Nicholas respirou fundo antes de se dirigir ao salão de baile, que ficava do outro lado da grande mansão. Sabia que a maior parte da alta sociedade inglesa estaria a sua espera, e isso o deixava realmente desanimado.

Assim que entrou no salão, todos os olhares se voltaram para sua direção. Estava ali não apenas o príncipe herdeiro, mas também dezenas de duques, condes, barões...enfim, todas as principais casas nobres do país se encontravam presentes.

-Vejo que sua saúde está nitidamente melhor, jovem lorde.- um dos mais pomposos e irritantes condes que ele já conhecera logo o interpelou. Não era segredo para ninguém que o conde Alfred Tompson ansiava fervorosamente casar sua filha Amélia, uma linda e orgulhosa jovem de 14 anos, com o herdeiro da família Heagraves, o segundo maior bração da Inglaterra, perdendo em importância apenas para a própria família real.

-Me encontro cada dia mais saudável, Conde.- falou educadamente, mas com nítido desprezo, e só se irritava mais com Amélia lhe sorrindo no que pretendia ser um sorriso sedutor, mas que para Nick era simplesmente patético. – com licença, irei cumprimentar meu primo.

E o garoto se afastou rapidamente, procurando com o olhar seu amado professor. Ele não se importava com quase nenhuma das pessoas presentes ali, afinal, a maioria delas não ligava a mínima para si, só compareciam para manter as aparências e isso era algo que ele odiava. Pessoas assim não valiam nada em sua opinião.

Antes que pudesse encontrar Richard em meio a toda aquela gente que tomava o salão, foi encontrado por Phillip.

-Nicholas!- o mais velho falou, com um sorriso carinhoso no rosto. Estava casado agora e sua esposa era sim uma boa mulher, mas seu coração ainda batia por seu primo...ainda era completamente apaixonado pelo menor.- está realmente crescendo!

O garoto também sorriu, permitindo que o outro lhe abraçasse. Agora que entendia melhor os sentimentos do primo sentia pena dele, pois não seria capaz de corresponder aquele amor, e mesmo se pudesse, ainda assim o jovem príncipe seria obrigado a se casar e passar o resto da vida ao lado de alguém que não amava. E não havia nada a se fazer a esse respeito, pois Phillip era o herdeiro do trono.

Conversaram um pouco, o maior lhe apresentou sua nova esposa, de quem Nick realmente gostou.

Depois de alguns minutos, o pequeno finalmente conseguiu avistar seu professor perto de uma das sacadas, conversando gentilmente com Mary. Pediu licença ao príncipe e seguiu para lá.

Mary estava calma e comportada. Aquela era uma festa da alta sociedade, e ela queria mostrar que já era uma verdadeira dama. Embora não entendesse o porque de seu tio lhe fazer prometer que não diria a ninguém que Phillip era seu irmão mais velho e que ficaria bem longe deste. Mas mesmo não entendendo, ela obedeceu.

-Está realmente lindo com essa roupa, Nick.- Richard sussurrou quando o menor se aproximou, fazendo-o corar e dar um sorriso tímido.

-Eu estava mesmo te procurando.- o menino falou.- estou cansado de ser abordado por pessoas com as quais não quero conversar nem conviver! E aquele conde me irrita, sempre tentando forçar sua filha chata para mim!

-Eu sei como te ajudar. Mary disse que queria dançar, mas não queria que um garoto desconhecido a convidasse.

Nicholas sorriu, era uma ótima ideia mesmo. Dessa forma ele espantava as outras jovens que lhe fitavam com bastante expectativa.

-Me daria a honra dessa dança, Mary?

-Sim!- respondeu a garota alegremente. Mesmo que no inicio ela não estivesse pensando em Nick e sim no seu irmão, ficava feliz em ir dançar. Portanto, deixou que o primo a pegasse pela mão e a levasse até o salão adjacente, onde havia uma pequena orquestra tocando valsas.

Começaram a danças lentamente, e Mary se divertia tanto que não via os olhares maldosos em sua direção. Tanto de jovens pretendentes que queriam chamar a atenção do moreno, quanto dos outros ali presentes, que se perguntavam quem seria aquela menina, já que esta quase nunca aparecia em publico e poucos ali se lembravam de já tê-la visto antes.

Enquanto isso Edward observava tudo com um misto de alegria e medo. Alegria por seu filho está completando mais um ano de vida. E medo por saber que logo os anjos iriam encontra-los. E isso poderia ser o fim. Era bom que o duque já estivesse preparado, pois iria acontecer mais cedo do que ele esperava. Para ser mais preciso, naquela mesma noite...

XXX

Não muito afastado da mansão um figura alta montava guarda, sentada num galho e escondida pelas folhagens. Era uma bela e jovem mulher, com cabelos lisos compridos do mesmo tom de seus olhos negros, e uma pele pálida.

Ela estava ali por um motivo: proteger aquele que lhe era mais  precioso, como aliais, vinha fazendo nos últimos anos. Não havia um único dia em que não estava vigiando e cuidando de seu precioso filho, embora para isso tivesse sido obrigada a se afastar daqueles que tanto amava, fingindo sua morte. Se recriminava muito por isso, mas fora necessário. E mais do que a si própria, queria protege-los.

Nem que para isso tivesse de quebrar mais algumas das regras do céu...

XXX

A festa estava chegando ao seu ápice, e Nick só havia parado de dançar para desgostar algum dos deliciosos pratos que estavam sendo servidos, aguardando ansiosamente pelo fim da festa, quando enfim poderia ir dormir e descansar, que com certeza era melhor.

Estava calmamente escorado em uma pilastra, olhando o movimento e conversando banalidades com Richard, o que estava sendo um verdadeiro martírio para o garoto, pois tinha de conter seus ímpetos e seu enorme desejo de simplesmente se jogar nos braços do mais velho e beija-lo.

Foi quando sentiu que algo estava errado. Uma sensação ruim se apoderou de seu corpo, fazendo-o ter ânsias e quase desmaiar ali mesmo. Nessa hora, seu pequeno corpo foi rapidamente apoiado pelo professor, que o segurou com cuidado.

-Nicholas! O que foi?- o outro perguntou aflito.

-Ri...Richard...se abaixe... – sussurrou, usando todo resto de força que tinha para jogar seu corpo contra o do maior, e derrubar ambos no chão, segundos antes que a parede onde antes estava escorado literalmente explodisse, lançando metros de resíduos no ar, ferindo varias pessoas e deixando todas as outras em pânico.

-Você precisava mesmo quebrar tudo?- uma voz de mulher reclamava, sendo logo respondida:

-A barreira estava bem forte. Lissar sempre teve um poder enorme, por isso não conseguimos encontra-la nesses últimos 15 anos!

E para o espanto de todos que estavam presentes, seis figuras entraram pelo buraco que haviam criados. Eram todos belíssimos e vestiam roupas extremamente brancas.

-Não imaginava que fosse ter tantas pessoas aqui dentro. A barreira escondeu a presença de todas as almas humanas, deixando apenas uma forte presença espiritual. – o mesmo homem continuou falando.- isso é um problema, não podemos agir na frente de tantas pessoas...

-É claro que podemos .- a única mulher do grupo se manifestou novamente.- isso é algo que não podemos prever e não podemos nos dar ao luxo de perde-la novamente. Se não atacarmos agora, quem garante que conseguiremos encontrar depois? Ela já fugiu de nós por mais de 15 anos, e pode muito bem fugir por mais 15.

Os seis entraram em uma pequena discursão, enquanto mais ninguém se atrevia a se mexer, com medo do que estava acontecendo ali. Até que Edward, que era um dos únicos que realmente tinha uma ideia da gravidade da situação, resolveu se manifestar.  Aqueles seres tinham vindo atrás de seu filho, e ele não deixaria que machucassem Nicholas. Mas pelo menos, havia reconhecido Ayen entre os atacantes, e isso o aliviava bastante. Sabia que ela era uma importante aliada, e que faria tudo o que pudesse para proteger o filho de sua irmã.

-Quem são vocês?- falou, com coragem. – o que pensam que estão fazendo invadindo minha casa?

Eles sequer se deram ao trabalho de responder a um simples humano, logo se concentrando em encontrar quem procuravam...mas se fitaram confusos quando notaram que a aura espiritual vinha de um jovem menino, e não de Lissar, como anteriormente haviam pensado.

Mas...aquele garoto...ele...era quase que uma copia perfeita de Lissar...e ainda por cima sua aura espiritual também tinha resquício de uma alma humana...não...não podia ser...aquela criança...aquela criança era um mestiço?