POV – NICKY

Nicky se sentiu um monstro por ter odiado Leah sem nem conhece - lá. Ela não era assim. Odiava se sentir assim. Ao longe, viu Leah e Daniel conversarem empolgados. Sem Charlie sentia-se perdidinha.

Daniel virou aqueles olhos verdes na sua direção e perguntou alguma coisa á Leah, que pareceu se lembrar dela. Leah fez um gesto com a mão, chamando Nicky.

Nicky realmente odiava segurar vela no meio de um casal, especialmente aqueles que ficavam se beijando o tempo todo, e torceu para que eles não fizessem isso. Isso lembrava á Nicky que nunca havia beijado ninguém. Não era nada de tão inaceitável, mas ela se sentia desconfortável.

– Nicky, esse é o Daniel, meu namorado. – Leah pareceu confusa sobre como apresentá-lo corretamente.

Ele exibiu seu sorriso perfeito e lindo.

– Oi Nicky. – Era muito fácil se apaixonar por ele.

– Oi. – Nicky não sabia ao certo o que falar.

– Nicky!

Ela se virou. Dessa vez era Charlie. E ela ficou feliz por vê-lo ali, pois ela não sabia mesmo o que dizer entre Daniel e Leah e ia ficar constrangida.

Charlie pareceu examiná-la e disse com um sorriso bobo:

– Essa roupa ficou muito bem em você.

Nicky fez um gesto involuntário, olhando para baixo para relembrar que roupa estava usando.

–Ah... Obrigada. - Nicky falou corando, pois não esperava esse tipo de comentário.

– Nem me nota aqui, hein? – falou Daniel.

– Daniel?

Charlie e Daniel se abraçaram dando tapinhas nas costas um do outro, como se não se vissem há muito tempo.

– Já conheceu meu irmão?- Charlie perguntou pra Nicky.

“Ah, claro. Como sou burra. É por isso que são tão parecidos. Dãã.” – Nicky pensou consigo mesma.

– Já.

Depois de conversarem mais um pouco, Daniel e Leah foram passear juntos e Nicky ajudou Charlie a alimentar Lenna, que parecia mais calma hoje.

– Nicky, todo dia, pela manhã, depois que ela come, eu vou passear com ela voando. Mas... Será que você...?

–Não! – Ela respondeu automaticamente- Quer dizer... Eu não gosto muito de... Tá! Eu tenho medo de altura, ok? Pronto, falei.

Charlie riu.

– Eu já imaginava mesmo. É que eu não queria te deixar sozinha aqui, e eu realmente tenho que passear com ela, sabe?

– Tudo bem, pode ir, eu não vou sair daqui.

Nicky sentou-se debaixo de uma árvore que parecia um carvalho, mas ela não tinha certeza.

– Certo. Eu vou voltar o mais rápido possível.

Depois, ele saiu voando (Na verdade, Lenna saiu voando).

E se passou meia hora.

Passou-se uma hora.

E depois uma hora e meia.

Não tinha relógio, mas sua noção de tempo era boa e na verdade, foi mais ou menos depois de uma hora e meia que Nicky levantou, impaciente e começou a rodar pelo imenso jardim frontal da casa de Charlie. Era muito bonito, havia tulipas, cravos, amores-perfeitos e diversas outras flores coloridas que ela não sabia o nome. De tanto esperar debaixo da gostosa sombra de uma árvore, tudo que queria era entrar na casa de Charlie e se jogar naquela deliciosa cama na qual tinha dormido na noite passada.

De repente, como se fosse a coisa mais inexplicável do mundo (e, naquele momento, pareceu mesmo), perguntou-se onde estariam os pais de Charlie. Anotou mentalmente para perguntar á ele depois.

Ainda olhando para as flores, enquanto viajava em seus pensamentos, notou uma parte do jardim onde não havia flores, apenas caules decapitados jogados pelo chão.

Era como se alguém tivesse arrancado um bocadinho de flores de uma das partes do jardim, onde deveriam estar as tulipas. Achou uma pena, afinal, ela adorava tulipas.

Chegou mais perto para examinar. Não era um estrago grande. Apenas umas sete ou oito flores foram arrancadas. Ás vezes, quando passeava pela rua, arrancava algumas flores aleatórias e ficava brincando com suas pétalas até por fim, jogá-las fora. Mas Nicky sentiu pena das florezinhas.

–Coitadinhas... – Ela sussurrou.

–Desculpe. Não fiz por mal.

Nicky se virou assustada e surpresa e se deparou com um menino de rosto muito simpático, pele muito branca, olhos cor de areia muito claros, e cabelo preto até o seu pescoço, um pouco acima do ombro e lhe caindo pela testa e parte do olho esquerdo. Ficou tão pasma que não conseguiu falar nada. Ele havia se aproximado tão silenciosamente que ela nem tinha notado.

–Oi. Meu nome é Jake.

Ele entregou pra ela um lindo buquê de tulipas, cuidadosamente amarrado com um laço lilás.

Ele forçou um sorrisinho triste como se pedisse perdão por não ter saído do jeito que ele queria.