito dele.

Estranhamente, para Nina não era simples assim. Por alguns dias ela pensava naquele rosto, um rosto sério e rígido de um homem frio como o tempo.

Era quase hora de fechar quando uma cliente especial entrou na loja.

_ Finalmente terei minhas férias! – disse Nina sorrindo para Caren ao vê-la chegando.

_ Como está? Como estão as coisas?

Elas se abraçaram.

_ Tudo em ordem! Vamos fechar agora mesmo, então conversaremos.

Depois de matarem a saudade e conversarem bastante, Nina acertou com Caren os detalhes, pois seria sua vez de sair de férias por quinze dias.

Enfim com vários dias de descanso, Nina planejou seus dias de atividades. Porém, não tinha o que fazer, de início, não se animava em sair sozinha.

Nina tinha 25 anos, era morena e tinha seus cabelos castanhos e ondulados. Por toda sua vida se dedicou em estudar e trabalhar para não se envolver com as mesmas coisas que mataram seus pais, as drogas. Ela era filha de um casal que morava nas ruas da cidade e que se drogava e se prostituía para sobreviver. Tiveram um trágico fim depois de uma overdose de crack, quando Nina ainda tinha três anos. Com a perda dos pais, ela foi para um abrigo, onde foi criada por freiras, e de lá saiu com 18 anos para trabalhar no restaurante da família de Caren.

Quando tinha chances de se divertir como uma pessoa comum, Nina encontrava dificuldades, pois temia se deparar com a vida que seus pais tiveram.

Mas seguia também os conselhos dos pais de Caren.

_ Você já é uma mulher, saberá se afastar de tudo que pode prejudica-la. Mas não se guarde demais, precisa se divertir.

Com aquela convicção, ela resolveu escolher um lugar para passar uma de suas noites vagas.

Escolheu um clube na cidade vizinha, onde haveria um show ao vivo.

_ Adoro Rock! – disse ao ver o cartaz na entrada, que anunciava a atração da noite.

Sentada a uma das mesas mais próximas do palco ela apreciava as canções, até que reparou em um dos guitarristas. Era o homem do troco, com os cabelos ainda soltos e jogados no rosto.

Admirada, ela sorriu involuntariamente para ele.

A banda pausou seu show para um intervalo e os músicos saíram do palco.

Receosa, ela virou-se para o outro lado, não queria vê-lo de perto. Mas ele sentou-se à sua mesa sem cerimônia.

_ “Boa Samaritana”! – ele exclamou.

Nina olhou então para ele como se sentisse medo. Ele estava muito suado e sua pele branca estava corada.

_ Oi! – ela pensou em algo mais pra dizer e não parecer boba – Belo show!

A garçonete serviu uma dose de vodka a ele.

_ Você bebe? – perguntou.

Nina pensava em como se livrar daquele constrangimento, pois nem o conhecia e não estava acostumada a estar em companhia de homens, e que bebiam.

_ Não, obrigada.

_ Trabalha num bar e não bebe?

_ É um restaurante.

Ainda com seu jeito seco e sério de falar ele não olhava diretamente para ela.

_ Quer um refrigerante?

_ Não, eu estou bem, obrigada.

Ele passou a contemplar os instrumentos que ainda estavam no palco a espera do recomeço do show, mas era como antes quando ele olhava para o chafariz, não estava vendo nada. Nina não acreditava, vendo-o em sua frente, que pensou nele desde o primeiro dia, e agora estava compartilhando sua mesa com ele. Notou seus cabelos espalhados que brilhavam, parecia sedosos, e sua pele bonita e clara.

_ Você me chamou de samaritana... Por quê? – ela precisava saber algo sobre ele.

_ Me devolveu o meu troco. Isso não é comum.

_ Não podia ficar com um dinheiro que não é meu, não é?

Ele a encarou como se reprovasse seu comentário.

_ Talvez o mundo precise de pessoas como você para mudar a dura realidade.

_ É uma ironia?

_ A dura realidade ou pessoas como você?

Ela não tinha como responder àquilo. E foi salva pelo companheiro de palco dele que o chamou.


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