Running Away From Hell escrita por GabanaF


Capítulo 9
Cap. IX — Remember


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, como vocês estão? Espero que bem, por que eu vou ótima com essas notícias sobre Faberry que estão saindo...
Enfim, eu queria agradecer a vocês novamente - e provavelmente farei isso até o fim da fic, espero que não se chateiem - pelos comentário e recomendações, muito obrigada mesmo.
Neste capítulo as coisas ficam um tanto sérias, tem... vamos ver... algumas surpresas nele, eu espero que vocês realmente gostem delas.
Vejo vocês lá embaixo!



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17 de Março de 2012

Sala de Estar, Mansão do Sam, TN

12:23 AM

— Brittany...

A voz de Rachel era distante, Brittany não queria ouvi-la. Sentiu dedos finos sobre seu ombro, mas não se mexeu. Fitava o quintal na frente da mansão determinada. Ela não sairia dali. Não enquanto não visse o vulto de sua namorada chegando.

Fazia horas que eles tinham saído. Não era possível que aquele condomínio fosse tão grande. Eles tinham que voltar, Santana tinha que voltar. Se alguma coisa acontecesse com ela... Não. Manteve-se firme. Não aconteceria nada com ela, por que, afinal de contas, sua namorada era Santana Lopez. Nada aconteceria com ela.

Passou a repetir para si. Santana estava bem. Os outros também estavam. Talvez um pequeno imprevisto, uma horda de walkers maior que o natural, nada que eles não pudessem resolver. Santana estava ali perto, estava chegando. Tinha que se tranqüilizar, por que nada poderia acontecer a sua namorada.

Então, por que ela não conseguia sair da vigília na janela?

— Os outros estão dormindo, você deveria ir também. — A voz de Rachel continuava no seu ouvido, mas não deu atenção. Tinha que ser a primeira a abraçar Santana, a enchê-la de beijos e pedir para Quinn preparar um café para elas. Ela não podia sair da vigília. Não enquanto Santana continuasse do lado de fora.

A mão de Rachel permaneceu em seu ombro pelo que lhe pareceu horas. Brittany sentia o apoio, e estava feliz por isso, contudo, tinha de enfrentar aquilo sozinha. Por fim, ouviu um suspiro e logo em seguida os passos de Rachel saíram da sala.

Esperaria.

Até a casa ser invadida por walkers, até o fim dos tempos.

Esperaria por Santana para sempre.


16 de Março de 2012

Jardins da Frente, Mansão do Sam, TN

03:15 PM

— Como nos velhos tempos — disse Puck animado, estralando os dedos e abraçando Quinn de lado com um sorriso malicioso no rosto.

A garota fitou o braço dele ao redor de seu pescoço com um olhar inquiridor.

— Que velhos tempos? — indagou sincera.

— Lima — respondeu com ar sabe-tudo. — Sobrevivemos quase uma semana numa estrada no meio dos Estados Unidos nesse inferno. Estes são novos tempos! — Puck fez um gesto abrangendo o jardim da mansão. — Lima fica no passado.

Quinn acenou que compreendera e pediu para que Puck parasse de falar. Embora estivesse feliz por ele estar aceitando tão bem a morte de Shelby, estava começando a estranhar aquele Puck filósofo. Ela se desgrudou do garoto, fazendo um sinal positivo com o dedão, tentando estar tão animada para aquilo quanto ele.

A verdade era que ela não queria deixar Rachel sozinha. É claro, da mesma forma que Santana e Sam com suas respectivas garotas, mas Rachel ainda estava muito frágil. Da última vez que tirara os olhos dela por um segundo... Bem, Rachel entrara em coma.

— Relaxa colega — Santana disse abraçando Quinn por trás. Ela deu um beijo em sua bochecha; Quinn ficou se perguntando que tipo de droga Brittany teria dado para Santana. Esperava que não fosse Coca-Cola outra vez. — Meu amor vai cuidar do seu amor, fique calma. — E se dirigindo a Sam e Puck, falou: — Vamos limpar a área!

Santana soltou-se de Quinn e brandiu sua pistola no ar. Puck fez o mesmo, batendo um high-five com ela depois. O olhar de Quinn encontrou o de Sam, os dois riram silenciosamente dos amigos. Quinn conferiu se estava com o facão preso à perna, a pistola em seu cinto na cintura, e puxou o ferrolho do pistolão que estava na sua mão.

Iriam ao condomínio caminhando. Os tênis All Star surrados dela não agüentavam muito mais, no entanto era o único sapato que possuía, pois dera o outro para Rachel. Mesmo em um apocalipse zumbi, ainda doía ter que entregar ao tão valioso para ela à outra pessoa — tal qual a camisa xadrez com que Rachel desfilava na parte da manhã.

Antes de fechar a porteira que guardava a propriedade, ela lançou um olhar para a terceira janela do segundo andar. Não achou nenhum sinal de que Rachel estava ali, então presumiu que ela ainda estava na sala de música. Soltou um suspiro pesado, sentindo o vento passar por seus cabelos rosados. Demorou um pouco para que pudesse fazer com que suas pernas se mexessem para seguir os outros.

— Eu vou voltar Rachel — murmurou para si, finalmente tirando os olhos da janela da mansão. Puck e Santana brincavam de pega-pega pouco mais a frente enquanto Sam repreendia-os para que não fizessem barulho. — Eu sei que vou.


16 de Março de 2012

Plantation Boulevard, Lebanon, TN

03:31 PM

O portão de entrada intimidava Santana. Ele era alto, quase quatro metros de altura, e quando o vento passava forte, rangia tanto que fazia seus ouvidos quererem sangrar. Ela olhou de relance para seus amigos, eles pareciam estar tão assombrados quanto ela.

Quinn falou primeiro.

— Já estamos aqui. Não vamos dar no pé.

Quinn avançou alguns passos e mexeu nas correntes grossas que cercavam a fechadura. Santana observou o olhar de Quinn cair sobre a arma em suas mãos e voltar ao cadeado. Ela arregalou os olhos e, antes que pudesse dizer alguma coisa para impedi-la, Quinn tirou um grampo de seus cabelos róseos e apressou-se a trabalhar para abrir o cadeado.

— Desgraçada — Santana murmurou para si após o susto.

— Eu ouvi isso — disse Quinn, concentrada na fechadura.

Sam e Puck riram. Santana revirou os olhos, focando na estrada. Não havia nenhum morto-vivo à vista. A mansão de Sam estava a quase dois quilômetros de distância, quase podia vê-la dali se não fosse mais uma pequena reserva florestal no meio do caminho. Suspirou, tentando não imaginar os problemas que aquele conjunto de árvores juntinhas e o condomínio poderiam trazer para o grupo.

Depois da inspeção, iriam fabricar cercas. Santana não fazia ideia de como (Sam talvez pensasse que poderiam cortar as árvores, enfiá-las na terra e rodeá-las de arame farpado), mas precisavam. Desejava não ter deixado Brittany sozinha, mesmo sabendo que ela saberia se cuidar se acaso algo acontecesse. A mansão estava muito mal protegida. Não apenas de walkers, mas inclusive de seres humanos.

Quinn terminou seu serviço e abriu o portão com um rangido que não fez nada bem aos ouvidos de Santana. Ela fez uma careta para Sam e Puck, porém seguiu uma concentrada Quinn para dentro do conjunto habitacional. Santana sentiu um arrepio involuntário na sua espinha, o que lhe dava a terrível sensação de que as coisas ali não sairiam muito bem.

— Bem, é isso — sussurrou Quinn, parada na rua principal como se fosse a rainha de tudo, e Santana tinha que admitir que talvez ela fosse. A garota virou-se para os outros três, o espírito de aventura bem expressado em seu rosto. — Vamos fazer juntos ou separados?

Santana, Puck e Sam se entreolharam. Obviamente, já tinham a resposta perfeita para aquela pergunta.

— Juntos — disseram em uníssono.

Quinn assentiu. Seu olhar encontrou o de Santana e ela esboçou um sorriso esnobe, como se dissesse “covardes”. Santana lhe respondeu fazendo um gesto obsceno.

— Vamos então — Sam interrompeu o início de briga das duas. — Temos muito trabalho a fazer.

Sam caminhou decidido para a primeira casa à direita. Como na vizinhança ao redor da mansão, as casas ali eram de primeira. Pelo que Santana conseguira ver da rua principal, todas eram enormes e caras, se ainda estivessem na antiga realidade. Contudo, naquele mundo, isso significava que estariam em um número maior de walkers. Santana não tirava da cabeça os acontecimentos da cidade-fantasma do dia anterior.

Engoliu em seco e andou ao lado de Quinn. Ela deixara Sam para abrir as casas, carregava nas mãos agora o facão e sorria para Santana de uma forma divertida. Quinn sempre agia daquela maneira. Como se estivesse prestes a invadir um videogame e matar todo mundo.

Santana franziu a testa. Aquela era a primeira vez que tinha um brilho estranho nos olhos da amiga. Talvez fosse felicidade de verdade, pensou enquanto os dois garotos entravam na casa com as armas em guarda. Rachel estava com ela depois de muito tempo. Ela não lutava pela própria vida agora, mas também pela de Rachel.

Era mais um bom motivo para protegê-la de tudo àquela tarde.

O cérebro de Santana se desligou sobre Quinn e Rachel ao entrar na casa. Como ela suspeitava a mobília, os arranjos, praticamente tudo lembrava à riqueza extrema. À exceção do cheiro. O fedor de zumbis era reconhecível de longe. Seus olhos lacrimaram, arderam. Santana coçou-os, empunhando seu facão como uma espada.

— A gente já fez isso — sussurrou Puck. A garota, se recuperando do odor terrível de dentro da casa, achou isso extremamente óbvio. — É só limpar tudo.

Quinn revirou os olhos e mandou Sam subir as escadas com Puck. Santana tinha quase certeza que era para evitar as falas cada vez mais filosóficas dele. Não teve tempo para pensar, pois Quinn lhe fazia sinais frenéticos pedindo para que a seguisse.

Passaram do hall para a sala de estar. Elegante e luxuosa sempre. Quinn olhou rapidamente pelo sofá confortável e a televisão de plasma, apontando-os para Santana. Lembrava a ela vagamente dos móveis que tinham em Lima, da mansão Fabray. Ela engoliu em seco, imaginando o que havia passado na cabeça de Quinn naquele momento, e seguiu em frente, na direção da cozinha.

As paredes respingavam sangue. Ela fez uma careta de nojo ao se deparar com um cadáver em total estado de decomposição estatelado no meio do chão da cozinha. Alto, com uns trinta anos, usando um roupão de tecido fofo. Santana podia vê-lo descer as escadas numa madrugada para pegar um copo de água gelada.

Ela não tinha certeza se ele estava morto pela segunda vez ou não, mas antes que pudesse fazer um movimento com o facão ou pegar sua arma, Quinn já passava por ela e dava um de seus golpes perfeitos no pescoço do cara, arrancando a cabeça de seu corpo.

Ela revirou os olhos, Quinn às vezes era perfeita até demais. Mas, vendo o sorriso orgulhoso e brincalhão da amiga, não segurou e sorriu também.

— Hora de checar os armários — disse animada, pulando o corpo do provável dono da casa e abrindo um dos armários bem adornados.

Santana acenou em concordância e apressou-se a abrir um mais perto dela. Não encontrou muita coisa interessante: um grande saco de amendoim mofado, duas garrafas de vodka vazias e, Santana franziu o cenho, uns CDs antigos.

Ela suspirou um pouco decepcionada, virando-se para o armário ao lado. Quinn soltou uma exclamação surpresa que a fez esquecer-se da sua tarefa para ver o que ela tinha conseguido.

— Bacon! — exclamou, com os olhos cintilando. — E sem mofos!

Quinn jogou o pedaço de bacon embalado na direção de Santana para que ela o colocasse na mochila que trouxera. Emburrada — ainda tinha esperanças de que pudessem encontrar algumas latinhas de Coca —, ela pôs o precioso alimento de Quinn no fundo de um dos bolsos da mochila.

Elas procuraram por mais alguns minutos até que Sam e Puck voltassem ao térreo, com suas respectivas mochilas parecendo, pelo menos aos olhos de Santana, já completamente cheias.

— Achamos um monte de coisa legal! — disse Puck entusiasmado, tirando a mochila dos ombros e começando a abri-la.

Ele tirou dela um videogame portátil, um notebook Apple e mais dois ou três produtos eletrônicos que não teriam serventia nenhuma sem internet. Santana olhou para Sam, pedindo explicações silenciosas de como aquilo ocorrera, mas ele simplesmente balançou a cabeça e falou:

— Achamos dois mortos lá em cima, o filho e a mãe, eu acho. — E deu de ombros, sem se importar. — Vamos sair dessa casa logo, temos mais ou menos mais outras vinte para revistar.

Sam deu tapinhas no ombro de Puck, que continuava animado até demais com suas quinquilharias, e saiu da cozinha. Quinn suspirou subitamente triste, seguindo Sam. Sobraram apenas Santana e Puck no aposento. Olhou para Puck, sorrindo alegre, e imaginou pela primeira vez que talvez ele não estivesse lidando muito bem com a morte de sua namorada.


16 de Março de 2012

Plantation Boulevard, Lebanon, TN

03:40 PM

Puck estava bem.

Não surtara, agia normalmente, fazia brincadeiras que deixavam os outros três putos com ele. Noah Puckerman estava bem. Muito bem, obrigado. Tão bem que poderia pular de um penhasco e não sentir nada. Tão bem que sentia vontade de pular de um penhasco para descobrir se realmente não sentiria nada.

Ele estava bem.

Olhou para Santana durante o caminho em direção à revista da terceira casa. Não conseguiu não sentir inveja. Santana tinha Brittany para se aconchegar ao voltar à mansão de Sam. Quinn tinha Rachel pra abraçar ao regressar. Sam tinha Mercedes.

E o que tinha? Uma namorada morta por walkers.

Mas não se preocupou, pois estava bem. Tinha Beth, saberia lidar as pontas com Quinn, até ela crescer o suficiente e entender o que está acontecendo ao seu redor. Depois... Puck preferiu não responder.

— Puck, à sua direita! — gritou Santana assustando-o e tirando-o de seus pensamentos.

Ele ergueu os olhos e se deparou com um zumbi a centímetros de seu braço direito. Chutou o errante para longe num movimento rápido, ele caiu de costas no chão, metros distantes de onde estava. Contudo, antes que ele pudesse se levantar ou Puck avançar para cima dele, Sam já tirara metade da cabeça do walker com seu facão.

— Preste atenção, Puckerman — falou sério, entrando na casa de onde o errante saíra.

Quinn lançou a Puck um olhar de pena e seguiu Sam. Santana, por outro lado, sorriu para ele e pôs a mão em seu ombro, solidária. Ele agradeceu num aceno de cabeça, suspirando. Acompanhou Santana até dentro da casa, ouvindo os sons de Quinn ou Sam cortando as cabeças de alguns walkers no andar de cima.

Foi para a cozinha com Santana. Sua mochila poderia estar cheia de tralhas que ele jamais usaria por que era do que mais sentia falta do mundo antigo. Jogar videogame, se empanturrar de doces e Coca-Cola e ficar até tarde da noite vendo pornô online. Ou quem sabe, num dia ou outro ir, ao Breadstix e ficar com a garçonete gata que trabalhava lá... Ah, como ele sentia falta das garotas.

Então, Shelby apareceu em seu mundo e transformou totalmente sua visão em relação ao amor. Sua visão sobre praticamente tudo, na verdade. Puck queria criar uma família feliz e perfeita — como as dos comerciais de tevê que via durante a exibição semanal de A Lista de Schindler com sua mãe antes —; Shelby e sua filha haviam aparecido no momento certo.

Shelby, Beth e Noah — por que ele se sentia muito mais maduro ao lado dela, por que ele queria ser o homem da vida dela — Corcoran. Uma família perfeita para ele. Claro, Quinn e Rachel poderiam visitá-los às vezes. Teriam um domingo estranho em família. Ele sentia falta das garotas e dos Playstation. Mas a saudade que tinha de Shelby passava por cima de todas elas.

— Uou, latinhas de Coca! — Puck ouviu Santana exclamar muito mais animada que o normal ao abrir um dos armários.

Ele ainda estava preso em seus pensamentos, porém não deixou de sorrir quando ela tirou uma das latas do pacote e tomou quase tudo num gole só. Santana era mesmo louca.

— Puckerman, se você contar isso para alguém, eu irei dar uma de Lima Heights no seu traseiro, entendeu? — Santana ameaçou num tom urgente, terminando a latinha de Coca que abrira e jogando o resto em sua mochila.

Puck revirou os olhos e concordou. No momento em que Santana acabou de ajeitar as latinhas do refrigerante dentro da mochila, Quinn e Sam apareceram no batente da porta, os facões pingando de sangue. A garota encarou-o profusamente, advertindo-o mais uma vez.

— Casa limpa, dois walkers presos a uma cama de casal — disse Quinn, franzindo o cenho para Santana desconfiada. Ela pôs a mochila nos ombros e falou: — Arranjei umas roupas para mim e Rachel, vocês deveriam procurar algumas também.

— Quer apostar quanto que ela só pegou camisas xadrez e dois pares de All Star, ainda por cima para Rachel? — perguntou Santana ao ouvido de Puck enquanto Quinn saía decidida da cozinha. Sam estava do lado de fora, vigiando-os.

— Uma de suas Cocas — retrucou Puck malicioso, piscando para a garota. Ele deu tapinhas no ombro dela, provocando-a. — Eu sei que vou ganhar essa.

Puck estendeu a mão. O olhar da Santana revezou entre o sorriso maroto dele e a mão estendida. Ela bufou e apertou-a, com toda a força que possuía.

— Tá valendo, então — disse com superioridade.

Santana saiu batendo o pé. Ele não se demorou muito na cozinha. Soltou um longo suspiro, e ele logo encontrou os amigos o esperando no jardim da casa, muito impacientes.

Puck gargalhou. Não se importou com os olhares de Quinn e Sam. Lembrou-se de Santana, Beth. Shelby. Das outras garotas e do menino irlandês, os esperando na mansão. Sensação estranha, ele pensou. Não queria mais pular de um penhasco para provar que estava bem.

Ele simplesmente sabia que estava.


17 de Março de 2012

Segundo Andar, Quarto de Rachel, TN

01:12 AM

Primeiro, se viu caindo.

Vinte, quinze, dez metros de distância do solo. Sem pára-quedas, sem nada para protegê-la da queda. O chão ficava cada vez mais perto dela. Tentava se mexer, mas não conseguia. Alguma coisa, uma cola ou algo do tipo, mantinha seus braços e pernas juntos ao tronco.

O solo se aproximava cada vez mais. Não queria se esparramar no gramado bonito do subúrbio e virar geléia tão cedo. Tinha muita coisa para conferir ainda. Contudo, não estava tendo sorte ao tentar fazer um movimento mais brusco. Estava presa, era isso, morreria.

A queda não doeu, pelo contrário, foi mais macia do que esperava. Rachel mexeu as pontas dos dedos e, para sua sorte, se movimentaram. Levantou-se num salto, observando tudo ao redor. Ela estava de volta à Lima. O céu brilhava, a grama estava verde, outros moradores de casas vizinhas sorriam gentilmente e caminhavam alegremente, como se nada tivessem acontecido.

Franziu o cenho e assustou ao erguer os olhos para a casa onde caíra. Era a sua. Com os mesmos tons pastéis que Hiram deixara Leroy pintá-la, com o mesmo Land Rover de Leroy mal estacionado em frente à garagem. Podia até ver a TV de plasma deles na sala de estar.

Engoliu em seco, apavorada. Não, era tudo um sonho. Nada disso existia. Demorara a se acostumar com um apocalipse, ela não poderia ter simplesmente sonhado com zumbis e estar em coma. Esse era seu sonho. Estava dormindo, sonhando. Era isso.

Seus olhos pareceram dobrar de tamanho ao ver outra Rachel e Quinn saírem da casa juntas. Definitivamente, pensou, era um sonho. Ela não podia estar em dois lugares ao mesmo tempo. Quinn sequer parou para observar a outra Rachel Berry parada a poucos metros dela. Estava tão centrada na garota ao seu lado que parecia que o mundo ao redor era o que estava desaparecendo.

— Você me obrigou a ver Funny Girl oito vezes — dizia Quinn em um tom brincalhão, porém Rachel percebia a seriedade por trás dele. — O mínimo que pode fazer é assistir Harry Potter comigo.

— Que por acaso seria a série toda, não é? — respondeu a outra Rachel, rindo.

Caminhavam tranquilamente. As duas pararam diante da Rachel, olharam para os dois lados da rua e seguiram seu caminho, ignorando-a completamente. Passaram por ela — literalmente — e atravessaram a rua da casa dos Berry, brincando entre si e dando risadas altas.

Rachel queria assimilar o que acabara de vez, mas seu sonho não lhe deu muito tempo: assim que olhou para cima, um quarto montado perfeitamente caía sobre si. Ela reconheceu os pôsteres de musicais da Broadway, a cor rosa que encobria as paredes, a cama e os lençóis da mesma cor. Era seu quarto.

Quinn e a Rachel estavam sentadas no chão. Ela estava com um teclado em seu colo e tocava uma melodia tranqüila que não conhecia. Quinn observava com um olhar admirado enquanto os dedos de Rachel iam e voltavam pelas teclas. Quando parou, Rachel levantou os olhos para ela, esperançosos.

— O que achou? — perguntou um tanto acanhada, Quinn parecia ter saído de um transe. — Acha que consegue escrever uma letra?

Quinn piscou duas vezes antes de concordar com um sorriso.

— Mas é claro! — disse animada. A Rachel que observava tudo de longe notou que as mãos de Quinn não paravam de se mexer, pareciam indecisas. — Acho que temos uma música ótima para apresentar ao Mr. Schue no primeiro dia de aula.

Rachel piscou, e a cena mudou outra vez. Ela continuava em um quarto, mas não era o dela. Os pôsteres nas paredes tinham um tom mais sombrio e várias bandas que não conhecia. Havia prateleiras lotadas de livros, CDs e DVDs; um videogame estava em cima de uma televisão pequena e um notebook fechado jazia numa cadeira por baixo de várias roupas sujas.

As duas garotas deitavam sobre os lençóis bagunçados da cama. Rachel demorou a notar que estava no quarto de Quinn. Ela estava tão entretida na sua leitura em latim que nem percebeu que a amiga havia adormecido sobre os livros.

Legionibus Romani armis tattoos dictum Senatus Populusque Romanus, SPQR... — lia Quinn concentrada, parando ao ouvir o sonoro ronco vindo de Rachel.

Revirou os olhos e cutucou a garota com a caneta, tentando-lhe chamar a atenção. Rachel levantou a cabeça surpresa, em alerta. Quinn soltou uma gargalhada e disse:

— Preste atenção na aula, ou senão vai tirar um F enorme.

— Mas é chato! — reclamou Rachel emburrada, caindo de novo de cara no livro. — Eu odeio latim.

— Não é tão ruim assim — retrucou Quinn, magoada. — O que eu acabei de falar?

— Roma e história — resumiu a outra, ainda com o rosto enfiado no livro, a voz saindo abafada. — Um porre.

Quinn abriu a boca para responder, mas nenhum som saiu. As imagens ficaram borradas aos olhos de Rachel. Logo, ela estava sendo levada para outro local, que acabou distinguindo como o auditório da McKinley High School. Seu coração quis sair pela sua boca, as emoções que seu rosto transmitia por estar de volta ali, mesmo sendo um sonho, eram demais até para ela.

Estava sentada no meio da platéia, observando de longe Quinn e Rachel sentadas na beirada do palco, balançando os pés como modo de distração. Os olhos vermelhos de Rachel indicavam que ela chorara por um bom tempo; Quinn a abraçava intensamente, como se quisesse protegê-la do mundo inteiro que desabava.

— E ele fica forçando — dizia Rachel em meio às lágrimas. — Fica insistindo, eu digo não e não. Sinceramente, não sei mais o que fazer.

Quinn ajeitou Rachel mais em seus braços, beijando-lhe o topo de sua cabeça e afagando seus cabelos. Não respondeu. Da platéia, Rachel podia ver o semblante perdido e desesperado de Quinn. A dor que cada parte de seu corpo parecia sentir. Mesmo de longe, via a pele de Quinn queimar pelo simples fato de Rachel estar lhe abraçando. O fogo estava nela, Rachel enxergava.

— Diga para ele esperar — falou Quinn após um bom tempo, sua voz muito fragilizada. Rachel reparou que ela não queria deixar a garota se soltar dela, mas seus braços relaxaram e permitiram que ela pudesse olhar nos olhos de Rachel. — Você disse que faria com 25 anos, eu não posso deixar que você quebre uma promessa dessas.

Rachel assentiu, desviando do olhar confuso de Quinn. Parara de chorar, mas algo a fez regressar aos braços da loira, que nada fez a não ser aceitá-la de volta.

Mas antes que pudesse observar alguma outra coisa, a Rachel da platéia se viu caindo mais uma vez, agora num buraco negro sem fim.


Rachel acordou sobressaltada. Seu corpo inteiro tremia, a testa estava pregada de suor e o coração batia de forma descompassada. Ofegava ao sentar na cama.

Era um sonho? Aquilo tudo fora um sonho? Ela enfiou o rosto nas mãos, sentindo as lágrimas chegarem aos olhos. Não poderia ser. Tinha sido real demais, perfeito demais... Não era um sonho.

Eram suas lembranças. Perfeitas lembranças com Quinn antes do coma. Seu coração apertou. Desde as férias de verão do ano anterior... Quinn se apaixonara por ela naquela época. Levantou a cabeça, sentindo o choro não contido cair por suas bochechas. Quinn a amara desde sempre, e ela tinha sido burra demais para não perceber...

E agora ela estava do lado fora, no meio de um apocalipse zumbi, lutando para sua sobrevivência, de Rachel e de seus amigos. Quinn não voltara ainda. Quinn poderia não voltar...

Um desespero além do normal tomou conta da mente de Rachel. Quinn talvez não voltasse. Jamais. Não pense nisso, uma voz gritou em sua cabeça, fazendo ela latejar. Quinn voltará, outra voz disse com mais calma. Tenha fé, Rachel.

Agora que Rachel sabia o havia passado entre as duas, a amizade que crescera entre elas, a paixão que Quinn tinha... Sentia que possuía algum ponto de apoio, algo para se segurar, um sentimento a ser mencionado, tudo para que não perdesse as esperanças em Quinn ou nos outros.

Por que se isso acontecesse, ela certamente não poderia mais ser chamada de Rachel Barbra Berry.


16 de Março de 2012

Plantation Boulevard, Lebanon, TN

05:29 PM

— Problemas — disse Puck abrir a porta da décima casa que revistavam. Ele olhou sério para Sam. — Estava aberta.

Quinn franziu a testa; Sam arregalou os olhos, e Santana engoliu em seco, assustada. Com o sol se pondo, as expressões deles tornavam-se bem mais apavoradas.

— Provavelmente quem mora aí a deixou aberta — retrucou Sam com sua voz de comando. — Fugiu também.

Desejava passar toda a confiança que parecia ter na frase. Sabia que não havia conseguido, pois Quinn o encarou por longos segundos, até seus olhos se desviarem para um ponto além do ombro do garoto.

— Walkers — sussurrou alarmada, empunhando o facão.

Sam virou-se junto com Puck, deparando-se com um morto-vivo o olhando perigosamente, bem no começo da rua estreita. Seria fácil. Ele também brandiu seu facão, começando a caminhar na direção do zumbi, quando algo fez prender seus pés no chão.

Outros dois surgiram e acompanhavam o primeiro. Sentiu Quinn e Puck trocando olhares aterrorizados enquanto Santana prendia a respiração, igualmente atordoada. Sam tentou contabilizar as casas que haviam visitado; os walkers que tinham matado, pensando se deixara escapar um ou outro, mas não. Ele verificara cada cômodo de cada casa em três ruas do condomínio. Tentava fazer o menos de barulho possível, e assim faziam seus companheiros, como diabos aquele errante poderia ter aparecido?

Eles tentaram se movimentarem para trás, andando lentamente, os passos ecoando na terra encharcada por causa da chuva da noite anterior. Assim que Sam pisou sem querer numa poça de água maior que o necessário, os walkers pararam por um segundo de tropeçar no asfalto e focaram seus olhos famintos e sem vida no grupo.

— Correr? — sugeriu Puck.

Sam concordou sem realmente falar. Virou-se rapidamente para o outro lado da rua e correu ao lado de Quinn. O garoto não tinha ideia de como era o mapa do condomínio, mas a estratégia mais simples era apenas voltar uma rua e correr como se não houvesse amanhã para a mansão. Sem poder atirar sem atrair outros zumbis, era a única saída que existia.

Seus tênis Nike derraparam na lama quase que instantaneamente. Vindo na direção em que supostamente deveriam correr para salvarem suas vidas, cinco ou seis errantes caminhavam lerdamente. O que não durou muito tempo, pois assim que notaram os quatro humanos suculentos tão próximos, não tardaram a correr e tropeçar uns nos outros para poderem conseguir um pedaço da carne deles.

— Estamos cercados — disse Puck obviamente, o que causou um revirar de olhos em Santana. — O que faremos?

— O que nós sempre fazemos — respondeu Quinn, avançando e dando um golpe certeiro na cabeça do zumbi mais próximo. — Matá-los.

Sam assentiu, atingindo pela energia que Quinn sempre passava naqueles momentos. Ele golpeou, chutou, esmurrou os mortos-vivos na sua frente com um furor desconhecido. Porém, quanto mais ele parecia atacar, mais walkers apareciam. Estava ficando distraído depois de um tempo, quase permitindo que os errantes o mordesse por pelo menos umas três vezes.

— De... onde... saiu... esse... tanto... de... walkers? — perguntou Santana ofegante, golpeando a cabeça de uma garotinha que não deveria ter nem dez anos.

Sam olhou para Quinn e Puck. Eles aparentavam tanto cansaço quanto ele. Estavam perdendo o ritmo. Com o tanto de walkers que aparecia, logo eles estariam cercados, e sem a força e o descanso, logo seriam comidos até a morte.

Não seria por essa razão que Sam desistiria de lutar. Continuava agindo e incentivando os amigos a abocanhar o tanto de números de walkers que conseguiam. Pensou em Mercedes na mansão a menos de dois quilômetros dali, em Rachel e Brittany — as duas o matariam se não trouxesse Quinn e Santana para casa — na pequena Beth, em Harmony, Sugar e Rory... Ele não poderia desistir tão facilmente.

— Ah, foda-se — murmurou Quinn irritada, sacando o pistolão de seu coldre na perna e guardando o facão. Ela carregou a arma e atirou no errante mais próximo, causando um barulho gigantesco que Sam não duvidava nada que as garotas na mansão tivessem ouvido.

A noite caía gradativamente. Sam se xingou por não ter lembrado de ter trazido uma lanterna, contudo, sua preocupação neste momento era como fugiria do condomínio no escuro que começava a atormenta-lhes e como escapariam das investidas dos walkers.

Quinn continuou atirando, mas Sam notou que ela se afastava do grupo, indo de encontro ao muro que cercava o condomínio. Mais um pouco e ela estaria rodeada de verdade. Ele também tirou sua pistola do coldre e atirou o máximo de vezes que podia. As munições poderiam acabar, mas ele não dava à mínima. Salvar Quinn era a única coisa com o que se importava.

Os tiros vindo das armas de Puck e Santana encheram o local. Os walkers estavam diminuindo consideravelmente, mas os que restavam também poderiam causar um impacto grande nos quatro. Sam estava desesperado. E se não conseguisse salvar todos? O que ele contaria às pessoas da mansão?

Sam nunca descobriu como os próximos minutos transcorreram tão rapidamente. Só sabia que, num segundo tropeçara em outra poça de água e caíra nela, se sujando todo de lama, e no outro, cerca de três errantes avançavam para cima dele, grunhindo e babando uma gosma estranha. Ofegou quando os walkers se ajoelharam para pegá-lo e ele se afastou prontamente, aterrorizado, tentando puxar o ferrolho da pistola em sua mão para poder atirar.

Era o fim, pensou. Tentou gritar por ajuda, mas os companheiros estavam ocupados demais com seus próprios mortos-vivos. Rastejava para fora da poça, lutando com a arma nas suas duas mãos para poder recarregá-la, chutando os walkers para longe de seus pés. Um deles começou a morder seus tênis, e Sam o chutou com força dentro da boca, esperando estupidamente que fosse afetar seu cérebro.

Mas não podia afastar os outros dois que sobraram. Os errantes batalhavam para chegar perto dele, enquanto a sua pistola continuava emperrada. Irritado, jogou-a para o lado e estava pronto para pegar seu facão outra vez quando ouviu tiros, diferentes dos das armas de Quinn, Puck ou Santana.

— Se abaixem! — uma voz gritou para eles.

Sam não perdeu tempo e deitou-se no asfalto da rua, fechando os olhos. Reconheceu os tiros. Metralhadora! Numa rajada ou duas, seja lá quem fosse que tivesse gritado com eles — um anjo ou coisa do tipo, ele gostava de pensar — tinha acabado com os walkers.

Não escutou mais nenhum gemido faminto. Ele sentia o cheiro de pólvora pelo ar, porém não se incomodou. Era melhor esse odor do que ter as narinas incomodadas pelo fedor que os errantes exalavam. Ele abriu os olhos lentamente, tentando se acostumar com a escuridão que tomara os céus por completo, e achou a pessoa que os salvara, parando perto dele com a mão estendida.

Ele aceitou a ajuda e se levantou num salto, sem prestar atenção na aparência da pessoa, correndo para Quinn, que era a mais próxima. Apoiou-se no ombro dela, ofegante, correndo os olhos pelo corpo da garota, procurando alguma mordida de errante.

— Estamos bem! — exclamou Santana respirando fraco. Ela não estava muito longe dos outros dois, Sam distinguiu a silhueta dela e Puck agarrados um no outro. — Sem mordida ou...

Ela não terminou de falar, e o garoto percebeu, mesmo que não estivesse enxergando muita coisa naquele breu, que ela estava olhando para a pessoa desconhecida que tinha uma metralhadora e acabara de salvá-los. Não poderia ser nenhuma das pessoas da mansão, pensou ele, não possuíam uma metralhadora. Uma pessoa nova, um ser humano de verdade, vivo e não querendo comer sua carne, suspeitou.

Quase não acreditou.

— Vamos por aqui — falou a pessoa, Sam agora notando que sua voz era rouca, mas feminina demais para pertencer a um garoto. — Há mais deles andando por aí.

— Tá... — Quinn assentiu. Ela pegou a mão de Sam e a puxou na direção que a garota misteriosa seguia. Sam sentiu que Santana e Puck os acompanhavam também.

Não andaram muito e logo pararam em uma casa que eles ainda não haviam durante o dia. Os sussurros e grunhidos começavam a invadir o ouvido de Sam novamente. A garota abriu a porta e os empurrou para dentro. Ele mal teve tempo para observar a casa, pois a luz da vela bruxuleante não lhe dava muita permissão para enxergar muita coisa.

— Vocês são loucos de virem aqui justo nessa hora — murmurou enquanto trancava a porta com vários cadeados. — No fim da tarde é quando eles mais ficam loucos.

A garota virou-se para eles, a expressão branda, e foi quando Sam pôde ver pela primeira vez o rosto dela.

Todas as preocupações que estavam na sua cabeça sumiram. Ele não era mais Sam Evans, o protetor de todos e da mansão. Ele era Sam Evans, um garotinho de Ensino Médio que de repente tinha visto a garota mais popular da escola parar na frente dele e lhe dar um “oi”.

Era mais ou menos assim que a garota nova conseguia fazer você se sentir.

— Uau — murmurou estupidamente.

— Meu nome é Hanna Stewart — ela disse, aparentando irritação. Sam teve de usar toda sua concentração para entender o que ela estava falando. — E o que diabos vocês estão fazendo aqui?


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Notas finais do capítulo

O que vocês acharam? Ficou muito confuso as partes da Rachel? Gostaram de uma nova personagem? Tenho que admitir que a cena final não foi uma das melhores que escrevi, mas eu acho que valeu a pena.
A tradução do latim que a Quinn fala é, "As legiões romanas tatuavam no braço a escrita O Senado É o Povo de Roma", só pra quem ficou curioso.
Mas... espero muito que vocês tenham gostado e quero receber reviews de vocês, galera!
Beijos e até o próximo capítulo!