Nicholas abriu os olhos, cheios de sono.  Durante alguns segundos, não conseguia entender onde estava...definitivamente não era seu quarto. Então tentou levantar, mas seu corpo e principalmente seu quadril doía terrivelmente. Foi quando todas as lembranças da noite passada entre os braços do professor voltaram a sua mente. Corou, mas sorria timidamente, feliz por saber que era tão amado e desejado pelo mais velho.

Aliais, onde estava Richard? A cama ampla estava praticamente vazia com apenas seu corpo infantil ali, sentia falta dos braços do outro a lhe envolverem, dos carinhos, dos beijos...onde ele  estava?

Suas duvidas foram sanadas com a entrada do maior no quarto, carregando uma bandeja cheia de delicias: pães doces, bolo, leite e suco.

-Você acordou.- o professor sorria, vendo o seu pequeno ainda meio sonolento. – eu sei que não vai consegui levantar agora, então te trouxe isso.- colocou a bandeja na escrivaninha e ajudou o garoto a sentar.- você está bem, Nick? Está doendo muito?

-Eu estou bem.- respondeu. Doía sim, bastante até. Mas nunca se sentira melhor em toda sua curta vida.- mas estou com fome.

-Isso eu imaginava.

O pequeno começou a comer, estava tudo bem gostoso, sem duvidas o mais velho sabia mesmo cozinhar. Enquanto comia, pensava em tudo que estava acontecendo. Quando conhecera seu novo professor, meses atrás, jamais podia imaginar que iria se apaixonar por ele...que teria seu amor correspondido e que viveria tudo que estava vivendo agora. Finamente entendia o que seu primo queria dizer com aquelas declarações de amor. Que realmente um sentimento como aquele podia existir.

-E a Mary?- perguntou por fim, corando ao notar que o outro tinha ficado lhe fitando carinhosamente enquanto se perdia em seus devaneios.

-Ah, ela está na cama. Pegou uma gripe depois de ter ficado na neve ontem. Hoje quando acordei e fui ver como ela estava, até me assustei, tinha uma febre alta. Mas agora está melhor, fiz com que comesse e agora está dormindo um pouco.

-Ela não devia ter ficado fazendo birra...

-Mas está tudo bem, não é nada sério. – respondeu, abraçando o garoto, que prontamente se aninhou mais em seus braços. Não poderiam repetir tão cedo o ato da noite anterior, afinal, Nick precisaria se recuperar, mas nada os impedia de curtir um ao outro de todas as outras formas...

XXX

A neve que caia aos poucos foi diminuindo um pouco. Antes do prazo previsto de um mês, as estradas haviam se tornado utilizáveis novamente. Richard estava ocupado, dividindo-se entre cuidar dos afazeres necessários- aquecimento, comida, e alojamento dos cavalos- e passar o maximo de tempo possível ao lado de Nicholas, seu amado menino. Antes dividiam a cama todas as noites, mas não tinham voltado a fazer amor nesses dias. Mas agora que ele sabia que o retorno dos pais do garoto podia acontecer a qualquer momento, não dava mais para Nick dormir em sua cama...

Mary estava plenamente recuperada da gripe e super alegre com o eminente retorno do resto da família e dos empregados. Ela não gostava de ficar sozinha, por mais que amasse a companhia de Nick, ainda se sentia deixada de lado quando foi obrigada a ficar na mansão.

No momento, eram nove horas de uma fria manhã de terça feira, já não nevava mais, porém, e a neva acumulada era suficiente para que pudessem fazer bonecos de neve. Estavam vestidos com pesadas e quentinhas roupas. O professor ria e divertia muito na companhia das duas crianças, nem imaginava que estava prestes a receber uma visita nada agradável.

-Nick!!!- Mary gritava, aproveitando que o garoto estava distraído para acerta-lo com uma bola de neve bem nas costas.

O menino ria. Ele nunca foi muito fã desse tipo de brincadeiras, mas estava muito animado dessa vez. Talvez por ter o professor ao seu lado, tudo se tornava mais e  mais significativo.

Foi então que ouviram o barulho de cavalos ao longe. Só poderia estar a caminho da mansão, não havia construção nenhuma nos dois quilômetros que cercavam a propriedade ...pelo jeito, os pais de Nicholas e as gêmeas estavam de volta.

-Eles chegaram!- a menina comemorou, enquanto o pequeno se sentia um pouco triste, Ficava feliz com sua família de volta, mas também queria ficar um pouco mais assim, curtindo sua romance com Richard.

Mas quando a carruagem de treno se tornou visível, logo notaram que não. Essa era uma das carruagens que eram alugadas na cidade mais próxima, bem diferente do luxo do veiculo da família Heagraves, então estava claro que deveriam se outra pessoa. Mas quem?

Era alguém que o professor sem duvidas não esperava: Vitoria, sua ex-noiva. O que ela estava fazendo ali? Principalmente depois dele ter ido a Londres  somente para terminar o compromisso que tinham...

- Richard.- ela desceu da carruagem, e estava mais linda do que nunca. A pele tinha perdido o bronzeado leve com o avançar do inverno, e a palidez fazia um belo contraste com o batom vermelho que lhe delineava os lábios cheios e macios, os cabelos loiros estavam mais curtos,  ajeitados em um corte Chanel, e vestia um elegante sobretudo branco que apenas evidenciavas as belas curvas de seu corpo. – eu sei que você está surpreso por me ver. Mas...na ultima vez que nos encontramos, não conversamos direito. Eu sei que reagir mal ao que você me disse, por isso eu vim aqui. Acho...que temos de resolver tudo direito. Afinal, ficamos juntos por tanto tempo...

- Vitoria...eu não sei...

-Eu não irei demorar.- ela cortou, não daria chances a ele de recusar. –por favor, eu já tive o trabalho de viajar até aqui...

-Está bem. Os donos da casa no momento não estão, mas acho que se a visitar for rápida não haverá problemas. Nick...Mary, podem continuar a montar o boneco de neve, eu volto daqui a pouco.

A bela mulher sorriu, satisfeita. Ela tinha ido sim atrás do ex-noivo, e esperava consegui resolver o assunto e talvez, convencê-lo a reatar o compromisso. Não se conformava com o fato de ter sido abandonada. Não conseguia entender. Era uma jovem segura de si e sabia que era bonita e inteligente, e não achava que ele pudesse ter achado uma mulher melhor, não no fim de mundo aonde tinha ido trabalhar. Sem duvidas, tinha sido uma das criadas a responsável pelo fim do seu romance...afinal, era a única possibilidade...e iria mostrar a ele o que estava perdendo, e que ela era melhor que qualquer outra que  Richard pudesse encontrar.

-Sente.- sem se sentir a vontade o suficiente para usar a sala dos seus patrões, o professor levou-a para seu quarto, aonde poderiam conversar a vontade.

-Obrigada.- conforme o oferecido, ela se sentou na cama, enquanto o moreno se sentava do outro lado na cadeira da escrivaninha.

-Bem, o que você ainda quer conversar?

-Richard...eu não entendo o que aconteceu. Sabe, naquele dia eu tinha ficado chocada demais para conseguir reagir e dizer o que eu precisava dizer. Nós tínhamos uma vida juntos, estávamos preparando nosso casamento, e você...depois de todos esses anos, simplesmente me diz que não me ama mais? Sendo que antes de vim trabalhar aqui já estávamos quase nos casando!

- Vitoria...simplesmente aconteceu...eu vi que não te amava mais e não havia porque continuar contigo se não havia mais sentimento. Eu já disse, me apaixonei por outra pessoa.

-Quem é ela? – perguntou, tentando se controlar, o que era difícil.- o que ela tem que eu não tenho?

-Você não está sendo razoável. Não é essa a questão. Você é uma mulher incrível.

-Mas não sou o suficiente, não? O que ela tem? Só pode ser uma daquelas mulheres que se prestam a tudo! Enquanto eu sou uma moça de família, virgem. É com isso que ela te segura? É isso que você quer?- falou, sem conseguir conter as lagrimas.

-Pare com isso, Vitoria. Não é nada disso.-ele queria consola-la, mas sabia muito bem que não podia dar esperanças, não tinha como o compromisso entre os dois ser reatado. Era melhor se direto nessa situação e acabar logo com qualquer esperança que ela pudesse ter.

Foi  nessa hora Nicholas bateu na porta e pediu para entrar, ao que o professor reagiu com alegria e alivio.

-O condutor está dizendo que o tempo combinado já passou. Ele perguntou se a senhora irá ficar aqui e voltar mais tarde, pois ele sairá depois dos 15 minutos que combinaram. E se poderia dar um pouco de comida aos cavalos, eles estão cansados...- falou, com seu jeito indiferente de sempre, e sem nenhuma expressão em seu rosto, aparentando não ter nenhum interesse no que falava.

-Ela vai agora.- Richard se pronunciou antes que ela pudesse dizer alguma coisa. –Eu vou ajuda-lo com os cavalos. Vitoria, quando acabarmos eu irei avisar.- antes de sair do quarto, sorriu para o pequeno e afagou carinhosamente os cabelos macios de Nick.

Nicholas não queria ser inconveniente, mas não conseguira aguentar esperar e tinha aproveitado o pedido do condutor para poder atrapalhar o que aquela mulher podia querer com seu professor. Estava claro que aquela era a ex-noiva de Richard, e ele se sentia extremamente enciumado. Não queria deixar os dois conversando sozinhos.  Mas também, não era de sua natureza madura e naturamente formal e fria agir de forma emocional, principalmente na frente de estranhos. Se bem que o que ele realmente queria era joga-la para fora de sua casa e nunca mais deixa-la voltar.

Enquanto isso, Vitoria já tinha entendido sua situação. Ela conhecia bem Richard, e logo notara o olhar com que ele fitava aquele menino. Um olhar com tanto amor e carinho...o mesmo olhar com que ele costumava fita-la antes, quando começaram a namorar. Então fora aquela criança que roubara seu noivo!

Claro, aquele garoto era lindo. Belo de um jeito que nem ela conseguia ser, uma beleza que nem parecia real. Ela poderia entender que um homem se sentisse atraído por ele. Aliais, porque qualquer um se sentiria atraído por ele. Talvez não tivesse mais como recuperar seu noivo...mas observando melhor o pequeno, percebera que ele tinha um ar extremamente indiferente e que não parecia retribuir os sentimentos que o mais velho tinha. Então ela ainda podia ter esperanças. Ela ia mostrar que o lugar de Richard era ao seu lado...

-Você é o filho do Duque Heagraves?

-Sim, sou.- o garoto respondera sem  nenhuma animação. – você quem é?

-Vitoria Stuart Jones. – sorriu, simpática, querendo sondar mais sobre a relação do garoto com o maior.- Richard veio para ser seu professor, não? O que tem achado das aulas dele?

-Não são ruins.- respondeu, mas uma vez sem aparentar interesse.- ele não é como meu antigo professor, Mr. Drakes, mas não tenho motivos para queixas de seu desempenho profissional.

-Ah...claro. Ele sempre bom para ensinar crianças. E...bem, seus pais, onde estão?

-Meu primo, o príncipe Phillip, se casou umas duas semanas atrás. Minha família tinha de comparecer a cerimônia. No entanto, eu tenho uma doença crônica e não posso sair da mansão. Como todos os outros empregados queriam aproveitar o feriado, ele se ofereceu para ficar aqui e cuidar de mim e da Mary. Não que isso lhe diga respeito.

Ela sorriu sem graça, pelo jeito o menino não tinha a mínima vontade de ser gentil com ninguém. Felizmente o clima embaraçoso não demorou a ser quebrado, pois o professor logo voltou avisando que o condutor estava prestes a sair.

-Venha, eu vou te levar até a carruagem.- falou, louco para se livrar do incomodo causado por ela. Ele sabia que esse aparecimento tinha aborrecido Nicholas. –Eu só tenho uma coisa a te dizer. Não tem como reatarmos nosso relacionamento, nunca mais. Não volte a me atrapalhar no meu local de trabalho.

-Eu não vou desistir de você.- Vitoria respondeu, convicta. – eu sei que vai acabar vendo o erro que está cometendo, e voltará para mim.