Ouvia um som familiar. Abri os olhos numa expressão sonolenta e confusa. Era o meu despertador. Meu quarto estava um breu, como sempre – só consigo dormir assim. Aquele barulho me irritava. Finalmente peguei o celular para desativá-lo. O visor parecia me cegar. Exatamente seis e quarenta e sete. Levantei. Depois de pronta, bati a porta do quarto. ‘’Bom dia, Mãe’’, disse ao chegar à cozinha. ''Olá, querida. Bom Dia. Aquilo que você chama de café da manhã está bem ali’’, respondeu, apontando para o meu leite com cereais e leite condensado, enojada. Minha mãe é assim. Ela supervaloriza uma ‘’boa’’ alimentação. Eu simplesmente não ligo. Não sou popular. Não quero ser líder de torcida. Tenho apenas uma pessoa que posso chamar de amigo. ‘’Tá. ’’ Ficamos em silêncio. Olhei para o relógio analógico que ficava bem acima do quadro ‘’Monalisa’’ que ganhamos do vovô no ano passado. Os ponteiros indicavam sete e cinqüenta. ‘’Puxa já to atrasada’’, falei com a boca cheia de leite e cereais com leite condensado. Duvido que tenha dado para entender uma palavra sequer. Fui andando pensativa e sem postura, como sempre, até a esquina, onde Peter me espera todos os dias. Não tinha muito o que esperar daquele dia. A Alternative High School estaria igualmente frustrante: Maryanne e seu séquito de líderes de torcida oferecidas, pessoas tentando se encaixar nos padrões, as (pseudo) festas – festa do pijama não é considerada uma festa, em minha opinião. Os atletas sarados almejados por tipo, o colégio todo – exceto Peter e eu.

‘’Oi’’ Peter interrompeu meus pensamentos. Estava me esperando com aquela habitual blusa xadrez em preto-e-branco, o jeans preto, nem tão justo nem tão folgado, os óculos Ray-ban de grau, o cabelo molhado, com aparência despenteada, altura que me fazia parecer invisível, os olhos azul piscina, o cabelo ruivo, tudo fazia Peter parecer tão... Geek. ‘’Oi, Peter’’ ‘’Minha mãe deve ter algum tipo de complexo por eu não ter amigos. ’’ ‘’Olá, eu sou uma planta. ’’ ‘’Você não entra na categoria amigos. ’’ ‘’Não disse, sou uma planta. ‘’ ‘’Você é como uma irmã pra mim, Livie. Conhecemos-nos desde o jardim de infância e de lá pra cá, a minha única amiga.’’ ‘’Algum problema nisso?” ‘’Nenhum. Só é incomum um garoto não ter nenhum amigo homem.’’ ‘’Puro machismo.’’ ‘’Também acho. Agora meter isso na cabeça da minha mãe é outra coisa.’’ ‘’Conheço o gênio da Sra. Parks’’ ‘’Pois é. Você sabe do que estou falando.’’ E chegamos no Alternative High School, também conhecido como inferno.