17 de março de 2007

Déco Narrando:

Bomba, que explodiu, fico irado como é que uma pessoa tem um coração tão ruim, ou melhor não tem coração, podia usar essa criatividade para canalizar em alguma coisa boa, poxa logo com o Guto de novo, já ficava triste por ele, e imaginava a situação de desconforto que seria meu dia só de ver Guto com aquele olhar de decepção.

Guto Narrando:

Eu não acredito, eu sabia que não iria acabar por ai, os alunos me olhavam, alguns seguravam o riso, alguém havia pichado meu nome no muro do colégio o pior é que a ofensa era grande dizia que eu estava com AIDS, além de outras babozeiras, eu tinha que me acostumar com isso algo me dizia que isso seria freqüente.

Déco Narrando:

Cheguei na sala de aula parecendo que estava faltando um pedaço de mim, me sentia mal depois da descoberta, passei a olhá-la com outros olhos, quando via que eu estava olhando desviava seu olhar isso me deixava paranóico, sim eu a amava, parecia uma criança boba.

Nunca fui uma pessoa com facilidade para se apaixonar, para amar, para ter algum tipo de relação duradoura. Eu tinha medo, tinha não.. ainda tenho… de me machucar de acabar com o coração partido. Eu não sou uma pessoa forte, acho que desabo com muita facilidade, acho que me perco tantas vezes, saio dos trilhos. Isto me preocupa… não gosto dessa fragilidade que insisto em ter. Mesmo que eu finja constantemente pra mim mesmo eu sei que se passa aqui dentro, todas as minhas angustias, meus medos, minhas inseguranças, todas as palavras não ditas, as lágrimas derramadas. Todas as vezes que estive a um passo de jogar tudo pro alto e declarar que desisti. No entanto vivo me surpreendendo, quando achei que não agüentaria me mantive firme, intacto, praticamente inabalável. Acho que me subestimo muito, talvez eu nem me conheça tão bem quanto achei que conhecia. Pois me peguei pensando em Amor, em relacionamento em viver uma vida a dois, em beijar alguém que eu amo e que me ame de verdade, em casar, ter filhos, ter uma família abençoada por Deus. Mas preciso dar o primeiro passo, o duro é que ela não parece gostar da idéia de termos uma conversa. Que lastima, tenho medo de ser eloqüente, quero sair dessa paranóia.

Daiana Narrando:

Algo me fazia meditar, ao olhar Déco com aquele olhar de não aceitar a condição imposta por ele mesmo, estava sobrecarregada, o meu melhor amigo era meu único amor, inclusive o único que consegui acreditar, ele sempre voltava e meu coração ficava calmo, é quando paro pra pensar que na face da terra existia alguém bobo como eu, alguém que ria das minhas piadas sem graças, que me fazia almejar novos horizontes, aquela voz que me consolava, me fazia respirar aliviada, me acalentava, e em cada lágrima brotada em meu olhar eu ouvia um : -Calma. Aquilo me fazia falta.

Déco narrando:

Professor Marcos chega na sala dizendo que a Diretora Flávia queria eu e Guto na sala dela e éramos para levar as bolsas, eu pensei que algo serio tinha ocorrido porque ela queria que nós levássemos a bolsa?, será que iríamos embora pra casa, não assistir a aula para Guto seria melhor coisa depois do lance do muro.

Sentem-se. (Flávia) #Com uma voz súbita.

Sentamos e ficamos nos olhando por alguns segundos enquanto a diretora falava no telefone, eu não sabia por que estava ali, e estava ansioso pra descobrir.Depois do telefonema a Diretora se dirigiu a mim.

- Brian, a acusação que tenho aqui é muito séria.( Flávia)

- Af, vai dizer que fomos acusados de usar drogas dentro do colégio novamente.( Guto)# Entediado.

- Guto, você nunca me deixa falar, Não é isso, na verdade alguns rumores me dizem que você foi quem pichou o muro. (Flávia)

Fiquei com cara de espanto.

-Como, Diretora ele é meu melhor amigo porque faria isso? Não tem lógica alguma. (Guto)

- Não posso me reter a lógica, preciso de fatos, por isso vou pedir ao Brian que me de sua bolsa para revistar.(Flávia)

- Não dê Déco, ela não tem direito de mexer nas suas coisas. (Guto)

Guto não me deixava nem me defender, não calava a boca, aquilo estava ficando insuportável.

- Sem problema nenhum, pode revistar eu não tenho nada a esconder. (Déco)

Entreguei a bolsa a Flávia e ficava olhando pra ela enquanto revistava.

- Oque isso quer dizer? ( Flávia) # Retirando as latas de spray da minha bolsa.

Arregalei os olhos.

- Não sei nem o que dizer, não faço a mínima idéia de como isso foi parar ai. (Déco)

- Como já disse me apego aos fatos, e isso liga tudo a você, peça desculpas a Guto.( Flavia)

- Guto, você sabe que eu não fiz isso.(Déco)

Naquele exato momento, Guto pega suas coisas, sai pela porta da sala e depois pelo portão do colégio, aquilo o deixou nervoso e angustiado ao mesmo tempo.

- Como castigo, você ira comprar tinta e pintar o muro do colégio, agora mesmo, isso se Guto não quiser dar queixa de você na polícia, espero que ele como seu amigo não faça isso, apesar que agora vocês não voltarão amizade tão cedo, francamente Brian, esperava isso de todo mundo mesmo de você.( Flavia)

- Porque é tão difícil alguém acreditar em mim? ( Déco)

Sai da Sala e cumprir o castigo imposto pela Diretora Flavia. Na hora do intervalo, senti vergonha todos me olhavam pintando o muro,Julian se achega a mim, pega outro pincel no chão e começa a me ajudar. Ma mesma hora pego em sua mão e digo:

- Você não precisa fazer isso.( Déco)

- Você me ajudou a passar por isso já varias vezes, amigo é pra essas coisas. (Julian)

- É,sei como você se sentiu quando todos pensavam que foi você que fez o Jornal. (Déco)

- Só você acreditou em mim, enquanto todos me acusavam por isso acredito em você. (Julian)

Olhei em seus olhos, sorri, me senti melhor, molhei o dedo na tinta branca e pintei seu nariz, rimos e tudo parecia bem, até me diverti pintando o muro, a única coisa que me preocupava era Guto. Quando terminei fui me limpar no banheiro, encontrei Alana.

- Se divertiu pintando o muro com a Julian?(Alana)

- Sim, fiquei mais aliviado, mas porque tanto desgosto assim? ( Déco)

- É nada não, só fiquei incomodada,ciuminho besta. ( Alana)

- Já que estava tanto incomodada, porque não foi você me ajudar. ( Déco)

- Amor, eu não podia passar por aquela humilhação, o que os outros iriam pensar de mim, você me entende né? ( Alana)

- Ah sim completamente. (Déco) Fiquei perplexo, com a frieza de Alana, nesse momento não tinha duvida que vivendo com ela só me deixaria mais paranóico do que já estava, se ela me amasse de verdade me ajudaria a passar por qualquer situação.

O céu se fechou, num estante a chuva começou a cair, vi Pipa no celular na frente do portão do colégio, admirava sua beleza, quando vi sua mãe parar na frente do colégio e ela entrar no carro, Dona Lúcia me olhou e fez um sinal, não sei exatamente porque não me ofereceu carona já que éramos vizinhos e a chuva estava forte, certamente Pipa não deixou, mas não posso culpá-la por isso, Olhei para dentro do carro seu rosto no vidro embaçado,então percebi que tinha deixado ela ir, o porquê, não sei responder passei a manhã inteira me perguntando isso, talvez seja porque eu não sou forte o suficiente para cuidar dela, ou idiota demais por achar isso.

Então vi minha vida escorrendo pelas mãos escorregadias em cada gota da chuva que molhava meu rosto, e eu não tenho mais vida, Pipa era minha vida, é o amor da minha vida, e eu a perdi, perdi como um floco de açúcar vai com a água corrente, não distinguia as meras lágrimas das gotas de chuva, já fazia três dias que não sabia o que fazer, os meus braços estão abertos pra ela, por mais que o mundo de voltas, ela nunca deixará de me ter.

Segui pelas ruas, me molhando a cada passo, não fazia questão de me apressar queria curtir aquele momento, joguei os braços pra cima tentando me aliviar de alguma forma, tinha que falar com Guto, voltei a uma quadra atrás e peguei a rua que dava até a casa de Guto.

Guto Narrando:

-Din Don. # A Campainha tocou espero que não seje ninguém querendo falar comigo, meu momento de descanso sem lucidez não podia ser interrompido.

- Guto, # Uma voz adentrava pela porta do meu quarto, quando me virei vi que era Déco, simplesmente fechei os olhos.

Déco Narrando:

Fui entrando no quarto de Guto, pois sabia que se eu batesse ele não me deixaria entrar, quando o vi, que estado estava, sentado no chão de cerâmica, fumando algo que não parecia cigarro, pra mim pelo cheiro que nunca tinha sentido era maconha com certeza. Demonstrava sinal de paranóia, maior, bem maior do que a minha.

Guto, oque você pensa que está fazendo, não acredito que está se drogando.( Déco)

- Déco, não me enche eu cuido da minha vida ta.( Guto)

- Para de se martiriza pelo oque esta passando você não tem culpa de nada.( Déco)

- Na boa véi, dá pra sair do meu quarto, eu não te chamei aqui.(Guto)

- Eu fico admirado com você, pois é uma presa fácil. ( Déco)

- Do que você está falando? ( Guto)

- Eu estou querendo dizer que não fui eu quem pichou o muro, jamais te afetaria assim, só você ainda não percebeu que tem alguém querendo acabar com tua vida, abre os olhos tudo foi armado, desde o lance da van, passando com a história do jornal e agora me usaram como isca pra acabar com você, a Julian também nunca faria aquilo que você pensa que ela fez, no começo até estava com raiva de você, pois tinha descoberto da aposta, sim foi ela que pegou sua receita médica, mas não foi a mesma pessoa que publicou a manchete, alguém conseguiu a informação, provavelmente mexeram nas coisas delas, acredita em mim ela ainda te ama, e sofre com isso até hoje, e você não se pode deixar se abater, levanta a cabeça cara.( Déco)

- Isso que você fala realmente faz sentido, desculpe por duvidar de você, a Julian também foi uma isca, tadinha e todos estão contra ela. (Guto)

- Nossa meu ainda bem que você abriu os olhos, por um segundo, Mas ainda não consigo entender o porquê de você recorrer as drogas como solução.( Déco)

- Tentei algo que pudesse me fazer esquecer da vida, que não gosto de viver, tentei buscar prazer em alguma coisa, só que esse prazer é passageiro, acordo é continuo vivendo o pesadelo.(Guto)

- Para com isso, a melhor pessoa que você pode te dar o socorro, o escape é Deus, Ele sim te ama e te quer bem,e eu não te falo isso porque sou uma pessoa religiosa não, falo por quero te ajudar. Sentimentos ruins e bons não desaparecem de uma hora pra outra, independente de quem seja(Déco)

- Valeu a tentativa, mas não acredito em Deus, ainda sou a favor da ciência, e outra se Deus existe mesmo e me amasse assim como você diz, jamais me deixaria passar por isso, ou melhor jamais deixaria o mundo passar por tanta dor e decepção.( Guto)

- Pense como você achar melhor, só tentei te ajudar, A dor nos faz tomar decisões erradas, o medo da dor também. (Déco)

- Você me ajuda, só de estar aqui do meu lado. (Guto)

Peguei a maconha e sai, ele riu dizendo que eu ia ficar doidão, mas prefiro ficar são e não prejudicar minha saúde,joguei fora e fui pra casa, feliz por saber que Guto estava melhor.

Ao tardar da noite meu irmão chega em casa, ainda retrucando minha mãe por perguntar onde ele estava, vi a bíblia em cima da estante aberta no salmo 23, coisa bem rotulada já, a única página amarelada, tentei fechá-la mas ela voltou na mesma página,comecei a folhá-la e me deparei com o seguinte texto de I Coríntios 13;4,7 : “O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta."

Pude ver, sentir, algo que faz sentido, se o amor tudo suporta, não é uma briguinha que vai nos afastar, se for verdadeiro nada poderá abalar, se tudo espera não devo meter os pés pelas mãos e estragar tudo, devo esperar pra fazer a coisa certa, na hora certa da maneira correta, coisa essa que os precipitados não conseguem fazer. Não acredito no acaso, certamente tem alguém lá em cima que me vê e se importa comigo consegui ouvir a voz de Deus e isso acalentou meu coração.