Baú de Ossos escrita por Julia Valentine


Capítulo 5
Capítulo 4 - Traçando anjos.


Notas iniciais do capítulo

O quarto. Perdão por qualquer erro, pessoal. Ah, tenho um recado lá embaixo!
I hope you enjoy it! ♥



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- Parece que lhe devo um pedido de desculpas. – disse depois de ouvir todo seu relato sobre a noite passada.

Ele me encarou, esperando.

- A intenção é a que vale. – respondi ao seu olhar. Ele riu.

- Já é melhor que nada. - Assenti.

Olhei bem em seus olhos, me distraindo naquela grama verde de suas íris. Ryan sustentava meu olhar, o que me parecia injusto, afinal de contas, eu não possuía aqueles olhos extraordinariamente vibrantes. Continuei o encarando - foi quando ruborizei. Por que ele estava sem camisa mesmo? Acho que ele reparou na direção do meu olhar e, para amenizar a situação constrangedora, sorriu maliciosamente. Senti meu rosto esquentar.

- Tampinha, tenho uma pergunta importante pra lhe fazer.

Esperei.

- Qual é seu primeiro nome?

Oi? Que tipo de pergunta era essa? Ah, esqueci que esse detalhe tinha deixado para trás. Pensei em nem contar para vocês, mas olha só, parece que não vai ser dessa vez.

- Georgiana. – disse baixo.

Ele me estendeu suas mãos, dizendo:

- Prazer.

Eu ri. Ele tinha essa capacidade de agir feito um idiota. Tomei coragem e apertei suas mãos. Ele sorriu mais ainda.

- Se nos apressarmos dá pra pegar o segundo período. – do que ele estava falando?

- Eu não perguntei. – respondi apressadamente, esganiçando a voz.

- Não está mais aqui quem falou. – disse erguendo as mãos em cima da cabeça.

Levantei-me da cama me perguntando o que estávamos fazendo ali ainda. Fui em direção à porta. Virei-me para olhá-lo.

- Você não vem, não?

- Posso? – disse rindo.

Kemper veio atrás de mim. Abri a porta para o corredor. Algumas pessoas jaziam ali. Claro, todos mortos. Corrigindo, alguns corpos estavam... Quero dizer, err, acho que deu pra entender a situação. Desci as escadas e lá estava ela: minha blusa! Peguei-a para me certificar se ainda estava usável. Tudo ok. Tirei a camiseta – leia-se vestido - que usava e estendi para Ryan. Ele me encarava.

- Fecha a boca. – disse colocando a blusa.

- Eu não estava...

- Claro. – interrompi concordando.

Andamos até a saída. Aparentemente não seriamos apenas nós dois os cabuladores de aula.

- Quer que eu te leve?

- Não. – apontei para o carro do outro lado da rua. Pobrezinho. Deveria ser o pior ali. – Er... Obrigada. – disse estas últimas palavras no mínimo som audível.

- De nada. – respondeu sorrindo. Maldito. Ryan ouvia bem.

❄❄❄❄❄❄❄❄❄❄❄❄❄❄❄

Estacionei do outro lado da rua. Peguei a bolsa e me dirigi para casa. Ouvi um barulho que parecia vir de lá dentro. Abri a porta rapidamente e assustada com o que poderia presenciar. Era apenas ela. Marcelle havia acabado de cair derrubando as coisas da mesa de centro, espalhando a bagunça no chão. Suspirei. Fechei a porta e fui em direção à mulher que diziam ser minha mãe.

- Garota, você não tem aula a essa hora? – perguntou rispidamente.

Bufei. Marcelle conseguia ser mais que insuportável. Acho que sei de quem herdei a personalidade. Aproximei-me e arrumei as coisas do chão colocando-as novamente na mesa de qualquer jeito. Olhei para ela. Não me encarava. Nunca me encarou.

- E você não deveria parar com essa merda?

Olhou para mim, arregalando os olhos. Não estava surpresa com o que falei, é claro. Me pergunto o que essa mulher pensa de mim.

- Já não passou da hora de aprender a ser educada?

- Só que em você eu não vou me espelhar, certo?

- Argh, estou com dor de cabeça. Me traga algum remédio. – disse sentando-se no sofá com as mãos nos cabelos, acabando com aquele joguinho de perguntas.

Ela conseguia ser cética. Até mais do que isso. Nossos diálogos se limitavam a indiretas e perguntas indiscretas. Sempre fora assim. Zero de possibilidade de um relacionamento normal como mãe e filha. Ri com este último pensamento.

Bufei novamente e andei até meu quarto, trancando-me ali. Liguei o rádio alto. The Smiths tocava, ensurdecendo e amenizando meus pensamentos. Minha cabeça doía ainda. Procurei por aspirina na bolsa, mas encontrei apenas valium. Tomei.

Joguei meu corpo sobre a cama e fechei os olhos. Tentei guardar meus pensamentos, porém estes não me deixavam em paz. Queria colocá-los para fora. Não queria dormir.

Peguei um papel e lápis e comecei a rabiscar. Tracei, tracei e tracei. Minha mão suava, sujando o desenho. O grafite escorregava e se agrupava, assoprei. Encostei-me a parede e continuei desenhando. Sabia o que fazia, eu acho. Era uma pequena garota sentada, fitando o nada. Ainda faltava algo. Desenhei asas encolhidas e sujas em suas costas. Apesar de grandes, não mostravam tanto brilho. Encarei o papel. Faltava algo, alguém. Suspirei. Sabia o que faltava muito bem. Desenhei outra pessoa na folha. Um outro anjo, porém este com asas grandes e abertas. Ele sorria. Era contagiante. Talvez ele fizesse a garota sorrir também. Guardei o desenho na gaveta ao lado da cama.

Minha cabeça parecia melhor. Penso que meus rabiscos guardam as angústias, os medos, todos os meus sentimentos que não consigo resgatar. São minhas palavras, meu coração, minha dor, minhas lágrimas. Meu interior exposto em carbono. Melhor do que chorar, imagino. Se não soubermos esquecer, nunca estaremos livres de tristeza.

Desliguei o som e voltei para cama, encostando a cabeça sobre o travesseiro. Deixei que o silêncio colocasse as coisas no lugar em que elas deveriam estar.

Quanto mais do mundo vi, menos pude moldar-me à sua maneira.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Acontece que tenho um grande problema agora. Aposto que muito de vocês também estão: época de prova! Yay
Ainda mais eu que me enfiei nessa de ser técnica, tenho vinte matérias para estudar! Credo... Mas é isso, Folks! Vou demorar para postar o próximo. Tudo vai depender do meu empenho nessas provas.
Espero que todos vão bem nas suas, passem o ano com ótimas notas... Eu espero o mesmo de mim, haha.
Beijos e até o próximo!