O Nosso Elo - A Ajuda. escrita por Dan Rodrigues


Capítulo 3
Uma brincadeira nada divertida - Susan


Notas iniciais do capítulo

Muito medo nesse cap! Espero que gostem! kisses! :D



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3- Uma brincadeira nada divertida. Susan


O telefone tocou na minha mesa de cabeceira logo após eu sair do banheiro. Eu me enrolei na toalha, e atendi.

– Oi, Susan! Sou eu, Gabriele!

Gabriele é muito amiga de Leila, e por isso se tornou minha amiga também. Ela é do tipo de pessoa que faz amizade muito fácil, e é até legal, mas o problema é que tem uma ganância, que às vezes a torna meio perigosa. Não entendi o porquê de ela ter me ligado.

– Leila está? – Não era para mim. Menos mal.

Leila ainda estava no transe que o John causou nela e em tia Sabrina. Eu tinha certeza que ele conseguiria o que pretendia: morar em nosso apartamento. Não sei por que, mas era o que ele queria. E eu não sabia muito sobre ele, mas sabia que ele conseguiria. Com aquele jeito, aqueles olhos verdes de gato, ele arrancaria a pele delas se quisesse. Tenho certeza que sim, mas nem o conheço. Isso é estranho!

Percebi que estava respirando no telefone há minutos, e logo interrompi meu bla-bla-bla mental.

– Hmm... Ela está na sala, quer que eu a chame?

– Claro, vai lá! – Sem um mínimo de educação, mas eu não dei tanta atenção.

Coloquei o fone em cima da mesa, e percebi que ainda estava só de toalha. Então, comecei a caminhar pelo corredor me esgueirando. Quando cheguei, coloquei a cabeça pra fora do corredor, tentando esconder o resto do corpo. Meu olhar encontrou o de John, e vi seus olhos verdes percorrendo o resto da parede. Fiquei constrangida só de imaginar que ele poderia ver através da parede, ver através da toalha. Encolhi-me ainda mais detrás da parede.

– Anh... Leila atenda ao telefone, Gabriele quer falar com você.

Leila fechou os olhos em uma piscadela, como se estivesse saindo do transe, e pegou o telefone.

– Oi, Gabriele! – Eu sai de lá, ainda podendo ouvir Leila tagarelando com Gabriele ao telefone, ignorando completamente a visita. E que visita!

Troquei de roupa e peguei meu livro preferido, que eu já havia lido umas vinte vezes, e nunca tinha me cansado. Não, eu não me cansei do Conde Drácula!

Talvez por que fosse algo que me tirava daquele mundo bizarro, e me levava para outro (mais bizarro ainda), que não me fazia sofrer tanto. Um mundo em que não importava eu não ter pais, por que na verdade eu não estava realmente vivendo aquilo.

Eu não entendia ainda o que estava acontecendo. Queria saber qual era a do John, que entrou tão de repente em minha vida. Ele tinha algo que me atraía que me fazia desejá-lo. E depois daquela noite em que me salvou, ele me fazia sentir segurança, eu sabia que estaria segura perto dele, mas não sabia se poderia me proteger dele.

Decidi ir preparar algo para o almoço. Com certeza eu poderia transitar pela casa agora, sem dar de cara com John. Mas eu imaginei que ele voltaria, e foi quando a campainha tocou. Eu pensei: “Anh?! Tão rápido assim?”.

– Leila, você pode atender à porta? – Gritei da cozinha.

– Sim, já estou a caminho!

Escutei a voz estridente de Gabriele na sala. Só podia ser ela, nos visitando uma hora daquelas. Não sei qual era a visita mais inconveniente, Gabriele ou John.

– Leila! Oi!

– Oi Gabriele, entra!

– Ahn, Susan... Então, como está ele? – Perguntou Gabriele.

– Como assim, ele quem? – Me perguntei se ela já sabia sobre John. Mas assim, tão rápido?

– Thiago, não é Susan, quem mais? – Ela disse, com cara de lesada – Hmm, você já tem outro, espertinha! Foi só o garoto...

– Me trair! – Eu a interrompi irritada.

– Calma, não era isso que eu ia dizer. Você não tá sabendo que ele se acidentou? Ele está em coma induzido, Susan, no Hospital Sírio Libanês! – Ela virou-se para Leila, e a lançou um olhar de descrença. – Por que não contou a ela, Leila?!

Minhas pernas ficaram bambas nesse exato momento. Eu podia sentir meu rosto gelando, minha pele ficando mais branca e o suor frio que começava a formar-se em minha testa. Tudo bem, o Thiago me traiu, mas eu gostava muito dele, é claro que eu me preocupo. Apertei forte minha barriga, tentando não vomitar. A dor e a insegurança rondavam pelo meu corpo, agora.

– Como isso aconteceu? – Perguntei a Gabriele, puxando uma cadeira e me sentando. Eu já sabia a resposta.

– Depois que você encontrou ele com aquela “patricete”, ele ficou louco. Ele já estava bêbado, quase não conseguia mais ficar em pé. E depois de beber mais um pouco, pegou o carro e foi atrás de você.

“Atrás de você” as palavras fizeram minha cabeça doer, ecoando por minha mente. Meus olhos fracos deixaram escapar algumas lágrimas, e eu solucei, sem me importar com a presença das duas.

– Ele está em coma induzido por que veio atrás de mim?!

– Não é culpa sua, Susan, ele estava muito bêbado, qualquer um que dirija bêbado daquele jeito pode se envolver em um acidente e até morrer! – Disse Leila, tentando me consolar.

– Já sei o que podemos fazer! – Começou Gabriele, abrindo a bolsinha de lado e pegando algo. – É fácil e quase sem erros!

Leila a olhou com uma expressão de incredulidade quando a viu tirar um copo da bolsa. Eu não entendi de início, mas percebi, depois de pensar um pouco, pra que servia o copo. Era de cristal fino, liso, de tamanho mediano, que reluzia enquanto ela o movimentava.

– Nem a pau eu faço isso, Gabriele! – Exclamou Leila. Eu me forcei a meramente fazer uma expressão de desgosto, para não gastar saliva com uma coisa ridícula como aquela. Mas confesso que fiquei um pouco interessada.

– Você já fez isso? – Perguntei.

– Claro! Já consegui me comunicar com minha avó, que faleceu há dois anos.

– Mas por que isso? Thiago não está morto! – Disse Leila. E eu sabia que a palavra que estava faltando naquela frase era: “Ainda”.

– Dizem que quando uma pessoa entra em coma, seu espírito fica em um estado entre a vida e a morte. Sustentando essa passagem, ele pode sim, se for invocado, fazer contato com alguém através do plano espírito/corpóreo – explicou ela. – Li isso em uma revista de espiritismo!

Depois de uma pausa, ela disse:

– Então? Vão querer, ou não? Vamos, Susan, é a chance de vocês se despedirem! Isso não seria romântico - ela falou com um olhar sonhador - e misterioso?

Minha cabeça doeu ainda mais. Algo dentro de mim me pedia para fazer aquilo, por que pra mim eu tinha certa culpa pelo que acontecera. Mas meus pensamentos me alertavam, diziam que algo poderia dar errado.

– Hmm, agora entendo Gabriele. – Claro, como sendo muito amiga de Gabriele, Leila tinha que ficar do seu lado! – Você quer dar uma ultima chance para os dois se despedirem.

– É, gente, e sem contar que a brincadeira do copo é muito misteriosa e divertida!

– De divertido isso não tem nada. – Falei – Li um pequeno artigo na internet que dizia que isso pode causar sérios problemas, se você invocar o espírito errado. E na maioria das vezes, os espíritos que aceitam entrar nesse tipo de brincadeira, são chatos e perseguidores.

– Você acha que se chamarmos Thiago ele perderia a oportunidade de falar com você? Ah, Susan, ele era louco por você, não tem nem como outro entrar no lugar dele!

– Bom, a Gabriele me convenceu! – Disse Leila – Adoraria ver momento romântico “Ghost”!

– Aiin, eu amo aquele filme! – Exclamou Gabriele dando pulinhos e batendo palmas.

– Do que vamos precisar? – Perguntei, aceitando aquilo que eu sabia que seria maior roubada.

– Bom, um copo virgem, eu já tenho! – Disse Gabriele, balançando o copo nas mãos – Agora, precisamos de um pedaço de papel com todas as letras do alfabeto e os algarismos de 0 a 9, além das palavras “sim”, “não”, e “adeus”.

– Vou pegar! – Depois de dez minutos, Leila trouxe um pedaço de cartolina e um pincel grosso preto, e começou a organizar tudo em um círculo.

– Leila, você tem que ficar fora do círculo, escrevendo todas as letras em que o copo tocar, e transformando tudo em palavras. Ponha a cartolina em cima da mesa. Nós duas, Susan, sentamos à mesa uma de frente para a outra e damos as mãos em cima da cartolina. – Disse Gabriele, pondo o copo no centro do círculo com a boca para baixo. – Vamos rezar duas ave-marias e depois eu vou dizer as palavras.

Leila pegou um caderno e uma caneta e ficou observando. Eu e Gabriele demos as mãos e rezamos as duas ave-marias. Esperei com os olhos fechados que ela dissesse as palavras.

– Spiritus invocaverint te. – Eu tremi ao som daquelas palavras. – Susan, chame por ele.

– Thiago? – Eu disse, com a voz trêmula apertando a mão de Gabriele bem forte. – Thiago, quero conversar com você! Se você está me ouvindo, venha!

– Diga sim, se estiver aqui, Thiago. – Disse Gabriele, soltando minhas mãos. – Precisamos colocar o dedo indicador no copo, Susan.

Fiz o que ela me pediu, e senti um tremor diferente em meu braço, ao tocar o copo frio. Ele então começou a se mover em direção à palavra “sim” perto do centro do círculo. Então, o copo moveu-se em direção a outras letras. Leila imediatamente começou a escrevê-las. Quando o copo fez uma pausa, Leila leu as palavras.

Estou com saudades, minha linda pequenina! – Era como ele me chamava. Minha linda pequenina”.

Eu comecei a chorar, e a sentir o aperto em meu coração.

– Você me traiu, Thiago. – Eu falei, soluçando.

O copo traçou caminho em direção a outras letras, agora mais rapidamente.

Me desculpe querida. Eu sinto muito. Estou muito arrependido. – Leu Leila. – Vocês querem saber mesmo o resto. Fiquei com medo dessa outra frase, aqui. – Disse Leila virando o caderno pra mim.

Leila, me deixe entrar. – Eu li.

– Como assim, entrar? – Perguntou Leila.

De repente, o rádio em cima da geladeira começou a tocar, e eu logo reconheci a música. Era nossa música. Eu reconheci de cara! “Bring me to life”, do Evanescence. Mas naquele momento, aquela voz sou estranha e aterrorizante.

De repente, Leila começou a falar. Mas não era a voz dela... Era Thiago.

Me desculpe amor! Eu realmente sinto muito! - porém a voz dele estava diferente... gélida... fria... e arrependida.

Eu caí da cadeira e comecei a rastejar, em direção à parede. Leila então fechou os olhos, e Gabriele se levantou de repente. A voz de Thiago agora saída da boca dela.

Você me causou isso! Foi você Susan! Como você pôde? - agora seu tom era de puro ódio e descrença. 

Então, a porta do armário se abriu, e todos os copos de vidro começaram a cair no chão e a se despedaçar um por um, e cada copo era um grito que escapava de meus lábios, por mais que eu tentasse os comprimir eu não conseguia.

E foi aí que eu vi meu salvador.

Foi quando eu vi o John entrando na cozinha em uma velocidade superior a que um ser humano pode conseguir chegar. Ele parou, então percebeu a cena. Gabriele começou a caminhar na direção dele, mas ainda falando na voz de Thiago.

– Você! Você não vai roubá-la de mim!- falava apontando o dedo para John. Eu observava a cena boquiaberta. 

E com a mesma velocidade que chegou, ele fez um movimento rapido e se postou atrás de Gabriele, John a abraçou por trás, e pôs a mão em cima da cabeça dela, inclinando a cabeça em um angulo de 45º, então pronunciou:

Precipio vobis discedere! – Então continuou em português – Em nome de Deus, eu ordeno que saia! – Gabriele e Leila caíram no chão ao mesmo tempo em um baque que me deixou mais assustada. – Preciso fechar o portal. – Ele se aproximou da mesa, e pegou o copo. Então, encheu com água da torneira e começou a pronunciar palavras quase que em um sussurro que eu não entendi. Então, jogou o copo pela janela. O copo se quebrou, e a cartolina foi em direção ao chão. O rádio parou, e o pesadelo estava acabado.

Ou não...


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Notas finais do capítulo

N/J: E deixem reviews para o Dan^^
Ah, e esse negocio de "Patricete" entendam como Projetil a Patricinha.