POV – NICKY

Nicky o encarou por alguns instantes enquanto se recuperava do susto. Ela pegou o buquê. Dava pra se ver algumas gotas nas pétalas das tulipas, como se o orvalho da manhã ainda estivesse lá. Eram as mais bonitas de todo o jardim. No começo, Nicky achou uma crueldade ele ter arrancado justo as mais bonitas, mas considerou que a atitude dele foi muito gentil e ele não tinha feito por mal.

–Obrigada. – Nicky tentou demonstrar o máximo de felicidade possível para fazê-lo sentir-se melhor.

Ele ficou parado por um instante como se não soubesse o que falar.

– Quem é você? – Ele perguntou.

– Meu nome é Nicky.

– É um nome bonito.

Nicky se lembrou de quando Charlie disse a mesma coisa.

– Obrigada.

Ele apontou para a casa de Charlie.

– Conhece as pessoas que moram aí?

– Charlie? Conheço.

– Tem também o Daniel. Mas ele só volta pra casa de vez em quando. – Ele pôs as mãos nos bolsos da frente da calça jeans rasgada.

– Eu também o conheço. Mas o que ele tanto faz fora de casa?

– Eu não sei. Eu não falo muito com eles. O que... – Ele fez uma pequena pausa como se decidisse se perguntava ou não- O que você estava fazendo na casa deles?

Nicky por um momento pensou em perguntar se ele estava espionando ela, mas não fez isso.

– É uma longa história.

–Oba! –Ele se sentou na grama e cruzou as pernas. – Pode começar.

Então, Nicky contou sua história. Desde que havia entrado na floresta até o momento em que havia pegado as roupas de Leah emprestadas. Ele era um bom ouvinte, não interrompia e ouvia com muita atenção e interesse. Ela se sentiu bem ao contar pra ele.

– Que estranho.

– O que?

– Essa sua história. Não que eu não acredite. Claro que eu acredito. Até porque eu sei que você não é daqui. Mas é inexplicável o modo como veio parar aqui.

– Eu sei. Eu queria saber.

– Talvez seja melhor se você não souber.

– Claro que será melhor se eu souber! Eu quero um dia poder voltar pra casa.

– Mas talvez você possa voltar pra casa da mesma forma inexplicável como veio parar aqui. Seria muito mais divertido.

– Divertido?- Nicky não entendia como aquilo podia ser divertido.

– Se tudo no mundo tivesse uma explicação lógica, seria muito sem-graça. De que adiantaria você voltar pra casa e contar suas aventuras se não tivesse um pouco de mistério?

– Eu nunca pensei dessa forma.

– Talvez não tivesse tido tempo pra pensar dessa forma. Pelo que me disse, desde que chegou aqui, tudo que você fez foi tentar achar um modo de sair daqui. Você deveria relaxar um pouco e simplesmente deixar as coisas acontecerem. Pode ser mais rápido do que imagina. – Ele parou de falar e olhou para o chão. -Aqui é tão ruim assim?

– Não. Não mesmo. Aqui é incrível.

Ele tinha razão em tudo que ele disse. Ela gostava da forma como ele pensava.

– Então talvez deva esperar.

– Talvez eu deva. – Nicky concordou alisando cautelosamente as pétalas das tulipas de seu buquê. Jake olhou pra ela.

– Gosta de tulipas?

– Adoro tulipas.

– Que bom. Espero ter acertado então. Mas desculpe tê-las arrancado.

– Tudo bem. Ficou muito bonito.

– Ah, obrigado.

Nicky riu.

– O que foi? – Ele olhou pra ela como se ela fosse louca.

– É engraçado você agradecer. Fui eu que ganhei o buquê.

Dessa vez, ele começou a rir com ela. Não tinha graça nenhuma, mas talvez fosse exatamente por isso que eles ficaram rindo que nem dois retardados.

Nicky ficou pensando em como naquele mundo as pessoas eram simpáticas e legais. Jake tinha mesmo razão. Ela devia aproveitar por ter essa chance.

Já devia ser lá pras dez horas da manhã e estava ventando muito em todas as direções. Os cabelos ruivos de Nicky entravam às vezes em sua boca e ela odiava quando isso acontecia. Estava estranhando a demora de Charlie.

Ela deu uma olhada em volta para ver se ele estava por lá.

– O que está procurando?

– Charlie já saiu faz um tempão e disse que ia voltar logo.

– Mas ele não definiu o que era ‘voltar logo’.

– Mas ele está demorando muito.

– Não tem como ele se perder. Ele vai à floresta todos os dias, pela manhã e á noite.

– E o que ele faz lá?

– Eu não sei.

De repente, Nicky ouviu um estrondo e um bater de asas. Jake ergueu a cabeça.

– Viu? Eu disse.

Nicky se virou viu Charlie descer do dragão e olhar de Nicky pra Jake como se estranhasse os dois sentados ali, na grama de seu quintal, um do lado do outro.

– Eu já vou indo. – disse Jake se levantando.

Nicky ainda estava olhando pra Charlie caminhando em sua direção. Quando se virou pra falar para Jake que não precisava ir embora, ele já estava longe.