Baú de Ossos escrita por Julia Valentine


Capítulo 4
Capítulo 3 - Sorrindo com um olhar perdido.


Notas iniciais do capítulo

Estou inspirada. Eu sei que tinha deletado a fic mas isso não vai mais acontecer. A razão foi porque eu nao tinha tempo. Ainda não tenho, mas eu estava tão triste por não terminar isso aqui. Eu tinha me apegado à personagem. Muito, de fato.
Enfim, espero que alguém ainda goste do que eu escrevo.
Hope You Enjoy It. ⊙ω⊙



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Minha cabeça girava. Flashes da noite passada rodavam sobre minha mente me fazendo querer vomitar. Meus sentidos estavam horríveis e o gosto na minha boca era detestável. Minha garganta ardia sedenta, pedindo por água. Minha perna dormia, tentei movê-la, esticá-la, mas estava difícil.

Estiquei meus braços lentamente, tateei a superfície onde eu estava. Era uma cama, muito macia por sinal. Segui um caminho com minhas mãos até que bati em algo. Algo não, alguém!

Abri os olhos lentamente. Pisquei várias vezes com a luz que atravessava a janela enorme. Era o maldito sol!

Bocejei e minha cabeça ardeu. Coloquei a mão sobre a mesma fechando os olhos. Doía muito.

 - Minha cabeça... Argh! – grunhi.

Encostei a cabeça em minhas mãos e apertei as mesmas em meus cabelos engrenhados. Fechei os olhos e os abri lentamente. Olhei para o lado e dei um grito agudo.

- AHHHHHH – gritou ele junto, despertando. Olhei para o garoto ali na mesma cama onde eu estava. Ele levou as mãos à cabeça e piscou várias vezes. Havia um corte em sua testa que parecia profundo.

- O-O que vo-você?...  – tentei falar. Ele me olhou confuso. Retribui o olhar. Olhei para minhas roupas. Suspirei. Estava sem camiseta, apenas com meu soutien vermelho. Ainda me restara a calça jeans, pelo menos. – O que aconteceu aqui?! – gritei.

- Polly, você não se lembra? – perguntou Ryan com um sorriso debochado nos lábios. Ele aproximou sua mão do meu rosto e afastou uma mecha de cabelo que caía em meus olhos.

Eu tinha... Transado com Kemper?! Não, isso não é possível! Nem no meu pior pesadelo.

- Devia ver sua cara agora! – ele riu – É claro que a gente não fez, tampinha!

Suspirei. E como eu não me lembrava de nada disso? Ele estava com todas as suas roupas, eu deveria imaginar que nada tinha acontecido.

- Não se lembra de nada? – tossiu – Deveria imaginar... Você estava muito louca. O que foi que andou usando?

- Isso não é da sua conta, Kemper! – disse resmungando por não me recordar dos fatos da noite passada.

Ele apontou para a testa, onde o corte estava. – Foi você quem fez isso!

Eu ri. – Pois deve ter tido um bom motivo! – disse enquanto procurava pela minha camiseta em cima da cama.

Ele tirou sua camiseta preta e me estendeu. – Tome! – Peguei-a e vesti. Claramente ficou muito larga para mim. Ele riu. E eu acabei fazendo o mesmo.

- Então... Como foi que isso aconteceu? – apontei para seu machucado.

Ele sorriu e começou a relatar...

POV Ryan.

Estava ansioso para chegar à festa.

Não sabia direito o motivo, talvez por ser a primeira na qual ia na cidade. Pela música, o lugar, algumas garotas. Ou apenas uma garota... Ah, não!

Pedi para que Izabella – minha irmã - escolhesse algo para eu poder vestir. Tomei um banho e me troquei rapidamente. Desci e me sentei no sofá para esperá-la se vestir ainda. Os boatos que corriam já no primeiro dia eram da festa de Suzanne. Ou melhor, a surpresa para a Ge.

Ge... Ge... Mas que droga de nome teria a pequena Polly?

Meus lábios se repuxaram em um sorriso ao me lembrar dela. Hoje de manhã, logo na secretaria. Quem imaginaria que a dona dos cabelos castanhos compridos e olhos escuros causaria tanto impacto sobre mim?

Fui tirado de meus devaneios malucos com Izabella anunciando sua chegada. – Olha que o orgulho da família está descendo! – gritou do andar de cima.

Meu pai que estava sentado em sua poltrona. Desviou o olhar do jornal e direcionou-os para minha irmã. Ela estava linda como sempre. Bufei impaciente.

 - Vamos logo, ferrugem! – eu e minha mania de arranjar apelidos para as pessoas. Izabella possuía cabelos ruivos e olhos como os meus.  Desde pequeno eu a chamo assim.

Ela mostrou a língua. – Que adorável, Iza! – Tão madura essa minha irmã.

Fomos até o carro – desde o acidente não costumo mais pegar na moto. Dei a partida e seguimos até onde o endereço indicava. Era certo que não conhecíamos direito a cidade, mas dava para nos virar.

Mudamos-nos recentemente de Portland. A conhecida Cidade das Rosas. Seattle fica a três horas de lá. Não muito longe.

Paramos em frente à mansão. Estávamos atrasados. O relógio marcava 20:30. Não seria dessa vez que gritaria “Surpresa”.

Saí do carro, atravessei o portão que estava aberto e parei em frente à porta – que era imensa. Esperei Iza me alcançar com seus saltos barulhentos e toquei a campainha.

Quando Polly abriu a porta, nossos olhos se encontraram. Sorri instantaneamente. Aproximei meu corpo do dela e fechei meus braços em sua volta.

- Parabéeens, tampinha!

- Ta, ta – resmungou. Afastei-me dela com um sorriso bobo nos lábios. Ela recuou e eu entrei na sala da casa – ou devo dizer mansão?

Observei aqueles olhos escuros fixados na Iza. É claro, esqueci de apresentá-las. Coloquei meus braços em volta da ferrugem e sorri:

- Polly, essa é a ferru... – senti um peso no meu pé – hum, Izabella! – Ai, doeu!

- Prazer! – Iza estendeu sua mão e é claro que... espera, ela pegou. Ela pegou?! Não to entendendo mais nada. – Parabéns...

O sorriso no rosto da ruiva era evidente. Vipolly apenas deu um sorriso de lado. Era uma evolução! Não?

- É... Eu vou... – e se retirou dali.

- Liga não! Ela é meio recua, mas é legal! – falei para minha irmã.

- Bom, eu vou pra lá – apontou com a cabeça para na direção de um garoto dançando como uma lagartixa – E não se preocupe que vou arranjar uma carona depois, ok?

- Tudo bem! Se cuida...

- O mesmo para o senhor... – disse já se afastando e sorrindo maliciosamente.

Observei parado o movimento da festa. Estava no meio da enorme sala, sem conhecer ninguém ali. Havia uma mesa colorida no canto, encostada na parede embaixo da janela. Aproximei-me e peguei alguma bebida de cor convidativa. O líquido desceu esquentando a garganta. Fiz uma careta engraçada depois de tomar o copo inteiro. Peguei mais um e me afastei da mesa.

A musica soava alta e meu olhar vagava. Não sabia exatamente o que estava procurando. Talvez uma garota para me distrair, algum conhecido, a aniversariante da festa...

Resolvi caminhar pela casa. Andei pelo corredor empurrando os corpos que se espremiam por ali.  Tentei me mexer com o ritmo da musica, mas receio que meu corpo parecia outra lagartixa desengonçada – como aquela com que Iza estava.

Apenas uma coisa naquela outra sala chamava minha atenção: o piano. Grandioso, robusto, fechado e que agora portava algumas bebidas acima de sua cauda. Um grande desperdício, imagino eu. Não penso que Suzanne toque; talvez alguém da família. Ou apenas um artigo de pessoas ricas. Bufei impaciente. Algo me soava irritante naquela festa. Continuei andando desviando meu olhar do piano. Sabia que ele me chamava, mas teria que esperar...

Peguei outro copo cheio daquela bebida estranha para me entreter. Talvez com o álcool agindo sobre meu sangue eu podia agir normalmente. Esta noite eu não estava sendo mais eu mesmo.

Cabelos multi coloridos se misturavam em um canto de outra área da casa. Aproximei-me para ver aquele grupo excêntrico. Estavam definitivamente chapados. Alguns fumavam com a cabeça para fora da janela; enquanto outra garota de cabelo verde cheirava um papelzinho. Um corpo sobressaltou-se daquelas cores. Ela não possuía tons do arco-íris no cabelo, era apenas aquele castanho muito escuro beirando ao preto já familiar para mim. Ge – ou Polly – subiu na mesa onde antes a garota de cabelos verdes cheirava aquele papelote e gritou, chamando a atenção de todos. De repente, a tampinha começou a rir. Gargalhando alto. Acabei supondo o mais obvio. Assim como aqueles coloridos, ela estava mais do que chapada.

Era uma cena e tanto de se ver. As pessoas ali em volta observavam a garota fazer seu show em cima da mesa. Suzanne se aproximou e subiu também. As duas interpretaram uma dança um tanto tentadora, confesso. Polly movia-se sensualmente. Retirou os sapatos, chutando-os para longe. Pendeu sua cabeça para trás, inebriando-se com a música que envolvia sua cena. Meus olhos, é claro, não desgrudavam dela. Observei seus lábios, que murmuravam a letra de Santana. A guitarra embalava seus movimentos. Se pudesse, eu a devoraria. Notei quando seus olhos escuros encontraram os meus. Ela, ao contrario do que pensei, não desviou. Sorriu com luxúria, intensificando sua dança sensual. A presença dos outros era ignorada completamente por mim. Não havia maneira de escapar daquele olhar predador que ela depositava sobre mim.

Eu estava sendo empurrado para mais perto do palco improvisado. Empurrado talvez pela minha própria vontade, com uma força tremenda dos meus pés. Hipnotizador. Tenho certeza de que estava sendo hipnotizado. Malditos hormônios.

Quando Polly reparou que eu estava chegando cada vez mais perto, refreou seus passos. A musica estava no fim, e minha sessão de hipnose se expirava. Quando esta finalmente cessou, pude notar que a tampinha não estava muito bem. O que essa garota tinha usado?

Fiquei de frente para Polly, observando-a de perto. Ela mal conseguia se manter em pé, piscando os olhos e cambaleando. Como de um segundo para o outro ela conseguiu ficar tão... doida?

- Kemper, Kemper... – proferiu ela, sorrindo abobamente – Gostando da festa? – aproximou mais seu corpo me permitindo sentir o cheiro que vinha dela. Ela não fedia a álcool. Com o movimento, Polly perdeu o equilíbrio e seus pés deslizaram da mesa. Seria uma queda e tanto se não fosse meus braços ali. Ela caiu sobre mim gritando.

- Você é louca?! – gritei para ela – O que andou bebendo?

- Bebo para tornar as outras pessoas interessantes. – falou apertando os olhos na minha direção.

Ela se aproximou de meu rosto. Não, tentador demais. Respirou sobre minha boca. Abriu seus lábios, umedeceu-os e mordeu o inferior. Era uma distância muito curta. Seu rosto sobre o meu, sua boca esperando ser beijada. Era apenas me aproximar e estava feito. Nada demais, não? Porem eu não podia, não deveria. A tentação passou e eu não me aproximei. Polly me olhou aparentemente frustrada.

- Você não sente tesão por isso? – se afastou e arrancou sua blusa. Era obvio que sentia, muito. Aquela pele alva, em uma lingerie que exalava pecado. Era vermelha e uau, respirei fundo e me levantei. Era aparente a decepção em seu olhar, e não mais aquela luxúria que há pouco me chamava. Eu não podia. Seria pior que um simples beijo. Ainda não. Segurei seus braços e a levantei.

- Suzanne, onde fica o quarto mais próximo? – perguntei alto para que ela ouvisse.

- Subindo essas escadas, a segunda porta! – respondeu gargalhando. Devia estar imaginando coisas erradas sobre o que eu faria com a Polly.

Peguei a tampinha no colo.

- Me larga, seu... seu... – ela não parava de resmungar, apenas para facilitar meu trabalho de carrega-lá. Seus pés balançavam quase fazendo nós dois cair nas escadas.

- Fique quieta, Polly! Assim eu não consigo te levar caramba.

Senti que ela parou por um momento de se sacudir. A garota ainda estava sem sua blusa, outro agravante para a minha missão.

- Eu estou bem, porra... – sussurrou. Notei que ela estava perdendo a consciência. Começou a soltar todo seu peso sobre mim enquanto eu andava pelo corredor tentando achar o quarto. Abri a segunda porta e a fechei atrás de mim. Retirei Ge do meu ombro. Ela mal se segurava em pé.

- Espere ai, deve ter alguma roupa pra você aqui. – disse me virando para o armário de madeira encostado na parede. Abri a gaveta e olhei a procura de roupas. Como um estouro, senti uma pancada na cabeça. Polly tinha jogado o telefone sobre mim, acertando minha testa. O liquido quente escorria e eu a fuzilei com o olhar. Fui em sua direção a prensando sobre a cama.

- Vai me bater, Kemper?

- Você tem que aprender bom modos!

- Você não tem nada a ver comigo... – disse lutando para manter os olhos abertos.

Resmunguei e praguejei pela teimosia da garota. Peguei-a pelas pernas e a coloquei na cama.

- Por que esta fazendo isso? – perguntou quase caindo em profunda anestesia.

- Porque é preciso... – sussurrei para ela.

- E não vai querer nada em troca?

- Claro que não. Polly, nem todos são assim...

- Não me chame assim... – resmungou como uma criança com o resquício de sua voz.

- Durma. – disse virando-me para a porta.

- Kemper! – chamou ela. Voltei-me para ela – Não vá.

Assenti. Minha cabeça doía pela pancada que tinha levado. Ainda havia um filete de sangue. Andei até a cama e a observei. Ela tentava manter seus olhos abertos. Procurei em seus olhos uma confirmação. Ela sorriu. Deitei-me ao seu lado, mantendo uma distancia grande entre nos dois. Afinal, ela ainda estava sem sua camiseta.

- Você está um lixo, Ryan. – e assim ela dormiu, com um sorriso perdido em seu rosto. Observei-a e cheguei a conclusão de que não dormiria com ela assim descoberta. Peguei uma manta dobrada no armário e coloquei sobre seu corpo. Bem melhor.

Feições leves como a de um anjo. Era assim que ficava quando dormia. Sereno e gostoso de olhar – não que nas outras horas não seja. Ri da sua cara de criança. Ela era assim. Parecia que, quando dormia, se tornava frágil e desprotegida. Mas eu estava ali para isso. Parecia que assim descubro um pouco da razão da minha existência. Uma fração da minha vida, já que não saberia quanto dela teria.

Com esses pensamentos, acabei caindo na inconsciência.

A vergonha, isso passa quando a vida é longa.


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Notas finais do capítulo

Alguém tem algo a dizer sobre isso aqui? He he, próximo capítulo não demora. O clima vai esquentar...
Ge e Kemper. Ai, como eu senti falta disso! ♥