Pelo Bem De Arwen escrita por Peamaps


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Irá Legolas se recuperar?



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 Peamaps – 11 de janeiro de 2012

Capítulo 3

Aragorn se lamentava por sua explosão, ela fora responsável pela primeira briga com sua esposa. Ele poderia ter agido diferente e então não ter tido sua primeira briga no dia após o casamento.

A verdade é que ele nunca entendeu o porque Arwen olhara para ele e não Legolas, quando ela teve a chance. Ver os dois juntos mostrava a ele que Arwen tinha sentimentos pelo Príncipe, e a sensação de inferioridade doía... porque era verdade. Elladan jamais lhe dissera diretamente, mas Arwen jamais deveria ter escolhido uma vida mortal. Tão poucos elfos fizeram a mesma escolha, e ela tivera outra opção.

Quando a conhecera Aragorn pensara que começara à sonhar. E então quando a realidade lhe bateu na porta, ele tentou acordar. Eles deixaram o amor seguir longe até que finalmente o humano pediu a ela que quando a hora chegasse, quando o desejo pelo mar a chamasse e ela ouvisse seu clamor, que ela deveria ir. Arwen recusara aquela e tantas vezes, até convencê-lo de que pertenciam um ao outro. Ele teria fugido. Teria se livrado de ser o causador da morte de um belo ser imortal. Seu amor pelos elfos era grande. Mas Arwen é firme naquilo o que quer.

Assim como admirava e amava os elfos, Aragorn não podia odiar Legolas. O Príncipe era apenas um lembrete de sua pequenice, de sua desvalorização diante dos elfos, de tudo o que ele jamais poderá dar à Arwen.

Após o duelo ele se arrependera do que fizera, em especial pela reação de sua esposa. Então ele se isolara, e já se faziam algumas horas que ninguém sabia onde ele estava.

Ele estivera em Gondor antes. Usava outro nome. Conhecia bem o lugar e caminhava à passos largos como outro nome ainda que lhe deram. Caminhava sem rumo mas não estava perdido.

Após deixar Brego no começo da floresta, mas bem disfarçado entre as árvores, Aragorn perambulou por muito tempo. Ele, é claro não pensava em sua decisão. Esta é claro já fora tomada à muito, e agora ele já estava casado com ela. Mas precisava de um momento para se penitenciar. Diziam que a vida de casado não era fácil e lá estava ele errando no primeiro dia.

Ele deveria saber como Legolas estava quando retornasse ao castelo. Sua mágoa era consigo mesmo e não o nobre Príncipe de Mirkwood.

Legolas era uma boa pessoa. Ele notara. Um dos melhores tipos. Ele aceitara a perda com graciosidade e elevação.

Aragorn notara que o elfo amava sua mulher. Não aconteceu quando ele o viu jogado no chão com várias garrafas vazias, como se fosse um mendigo, mas quando o elfo saíra apressado de Rivendell quando descobrira sobre ele e Arwen. Sua reação o denunciara.

Desde então Aragorn estivera esperando que o elfo reagisse mas ele nada fazia. Até que ele imaginou que fosse porque Legolas era sábio como todos os elfos e simplesmente aceitara o destino. Ao vê-lo observar sua janela pela manhã, ele viu que não. E aí mesmo estava o grande espírito do elfo, pois ele ainda sofria mas não se rebelava. Novamente ele via que o elfo era melhor que ele. Talvez esse fosse ainda mais um motivo, inconscientemente, pelo qual ele desafiara o elfo.

Tão absorvido em seus pensamentos ele estava que não ouviu a ameaça chegar até que já estava em seus calcanhares.

Um galho se quebrou atrás dele e Aragorn se virou. Com a mão na bainha da espada, ele sentiu um baque que roubou-lhe o ar e então não conseguiu sacar sua arma.

Uma figura grande caiu por cima dele.

Outros saíram de seus esconderijos, dois, três, cinco, dez, quase vinte deles.

Eram homens brutos e sujos, primitivos e sem recursos. Eles até grunhiam como animais e Aragorn se perguntou se eles comeriam gente também.

Imobilizado no chão, ele aguardou ofegante pelo que seria dele.

Então um cavaleiro saltou de seu cavalo, aparecendo de repente e fitou Aragorn no chão:

-Ora, ora, o que temos aqui? -Ele sorriu mostrando a falta de alguns dentes. -Vossa Alteza...

Aragorn respirou fundo. Se eles fossem assaltantes ele estava perdido ao ter sua identidade revelada, e mesmo assim não havia como mentir. Em seu peito, a Árvore Branca reluzia, adornada em Mithril e impossível de passar despercebida. Suas roupas nobres contavam o resto daquele quem ele era.

-Não se lembra de mim, não é Passo-Largo?

Ao ouvir um nome há muito deixado para trás, Aragorn parou de lutar:

-Quem é você?

-Ora, você não se lembra? -Perguntou o desdentado. - É claro que não, seu arrogante... Mas agora você vai pagar, ah sim, você vai. - Ele coçou o queixo, certamente tendo pensamentos sombrios ao que mostrava seu olhar. - Você não se lembra quando passou uma noite em uma vila perto daqui?

-Não me lembro nada disso.

-É claro que não. Você deve andar por aí achando que é o Rei. Oh espere, você é! - Ele gargalhou e todos o imitaram. - Eu quis lhe dar um preço justo por seu cavalo mas você disse que ele não é para venda.

-E então? -O Rei de Gondor indagou, irritado com a pausa.

-Eu tentei tirar o cavalo de você, mas você feriu todos meus amigos e me deixou no chão.

-Se você tentou me roubar, eu tinha o direito de me defender. Mas não sei se o que diz é verdade, eu não me lembro de você.

O homem se aproximou tão depressa que Aragorn endureceu, esperando receber um chute.

Mas o homem apenas aproximou seu rosto do dele:

-EU era o dono da pensão! EU é quem tive que continuar morando lá depois de ser humilhado. EU é que aguentei a zombaria e a humilhação. Mas o mundo dá voltas. Quão não foi a minha surpresa de ver aquele que mais parecia um mendigo sendo coroado...rei? Então eu sabia que agora você iria me pagar, e bem caro pelo que me fez.

-Eu não lhe darei uma jóia. -Aragorn bufou.

O odioso homem fedia à peixe e carne podre. Havia ainda um forte hálito de fumo misturado com álcool vindo de sua boca. Mas Aragorn estava acostumado à aqueles odores, tendo viajado com guardiões que viajavam do mesmo modo, se é que ele mesmo já não cheirou assim algum dia. E nem o olhar do homem, de rosto tão próximo ao dele, o intimidava. Era preciso muito mais do que aquilo para fazer com que Aragorn sequer ficasse preocupado.

-Ah mas depois de ser torturado, você vai.

-Nunca. O dinheiro do povo não serve para isso.

-Ora, o justo Passo-Largo volta novamente. Você pensa que pode ser um herói, mas vamos ver se mantém sua promessa quando eu lhe arrancar um dedo.

Os homens rapidamente levantaram Aragorn do chão e o arremessaram contra o tronco de uma árvore. Ele perdeu todo o ar e se curvou, então não teve tempo para nada. Seus braços foram torcidos dolorosamente para trás e eles o amarravam, fora de seu campo de visão. Ele lutou e tentou escapar, mas não era páreo para tantos homens.

O agressor tirou uma adaga da bota. Ele sorriu ao ver os olhos de Passo-Largo presos nela. Aproximou a arma do pescoço bronzeado do antigo guardião:

-Por onde começamos? Você estará implorando para que eu termine com você uma vez que estiver sangrando meu Rei. Eu tenho certeza que você jamais foi torturado antes.

E dizendo isso o homem puxou a manga da blusa, e só então Aragorn percebeu que ele não tinha um bom pedaço da mão. O homem continuou à exibir suas próprias marcas de uma tortura distante. Na barriga ele tinha um corte cobrindo de cima abaixo. Faltava vários dedos em um pé, havia uma cicatriz feia em sua perna onde, ao que se parece, uma faca foi fincada ali e não foi tratada por muito tempo – Aragorn notou usando seus talentos como curandeiro.

Aragorn suspirou, tomando coragem pelo que vinha. O homem riu.

-Vamos começar por um dedo. Eu enviarei seu membro à Rainha, vamos ver se ela não enviará algumas das jóias que você a deu então.

-Você irá se arrepender se levar isso até ela, -Aragorn grunhiu entre os dentes.

-Se você não cooperar, eu vou ter que te matar, e se eu te matar, não pense que a Rainha, qual o nome dela? Arwen, - disse ao ser lembrado por um de seus amigos – não irá pagar em seu lugar.

No instante seguinte o homem gritou insanamente, pois preso à seu nariz estava os dentes de Aragorn.

O Rei então, covardemente recebeu vários golpes que o deixaram próximo à perder a consciência.

Aragorn não podia acreditar que aquilo acontecera. Ele fora um tolo em andar sozinho. Ele não podia mais fazer isso sendo um importante Rei. Após a partida dos elfos, o maior Rei.

Quando finalmente os dentes do antigo guardião largaram o nariz do homem, ele levou as mãos ao ferimento. Sangrava muito e após um rugido, ele esbofeteou o rosto do Rei. Então foi para atrás da árvore.

-Abra a mão dele, -disse o agressor lá atrás.

Aragorn manteve o punho fechado com toda a força que possuía, mas havia muitas mãos sobre a sua e ele foi cedendo, contra sua própria vontade.

Ele sentiu a lâmina encostar na base de seu dedo indicador, então ele inalou depressa, preparando-se para o que viria em seguida.

Algo cortou o ar num zunido ameaçador. Aragorn ouviu gritos e então um baque surdo no chão. Alguns homens à sua frente olhavam para sua esquerda e ele os imitou. Além da floresta densa, não havia nada que ele pudesse enxergar, nem mesmo entre as árvores.

Então ele o viu saindo por entre os troncos.

Legolas vinha correndo com seu arco e flecha preparados. Seus cabelos esvoaçavam ao sabor do vento. Seus olhos azuis nunca estiveram mais ameaçadores.

O elfo se aproximou, postando-se em frente à Aragorn.

-Não faça isso, há vários deles espalhados. Volte e chame reforços.

Legolas ignorou-o, enquanto apontava sua arma para cá e para lá, vendo-se logo cercado por dezenas de homens.

-Ora um elfo. -Disse um homem imundo vindo por trás da árvore de Aragorn.

Logo Aragorn percebeu que Legolas dera cabo do líder, pois ele não voltara. Um dos homens mais sujos que ele já vira na vida parecia então tomar o comando do bando. Ele se postou na frente de Legolas.

-Vocês são feiticeiros ou algo assim, como dizem, mas você está sozinho contra nós, elfo.

-Deixem suas armas e voltem para suas casas, eu não quero matar vocês. -Legolas disse firmemente.

Os homens riram se acreditar no que ouviam.

Um dos homens cuspiu no chão, sem tirar os olhos do elfo.

-Parece que os rumores são verdadeiros. Nosso Rei adora elfos. Mais até do que sua própria raça. Veja quem ele escolheu para ser seu guarda-costas.

-Espere... -Disse outro. -Esse elfo não trabalha para ele. Veja!

E com o dedo apontado ele indicou a coroa de Mithril que contornava a bela cabeça loira.

Por um instante ninguém soube o que dizer, até que o líder o fez:

-Ora, ora. Nosso amigo tinha razão, o rei nos traria riqueza! Agora temos dois deles!

Eles deram um passo e ouviram a corda do arco se esticar ainda mais:

-Estou avisando. Saiam daqui imediatamente. E serão poupados. -Legolas disse em voz baixa.

Ninguém o ouviu. O líder avançou em frente arrancando sua espada da bainha com uma velocidade incrível.

-Legolas, eles não são homens comuns. São rápidos guerreiros! -Aragorn gritou.

Mas o imundo não teve tempo de mostrar sua agilidade. A flecha entrou-lhe bem no meio do rosto e ele caiu, sem ter sequer tempo para gritar. Houve alguma exclamação por entre os homens, mas eles logo reagiram. Todos sacaram suas espadas, quase ao mesmo tempo e avançaram.

Aragorn temeu pelo elfo por um instante, mas viu então em suas costas as facas gêmeas presas. No instante seguinte elas haviam sumido conforme Legolas sacou-as.

Ele as girava no ar, formando um círculo quase transparente no ar. Muitos se afastaram, tomados de surpresa, mas outros avançaram. Sem ter mais como adiar, Legolas acertou um, dois, três homens seguidamente, sem causar-lhes feridas mortais.

-O que está fazendo, você tem que matá-los! -Aragorn avisou.

Mas o elfo não o ouvia e somente causava um e outro corte superficial em seus inimigos. Em especial nas mãos que seguravam as espadas.

Foi então que uma flecha voou o ar, e se Legolas não tivesse girado ligeiramente o corpo, ele teria sido acertado bem em meio às costas.

Ele gemeu quando a flecha entrou no ombro direito e sua faca caiu.

-Legolas! -Aragorn tentava freneticamente se soltar das amarras.

O elfo não se deu por vencido. Era possível ver agora que seu rosto estava úmido de suor, mas ele se jogou na luta sem mais poupar seus inimigos. Como se fizesse movimentos de dança, suas longas pernas tocavam o chão de leve enquanto ele girava e agachava, desviando de golpes e protegendo-se das investidas. Ele arrancou uma mão que voou ainda segurando a espada, cortou o pescoço do guerreiro atrás deste, que caiu de joelhos com as mãos tentando parar o sangramento: a boca aberta num grito surdo de horror. Legolas começara à dar conta de todos eles, não dando-lhes mais chance de reagir.

Aragorn observava boquiaberto o elfo acabar com todos. Nenhum de seus golpes era desperdiçado, geralmente atingindo o adversário mortalmente na primeira tentativa. Legolas era mais rápido que os gêmeos. E o Rei jamais vira elfo lutar igual.

Então jogando-se no chão, em frente à Aragorn, Legolas rolou no chão e quando levantou-se sobre os joelhos, apontou sua flecha e atirou. Aragorn tentou ver se ele atingiria o alvo mas estava fora de se alcance. Um grito, o som de folhagens e um baque no chão mostrou que sim.

Legolas agora ofegava. Ele se levantou do chão e cambaleou um pouco, então tirou uma adaga de sua bota e foi para atrás da árvore. Aragorn sentiu a pressão do sangue nos pulsos diminuir e massageou sua pele. Ele conferiu seu indicador e havia um corte ali onde o líder preparava-se para arrancar seu dedo.

-Obrigado. -Aragorn disse sério.

Legolas estava agora banhado de suor, o que deixou o outro preocupado. Ele cambaleou e iria ao chão se não fosse o suporte de Aragorn.

O elfo foi jogado por sobre seus ombros e ele correu até onde estaria seu cavalo, amaldiçoando por ter deixado Brego tão longe dali. Então lembrou-se que Legolas apenas sangraria até morrer e parou, colocando-o no chão. Ele olhou o ferimento, a flecha ainda presa na carne. Legolas havia desmaiado e ele aproveitou a oportunidade e agarrou a flecha. Então arrancou-a num só movimento, mas que acordou Legolas. O elfo gritou e tremeu, então Aragorn pressionou-o de rosto para o chão, colocando seu joelho nas costas do elfo:

-Você está sangrando, preciso parar o corrimento agora ou você não chegará vivo.

O elfo ofegou embaixo de seu corpo e ele rasgou sua própria túnica, então colocou por sobre o ferimento, sentindo o Príncipe tremer novamente. Então ele arrancou mais pedaços de pano e amarrou o primeiro para manter o ferimento fechado.

Ele ergueu Legolas novamente e ouviu-o dizer fraquinho:

-Eu posso andar sozinho...

Mas é claro que ele não poderia. Aragorn continuou correndo e pareceu sentir o peso aumentar, conforme Legolas desmaiava novamente.

Quando finalmente alcançou seu cavalo, ele teve dificuldades de colocar o elfo na montaria, então subiu em seguida e, mantendo o elfo apoiado à sua frente, com a cabeça sobre seu ombro, ele envolveu a cintura fina e segurou as rédeas, esperando que Brego desse tudo de si para que alcançassem a enfermaria depressa.

Assim que ultrapassou o portão, as pessoas levavam as mãos à boca e exclamavam horrorizadas. Todos foram abrindo passagem, outros corriam tentando acompanhar o cavalo.

Quando finalmente na enfermaria, Aragorn deitou Legolas na cama e mandou que a porta fosse fechada.

-E chame o curandeiro. -Ele comandou e a enfermeira correu para fora.

Assim que ela saiu, Aragorn usou sua adaga para cortar a túnica de Legolas. Ele estava terrivelmente pálido e Aragorn temeu por sua vida. O curandeiro chegou depressa e ficou a par do que acontecera.

-Vamos dar pontos nele. -Ele concluiu.

O ferimento foi lavado. Aragorn mascou algumas ervas e tampou a ferida, enquanto o curandeiro se preparava para fechar o corte.

Nesse instante, Arwen entrou como um vendaval pela porta:

-Lass! -Ela gritou.

Aragorn segurou-a a tempo, dando espaço para o outro continuar seu trabalho:

-Espere. Acho que não chegamos tarde demais. Tenhamos esperança.

-O que aconteceu? -Ela indagou com os olhos cheios de lágrimas.

O Rei explicou sobre uma briga de bar à dezenas de anos atrás que resultara no desejo de vingança daquele que perdera e de uma forma tão humilhante:

-Quão humilhante? -Ela indagou desconfiada.

-Ele terminou com sua cabeça embaixo de minha bota...

-Ah Estel... pelo amor de Deus. -Ela disse, conhecedora do temperamento de seu marido.

-E bem...eu o fiz beijar o pé de Brego depois disso.

Ela respirou profundamente enquanto ele lhe contava o resto. Aragorn melhorara consideravelmente, mas havia contado à Arwen o quanto ele fora impulsivo no passado. Ele escapou por pouco de muitas confusões.

Por fim o ferimento estava costurado e o curandeiro fez uma reverência à Rainha, antes de se afastar. Ela agarrou a mão de Legolas, apertando-a entre as suas. Chorava copiosamente.

-Oh Lass... Por que sempre tem que se arriscar assim?

Aragorn mordeu os lábios e ficou observando-os. Então decidiu sair.

Ele sentia-se pior do que quando fora dar uma volta para limpar a mente. Tudo aquilo era culpa dele. Se ele não conseguia lidar sequer com a rivalidade entre ele e Legolas, como conseguiria comandar um reino?

Aragorn permaneceu na sacada do corredor que dava para a enfermaria, olhando a paisagem. Ele não mais ousaria sair do castelo sozinho. Ele aprendera uma lição naquele dia, e agora deveria agir como um rei e estar sempre protegido.

Três dias e três noites em pura angústia. Arwen ralhava com ele e não queria conversar quando Aragorn vinha tentar pedir-lhe desculpas. Ela o relembrou de tudo o que já lhe contara sobre Legolas, como eles já foram inseparáveis mas nada além disso acontecera para que ele ficasse tão enciumado.

Mas pior do que isso era a expressão de seu curandeiro, que não dava esperanças de que Legolas estivesse melhorando embora os elfos se curassem rápido. Aragorn pensou então se Arwen tinha algo à ver com isso, e que talvez o elfo não quisesse mais continuar já que a perdera.

Na terceira noite o curandeiro finalmente veio avisar o Rei que seu hóspede recuperara a consciência.

Aragorn tivera entrando na enfermaria discretamente durante a noite para ver Legolas. Enquanto o elfo estivera inconsciente, ele realmente temera por sua vida. Ele estivera cada vez mais pálido e mal parecia respirar. Desta vez quando entrou no quarto, ele viu que sua cor melhorara.

Os inocentes olhos azuis viraram-se para ele e seus cinzas se apertaram quando ele sorriu:

-Olá Legolas.

Legolas sorriu para ele. Era um sorriso encantador.

Aragorn sentou-se próximo à cama e pegou a mão do amigo:

-Eu... sinto muito por...

-Não... -Legolas fez, claramente se esforçando para poder falar. -Eu é que estive errado.

Eles não precisavam falar mais claramente. Quando o elfo amanhecera observando a janela do humano após o casamento, tudo ficara claro.

-Depois de tudo o que fiz você passar, você veio me salvar... E além do mais... Você não lutou de verdade.

Legolas franziu o cenho:

-Eu lutei sim. Senão não teria acabado com eles, Elessar.

-Digo sobre quando duelamos. Eu vi como luta de verdade, você deixou-se jogar no chão. Deixou que eu vencesse.

-E você iria querer passar vergonha na frente de sua esposa? -Legolas zombou.

-Ah você quer dizer que se não me poupasse eu não teria vencido?

-E você acha que não?

Os dois se encararam divertidos.

-Legolas, eu sei o quanto Arwen o estima, e decidi que não importa como eu me sinta hoje, eu sei que me acostumarei. Quero que fique sempre por perto pois sua presença a enche de alegria. E não vou negar que se não fosse por tudo isso, certamente eu e você seríamos amigos.

Legolas pensou um pouco e consentiu:

-Seríamos sim. Mas eu tomei uma decisão. Eu vou partir.

-Ah... é claro, você deve ter seus afazeres e...

-Para Valinor.

Aragorn fixou seus olhos sobre o elfo.

-Não...

-É preciso. Arwen fez sua escolha e eu sim sei o quanto você a faz feliz pois vejo algo nos olhos dela que ela nunca teve por mim. É com o coração leve que eu a deixo para viver a vida que ela escolheu. Mas eu não acho que minha estadia faria bem para nenhum de nós.

-Não Legolas... Ela ficará de coração partido.

Arwen observava Elladan e Elrohir treinarem com a espada. Os dois dançavam em sincronia perfeita, parecendo saber qual golpe o outro daria.

Ela viu o curandeiro sair do castelo e mais do que depressa já estava em pé, e foi em direção a ele:

-Ele acordou alteza.

Ela o seguiu pelos corredores frios e sufocantes. Como uma da raça élfica ela não se acostumaria nunca à viver em um ambiente fechado.

-Ele está bem? -Ela perguntou preocupada.

-Sim, foi uma reviravolta. Ele simplesmente acordou e parece bem mais corado. -Então o velho homem olhou-a discretamente. -Talvez algo que a senhora tenha-lhe dito quando passou a tarde toda com ele.

Arwen se lembrava. Entre lágrimas e o desespero, ela sussurrara no ouvido pontudo que ela o amava. E se Legolas tivesse ouvido e se lembrasse do que ela falou? À um passo da porta, ela parou. O curandeiro não viu sua hesitação e foi entrando, mas ela continuou ali petrificada.

Ela percebia agora o que realmente sentia por ele. Mas isso queria dizer que amava menos à Aragorn por isso?

-Não está ansiosa para vê-lo?

Ela se virou para a voz, Elladan havia chegado por trás dela e tinha um olhar estranho. Ela estremeceu. Então sem dizer nada, entrou no quarto.

A cena à seguir surpreendeu-a. Aragorn sentava-se na beira da cama, não na cadeira tão próxima ao leito. Suas mãos envolviam a de Legolas. Ela olhou de um para o outro surpresa, e então sorriu para o enfermo:

-Lass... Que bom que melhorou.

Ela sentou-se também no leito, obrigando Aragorn à sair dali. Trêmula, ela observou o olhar de Legolas para ver se havia qualquer sinal de que ele se lembrava das palavras que ela disse num momento de fraqueza, mas ele apenas a fitava serenamente.

-Pensei que o pior fosse acontecer.

-Por causa de uma flechada? -Legolas riu. -Você sabe que eu passei por coisas piores.

-Ah mas você é o principezinho delicado, o frágil. -Elrohir zombou. -É claro que ficamos preocupados.

-Eu ainda vou levantar daqui, não se esqueça. -Legolas fingiu-se furioso.

Todos riram. Elladan foi se postar do outro lado da cama e acariciou a testa molhada de Legolas.

-Ele vai precisar comer aqui, não é? -Elrohir perguntou.

Quando Arwen consentiu ele se retirou, dizendo que iria mandar trazer o jantar de todos para aquele quarto.

-Acho que posso me levantar... Ai! -Legolas gemeu.

-Não. -Arwen o empurrou sem muita delicadeza. -Nem pensar, você fique onde está.

-Será que posso falar com você à sós? -Legolas indagou, após um tempo.

Elladan e Aragorn se entreolharam, então saíram, seguido do curandeiro.

Arwen tomou as pálidas mãos nas suas, sentindo um leve calor percorrer seu corpo. Legolas apertou suas mãos.

-Eu não pensei que fosse me sentir assim, mas uma parte de mim está feliz que você encontrou a felicidade.

-Eu tenho todos que amo perto de mim, não há mais nada o que desejar.

Legolas abaixou os olhos.

-Arwen... Eu decidi que vou embora... Para Valinor.

Ele viu a expressão dolorosa que se fez na bela face dela. E tentou levantar-se novamente. Desta vez ele ignorou a dor, e tomou-a nos braços.

-Deite-se Lass.

-Não.

Os dois ficaram abraçados durante um tempo, até que ele sentiu o corpo frágil tremer em seus braços e ele a apertou ainda mais. Legolas então se afastou um pouco e enxugou as lágrimas que caíam dos olhos azuis dela.

-Meu pai se vai em breve, meu povo está partindo. Eu não sei se conseguiria ficar.

-Eu entendo.

-Arwen, quando um dia... Aragorn se for, você sabe que poderia escolher por partir também. Junto com Elladan e Elrohir.

-Eu não conseguiria. Eu não sei o que faria quando ele morresse, mas penso que não iria querer deixar meu filho.

-Filho?

Os olhos de Arwen estavam avermelhados, mas já haviam secado. Eles enxeram-se de lágrimas novamente, mas desta vez um sorriso acompanhou-os:

-Eu acho... que estou grávida.

Arwen arregalou os olhos ante a expressão de Legolas. Havia choque ali, e talvez alguma dor. Ele olhou em direção à seu ventre e depois para seus olhos como se ela houvesse lhe dado uma notícia ruim. Mas não durou muito. Sempre composto, Legolas se recuperou e a serenidade voltou à seu belo semblante.

-Mas é claro. -Então ele sorriu. Mas só ela, que o conhecia tão bem sentiu o quanto ele era forçado. -O herdeiro de Gondor. Parabéns. Arwen.

Ela mordeu os lábios. Estava magoada com a reação dele. Imaginou que de todos, Legolas seria um dos que mais ficaria feliz. Por que ele agia assim?

-Você contou a mim antes de contar à seu marido? -Legolas disse divertido.

-Oh... Mas que erro. Realmente eu me esqueci completamente disso até agora. Bem, eu nem tenho certeza mas é coisa da intuição feminina. Veja bem nossa primeira noite foi...

-Eu não quero saber detalhes! -Legolas quase gritou.

-Nossa, desculpa! -Ela riu. -Não sabia que isso o enojava. Bem, de qualquer forma eu contarei ao pai quando tiver certeza. O que não acontecerá por algumas semanas ainda.

-Aragorn será o homem mais feliz do mundo. - Ele não queria expressar em palavras que ele já considerava o humano como o mais afortunado da Terra-Média. -Parabéns Arwen, de verdade.

Os dois se abraçaram novamente.

Arwen deixou sua cabeça jogada por sobre o ombro enganosamente forte de Legolas, inalando o aroma selvagem de floresta e pedras que sempre vinha de seus cabelos, discretamente. Sem saber que Legolas fazia o mesmo.


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Notas finais do capítulo

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