Running Away From Hell escrita por GabanaF


Capítulo 4
Cap. IV — Pressure


Notas iniciais do capítulo

Oi galera, como vocês estão? Sim, queria me desculpar pela pequena demora aqui mas eu estava com alguns problemas - leia-se, falta de imaginação - que agora está completamente resolvido. Enfim, eu queria agradecer a vocês por estarem comentando fielmente aqui, agradecer muito mesmo, a opinião de vocês importa e muito para mim!
Agora, sem mais delongas, o capítulo de hoje, e espero que gostem!



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15 de Março de 2012

Johnson Ridge State Nature Preserve, West Union, OH

3:38 AM

— Rachel! — exclamou Quinn com um sorriso enorme ao ver a garota sentada na cama com a expressão confusa. — Tudo bem com você?

— É sério, você precisa parar de me perguntar isso — falou ela ao abrir um sorriso, se é que era possível, maior que o de Quinn.

Santana empurrou Quinn para perto da cama de Rachel enquanto ela mesma saía com a namorada do quarto. As sombras pequenas de Rachel na parede não assustavam Quinn. De fato, preferia que elas estivessem ali: não achava que suportaria ver sombras da forma de Rachel deitada.

Mas ela não estava! Rachel acordara, as quatro poderiam seguir viagem e encontrar com Sam no final da tarde. Quinn não queria pôr Rachel em perigo, mas, da mesma forma que tirar ela do hospital era necessário, tirá-la daquela casa no meio do parque florestal também era indispensável.

Quinn não sabia por que, mas sentia que Rachel estava bem. Ela não queria arranjar um motivo — e também porque provavelmente Santana iria ficar zoando ela pelo resto do apocalipse zumbi por causa disso —, mas uma conexão entre ela e Rachel tinha se formado. Desde os tempos em que tudo estava bem, sem nenhum acidente ou coma para atormentá-las.

— Eu estou bem, se quiser saber — murmurou Rachel, brincando distraidamente com o lençol que a encobria. Quinn sentou-se ao lado dela. — Minha cabeça ainda dói, não mencionando minhas costas, mas acho que posso viver até chegar à casa de Sam.

— É uma fazenda — disse Quinn estupidamente, lembrando-se do tempo em que ficava envergonhada por fazer algo perto de Rachel. Não ajudou muito perceber que esses tempos jamais tinham passado.

Rachel soltou uma risada rouca. Quinn não soube dizer quantos minutos ficou observando a fragilidade dela. Queria puxá-la para um abraço, como em tantas outras vezes que ela brigava com Finn e vinha buscar seu colo, mas novamente não sabia se podia.

A incerteza era o que mais lhe machucava. Por mais que seus instintos lhe dissessem para seguir tal caminho, ela sempre tinha que perguntar à razão se era o certo a fazer. Não queria estragar o tão pouco tempo que já tinha com Rachel com movimentos errôneos da sua parte.

— Onde estamos? Que casa é essa? — indagou Rachel franzindo a testa para a lamparina. — Quando eu desmaiei, estávamos na estrada.

— Brittany a achou. É um bom lugar para ficarmos se não fosse o parque florestal. Matamos alguns walkers agora a pouco.

Rachel arregalou os olhos, e Quinn se arrependeu ter dito aquilo tão levianamente. Claro, estava acostumada em matar zumbis antes do café da manhã ou na madrugada dentro de uma floresta, porém Rachel tinha acabado de chegar àquele mundo. Para ela ainda era tudo muito novo, muito assustador.

Quinn se perguntou quanto tempo aquilo duraria.

— Seria bom se fôssemos embora por agora — disse ela, tentando esconder a tensão crescente. — Vai demorar um pouco para Santana colocar tudo de volta ao carro, mas antes do dia amanhecer estamos de novo na estrada.

Quinn olhou para Rachel, que continuava com aquela expressão em pânico, se tornando comum a ela, provavelmente se perguntando como Quinn aprendera a pensar rápido daquela maneira. Ela deu um sorriso e abaixou os olhos, surpreendendo-se o quanto um tênis pode se tornar interessante quando se está num momento constrangedor.

— Quinn... — Rachel pronunciou o nome com cuidado, chegando perto à garota. — Eu posso te perguntar qualquer coisa, certo?

Ela levantou os olhos e se deparou com o rosto de Rachel muito próximo ao seu. Pigarreou assustada, sentindo as bochechas corarem fortemente, e se afastou alguns centímetros, encostando-se na beirada da cama.

— Hum, claro que sim... — ela disse entre gaguejos, inquieta.

— Como era... — Rachel parou por um segundo, voltando a mexer nos lençóis nervosamente — Como era nossa, hm, relação antes disso tudo? Nós éramos amigas?

Rachel encarou Quinn com olhos pedintes. Toda a força que tinha ganhado por ver a garota que amava de pé novamente pareceu se esvair. Ela engoliu em seco. Poderia mentir. Contar que eram namoradas, que viviam juntas e que ela tinha dado o bolo em Finn há muito tempo. Era um plano ótimo, ajudaria muito seus sentimentos complicados naquele momento.

Porém, não era o certo. A razão mais uma vez estava lhe deixando maluca. Estava correta — de novo. Não poderia falar aquilo para Rachel, seria horrível. Mentir para a pessoa que ama, era tão... Quinn. A antiga Quinn, que levava sempre suas necessidades em primeiro lugar. Ela não era mais dessa forma. Para que pudesse ganhar de novo a confiança de Rachel, teria que bancar a franca o quanto tempo fosse necessário.

— Éramos... — respondeu lentamente, escolhendo as palavras. — Mais ou menos. — Quinn desistiu de subestimar a grande conexão que tinha com Rachel ao vê-la encarando-a com curiosidade e um meio sorriso no rosto. — Na verdade, nós éramos melhores amigas. Do tipo, melhores. A gente brigava muito, é claro, em parte por que você nunca concordou que Harry Potter era melhor que Twilight, mas nós nos arranjávamos.

A mão de Quinn ficou quente quando a de Rachel apertou-a. Seus dedos transmitiam entre si carinho e ternura. Ela não queria quebrar o silêncio — parecia que ele sempre era seu ajudante, e também seu pior inimigo, quando o assunto se tornava Rachel. Por isso, apenas deu um suspiro fraco enquanto sentia a mente ficar admiravelmente mais leve.

Rachel voltara. Estava viva, ao seu lado, de mãos dadas com ela e fazendo perguntas sobre como era a vida delas antes do apocalipse. Tentou memorizar cada segundo, cada sentimento que passou por sua cabeça, cada expressão que chegava ao rosto de Rachel. Assim como fizera meses antes de ela ficar em coma.

Mas, daquela vez, tinha certeza de Rachel ficaria com ela.

***

15 de Março de 2012

Horn Springs, Lebanon, TN

5:23 AM

— Sam? — chamou Mercedes pela vigésima vez.

O garoto forçou-se muito para voltar a terra. Ele piscou algumas vezes e sorriu fracamente para a namorada.

— Não conseguiu dormir, foi? — ela adivinhou.

— Estou preocupado, não posso fazer nada contra isso — disse Sam emburrado. — Elas não mandam um sinal há mais de dez horas. Alguma coisa aconteceu.

Ele não queria admitir para si o pior, mas começava a pensar na possibilidade. Santana e Quinn haviam saído de Lima há dois dias, e embora a viagem não fosse a mais agradável do mundo, elas deveriam ter chegado às proximidades de Nashville duas ou três horas antes. Perder mais pessoas não era algo bom para ele.

Sua família se resumia à Mercedes e aos garotos que o seguiram fielmente durante o caos que se instaurava: Rory, Sugar e Harmony. Era estranho pensar que os companheiros de Glee na mesma idade que ele o haviam consagrado como um pai, mas agora ele teria de enfrentar as conseqüências.

Protegia-os. Cuidava de cada um como se fosse parte da grande família que perdera. Sentia falta de seus irmãos e pais como qualquer outro ali naquela fazenda no meio do nada, porém aprendera a superar a dor. Tinha outros objetivos, outros rumos, e muitos deles consistiam em trazer Quinn e o resto dos sobreviventes do Glee para a fazenda.

— Sam, relaxe — tentou acalmar Mercedes, virando-o para seu lado e dando-lhe um selinho. — Você conhece Santana e Brittany, elas devem ter parado para, sei lá, verem cachorrinhos bonitinhos. E Quinn, poxa, ela é a Quinn, por favor!

— Puck! — exclamou Sam de supetão, sentando-se na cama. Ele olhou para Mercedes com pavor no rosto. — Nós esquecemos Puck! Puta merda, ele tá com a Beth! E se...?

Mercedes fechou os olhos e se deixou cair na cama, bufando. Sam continuou alterado por causa da grande informação que lhe escapara. Esquecera de informar a Puck aonde iam! Que idiota fora, Puck rodaria todos os Estados Unidos à procura da grande propriedade de terra em que moravam e jamais a encontraria.

— Idiota — Sam se xingou, batendo a mão na testa fortemente, o que fez Mercedes perceber o que o garoto estava fazendo e pará-lo. — Perdemos Puck, é isso. Perdemos.

— Sam... — Mercedes arriscou novamente acalmar o namorado com uma voz suave. — Ele tem um rádio-comunicador, nós temos um rádio-comunicador, Quinn tem um rádio-comunicador. Puck e Beth não estão perdidos, ok? Estão viajando também, talvez tenham chegado ao ponto onde Quinn e Santana provavelmente estão dormindo agora.

Do lado de fora, um galo cantou. Sam percebeu que os primeiros raios de sol já saíam e tentou, finalmente, se tranqüilizar. Assim que o dia amanhecesse, decidiu, tentaria contato com os dois que ainda estavam na estrada. Não poderia deixá-los a esmo por aí. Cuidaria deles, como um bom líder faria.

Ele voltou a deitar-se, dessa vez, mais sossegado para tirar uma soneca antes recomeçar o trabalho que era cuidar de toda uma fazenda.

***

15 de Março de 2012

Johnson Ridge State Nature Preserve, West Union, OH

05:53 AM

— Santana, você tinha mesmo que trazer todos os nossos suprimentos aqui para dentro? — reclamou Quinn em voz alta, carregando uma enorme caixa lotada de alimentos não perecíveis para fora da casa.

— Ah desculpa, você queria que eles fossem roubados no meio da noite por walkers? — retrucou Santana num tom homicida escondido por uma expressão sorridente. — Ou, quem sabe, por seres humanos?

Quinn parou no meio da escadinha em frente à porta de entrada, barrando a saída de Santana, para encará-la com raiva. Brittany, atrás da namorada, ria silenciosamente da cena.

Era sempre assim. Seja numa pequena festa de pijama na casa de Quinn ou na escola durante um treino das Cheerios, elas não passavam um minuto sem brigar. Brittany achava engraçado por que elas jamais tinham admitido se amar, porém sabia que as duas eram unha e carne, nunca deixariam a outra.

O Sol começava a despontar no horizonte, e Quinn dizia que havia perdido tempo demais “tirando cochilos ou comendo”. Sam deveria estar morto de preocupação e não descansaria Mercedes ou qualquer um dos outros garotos lá até que elas não chegassem.

Santana, por outro lado, discordara e queria esperar por Puck. Sem ter nenhum contato com o garoto durante o resto do dia anterior, ela queria ter certeza de que ele e Beth estavam bem e as seguiam. Faltava atravessar um estado e meio, e Brittany não sabia realmente o que pensar ali.

— Cala a boca, Lopez — retrucou Quinn de mal humor. Ela deu um empurrão em Santana, que agora ria descontroladamente. — E fica quieta, temos que ir embora.

Rachel, que comia uma tigela de cereal seco em silêncio, sentada no balcão da cozinha, olhou para Brittany em total estranhamento. A loira riu e largou a caixa de remédios nos braços de Santana e foi sentar-se ao lado dela.

— Elas sempre são assim? — perguntou confidencialmente. Seus olhos mudavam rápido de direção entre Santana e Quinn, que agora brincavam com seus facões como se a briga de antes jamais tivesse acontecido.

— Acredite, quando estávamos todos juntos, era bem pior — disse Brittany tranqüila, pegando uma colher e dividindo o cereal de Rachel. — Santana queria ser a líder, porém Quinn tem mais faro pra isso e ela simplesmente não aceitava. Era um saco.

Brittany lembrou-se dos momentos de tensão na casa em que compartilhavam; a primeira vez em que ficou realmente preocupada com a relação das duas. A raiva na troca de olhares entre elas era horrível de se assistir, principalmente por ela, que passara boa parte da infância e da adolescência com elas.

Achava que, como vira pessoas que conhecia e ela própria mudar de forma drástica durante o início do apocalipse, Quinn e Santana também mudariam, só que para pior, devido ao grande retrospecto das duas em serem consideradas como seriais killers. Felizmente, com o passar do tempo, sua namorada fora aprendendo a respeitar a liderança de Quinn e aceitar que não tinha a aura tão poderosa quanto à dela.

Rachel encarava Brittany, curiosa. Terminava a tigela de cereal calmamente, sem se importar que a garota tivesse comido também, observando tanto a loira que ela começou a se sentir desconfortável.

— Você mudou — disse Rachel após uns minutos.

Brittany levantou a sobrancelha. O truque que somente Quinn sabia fazer havia passado para ela magicamente, talvez. Fora muito útil durante as invasões a prédios e mercados: as pessoas simplesmente lhe davam o que ela pedia. Suspeitava que a arma em sua cintura ajudasse, mas ela preferia confiar nas suas capacidades.

— Mudei? — Brittany devolveu a pergunta, fazendo Rachel corar instantaneamente e enfiar a cara de volta à tigela de cereal quase vazia.

— É... — Rachel se engasgou com as últimas colheradas, ainda observando atentamente a vasilha. — Você não é mais tão fútil, eu acho. Você tá... Sei lá, tá madura.

Brittany deu um meio sorriso. Todos tinham reparado na sua mudança repentina quando todo aquele inferno começou. A habilidade com armas, o extenso conhecimento sobre zumbis e sobreviver durante um apocalipse, todo mundo notava aquilo. Porém poucos (o que significa Quinn e Santana) estavam se sentindo acostumados com isso para tornar oficial que Brittany Pearce tinha mudado, tinha crescido.

Ela se perguntou se essa era a razão de Rachel estar com elas.

— Valeu — respondeu Brittany, dando uns tapinhas nas costas de Rachel, ignorando sua careta de dor.

— Ei, suas lerdas! — Brittany ouviu o grito característico de sua namorada na porta de entrada da casa com sua expressão conhecida de puro desprezo. Ficou feliz por isso: a Santana que conhecia estava voltando a ela. — Vamos logo! A Miss Está-Amanhecendo-Precisamos-Ir está esperando!

Brittany riu ao escutar os xingamentos que Quinn estava gritando de dentro do Cadillac. Ela pegou a colher e a tigela em que Rachel comera o cereal seco e as deixou na pia (elas pertenciam a casa) e puxou a mão dela para que saíssem logo dali e entrassem no carro, para que partissem de novo para a estrada.

***

15 de Março de 2012

Bentonville, Sprigg, OH

06:25 AM

Ei, aqui é o Sam.

Rachel reconheceu a voz no mesmo instante em que ela ressoou pelo carro. Ela levantou a cabeça do colo de Quinn, chegando a poucos centímetros de seu rosto, e corou fortemente, se afastando o quanto podia da garota.

— Oi, Sam — cumprimentou Quinn, ignorando o movimento brusco de Rachel e puxando o rádio-comunicador para mais perto do volante enquanto dirigia. — Tudo beleza?

Não! — respondeu o garoto parecendo indignado. Ela franziu a testa para Quinn, que respondeu com um olhar confuso. Santana e Brittany, no banco de trás, pararam contar piadas antigas uma para outra para prestarem atenção na conversa. — Vocês somem da face da Terra pela porra de uma noite e espera que tudo esteja bem?! Claro que não está!

— Nós estamos bem, não se preocupe! — gritou Santana, rolando os olhos, entediada. — Paramos por causa de...

Ela e Quinn trocaram olhares pelo retrovisor, discutindo algo que Rachel não sabia o que era silenciosamente. Sam continuou a gritar no rádio-comunicador, desvairado.

E vocês se lembram do Puck?! Como poderiam deixá-lo na porra daquela cidade infestada de zumbis?! Ele está com a Beth!

— Por favor, Sam, se acalme! — exclamou Quinn irritada, sendo obrigada a parar o carro no acostamento para lidar com os problemas do garoto. — Primeiro, nós não esquecemos Puck. Ele está a caminho, como nós. Segundo, paramos por que tivemos uma baita emergência, não podíamos continuar na estrada até hoje. Voltamos, estamos bem, e chegamos perto de Nashville em poucas horas, entendeu?

Rachel ouviu Sam respirar fundo rente ao comunicador, tentando se acalmar. Perguntou-se por que Quinn resolvera não comentar que ela estava viajando com elas. Considerava que estava bem, apesar das dores constantes nas costas, mas não achava que pudesse desmaiar ou ter um pequeno coma durante a viagem ou até mesmo na fazenda que Sam arranjara. O que teria que fazer era tomar os remédios que Quinn roubara no hospital e estaria ótima como antes.

Ela esperava.

Sam! — Uma voz gritou do outro lado. Rachel quase engasgou de felicidade: parecia-se irritantemente com Mercedes. Quinn lhe falara que ela estava com Sam, mas ouvi-la era algo completamente diferente. Dava novas esperanças, informava que não eram somente elas naquele mundo. — Pare de gritar com as garotas, eu disse a você que estavam no caminho!

Santana e Brittany se entreolharam, caindo na risada. Quinn riu também e até Rachel esboçou um sorriso. No meio daquele inferno, era bom achar coisas idiotas para dar risada.

— Parece que achamos nossa mamãe — murmurou Santana após Sam ter desligado o rádio-comunicador para voltar a cuidar da fazenda. Ela tinha lágrimas nos olhos e seus ombros ainda sacudiam da tantas risadas. Brittany, ao lado dela, parara de rir e tentava acudi-la.

— Melhor que nada, eles têm mesmo faro para isso — retrucou Quinn, ficando séria novamente e colocando o Cadillac na estrada outra vez. — Lembra-se da nossa casa? Eles mandaram ali depois que Will e Sue morreram.

Rachel ficou quieta. Tentava se acostumar com Quinn discutindo as mortes das pessoas que gostava com tanta tranqüilidade, porém era difícil. Suas lembranças ainda eram de um Mr. Schuester cantando rap e de uma Coach Sylvester arriscando tudo para derrubar o Glee Club.

Talvez tenha sido por isso que Quinn não comentara muito sobre o período sombrio que haviam passado antes de ela acordar. Talvez ela quisesse que suas memórias fossem as mesmas, que não precisasse se corromper mais do que deveria no mundo em que estavam. De alguma forma, Rachel estava agradecida.

No entanto, observar Santana, Brittany e Quinn falando de coisas que não fazia ideia do que era a deixava com um pouco de inveja. Não que quisesse estar ali, no apocalipse zumbi, Rachel queria apenas saber do que elas estavam falando, compartilhar as lembranças que elas tinham; ser útil de alguma maneira para elas. Naquele momento, ela se sentia como um grande saco que só trazia problemas.

Obrigara Quinn a parar no hospital para resgatá-la. Sequer sabia o que tinha lhe acontecido para estar na maca. Queria perguntar sobre seu mundinho destruído, mas tinha medo das respostas. Sentia dores em todos os lugares do corpo, e isso causara uma noite de atraso por que ela desmaiara por horas.

Rachel sabia que as intenções de Quinn eram boas ao tirá-la de Lima, no entanto ela nunca quis tanto estar em coma. Não poderia com aquele mundo, simplesmente não podia. Era informação demais, coisas demais para aturar em um único dia. Sua vida jamais seria a mesma, ela preferia ficar trancada num quarto de hospital até que tudo ficasse bem outra vez.

Seu olhar e o de Quinn se encontraram.

A garota deu um meio sorriso tímido e voltou seus olhos para a estrada. Rachel não saberia dizer por que mais tarde, mas algo havia mudado na sua percepção do apocalipse. O sorriso que Quinn lhe dera não mudara muita coisa, os dentes perfeitos e boca bem delineada continuavam lá. O olhar cheio de dor e esperança que ela costumava captar antes do coma, tempos antes, ainda era o mesmo.

Então por que, de repente, Rachel achava tudo mais bonito?

Sempre a admirara, Quinn. Ela era perfeita, sem discussões. Às vezes ela pensava que era a única a ver a dor que perpassava nos olhos de Quinn quase que constantemente. Rachel admirava Quinn por que ela jamais falava sobre seus problemas. Sempre mantinha um sorriso no rosto por que era aquilo que sua família esperava.

A invasão zumbi podia significar o fim do mundo para muitos, no entanto, para Quinn, Rachel percebeu, era somente um recomeço. Ela perdera algumas pessoas especiais, mas era sempre assim em sua vida. Eles iam e vinham. E ali, na sociedade nova e assustadora que crescia, Quinn poderia ser ela mesma.

O complicado para Rachel era saber o que Quinn era de verdade.

— Uou — assoviou Quinn impressionada, sobressaltando Rachel. Pensara, por um segundo, que a garota lera todos os seus pensamentos, mas ela acompanhou os olhos dela fixos em frente, ficando também surpresa.

Quinn parara de dirigir o Cadillac não por que queria, e sim por que, poucos quilômetros à frente, se erguia um engarrafamento enorme. Rachel via carros saindo fumaça, outros se dirigindo sozinhos e a maioria dele abandonada. Não encontrou pessoas nem walkers à vista.

— Brittany... — chamou Quinn. Era impressão de Rachel ou ela notara um tom medroso na voz da garota por baixo de toda a coragem que ela tentava transmitir?

— Sem opções — informou Brittany checando o GPS e o mapa. Rachel franziu a testa, imaginando por que o GPS ainda funcionava se a transmissão fora cortada dias antes. — Vamos ter que remover os carros para passar.

— Que bom, por que eu estava mesmo pensando quando usaria minhas habilidades de fazer carros levitar — disse Santana, sarcástica. Rachel também percebeu o temor por baixo de sua voz.

— E como vamos removê-los? — indagou Rachel. Ela assustou ao perceber que sua voz permanecia calma. — Somos garotas, e uma delas está inválida.

Ela queria ajudar, queria muito, porém a dor nas costas era mais forte que qualquer pretensão que teria dali pra frente. O que fez Rachel pensar mais uma vez na possibilidade de ter ficado no hospital de Lima.

— Vamos tirá-los com as mãos — disse Quinn decidida, pegando seu facão e abrindo a porta do Cadillac. — Não participei três anos nas Cheerios para ficar subindo em cima de Santana na pirâmide.

— Puxa, adoro quando você fala frases com duplo sentido sem ao menos perceber — comentou Santana, sorrindo automaticamente. Ela também pegou sua arma e saiu do carro.

Rachel e Brittany se entreolharam pelo retrovisor, as expressões confusas. Quinn e Santana eram as badass dali, mas elas não podiam ficar no Cadillac por muito tempo sem ter uma arma. Brittany estava madura e crescida, entretanto, Rachel não achava que ela era boa com armas. O tiro que ela dera num zumbi noutro dia fora demais, porém pensava que era apenas sorte.

— Ei, vocês vão ficar aí? — indagou Santana irritada. Ela abriu a porta de trás do carro e puxou Brittany para perto dela e lhe entregando um machado.

Quinn apareceu no vidro aberto do banco do passageiro, fazendo Rachel dar um gritinho assustado. Depois do susto, as duas riram brevemente, e Quinn ofereceu a Rachel uma pequena faca de prata. Abriu a porta do Cadillac e pediu para que ela descesse.

— O quê? — Rachel olhou para a faquinha e depois para Quinn. — Você quer que eu mate zumbis, é isso?

— Não quero que você fique aqui no carro — respondeu a outra, preocupada. — Precisa ficar perto de mim, onde eu possa te ver. Vai saber quantos carros tem aqui. Isso aí — ela apontou para a faca — é apenas uma precaução.

Rachel acenou em concordância, desejando que suas bochechas parassem que corar. Mordeu o lábio e olhou rapidamente para Quinn. Ela tinha seu costumeiro olhar superior, simplesmente por que parara de prestar atenção em Rachel e observava o horizonte.

Rachel saiu do Cadillac e bateu a porta, reparando nos pequenos detalhes da faca. O cabo era de couro vermelho e macio; a prata reluzia tanto que o sol da manhã era mais brilhante que o de meio-dia. Havia uma minúscula inscrição na prata, talvez em latim, que Rachel não conseguiu ler. Ela olhou para Quinn, que saíra com Brittany entre os carros, e imaginou se poderia perguntá-la o que era assim que voltasse a estrada.

— Está escrito “My Lady, My Beautiful”. — Santana se aproximou de Rachel ao ver o que ela estava admirando. — Era da mãe de Quinn. Um presente do pai dela.

Ela assentiu, ainda com os olhos da lâmina da faca. Ela perdera praticamente todas as aulas de latim durante os primeiros anos de ensino médio — a maioria das vezes por que não conseguia falar o idioma morto sem enrolar a língua completamente. Contudo, em algum lugar dentro da sua cabeça confusa, olhar para a inscrição na faca trazia algumas lembranças.

— Quinn ensinou latim para você, sabia? — disse Santana para quebrar o silêncio, sentando no capô do Cadillac com os olhos grudados onde Brittany e Quinn empurravam o primeiro carro para longe da pista. — Não por obrigação ou coisa do tipo, e sim por que ela gostava. Fazia ela feliz.

Rachel queria pedir para Santana parar, mas a perspectiva da garota mais irritante que já conhecera estar sendo legal, dizendo a ela o que acontecera durante grande parte do ano anterior que sumira de sua cabeça era curioso.

Então tomava aulas de latim com Quinn. Interessante. Odiava a matéria e Quinn provavelmente a ajudara a pelo menos suportá-la. Por um momento, pôde vê-las em seu antigo quarto, rindo e brincando, os materiais esquecidos há muito na escrivaninha. Ela esboçou um sorriso. Algo lhe dizia que não era imaginação o que tinha acabado de pensar.

— Ei! — gritou Quinn se aproximando, pingando de suor. Rachel acordou de seus devaneios, suspirando ao ver Quinn limpando a testa suada, sua camiseta curta dos Beatles erguendo alguns centímetros e deixando à mostra seu abdômen. — Santana, nós precisamos de você! Rachel...

A tensão cresceu. Estavam a poucos metros de distância uma da outra, Quinn vinha ganhando espaço rápido com seus passos largos. Rachel ouviu Santana dar uma risadinha irônica à reação dela enquanto ia se juntar à Brittany. Não se importou. Quinn manteve distância, mas ela via nos olhos da garota um brilho que jamais tinha visto.

— Fique perto de mim — pediu num sussurro.

Havia como ela discordar?


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Notas finais do capítulo

O que vocês acharam dos últimos parágrafos, foi convincente o bastante? Devo admitir que relaxei um pouco neles, acho que comprometeu um pouco o capítulo.
Antes de darem seus reviews, uma pequena pergunta aqui: vocês querem flashbacks ou preferem que a história continue assim, apenas o presente?
Beijos para vocês, minhas lindas, e até o próximo capítulo!