Sempre que a minha escola resolvia apresentar uma peça eu nunca me interessei de verdade em fazer um teste. Os miseráveis, Os limpadores de chaminé, Alice no país dos espelhos, Sonho de uma noite de verão e bla bla bla. Foram diversas encenações ate por que a Charles Darwin High School tem em seu programa o que eles chamam de “expressão artística” isto é se você não participava da peça teria que procurar outra atividade como cantar, dançar ou tocar qualquer instrumento. Eu preferia escrever para a “semana da imagem” que é quando a escola faz uma mostra de materiais de leitura e desenho – como poemas de autoria própria ou fotografias- para a família e os alunos. Meus pais gostavam do que eu escrevia.

Pois bem, quando surgiu a ideia de representar teatralmente a peça “A Bela e a Fera” o meu conto infantil preferido de todos os tempos. Sempre, sempre. Pela primeira vez na vida eu decidi que faria o teste. Para ser a Bela. Eu tinha definitivamente tudo a ver com ela. Gosto de ler, ando no mundo dos sonhos e quase não tenho amigos. Eu definitivamente tinha que ganhar o papel. A vida imita a arte. Sim, sim. Eu nem precisaria interpretar.

Quando cheguei a sala do professor Adam Rodberg – professor de Arte e responsável pelo projeto “expressão artística” - e anuncie que queria fazer o teste para Bela seus olhos verdes esbugalharam por trás da lentes dos seus óculos e sua boca escancarou mostrando as liguinhas vermelhas de seu aparelho ortodôntico. “Você quer fazer um teste?” Nossa, incentivador. Eu respondi que sim e pedi a lista de audições. Animada coloquei meu nome Renesmee Carlie Cullen com meus garranchos – obrigada, mãe.

Peguei o papel com a cena que interpretaria da Bela e dei uma lida. A cena envolvia a parte em que Bela vai visitar o pai e leva consigo o espelho para que possa ver a Fera. Passado alguns dias a Bela vê pelo espelho que a Fera esta morrendo e corre de encontro a ele.

Bem típico, a cena de drama.

Chegando em casa dei a noticia de que iria fazer uma audição para um papel na peça de “A Bela e a Fera” da escola, minha mãe feliz começou a tagarelar sobre como eu iria ficar muito linda vestida de Bela e de como esse conto é o mais real e que mostra que “o importante é o que está dentro e não fora” em suas palavras já meu pai não gostou muito da ideia.

“Eu prefiro que você fique longe de tudo que envolva arte, sabe como é, vai que você gosta e decide ser atriz.”

Meu pai não tem nada contra atrizes, ele só se garante no diploma. Quando comecei a estudar Psicologia ele disse que “ser atriz agora não parece uma péssima ideia desde que você pare de analisar o meu comportamento.”

Homens!

Animada eu ensaiei todos os dias. Com meu pai, minha mãe, meus avôs, meus padrinhos, a Bea e meu enorme urso que eu ganhei do meu pai quando fomos á Disney, o Toddy-Cut Bear Cullen. Tinha que dar certo.

Animada, alimentada com um café da manha recheado de frutas e iogurte e com determinação eu segui para a aula pronta para mostrar ao professor Adam minha maravilhosa encenação de Bela.

O auditório estava LOTADO! Mesmo. Gente de todo tamanho, idade, cor e estilo estavam aglomeradas nas cadeiras azuis acolchoadas com papeis em suas mãos e nervosos. Dei uma olhada em todos e encontrei alguns conhecidos. Amy Highway obviamente estava lá com seus cabelos loiros brilhantes e seu tênis Converse Chuck Taylor. Puft!

Não era nenhuma novidade, aposto que ela também estaria em busca do papel de Bela.

Ei olha só, Will esta ali também. É William Jayden Black estudou comigo por muito tempo até que seu pai faleceu e ele teve que voltar para os Estados Unidos quando entrou para o ginásio.

Sentei na ultima fileira enquanto esperava ser chamada. Analisei as interpretações. Por nervosismos muitas erravam ou riam, algumas ate saíram correndo assim que encarou os professores na bancada que ficava na primeira fileira.

O professor Adam Rodberg estava por lá- dãã Renesmee-, a professora de Literatura Allison Reyes e a professora de Inglês Melissa Bishop.

Quando o professor Adam chamou Amy ela levantou toda na pose, atravessou o auditório cheia de si e sorriu assim que pisou no palco.

E ela foi malditamente boa interpretando a Bela. Humpf!

Eu definitivamente tinha que ganhar dela. Por que na ultima “Feira de Ciências” ela levou a melhor com a imitação do Vulcão Katla- um vulcão da Islândia- entrando em erupção. A minha demonstração de como o Monte Vesúvio cobriu com suas cinzas a cidade de Pompeia não pareceu tão interessante para os olhos dos jurados. Mas ali, naquela peça eu tinha que ganhar o papel de Bela.

Eu sou a Bela na vida real e não a Amy. Ela não lê – a não ser que seja revistas de moda ou fofocas e tudo bem ela ultimamente andava lendo uma serie de livros-, mas ela é popular – pelo menos é o que diz o banheiro masculino e eu soube por causa do meu primo, Elijah e ela não é alienada. Ela presta atenção em tudo. Sério. E infelizmente, ela é inteligente. Manda super bem em Matemática. Tanto que hoje cursa Administração em uma dessas Universidades de Ivy League .

Mas o papel de Bela tinha que ser meu. Eu estava tão sintonizada com a minha mente que não ouvi quando meu nome foi chamado. Respirando fundo eu levantei do meu lugar e rumei para o palco, sempre pensando.

“Amy Highway este papel não será seu.”

Minha primeira (e ultima) audição para Bela de “A Bela e a Fera”

Flashback

-Renesmee Cullen?

O professor Adam chamou já um pouco impaciente.

-Aqui. Respondi já subindo os cinco degraus que levava ao palco. Respirando fundo dei uma analisada em todos os professores sentados a minha frente. Relembrando das minhas falas e dos meus ensaios em minha casa com minha família comecei a interpretar.

Só que eu não contava com um espelho e meu pai interpretando entediantemente a Fera deitado na minha cama. Só tinha eu e eu mesmo. Por isso muitas vezes eu olhava para os lados, coçava a cabeça perdida e sacudia tentado clarear meus pensamentos. Definitivamente eu não fui boa nas audições e isso ficou evidente quando Amy cheia de si passou por mim ainda pouco no refeitório com sua bandeja cheia de vegetais. Ela é vegetariana.

Bea me garantiu que eu não fui a pior, que Vanessa Eagle deu um vexame quando ficou de joelhos e pediu uma segunda chance enquanto lagrimas caiam de seus olhos e catarro escorria do seu nariz. Eca, Bea!

Mas enfim chegando em casa eu garanti aos meus pais que eu tinha gostado do teste e se não ganhasse o papel não ganharia nenhum outro. Isso eu tinha certeza. Mas o professor Adam não.

Quando cheguei à escola na sexta-feira ele tinha divulgado a lista dos personagens.

Patricia Geller tinha ganhado do papel de Bela.

Will ganhou o papel de Fera.

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....

Amy Highway ganhou o papel de Madame Samovar.

E Renesmee Cullen ganhou o papel de Chip.

O QUE? ! Como assim eu fiquei com o papel de uma xicara? É mesmo? Eu preferia ter ficado sem papel nenhum, mesmo. Não me passou despercebido que Amy ganhou o papel de Madame Somovar – a chaleira e mãe da Chip.

Que coincidência. Mas nada foi mais surpreende quando o professor Adam me disse o porque de ter me colocado no papel de Chip, a xicara depois que eu entrei em sua sala exigindo explicações.

“Renesmee você tem uma voz maravilhosa. E temos uma parte em que os personagens cantam e a Chip tem um solo.”

É legal!

Meus pais gostaram da apresentação.

Espalhadas pela minha casa e o Escritório de Advocacia Swan-Cullen tem fotos minhas vestida lindamente de xícara e com uma cara bem suspeita. Tem uma te com a Amy – nesta eu estava com um sorrisinho sacana. Eu amei irrita-la sempre que eu a chamava de mamãe. Durante muito tempo.

Mas, a vida é assim baby. Pelo menos algo bom nisso tudo.

Fim do flasback