Anjos não são seres oniscientes, porém realmente possuem bem mais conhecimentos que os seres humanos, e, claro, algumas habilidades interessantes, mas nem tanto quanto se imagina. Entre esses poderes, podem localizar almas e auras espirituais, mas até eles estavam completamente estarrecidos com aquela situação.

Nunca, nenhuma única vez em suas longas vidas inumanas, algo assim havia acontecido, sequer existiam relatos de que mestiços tivesse existido antes...aquela criança possuía uma alma espiritual, mas ao mesmo tempo humana...aquilo de certa forma significava a quebra das mais importantes leis do céu...

Enquanto todos se recuperavam do choque,  Ayen apenas observava, ela sabia que Lissar ainda estava viva e que, segundo o plano traçado por ambas há tantos anos, sua irmã intervir quando chegasse a hora, e caberia a si ajudar seu sobrinho a fugir. Claro, aquele era um plano que continha algumas falhas, mas era o único caminho possível.

-“Espero que tudo der certo...precisa dar...”-pensava.

XXX

Richard estava a parte da verdade, portanto, percebeu imediatamente quem eram aqueles invasores. Os anjos haviam encontrado seu garoto.

O breve momento de silencio oi quebrado com o pânico que se apossara dos convidados,  que começaram a gritar e correr para a saída, extremamente assustados com aqueles seres que haviam explodido praticamente metade da casa para entrar.

Enquanto todos corriam, Ângela vinha andando contra o fluxo, trazendo consigo as gêmeas e Mary. Ela também estava assustada, mas conhecia muito bem o marido e logo percebeu que ele sabia o que estava acontecendo ali.

-Deixe que as outras pessoas saiam.- Ayen falava, com um tom monótono em sua voz, disfarçando muito bem o quanto estava ansiosa.- eles não nos interessam.-

Os outros anjos assentiram, criando uma barreira para impedir que o menino fugisse, acabando por prender juntamente professor e Edward, que se ponham ainda ao lado de Nicholas, preparados para ir a extemos para proteger o menino.

E foi nessa barreira que Ângela bateu, olhando confusa. Não conseguia enxergar nada, mas havia algo ali que a impedia de continuar a andar.

-Edward! –gritou, desesperada. Foi só nessa hora que o duque percebeu o resto de sua família ali.

-Ângela! Pegue as meninas e as leve para o mais longe que conseguir!

-Mas...

-Vá! Eu cuido das coisas aqui. Confie em mim!

A bela loira relutou um pouco, mas assentiu, fazendo o que o marido pediu, fugindo com as garotas para a orla da floresta que rodeava a mansão. Ela podia sentir que alago estava acontecendo ali, algo ruim, e sentia institivamente que dali para frente muita coisa ia mudar...

-“Por favor, querido, proteja o Nick...”- pensava, enquanto abraçava Mary e as duas pequenas, que olhavam para tudo sem entender absolutamente nada...

XXX

-Vamos resolver isso agora, então.- um dos anjos,  de nome Gry que tinha vistosos cabelos ruivos se manifestou.- é evidente que Lissar não se encontra aqui, e no fim a pessoa que estávamos rastreando era esse garoto aqui.

Enquanto eles debatiam, Richard ajudava Nicholas a se levantar, logo abraçando o menor com carinho e cuidado, fazendo de seu próprio corpo um escudo. Amava tanto o garoto que estava disposto a qualquer coisa para protegê-lo.

Nick estava bastante assustado, entendendo finalmente o que seu pai queria lhe dizer quando havia contado que viriam atrás dele. Portanto, aquele abraço veio na hora certa, lhe confortando e lhe acalmando.

-O que faremos? Nossas ordens são em relação a Lissar, e apenas a ela.- outro anjo comentou.

-Não podemos permitir uma alma assim!- Gry continuou.- esse garoto não é humano, e também não é um de nós...é uma aberração!

-Mesmo assim, você está esquecendo que não é desse modo que agimos.- Ayen falava, seca.- não temos permissão para matar o menino. Ele não é nosso alvo. Você mais do que ninguém deveria saber as consequências por quebrar uma de nossas leis supremas.

-A existência de uma criança assim já é uma quebra dessas leis...uma quebra inigualável, por sinal.

-E você será igual a Lissar se insistir nessa ideia.

Todos apenas observavam o embate entre Ayen e Gry, e enquanto isso Edwad analisava possíveis rotas de fuga. De jeito nenhum ele pretendia ficar ali apenas esperando que o atacassem sem nem mesmo reagir.

-Ela está certa. Não temos permissão para fazer nada ao garoto, portanto não o faremos.- outro anjo de nome Hrun deu a palavra final, encerrando o assunto ao obter o assentimento dos demais. – só que isso não significa que não podemos leva-lo conosco e então receber nossas ordens em relação a ele.

-Ou seja, ao invés de cumprir o certo, que é matá-lo aqui mesmo, levaremos este ser impuro conosco. –Gry ainda tentava, mas nenhum deles prestava mais atenção a suas acepções, já tendo decido.

-E quem disse que deixaremos que leve meu filho?- Edward disse, cansado dos anjos dialogarem como se eles nem mesmo estivessem ali ouvindo tudo.

-E vocês realmente acham que poderiam nos impedir?

Antes que qualquer um deles pudesse responder, um forte vento os envolveu, desfazendo a barreira. Uma neblina negra tomou o lugar, rodopiando entre os moveis do salão de festas, e bem na frente de Nicholas, a neblina foi tomando forma até que os contornos de uma mulher foram aparecendo, se tornando cada vez mais nítidos, e fazendo todos olharem assombrados.

Era uma mulher linda. Tinha uma pele extremamente pálida, olhos e cabelos bem negros,  boca rosada e vestia um vestido escuro e comprido, que apenas realçava toda a beleza que tinha.

O duque tremeu ante aquela visão. Não...não podia ser...não tinha como! Aquela mulher na sua frente não podia ser sua falecida esposa, a mãe de Nick e que morrera em seus braços anos atrás.

 -Li...Lissar?- falou, assombrado.

-Você não mudou muito nesses anos, Edward.- a voz clara e suave ecoou, e ele então teve certeza de que sim, aquela era seu antigo amor. Mas como?- e Nick...eu sempre quis poder dizer a você o quanto eu te amo...

-Você...você deveria estar morta! Eu vi...você...

-Eu sinto muito. Eu realmente não queria deixa-los, porém, era a única forma de protegê-los. Enquanto eu estivesse ao lado de vocês jamais teriam paz. E eu sabia que viriam atrás do meu filho, e tive de tomar medidas drásticas para mantê-lo vivo.

-Então resolveu aparecer, Lissar.- Gry falou, olhando para a mulher com uma expressão de ódio em seu belo rosto. Finalmente, depois de 15 anos, ele encontrara ela novamente.- agora nossa missão está completa. Podemos matar você e levar essa criança impura conosco, embora eu ainda ache que ele deveria ter o mesmo fim que você.

-Eu tenho que me opor a isso, Gry. Você não tocará nem mesmo um fio de cabelo do meu filho.  

-E acha que tem poder suficiente para impedir todos nós? Estamos em maioria aqui.

-Devo dizer que sim, tenho.- e enquanto ela falava, a neblina tomava forma de pequenos corvos e ficavam flutuando ao redor.

-Isso...os corvos da perdição...Você....você...nem mesmo você seria capaz de um sacrilégio desses!

-Eu fiz o que tive de fazer pelo bem daqueles que amo. Mesmo que isso signifique condenar meu espirito ao tormento eterno. Edward, leve-os para aquele lugar, a hora chegou.

E antes que qualquer um deles pudesse sequer reagir, os corvos tomaram formas de lanças, começando a atacar de forma feroz os anjos, que usavam seus poderes para tentar se proteger. Aquele ataque era muito, muito forte, e mais do que isso, era algo que o anjos não podiam derrotar, era diferente dos poderes deles, sem duvidas, Lissar tinha ido longe demais...tinha dado sua alma aos círculos do inferno, em troca de um poder suficiente para proteger seu precioso filho e o único homem que ela já amara na vida.  

Enquanto isso, ao mesmo tempo em que os ataques de ambos os lados destruíam a mansão e ofuscavam o céu, Ayen seguia com o plano combinado com sua irmã, plano este que o duque conhecia apenas uma pequena parte.

-Venham comigo. Ela vai distrai-los até enquanto fugimos.

-Aquela...ela era minha mãe?- Nicholas perguntava, se deixando ser levado pelo pai e por Ayen, e com Richard vindo logo atrás.

-Sim, Nick. E eu sou sua tia, é uma pena que esta não seja uma reunião de família muito feliz. E que não tenhamos tempo para explicar nada. Ah, acho que aqui estará bom. – falou, parando na orla da floresta.- Edward, você tem o resto de sua família para proteger, vá cuidar deles. Eu irei levar Nick agora.

O duque assentiu, com lagrimas nos olhos, abraçando seu filho com força e dizendo o quanto o amava e que sentiria muita falta dele. Não queria deixa-lo ali, mas sabia que não tinha escolha...ainda tinha Ângela e as gêmeas para cuidar.

-Adeus, filho.- Falou, pedindo perdão por ir, e recebendo o mesmo carinho do menino, que também estava muito abalado com tudo que estava acontecendo naquele dia.

-Vamos.- Ayen voltava a puxar o garoto e o professor, levando-os para o mais longe possível da floresta, onde pararam junto a um córrego que passava por ali. E com todo cuidado, ela inclinou-se na direção de uma arvore, tocando-a e fazendo surgir ali uma espécie de portal, um vórtice azul brilhante.- entre aqui. Isso vai leva-los para longe. Encontrem algum lugar para se esconderem, e não se preocupem, eu irei encontra-los .

Nick olhou assustado para Richard, mas ambos respiraram fundo. Não tinham outro escolha, tinham? Era isso ou...bem, melhor não pensar. E foi com isso em mente que se deram as mãos e entraram naquele estranho vórtice...