O Nosso Elo - A Ajuda. escrita por Dan Rodrigues


Capítulo 2
Tempestade - John.


Notas iniciais do capítulo

Agora, conheçam um pouco da história de John através da própria narração dele! Bjs Bjs, espero que gostem e comentem!



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2 – Tempestade. John

Acordei com o barulho do vento. O céu estava completamente nublado, mas meus sentidos me diziam que já eram oito e meia da manhã. As ondas quebravam muito altas, e não sei se meu barco agüentaria. Eu estava muito perto do litoral do Rio de Janeiro, e algo me dizia que o que eu buscava não estava muito longe. Eu não sabia se ainda estava sendo perseguido, mas tinha medo. O medo era só o que me restava, até meus poderes aviam enfraquecido.

Imaginei que o Brasil seria um bom lugar para me esconder sem ser perseguido. Mas eles são muitos, e unidos na presença de Lúcifer ficaram ainda mais poderosos. Eles têm uma vontade inacabável de levar os humanos para o buraco, por meio de drogas, e bebidas. Anjos malditos! Eles fazem do sexo algo banal, sem sentimento. Eu não sou assim, mas se eu estou aqui é por que errei, e eu preciso reparar esses erros. Por isso, Deus me mandou aqui. Aqui, eu sei que vou encontrar o que procuro; a ajuda necessária para mudar, para me renovar. Deus ainda está aqui, dentro de mim. Eu não vou desistir, nem vou me entregar.

Uma chuva muito forte começou. A praia parecia um borrão, mas eu sabia que estava no caminho certo. As ondas começaram a aumentar ainda mais de tamanho, e meu medo aumentou, por que eu sabia o que aconteceria naquele momento, sabia que estava sendo perseguido.

Foi quando uma onda maior atingiu meu barco. Eu fui atirado ao mar, de mais ou menos sete metros de altura. Meus sentidos não estavam muito aguçados, eu sentia frio acima do normal, e meu coração desacelerou. A minha parte humana estava morrendo, e com ela se esvairia todas as minhas chances. Se a minha essência humana morresse, eu nunca conseguiria encontrar ajuda. Não sentiria mais nada, e perderia parte dos meus poderes, agora já enfraquecidos.

Algo me segurou pelas costas. Eu tentei lutar, escapar, mas era mais forte do que eu, e agora me levava para a superfície. Claro, não queria me deixar morrer sozinho no mar, seja quem fosse, ou o que fosse, queria me matar com as próprias mãos, e eu tinha certeza de que era um deles! Abri os olhos, e o vi passando as mãos ao redor, na areia da praia, provavelmente criando um campo invisível em volta, para que ninguém atrapalhasse seu trabalho sujo. Mas quando ele virou-se para mim, e mirou meu rosto, eu o reconheci.

– Lars? – Minha voz saiu em um quase sussurro - Lars é você mesmo? – O medo desapareceu. Era meu amigo e irmão Lars, ele viera me salvar. Ou não.

– Você está louco?! Como, você pôde fazer isso, John, como?! – A voz dele saiu num tom estridente e fez a bolha ao nosso redor vibrar.

Lars foi criado no mesmo dia que eu, por isso considerava-nos grandes irmãos, e cultivamos uma grande amizade. Éramos uma dupla sensacional, cuidando, ajudando nosso senhor Deus. Ele era incrível, sempre foi mais forte que eu, mais poderoso, e me ensinou várias das coisas que eu sei hoje. Mas houve o dia em que ele caiu enganado pelas controvérsias de Lúcifer, e seduzido pela beleza das fêmeas humanas. Suas asas foram arrancadas, e eu cometi meu maior erro. Ele falou comigo, me chamou, me fez ver a beleza incomparável, cheia de pecados e sedutora das mulheres humanas. Eu caí junto com ele. Foi quando conheci Lúcifer.

– Eu percebi que era errado, irmão, o que eles estão fazendo é errado! Ele parecia não acreditar no estado em que eu me encontrava; tudo para fugir dali, fugir da ganância e do ego de Lúcifer. – Você também precisa fugir! Venha comigo, eu vim buscar ajuda, eu pedi ajuda a Deus e ele me atendeu!

Lágrimas brotavam das pálpebras de Lars. Eu sabia o quanto ele gostava daquele mundo, daquela vida no escuro, em meio a enganos terríveis cometidos por humanos. Ele era um deles, um demônio condenado, mas eu sabia que existia ajuda, que ele podia mudar, assim como eu estava tentando mudar.

E quando eu esperava que ele me acompanhasse em minha jornada, só o que eu ouvi foi o som psicótico e vibrante de sua gargalhada.

– Você está louco mesmo! – Ele jogou a cabeça para trás e sorriu ainda mais. – Deus, ouviu minhas preces! – Disse ele, em uma ridícula imitação da minha voz, do meu jeito de falar – DEUS não liga mais pra nós! Desista irmão, assim você vai morrer!

Eu reuni toda coragem para falar.

– Eu sou a prova viva de que ele liga sim para nós, Lars! – E isso, era meu maior trunfo e verdade. – Olha só para o meu corpo! – Eu disse, levantando os braços, tocando partes do meu corpo. Eu posso sentir, eu tenho uma parte humana! Ele me deu uma parte humana!

O corpo de Lars, totalmente ao contrário do meu, era branco, pálido, quase sem vida. Os olhos dele não tinham o mesmo brilho, ele não tinha veias, e o sangue quente não corria pelo seu corpo. Era como um robô. Ele não podia sentir o toque de nada, ele nunca teria prazer físico, naquela forma. Isso acontece quando suas asas são arrancadas, elas levam parte da nossa vida, dos nossos sentidos. Nem sei se Lars podia ter algum sentimento bom, já que o Satanás maldito vivia enchendo todos os anjos caídos de ódio e orgulho. E eu também já tive esse falso orgulho.

O rosto de Lars ficou sem expressão alguma, mas eu podia sentir seu medo, a coragem se esvaindo. Naquele momento, eu acreditei que ele podia mudar, e que dentro dele ainda havia algo de bom.

– Eu pensei... – Mais uma lágrima escorreu pelo seu rosto pálido –, pensei que Lúcifer tinha feito isso em você. Pensei que ele podia fazem em mim também.

– ELE?! – Eu senti raiva. – Ele não pode fazer isso, Lars, não se deixe enganar! Por favor, me escute, foi Deus, e ele ainda acredita que eu posso mudar, eu e ele acreditamos que você também pode mudar!

– Ele nos abandonou, John! – A voz de Lars saiu fraca, entrecortada por lágrimas.

– Não! – Eu gritei, sem me importar com a bolha ao nosso redor vibrando com o som da minha voz. – NÓS, O ABANDONAMOS! Ele quer nos ajudar, só isso! Escute-me, por favor, meu irmão, me escute! – Lars olhava para os lados, inquieto. Eu sentei-me e segurei seus ombros – Você sabe mais do que eu, que ele só quer o nosso bem. Lúcifer não! Esse, só quer nos ver na desgraça, adora saber que estamos todos caindo, vários de nós já estão aqui na Terra, e você sabe mais do que eu, mais do que qualquer um, que ele só nos quer por perto para fazer todo o trabalho sujo, pra nos subjugar e afrontar Jeová. Não importa o que ele te prometeu, irmão não confie, fuja comigo!

– Mais uma vez eu tenho certeza de que você está louco. Como eu posso fugir, John, se ele já tem poder sobre mim? Ele me encontraria e acabaria comigo, assim como ele vai fazer com você agora. – Ele suspirou – E mesmo que o que você está dizendo seja verdade, você não pode simplesmente voltar para debaixo das asas de Jeová, como se nada tivesse acontecido!

– Tem razão. Eu não vou voltar como se nada tivesse acontecido, vou voltar de cabeça baixa e de semblante humilde, por que pelo menos eu reconheço que isso foi um erro, e acho que você devia fazer o mesmo. Eu estou arrependido, mas não acabado.

- Tudo bem então! – Vi seus olhos se enchendo de ódio. Eu já não reconhecia mais meu irmão. – Voltarei para Lúcifer, por que já estou condenado e não há deus que possa me salvar!

– Não diga isso, Lars, por favor!

– É a verdade!

– Não. É algo em que você quer acreditar, para sofrer menos, mas isso vai acabar com você!

Ele relutou por alguns segundos, então deu um salto e desapareceu, atravessando a bolha que nos deixava invisível, me deixando sob o efeito dela.

Prometi a mim mesmo, que quando conseguisse mudar, eu tentaria ajudar Lars. Se ele quisesse ser ajudado.

A chuva agora estava parando. Não tinha muita gente na praia, mas eu ainda precisava da proteção deixada por Lars. Caminhei em direção a uma enorme calçada de pedra, muito cansado para me disfarçar, conseguir algo para comer. Tentei acomodar-me em um estreito e desconfortável banco de concreto, e descansei um pouco.


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Notas finais do capítulo

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