O Homem Do Troco escrita por judy harrison
Notas iniciais do capítulo
Nina fica intrigada com o cliente de expressão estranha que esqueceu seu troco. Ela não para de pensar em entregar seu dinheiro apenas para vê-lo de novo
O homem do troco - primeiro capítulo.
Nina aguardava a saída dos últimos clientes da lanchonete. Sua sócia Caren já havia ido embora e ela era auxiliada por Lívia, uma das balconistas.
Por causa da chuva forte que caia os clientes não tinham pressa para deixar as mesas.
_ Nina, já são quase uma hora da manhã! – disse Lívia com discrição.
_ Eu sei. Mas não posso manda-los embora. Se você quiser, pode ir. Sua hora já passou.
_ Tudo bem, eu só quero que me dê uma carona depois.
_ Não se preocupe. Essa chuva parece que não quer passar...
Aos poucos a lanchonete estava se esvaziando, enquanto a chuva ia diminuindo.
Mas havia um cliente diferente, que tomava um copo de vodka desde que chegou, uma hora atrás. Ele bebia muito devagar e olhava para a chuva. E finalmente ele era o único na loja.
Observando o homem, Nina decidiu que devia pedir a ele que se retirasse. Mas sua aparência causava desconforto. Ele tinha cabelos compridos e usava uma capa preta de frio, não tinha no rosto uma feição amistosa, e não aparentava um homem de bem.
_ Lívia, - Nina pediu – eu vou falar com ele e você fica de olho. Qualquer coisa entre na cozinha e chame a polícia, como já treinamos.
_ Tome cuidado!
Nina ia se aproximar da mesa, e o fazia devagar hesitando. Quando estava perto, o homem se levantou repentinamente e ela se assustou.
_ Quanto é? – ele perguntou sem encara-la.
Nina disse o valor e ele deu uma nota que pagava quase uma garrafa da vodka que ele tomava.
_ Só um minuto, por favor, vou pegar o seu troco.
Mas antes que ela voltasse, ele foi embora.
Ainda chovia e ela não quis correr atrás dele.
_ Que homem estranho! Ele nem olhou em meus olhos.
_ Sabe que essa é uma atitude de quem está com medo.
_ Sim, Lívia, eu percebi isso. Mas, definitivamente, ele não queria nos roubar! – riram – De qualquer modo, vou deixar o troco dele aqui, para o caso de ele voltar.
Nina fechou a lanchonete e as duas se foram.
Em sua casa, Nina se lembrava do homem cheio de mistérios. Pensava no risco que ela correu junto com Lívia.
_ Podia ser um bandido...
Ela reconhecia que as defesas que treinavam eram apenas teorias, nunca usaram na pratica, e certamente não evitariam um assalto ou um sequestro. Seu estabelecimento cheio quase todo o dia era um alvo desejável para marginais, e ter apenas mulheres ao seu dispor, tornava a segurança ainda mais frágil.
_ Quem sabe aquele homem com cara de mau queira ser meu segurança! – disse rindo-se.
A verdade era que aquela aparência rústica e introspecta a atraiu.
Nina e Caren eram amigas de infância e montaram a lanchonete há dois anos com a ajuda do pai de Caren. Ambas se davam muito bem e administravam os negócios com igualdade, o que não causava desavenças e tornava as vendas um sucesso.
Na lanchonete que estava situada bem ao centro da cidade elas serviam lanches e comida caseira, além de bebidas e outras especiarias. Lívia era a balconista com mais três moças que trabalhavam em tempo integral, mas só ela ficava do começo ao fim do expediente. Estava com as amigas desde o primeiro dia e era uma funcionária exemplar, o que deu a ela o cargo de supervisora um ano depois da inauguração.
No outro dia, Nina abriu a loja. Era um domingo, e o movimento seria muito baixo.
Apenas ela e Lígia estavam servindo as mesas.
_ Lívia, aquele homem pode voltar. Não hesite em devolver o dinheiro dele.
_ Tudo bem. Mas eu estive pensando... Será que ele deixou esse troco como gorjeta?
_ Eu pensei nisso, mas não faz sentido. Ele chegou e se sentou, pediu um copo de vodka e ficou enrolando pra beber por uma hora e cinco minutos. Não pediu mais nada e ainda nem reparou em nós.
_ Bem, ele pode ter entendido errado o valor da bebida.
_ Deixe isso pra lá. Guardaremos o dinheiro por uma semana. Se ele não voltar, eu lhe dou a metade.
Lívia riu. Não estava interessada em ficar com o dinheiro, apenas achava estranho.
Mas Nina estava mesmo intrigada.
Então dois dias se passaram.
Nina cuidava do caixa e observava o movimento, numa quarta feira pela manhã, quando num relance avistou o homem do troco na rua.
Ela saiu da loja e correu para encontra-lo. Ele atravessou a rua e sentou-se no banco da praça central, que ficava próximo à lanchonete.
Nina parou e não teve coragem de se aproximar. Pensou que ele poderia estar esperando o momento certo para voltar à lanchonete e reclamar seu dinheiro. Lembrando-se de que deixou o caixa vazio, ela retornou.
O dia passou e Nina mal se concentrava no trabalho.
_ Nina, vamos fechar? São 8 da noite!
_ Não, Lívia, vamos aguardar mais um pouco.
_ Caren ligou, disse que a gente não deve ficar se arriscando como da última vez no sábado...
_Você contou a ela sobre o homem do troco?
_ Sim, mas não sobre o dinheiro, e sim sobre o medo que sentimos. Eu estou achando você estranha hoje, e não acho que devemos esperar...
_ Eu o vi hoje, Lívia!
Lívia notou o sorriso dela.
_ Viu? E devolveu o dinheiro?
_ Não tive coragem. Ele ainda está na praça. Vai e vem o tempo todo e eu aqui, em agonia esperando que ele entre.
_ Mas, se ele está lá, por que não disse? Eu levaria pra ele. Posso fazer isso agora e...
_ Não! Quero que ele entre aqui e peça.
_ Mas, Nina... Vamos ficar expostas aqui por causa disso? E se ele for mesmo um bandido?
Nina enfim se convenceu de que estava dando uma atenção muito grande para algo de pouca importância.
_
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Essa fic foi dividida em capítulos para melhorar a leitura. Obrigada a quem leu e está lendo uma de minhas histórias favoritas!