Running Away From Hell escrita por GabanaF


Capítulo 5
Cap. V — Knifley


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, como vocês estão? Provavelmente putas com o pedido de casamento do Finn, né? Eu sei, eu também.
Mas vamos aos assuntos dessa fic. Ah sim, os flash backs, eu pensei por um tempo e decidi mantê-los raros, porém tê-los. É uma boa ideia para se situar na fic.
E eu queria agradecer vocês pelos reviews e tudo mais, por que sinceramente, eu pensava em manter essa fic só para mim e numa noite louca resolvi postar. A aprovação de vocês vale muito para mim, só queria a ter a oportunidade em todos os capítulos para dizer isso.
Continuando... e espero que vocês gostem deste capítulo!



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15 de Março de 2012

Bentonville, Sprigg, OH

08:51 AM

— Finalmente! — exclamou Brittany com um sorriso feliz no rosto. Ela ergueu os braços para cima numa comemoração estranha que fez sua namorada rir e abraçá-la de surpresa.

Quinn também ria da felicidade pequena no meio daquele inferno todo. Demorara pouco mais de duas horas para tirar todos os carros do meio da estrada, seus braços doíam terrivelmente e o Sol começava a queimar sua cabeça rosada. Brigara com Santana algumas vezes por que ela não queria mudar um ou outro carro de lugar, alegando que dava para passar tranquilamente dentre eles, mas tudo era acalmado por Brittany e suas frases de filósofas que Quinn sempre admirara.

Não encontraram muitos walkers. Um ou outro escondido nos carros, alguns vindos do pasto que cercava a estrada, mas nada demais. (Quinn presumia que a maioria havia abandonado para procurarem por abrigo, e suspeitava que os que ficaram perto demais dali eram os zumbis que vinham dos pastos.)

O momento mais assustador para Quinn talvez tenha sido quando Santana estava sofrendo para empurrar um Chevrolet e uma criança-zumbi se levantou dele. Em vida, não deveria passar dos quatro anos de idade — a chupeta pendia molemente em sua boca de forma inexplicável, ela também segurava uma mamadeira — causando choque em Brittany e, principalmente, Rachel.

Santana permanecia perturbada pelos ataques dos walkers Kurt e Blaine e não quis terminar seu serviço, trazendo a tarefa à Quinn. Não, ela não gostava muito de matar walkers. Alguns, como aquela garotinha, jamais teriam a chance de ver o quão maravilhoso o mundo era antes do apocalipse. Jamais teriam a chance de viver.

Seu olhar encontrou o de Rachel; ela sorriu e abaixou os olhos. Quinn não esperava muito além daquilo. Sabia que algo havia mudado durante as horas que haviam passado naquela estrada. O olhar dela não era mais o mesmo, o jeito que ela lhe estudava se transformara. Algo tinha feito essas mudanças acontecerem.

Rachel teria começado a lembrar-se de seu acidente? De como tinham sido amigas durante praticamente metade do último ano? Os lábios de Quinn brincaram com um sorriso ao pensar nisso. Se fosse verdade, ela se recordaria de todos os momentos que haviam passado juntas, de todas as brincadeiras, e de todos os conselhos amorosos que Quinn tinha lhe dado quando namorava Finn.

Ainda havia uma chama de esperança no coração dela naquela época. Finn era o namorado irritantemente patético; ela era a melhor amiga sem nenhuma restrição. Não queria que o relacionamento das duas saísse de uma noite mal dormida com Finn, no entanto. Queria que fossem se descobrindo, que Rachel fosse percebendo aos poucos o que ela própria sentia, o que Quinn sentia.

Por que Quinn sabia. Tinha certeza, para falar a verdade. Rachel gostava dela. Desde o primeiro dia em que se viram. Por isso ela insistia tanto em ser sua amiga. Por isso ela sempre estava lá quando precisava. Quinn nunca chegara a descobrir o que Rachel sentia de verdade por ela por causa do maldito acidente que a impossibilitou por cinco meses, mas sua expectativa falava mais alto. Rachel a amava.

— Acho que é melhor irmos, então — disse Santana após largar Brittany. — Precisamos chegar a Nashville hoje.

Brittany concordou. As duas se encaminharam para o Cadillac, já na saída da estrada, deixando Quinn e Rachel sozinhas. Ela começou a se perguntar se era acidental, e parou por aí. Tudo o que Santana fazia havia um motivo por trás.

Ignorou a possibilidade de bater na amiga depois para observar a timidez que Rachel ganhara ao estar ao seu lado. Sorriu com isso, pois ela sempre fora a mais alegre e solta das duas. Às vezes até demais — chegando a irritar Quinn de vez em quando. A sensação de poder que os sentimentos de Rachel lhe faziam sentir era ótima.

— Fez um bom trabalho, nos ajudando — disse Quinn, tão rápido que acabou atropelando as palavras. Aparentemente, o sentimento de poder não poderia conter seu nervosismo ao ficar perto de Rachel.

— Ajudei demais — respondeu Rachel com sarcasmo, girando a faca que ganhara de presente entre os dedos. — Não fiz nada além de olhar vocês trabalhando.

— Você tá doente, não pode ficar se esforçando muito.

Rachel parou de rodar a adaga e cravou seus olhos em Quinn. Se ainda restava alguma dúvida de que alguma coisa mudara em Rachel, depois daquela troca de olhares rápida, agora não existia mais.

A garota sentiu o calor dos olhos de Rachel queimar em sua pele, sentiu o ritmo do coração dela fugir completamente do compasso; ela ouviu os pés dela se arrastarem alguns centímetros, ela sentiu o ar entre elas deixar de existir ligeiramente; sentiu seus olhos se fecharem automaticamente e sua cabeça se inclinar para se aproximar dos lábios de Rachel...

Bruscamente, sua visão foi tirada dela. Rachel a empurrou com delicadeza para longe, mordendo o lábio inferior e entrando no Cadillac no banco de trás ao lado de Brittany.

Quinn suspirou altamente, sentando-se por um segundo no capô do carro. Que idiota fora. Ela não podia apressar as coisas, não podia. Rachel ainda estava presa na realidade antiga, onde ela namorava Finn e tinha um futuro em Nova York. Tinha saído a dois dias do hospital, não tivera nem tempo para as respostas das inúmeras perguntas que passavam por sua cabeça. Entrara no Cadillac de Quinn por que não tinha mais lugar nenhum para ir.

Tinha que se contentar com isso por um tempo. Rachel ainda não recuperara a memória. A Quinn da mente dela não era a garota de agora, a que sempre estivera ali por ela. Chutando o pára-choque do Cadillac, Quinn deixou-se seguir pelo grito de Santana vindo do banco do motorista para que tirasse o traseiro dela da estrada e o colocasse no carro.


15 de Março de 2012

Saloma Road, Campbellsville, KY

11:09 AM

Alguma coisa estava acontecendo.

Elas não se falavam em horas. Quinn deveria ter feito algo muito ruim para que Rachel parasse de conversar com ela. Elas nem pareciam um casal mais — agora estavam mais para um casal na meia idade.

Era uma coisa a mais para Santana se preocupar.

Quinn sentava-se ao seu lado, alheia a tudo que acontecia do lado de dentro e fora do carro. Balançava a cabeça no ritmo da música, os olhos fechados e cantando-a silenciosamente. Aparentava em paz se não tivesse o semblante conturbado, como se a música não pudesse curar o torpor que passava por sua mente.

Rachel estava com a cabeça recostada no vidro da janela de trás do Cadillac, não ouvindo os comentários de Brittany sobre a Segunda Guerra Mundial e como tudo seria resolvido mais rapidamente se os alemães não tivessem ajuda de alienígenas. Olhava distante, as árvores passarem sem pressa pela janela, às vezes lançando olhares discretos à Quinn.

Santana suspirou, acenando afirmativamente para Brittany sem realmente ouvir. Pisou mais forte no acelerador, observando o ponteiro do velocímetro se mover rapidamente. Não era praquilo acontecer. As duas deveriam estar no banco de trás juntas, ela deveria estar com a namorada ao seu lado, não a deprimida Quinn dos últimos cinco meses.

Saíra adiantada da estrada para que Quinn fosse corajosa o bastante e expressar o que sentia por Rachel, para que Rachel também ousasse admitir em voz alta como agia ao redor de Quinn. Não para que as duas fizessem, sei lá, alguma coisa estúpida que a colocassem brigadas até o fim do apocalipse zumbi.

Não, elas não podiam ficar brigadas. Havia tanto acontecendo, Quinn simplesmente não poderia não salvar Rachel só por que ela tinha renegado seu amor. Aquilo era insano. Justo quando precisavam ficar unidas, quando qualquer vínculo com qualquer pessoa existente no planeta Terra era terrivelmente necessário. Maluquice.

Santana chutou a canela de Quinn com força, fazendo a garota abrir os olhos assustada somente para encará-la raivosamente. Ela massageou a perna. Santana notou que Quinn queria xingá-la e apenas sorriu maldosamente — uma das qualidades que jamais perderia: irritar pessoas ao extremo.

— O que foi? — perguntou Quinn em voz alta após parar de dar seus chiliques.

Ela apontou com a cabeça para Rachel enquanto desviava de um carro perdido na estrada. Tirara o pé do acelerador agora que Quinn prestava atenção nela; certamente seria atirada para fora do Cadillac se ela soubesse que o havia testado ao máximo.

— O que houve? — devolveu a pergunta num sussurro.

— Nada — respondeu a outra em voz alta, atraindo a atenção de Rachel. Bufou, pois Quinn usava seu tom sexy que ultimamente era muito útil para que lhe entregassem munições e alimentos.

Santana revirou os olhos. Mesmo depois de se libertar da máfia que era sua família, Quinn jamais tinha aprendido a demonstrar seus sentimentos. Vivia se escondendo debaixo de uma máscara de sarcasmo e ironia. E era por isso que eram amigas desde o fundamental.

Ela simulou avançar em Quinn para um beijo, deixando Brittany e Rachel boquiabertas. Porém, a garota punk ao seu lado entendeu o recado e negou tristemente com a cabeça. Santana soltou uma risada malvada, quando por dentro, na verdade, titubeou pela amiga.

Fora muito cedo? Bom, para ela, não. Se uma garota como Quinn tivesse avançando alguns centímetros para beijá-la, ela jamais negaria. Quinn era gostosa demais para ser negada. Mas estava pensando em Rachel... Traumas, muitas perguntas, mais um pouco de dúvidas sobre o que havia acontecido com ela... O mundo dela caíra em dois dias. Era avançado demais até para ela.

— Desculpe — sussurrou Santana depois de alguns minutos.

Mas Quinn voltara ao seu estado vegetativo.

— Ei, Santana — chamou Rachel timidamente, chegando o quão perto o cinto de segurança deixava da motorista. — O rádio tá chiando.

Ela fitou Berry por uns instantes até conseguir ouvir o rádio por cima da música alta de Quinn. Desligou o som com raiva e chutou Quinn outra vez para que ela tentasse ligar o comunicador.

— Não precisa me bater, porra! — gritou Quinn irritada enquanto tirava o rádio-comunicador do porta-luvas e o ligando. — Quinn falando, câmbio.

E aí gente, é o Puck.

A voz do garoto de moicano de alguma forma acalmou Santana. Eles eram tão amigos quanto Quinn e ela, se metiam numa briga quase toda semana antes do mundo se transformar naquele inferno, e ele sempre a apoiava em tudo. Puck era o melhor amigo homem que poderia existir na face da Terra.

— Puck! — exclamou Santana animada, tirando a mão do volante por um segundo para bater um high-five imaginário com o garoto. — Como tá as meninas?

Eu estou ótimo, só pra deixar isso claro — respondeu ele com sarcasmo. Santana riu brevemente. — E Beth e Shelby também estão bem. Ultrapassamos a divisa e estamos no Tennessee, onde diabos vocês se meteram?

— Tivemos uns problemas noite passada — disse Quinn. Seu olhar encontrou o de Santana e elas assentiram ao mesmo tempo.

Santana queria mencionar Rachel nas conversas que tinha com os amigos. Não gostava de admitir, mas Rachel agora fazia parte de sua família — não mencionando que elas davam boas risadas falando mal de Quinn juntas. E ela cuidava de sua família, protegia.

Porém Quinn dissera que não. Antes mesmo de invadir o hospital em busca dela, antes mesmo até de saber se Rachel acordaria ou não. Ela não sabia por que, e nem discutiria com a amiga. Quinn e sua aura de poder já lhe deixavam em seu lugar, não precisava ficar brigando com ela por coisas sérias outra vez.

Walkers? Tivemos que correr quilômetros para nos afastarmos de alguns também.

— É... — Quinn balançou a cabeça. — Walkers. Foi isso.

Um silêncio tenso se instaurou. Quinn era boa mentirosa quando se tratava de gente desconhecida, mas para alguns, que basicamente eram Santana, Puck e Sam, ela simplesmente não conseguia. Sua voz falhava horrivelmente e ela começava a abanar a cabeça como se tivesse um inseto em seus cabelos róseos.

Beleza então — Puck disse. Santana ameaçou chutar Quinn de novo por sua mentira, que Puck obviamente percebera, porém a garota a parou com a mão solta. — Onde vocês estão?

— Knifley Road — respondeu Brittany, a cabeça loira escondida atrás do mapa. — Perto da divisa entre Kentucky e o Tennessee.

Ótimo — murmurou Puck, não mais tão à vontade. Santana virou-se para Quinn por alguns segundos apenas para lançar-lhe um olhar mortal. Ela não acreditava que perdera o bom humor do melhor amigo que já tivera na vida somente por que Quinn não queria contar a ele que estavam com Rachel. — Vejo vocês no Sam, então. Boa sorte. Câmbio e desligo.

O rádio-comunicador voltou a soltar chiados.

— Fabray, muito bom! — exclamou Santana imediatamente. Não chutou Quinn, pois estava demasiada estressada para tentar algo. — Me explica, por favor, por que não está contando pra ninguém que ela tá com a gente?

Santana não queria deixar Rachel desconfortável com seus gritos e brigas com Quinn, mas agora estava fazendo algo que nunca pensara em fazer na vida: defendê-la do próprio amor de sua vida.

— Ela passou por muito, sabia?! Não tanto quanto a gente, mas pra ela isso dói muito mais! Foi ela que acordou há dois dias, lembra?! Foi você que a salvou, por que queria que o mundo dela recomeçasse ao seu lado! E agora como você vai fazer isso se nem para a porra de seus amigos você conta que está com ela?!

Santana não tinha ideia de como tinha conseguido permanecer com a atenção na estrada e ainda gritar com Quinn. A garota não havia movido um músculo, respirava ofegante e não tinha se virado para encará-la.

Ela arriscou um olhar no retrovisor a Rachel. Os olhos brilhavam de lágrimas, porém elas não caíam por suas bochechas como toda vez que costumava cantar um solo no auditório agora abandonado da McKinley High. Sua expressão era intensa, ou pelo menos tentando se passar por uma. Ela murmurou um “obrigado” na direção de Santana.

Santana crispou os lábios, piscando à garota. Se Quinn notou a comunicação muda de Rachel e ela, ignorou. Não falara nada, nem um murmúrio, nadinha. Só mantinha a cabeça baixa, como se aceitasse a derrota, como se Santana fosse melhor para Rachel que ela própria. Aquela não era a Quinn que tinha aprendido há respeitar tanto anos antes.

— E-eu não queria contar — sussurrou Quinn lentamente. — Me desculpe. Mas não acho que poderia.

— Por quê? — indagou Rachel, enfiada no banco de couro, muito provavelmente esperando que ele se fundisse a ela para que pudesse desaparecer dali. Brittany observava a discussão atentamente, o mapa que carregava para cima a baixo amassado entre a palma de sua mão.

— Eu iria contar! — Quinn disse desesperadamente. — Quando Puck ligou da primeira vez, achei que tivesse ouvido sua voz, mas não. Ele não sabe. E bem, só eu falei com Sam da primeira vez. E ontem, no seu, sei lá, surto, achei que não seria sensato.

— Mas qual é o seu...? — começou a questionar Santana furiosa, porém Quinn a interrompeu:

— Eu não queria dizer pra ninguém por que eu não sei o que pode acontecer com ela! — Quinn por fim havia levantando o rosto, uma lágrima solitária escorrendo por sua bochecha. Santana passou a língua pelos lábios, deixando seu olhar cair na estrada. Doía demais ver Quinn daquela forma. — E-eu não sei se Rachel pode cair dura daqui a dois minutos, eu não sei quanto tempo ela pode dormir sem ser realmente um coma, eu não sei se ela vai acordar! Não posso deixar ninguém ter essa dor todos os dias além de mim.

Brittany suspirou pesadamente. Ela acariciava o ombro de Rachel de maneira terna. Esta, pelo jeito, tinha se rendido às lágrimas pela milésima vez desde que Santana a tirara de Lima. Quinn deu um olhar à motorista do tipo “está satisfeita?” e virou-se para a janela do Cadillac enxugando as bochechas rosadas.

Talvez Santana tenha se arrependido mais tarde, porém, naquele momento, sentia-se livre de mais um de seus problemas. Pronto. Fizera o que deveria ser feito. Conseguira fazer Quinn admitir o que sentia a Rachel, em alto e bom som, sem precisar de que a primeira tentasse beijasse a outra. Esboçou um sorriso, feliz com o próprio feito.

Seu sorriso sumiu ao mesmo tempo em que o pé pisava no pedal do freio por instinto e os olhos tentavam assimilar o que estava vendo.


15 de Março de 2012

Knifley, KY

12:10 PM

Uma cidade.

A porra de uma cidade.

Tudo bem, não era exatamente uma cidade. Estava mais para um vilarejo de uma única rua no meio do nada. Mesmo assim, Quinn olhou com raiva para Brittany. A loira tentou explicar por que estavam paradas numa cidadezinha do interior do Kentucky, mas da sua boca não saía nenhum som. Quieta, ela voltou a estudar o mapa, procurando algum erro de localização.

— Paramos? — indagou Santana amedrontada, as mãos firmando no volante como se ele fosse salvar sua vida. — Ou devíamos acelerar e rezar para que nenhum errante nos ouça?

Quinn poderia estar furiosa com ela por tê-la feito expor-se para Rachel daquela maneira, mas tudo sumia rápido até demais em um apocalipse zumbi. Viver era mais importante que conversar idiotas sobre sentimentos. Ela e Santana eram as líderes ali, precisavam cuidar das outras duas, precisavam chegar à fazenda de Sam vivas. Era o que importava.

— Não parece haver ninguém — disse Rachel, baixando o vidro da janela do seu lado, colocando a cabeça para fora e observando com atenção a rua ladrilhada. — Nem vivo nem morto. Deveríamos ver se há alguns mantimentos. Isso pode ser útil, certo?

Santana e Quinn se entreolharam, impressionadas com as notas da garota. Quinn tinha que admitir que Rachel pegara rapidamente a regra de viver sem drama. Brittany, contudo, sequer ouviu o que Rachel havia acabado de falar.

— Temos que passar por aqui se nós quisermos chegar à fazenda ainda hoje — falou concentrada, atraindo suspiros de Santana. — Ou, poderemos dar a volta na serra e chegar lá amanhã de manhã, se não dormirmos na estrada.

— Vamos por aqui mesmo — concordaram Santana e Quinn ao mesmo tempo.

— Mas paramos para apanhar mantimentos? — Rachel retomou a pergunta, mais séria e determinada.

— O que você acha? — Santana indagou a Quinn, suas pernas esticadas confortavelmente em cima nas pernas da garota. — Devemos ir?

Quinn considerou. Rachel tinha levantado ali uma boa ideia. A galera tinha passado boa parte dos últimos dois meses juntando e armazenando alimentos e bebidas para os momentos de crise, e eles já haviam chegado. Ter mais um pouco de enlatados que durariam anos e macarrão instantâneo não era nada mal.

Entretanto, ao entrar em cada uma das dez ou onze casas que ali existiam, havia um risco enorme de haver walkers. Ou pior, humanos loucos atrás de comida e pessoas para que fizessem de escravos. Quinn não poderia colocar seu bando numa missão quase suicida como aquela.

Sinceramente, não sabia o que fazer.

— Me diz você, por favor — pediu Quinn.

— Eu poderia sugerir uma votação, mas somos quatro — disse Rachel determinada, lembrando à Quinn certa líder de coral de conhecera uma vez. — Então, peço que deixem que eu faça a decisão dessa vez. Todas de acordo?

Não houve muita discussão. As outras três assentiram à ideia de Rachel, que abriu um sorriso enorme diante da aprovação. Quinn sorriu com ela, sem saber exatamente por que.

— Ótimo. Eu decido que deveríamos revistar algumas casas, não todas, até por que demoraria muito tempo e o sol está começando a se aquecer. Deveríamos ir todas juntas, também. Vigiar umas as outras. É assim que tem que acontecer. — Ela abriu a porta do Cadillac, jamais decidida do que Quinn a vira na vida. — Prontas? Então vamos lá.

Quinn desceu do carro depois de Rachel, o facão girando em sua mão e duas de suas pistolas encaixadas fielmente no case em suas costelas. Santana deu-lhe um sorriso ao colocar seu revólver em sua perna, indicando Rachel com a cabeça.

— O quê que tem? — indagou Quinn franzindo a testa.

— Daqui a pouco ela vai merecer umas aulas de tiro — Santana disse dando uma risada rouca. — Particulares. Suas.

— Cala a boca! — exclamou a outra, porém ria. Era por isso que considerava Santana sua amiga, principalmente agora. Sua amizade era mais briga do que conversas tocantes. Por que elas não precisavam de conversas tocantes para se desculpar uma com a outra.

Quinn tentava entender por que Santana a forçara dizer àquelas coisas minutos antes. Ela estava com medo de perder Rachel durante a viagem. A garota não estava completamente bem, não queria encher os outros de esperanças para quando chegasse ao Sam, recebesse caretas tristes lhe olhando com pena.

Ela não precisava daquilo. Sim, um lado de seu corpo tinha plena certeza de que Rachel estava bem. De que nenhuma dor lhe afligira nas últimas horas, de que elas poderiam correr por aí em campos de trigos logo, logo. Contudo, seu lado maligno, o lado que aflorava quando seus pensamentos eram somente os piores, dizia que Rachel poderia cair a qualquer momento em seus braços sem nenhum pulso ou respiração.

Seu coração ardia de tanta dor quando começava a pensar dessa forma. Se sua conexão com Rachel ainda existia, tinha certeza de que ela também sentia. Afinal, se estavam conseguindo compartilhar as mesmas alegrias, as dores também seriam algo fácil.

— Vamos! — sussurrou Rachel à porta da primeira casa.

Mais de perto, o vilarejo parecia um lixo aos olhos de Quinn. Quer dizer, aquele não era o lugar mais apropriado para fugir de um bando de errantes famintos. Ao observar a arquitetura do lugar, imaginou que as pessoas que ali viviam nem deveriam saber o que estava acontecendo no mundo lá fora.

Mesmo assim, engoliu em seco e, liderando a expedição, chutou a porta da casa, gerando um barulho enorme considerando o silêncio no qual estavam mergulhadas. Entrou primeiro, o fedor de mofo invadindo suas narinas imediatamente. As janelas estavam fechadas com cortinas escuras, o que dificultou a vista dentro da casa.

Avançou lentamente, pedindo em códigos que as garotas ficassem do lado de fora. Ela tateou as paredes até a janela principal do cômodo, os olhos se acostumando com a escuridão; a mão que carregava o facão pronta para o ataque.

Abriu a cortina num segundo.

— Puta merda! — exclamou sem se conter.

Quinn não tinha certeza do que lhe chamava mais a atenção: as paredes sujas de sangue ou os corpos de sete pessoas sentadas à mesa de jantar, parecendo pacíficas se cada uma não estivesse uma marca de bala alojava no meio da testa e o cara que sentava à ponta da mesa com metade do cérebro estourado.

— Santana, deixe as garotas aí fora — ela avisou ao ouvir passos vindos em sua direção.

Ela se aproximou mais alguns passos de uma parede branca. Estudando mais atentamente, percebeu que as manchas de sangue nessa parede formavam uma frase, que demorou a decifrar.

Deus nos perdoe — ela leu aterrorizada.

Sim, aquelas pessoas tinham televisão. E ao contrário do que ela pensara, tinham visto no que o mundo se transformara.

— Caralho! — exclamou Santana audivelmente ao entrar na sala de jantar onde Quinn estava. Ela abaixou seu facão e se aproximou de um dos corpos, o de uma garotinha que não aparentava ter mais de dez anos. — Isso é...

— O que as pessoas fazem em momentos de desespero — Quinn completou séria, se encaminhando à cozinha. O fedor ali começava a irritar seu nariz. — Vamos pegar o que pudermos e sair daqui, rápido.

Santana concordou e avisou para que Brittany e Rachel ficassem à porta e não entrassem. Quinn queria impedir que as duas vissem a tragédia ali, mas encontrou o rosto assombrado de Rachel na janela do cômodo que havia aberto. Antes que pudesse dizer alguma coisa, Rachel saiu dali e logo Quinn ouviu o som de vômito.

Ela não podia julgá-la. O horror no rosto daquelas pessoas fora a pior coisa que já tinha visto, incluindo os walkers Kurt, Blaine e Finn. A garota jamais encontrara alguém que havia cometido suicídio e matado membros de sua família para fugir do apocalipse. Ver a que ponto tinha chegado o planeta lhe assustava um pouco.

Quinn abriu os armários da cozinha e encontrou uma grande porção de enlatados de todos os tipos. Sardinha, batata, milho, extrato de tomate... Ela abriu um sorriso ao ver cinco caixas de Coca-Cola escondidas estrategicamente atrás das lingüiças enlatadas. Gritou para que Santana lhe trouxesse a caixa que haviam trazido para levar tudo para o carro.

— Coca-Cola! — exclamou Santana animada, não pensando duas vezes em tirar uma latinha da embalagem, abri-la e tomá-la com gosto. — Eu não tomo Coca desde que esse inferno começou.

— Eu sei disso, eu também — retrucou Quinn, pegando a latinha das mãos da outra e tomando um gole. — Anda, me ajuda aqui.

Elas colocaram toda a comida enlatada, incluindo as latinhas de Coca, na caixa térmica quase lotada de macarrão instantâneo. Quinn pegou numa das alças da caixa e chamou a atenção de Santana, que parecia ter se apaixonado pela Coca-Cola, e juntas carregaram os alimentos para fora a varanda da casa, onde encontraram Brittany dando tampinha nas costas de uma Rachel Berry com o rosto verde.

— Como vocês agüentaram o fedor? — ela perguntou assim que viu as duas saindo da casa com os suprimentos. Rachel parecia seriamente doente para Quinn. — Credo, dá pra sentir daqui.

— E é por isso que você não sobreviveria aqui sozinha — Santana falou com sarcasmo, soltando a caixa térmica e deixando que Quinn a carregasse. — Depois de um tempo se acostuma.

— Quero me acostumar logo — Quinn ouviu Rachel murmurar enquanto saía para despejar o conteúdo da caixa no porta-malas do Cadillac.

Ao voltar, encontrou Brittany fechando a primeira casa e Santana e Rachel andando para a próxima. Quinn não estava gostando daquilo. Fora bom ter encontrado aquele tanto de comida, mas os corpos das sete pessoas sentadas na sala de jantar com tiros na cabeça lhe davam um péssimo sentimento.

Mesmo com o mau pressentimento na cabeça, Quinn seguiu as outras garotas para a próxima casa, também parecendo completamente destruída pelo lado de fora. Ela ajeitou o facão na mão direita e espiou pela cortina meio aberta da janela ao lado da porta.

Afastou-se no mesmo instante, petrificada. A mesma cena, dessa vez com quatro pessoas sentadas num sofá, a TV chiando, esperando um sinal que nunca viria. Os menores deveriam ter seis ou sete anos, sentados no colo dos pais parecendo estarem dormindo. A cabeça da mãe se recostava no sofá com metade de seu cérebro para fora. O pai pendia para o braço do sofá, as gotas de sangue inexplicavelmente ainda pingando. E na parede, a mesma mensagem da primeira casa: “Deus nos perdoe”.

— Quinn...? — Ela ouviu Rachel chamar de longe, o toque quente dela em seu braço lhe assustando.

— Esperem aqui — falou determinada quando conseguiu tirar a imagem aterrorizante de sua cabeça.

Sem dar maiores explicações, correu até a janela da próxima casa. Cinco pessoas mortas com um único tiro na cabeça sentadas na sala de jantar como na primeira casa. A mensagem na parede. Continuou a andar. Teve que arrombar a outra para ver dois garotinhos, uma mulher e um gato deitados mortos numa cama de casal. Acima deles, também estava escrito um pedido de perdão a Deus.

Caminhou apressada até o fim do vilarejo, conferindo cada casa dos dois lados da rua silenciosa, sentindo que estava sendo observada pelas garotas e escutando as reclamações de Santana sobre como o que estava fazendo era perda de tempo.

Quinn não deu ouvidos às chatices de Santana. Cada casebre no povoado não estava lotado de gente viva ou zumbis ou enlatados. Em todas as casas, suas famílias tinham tirado sua vida. Em qualquer cômodo de entrara, Quinn via as marcas de sangue espirrado nas paredes e a letra confusa, provavelmente do chefe da família, escrita em sangue a mensagem que vira na primeira casa.

— Eles fizeram um pacto... — ela disse ofegante assim que chegou perto das outras garotas — todas as casas... todos estão mortos... na parede está escrito... “Deus nos perdoe”...

Santana a fitou descrente, e Quinn sabia que ela queria provar por si o que tinha acabado de falar. Entretanto, ela a segurou pelo braço quando Santana vez menção de se virar.

— Não... — falou ainda sem fôlego. — Temos que ir embora. Pelo cheiro forte e o sangue pingando na cabeça do cara dessa casa aí — ela apontou para a janela da casa onde estavam — eles acabaram de fazer isso. Tipo, um ou dois dias no máximo.

Ela olhou significantemente para Santana.

— Não é a mordida que nos transforma — ela murmurou a frase do último noticiário nacional de duas semanas antes. — É a morte.

— O quê? — fez Rachel confusa.

Quinn ouviu um barulho vindo de dentro da casa, um baque surdo, que lhe lembrava horrivelmente de um corpo pequeno caindo no chão. Ela se arriscou um olhar à janela e encarou diretamente o zumbi. Ele tinha olhos cinza-claros, o oco de seu tiro na testa dando nojo à Quinn, e devolvia seu olhar de forma faminta.

O errante começou a se arrastar até a janela, mas Quinn foi mais rápida e sacou a arma de sua cintura, disparando uma única vez, que foi suficiente para o errante cair de costas. Infelizmente, o tiro acordou a mulher e as duas crianças walkers. Quinn gritou com Santana, que não precisou de nenhuma ordem para empurrar Brittany e Rachel para fora dali.

Quinn mirou mais três vezes para acertar o resto da família. Ela já podia ouvir os gemidos dos outros walkers das outras casas, se rastejando em direção à carne fresca. Por sorte, antes que um ou outro zumbi conseguisse cair pela janela ou abrir a porta de suas casas, o Cadillac vermelho parou ao seu lado. Entrou rapidamente no banco de trás ao lado de Rachel, ofegando enquanto Brittany colocava o pé no acelerador para que elas saíssem daquele vilarejo o mais rápido possível.

— Pelo menos temos mais duas semanas de alimentos — disse Rachel, um tanto arrependida. Ela virou-se para Quinn, a mesma expressão confusa de minutos antes. — Me explica esse negócio de morte, por favor.

Quinn suspirou e seu olhar se encontrou com Santana. A garota assentiu silenciosamente, pensando o mesmo que ela. Quanto mais Rachel soubesse, melhor seria para elas, ou melhor, ela própria. Poderia se defender sozinha — não que Quinn quisesse deixá-la sozinha, seria apenas em casos extremos.

— A gente não sabe direito — ela começou, escolhendo as palavras. — Só sabemos o que nos foi passado pelas poucas semanas que a televisão durou. Essa coisa de zumbi é um vírus, eles achavam, e se transmitia pelo ar. Mas só atinge as coisas mortas. Como por exemplo, se eu fosse mordida no braço agora mesmo, o que vocês teriam que fazer seria amputá-lo e estancar o sangue. Eu não viraria um walker.

— Por outro lado — continuou Santana, entrando na conversa —, se não pudéssemos salvar Quinn a tempo, se ela morresse, em pouco tempo ela viraria zumbi. "Nasceria" de novo. E nós estaríamos fudidas por que estaríamos trancadas num Cadillac com um errante.

Ela riu da própria piada, mas Quinn concordou com ela seriamente. Rachel assentiu; a compreensão perpassando por seu rosto.

— Então a gente só não pode morrer? — perguntou por fim.

— É, por aí — respondeu Brittany, já que Santana estava ocupada tomando sua latinha contrabandeada de Coca-Cola.

— O quê? — Ela questionou ao perceber que todas lhe encaravam. — Temos Coca-Cola! Quente, mas ainda é Coca-Cola. Vocês não sentem falta de Coca, não?

— Sentimos, mas lembre-se Santana, ela é apenas um refrigerante, não amor — disse Quinn, séria.

Santana lhe mostrou o dedo do meio. Quinn lhe devolveu o gesto, mas a amiga já não prestava atenção, ocupada em colocar uma fita no rádio e dividir seu refrigerante com Brittany. Em vez de continuar a briga com Santana, seus olhos caíram em Rachel, e notou que os grandes orbes dela lhe fitavam primeiro.

Rachel desviou o olhar, dando toda sua atenção a um buraco no estofamento do carro. Quinn lutou contra si por alguns minutos até se decidir e pegar a mão de Rachel que brincava ao seu lado. Sem dizer nada, ficaram de mãos dadas por um bom tempo, Quinn sentindo suas bochechas corarem fortemente.

Era um avanço, não era? Rachel a deixara segurar sua mão. Não podia beijá-la agora, ou podia? Por um segundo, o verde encontrou o castanho novamente, e Quinn se perguntou como era respirar. Engoliu em seco quando Rachel finalmente desfez o contato visual.

Não. Talvez aquele não fosse o momento certo para beijar Rachel.

Mas ele chegaria.



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Notas finais do capítulo

Vocês perceberam que eu usei um novo nome para os walkers, certo? Nos quadrinhos The Walking Dead, são inúmeros os nomes que eles colocam nos zumbis, então decidi incluí-los na fic também. Espero que vocês não queiram me matar por causa dos momentos Faberry desperdiçados, mas eu espero recompensá-las vocês no próximo capítulo KKKK
Espero reviews de vocês, beijos e até o próximo!