Running Away From Hell escrita por GabanaF


Capítulo 3
Cap. III — Nowhere Left to Run


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, como vocês estão? Bem, esse capítulo deveria ser postado amanhã, por que assim eu começaria o próximo já e me daria uma folga na escrita, mas eu fiquei tão feliz com a recepção que vocês estão me dando que acelerei o processo todo para postar ele logo para vocês!
Enfim, para o capítulo de hoje eu aconselho vocês ouvirem Nowhere Left to Run da banda inglesa McFly. É claro que não estará no capítulo - elas estão lutando por suas vidas, não na sala do coral seguras -, mas essa música me inspirou muito.
Espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/186323/chapter/3

14 de Março de 2012

Grange Hall Road, West Union, OH

1:55 PM

— Brittany, pare o carro! — gritou Quinn desesperada, segurando o corpo imóvel de Rachel nos braços.

Não, pensava. Não, por favor, não. Não por uma terceira vez. Estava cansada de carregar Rachel, de vê-la desacorda, de causar a maioria daqueles desmaios. Não, por favor. Rachel havia agüentado tanto tempo, ela não poderia simplesmente cair morta no banco de trás do Cadillac de seu avô.

— Não podemos! — exclamou Brittany, arriscando um olhar à Rachel e Quinn. — Estamos entrando no meio do parque florestal! Pode haver walkers por aqui!

— Da mesma forma que pode haver médicos ou alguém para ajudá-la! — Quinn gritou desvairadamente. — PARE O CARRO, PORRA!

Brittany pareceu notar que seria inútil discutir com aquela Quinn. Engoliu em seco, olhando para Santana, que permanecia quieta em seu canto. Ela encostou o carro no acostamento da estrada, um tanto irritada.

Quinn não esperou que o Cadillac parasse por completo: desceu desesperada com Rachel em seu colo, sem se importar em olhar ao redor ou com a segurança delas. Ela encostou o corpo pequeno de Rachel no asfalto e admirou por poucos segundos a expressão de pura dor que havia no rosto dela.

Não, ela não deixaria Rachel morrer. Quinn tinha retirado ela do hospital para pudesse ter uma chance de viver, um novo recomeço, talvez até com ela. Não poderia deixar Rachel morrer, simplesmente não podia. A garota fazia parte de seu passado, presente e futuro, não iria deixar nada acontecer com ela, jamais.

Controlando seus nervos, Quinn correu ao porta-malas do carro e pegou a mala lotada de remédios e seringas que roubara do hospital. Queria ajudar Rachel, mas sua respiração parou ao perceber que não tinha idéia do que ela estava sentindo.

— Concentre-se — murmurou para si ao agachar-se novamente ao lado de Rachel, desviando o olhar do rosto pequeno e sofrido, e procurando algo na bolsa de remédios que ela sequer sabia o que era. — Vamos, concentre-se.

Rachel estivera em coma por quatro meses. Quatro longos meses. Por causa do dia em que inventara de pendurar os pôsteres para a campanha de Kurt à presidência do grêmio estudantil... Quinn sacudiu a cabeça, já com metade das caixas de remédios fora da bolsa. O que ela estava procurando, exatamente? O que ela queria?

A queda! A maldita queda de Rachel por quase dez metros de altura causada por uma bola jogada sem rumo por um jogador idiota no campo de futebol! Rachel quebrara uma das pernas, fraturara algumas costelas e quase tivera uma hemorragia interna. E o coma. Ela entrara em coma por causa do pôster de Kurt.

Ela voltou a buscar dentro da bolsa, agora com um objetivo. Apenas esperava que o que tivera arranjado ali pudesse ser o suficiente para que Rachel acordasse, e para que pelo menos pudesse cuidar dela até que tudo estivesse bem.

— Rachel, agüente aí, por favor! — ela disse à garota desacordada. Quinn conseguira encontrar um analgésico e já o inseria dentro de uma das seringas. Sabia que deveria ter alguma coisa para esterilizar o braço de Rachel antes da agulhada, mas não havia tempo. Perdera minutos preciosos apenas tentando descobrir o que ela tinha.

Quinn ouviu Santana exprimir um som que para ela significava nojo ou medo, mas não se importou. Ela respirou fundo e aplicou o medicamento na veia que ela magicamente achara no braço de Rachel com as mãos tremendo.

Não veio nenhuma reação por parte da garota desmaiada. Quinn passou a língua pelos lábios, se rendendo às lágrimas. Era cedo para um movimento, porém mais um minuto vendo Rachel daquela maneira era tortura, a pior desde que ela entrara em coma. Ela não tinha certeza se Rachel acordaria outra vez, se ela se lembraria de tudo que elas tinham passado durante o último verão, não sabia de nada que poderia acontecer com Rachel. Quando acordasse, sequer poderia ser a Rachel que amava.

Então, muito lentamente, a expressão de Rachel suavizou. Quinn, que permanecia observando seu rosto com as lágrimas rolando por suas bochechas interminavelmente, arqueou a sobrancelha para a melhora da garota, tentando não ficar exatamente animada em relação a isso. Rachel poderia ter diminuído a dor do lado de fora, no entanto ela não sabia o que estava acontecendo por dentro dela.

Ela suspirou, se deixando cair ao lado de Rachel. Só o tempo responderia se ela estaria bem ou não. E infelizmente, nenhuma delas tinha o tempo que precisavam.

***

03 de Julho de 2011

Casa de Rachel, Lima, OH

4:45 PM

— Oi... Rachel — Quinn disse timidamente, sobressaltando a morena que sentava na varanda de casa. — Tudo bem?

— Quinn... — Rachel murmurou, franzindo a testa num jeito muito fofo que fez a outra suspirar. No entanto, Quinn manteve a pose e sorriu convidativa. — Estou ótima. O que está fazendo aqui?

Ela dizia aquilo como se esperasse que as garotas das Cheerios saíssem de trás das árvores e começassem a tacar frutas podres nela, e Quinn não podia culpá-la. Tratara Rachel terrivelmente nos últimos anos, chamando-a de apelidos idiotas e fazendo pegadinhas com ela.

Mas ela queria compensar de alguma forma. Seus sentimentos estavam confusos, porém tinha certeza de que algo havia mudado no seu jeito de olhar para a garota. Os olhos castanhos de Rachel não pareciam mais carregados de indignação e confiança cega; eram cheios de ternura e de uma gratidão que Quinn sabia que jamais conseguiria pagar.

De repente, os suéteres que ela usava enfeitados de bichinhos não eram mais vergonhosos. Pareciam bonitinhos, até. Quinn gostava da sensação de poder ao ficar perto de Rachel, de como sempre ela ficava tímida e contida, parecendo esperar algum acesso de loucura seu. Quinn achava fofa a reação dela. Com ela, era medo ou amor irremediável. Rachel conseguia incrivelmente permanecer entre um meio-termo.

— E-eu... — Ela torceu as mãos, nervosa. Tinha ensaiado aquilo tanto na frente do espelho do banheiro... Por que era tão difícil chegar perto de Rachel e se desculpar por tudo que havia feito a ela e que queria uma amizade? — Estava pensando se...

Rachel lhe lançou um de seus olhares curiosos ao deitar a cabeça sobre o ombro. Tinha um meio sorriso no rosto, como se adivinhasse o que Quinn estava fazendo na porta da sua casa durante um dos verões mais quentes de Lima quando sabia que a garota tinha coisas muito melhores para fazer. Quinn baixou os olhos e riu com seus próprios pés.

— Musicais — disse Quinn num suspiro só fazendo Rachel soltar uma forte gargalhada. Ela olhou espantada para a garota, pronta para ir embora e passar o resto do dia se xingando por ser tão idiota.

— Que gosto surpreendente é esse por musicais? — questionou Rachel ainda rindo. — Pensei que curtisse somente filmes sobre ficção científica e coisas mais bizarras que essas.

Quinn fez uma cara ofendida. Poderia gostar de Rachel, mas aquilo tudo acabaria num piscar de olhos se ela atacasse mais uma vez seu belo gosto para filmes, games e músicas.

— A viagem para Nova York foi inspiradora — admitiu Quinn, se sentindo meio boba por continuar parada na varanda da casa de Rachel sem fazer nenhum movimento além de balançar os braços nervosamente. — Não vimos nenhum musical da Broadway, mas sei que quase todos têm uma adaptação no cinema, e você é a melhor no assunto...

Ela deixou a frase no ar. Rachel compreendeu e assentiu. Sua expressão mudara, estava séria e compenetrada, e Quinn pôde ver as pequenas engrenagens de seu cérebro musical lhe preparando uma lista enorme de filmes musicais que poderia assistir até o próximo ano.

Rachel acenou com a cabeça para o assento livre ao lado dela, e Quinn logo se sentou. A dona da casa começou a falar e falar sobre os grandes musicais e suas adaptações cinematográficas, porém Quinn mal entendeu a maioria das frases. Estava ocupada demais com um sorriso tolo no rosto enquanto observava o quão adorável Rachel Berry era.

***

14 de Março de 2012

Johnson Ridge State Nature Preserve, West Union, OH

2:22 PM

Santana poderia dizer às outras pessoas que nenhuma das experiências daquele dia tinha sido doloridas. Poderia responder a Sam com um sorriso irônico se ele perguntasse sobre como tinha sido matar os walkers Kurt e Blaine naquela estradinha assombrada, poderia até tranqüilizá-los de que tudo era menos sofrível se eles vissem aquilo como apenas um ensaio de tudo que viria pela frente.

Como ela queria também se convencer disso.

Entretanto, de longe, nenhuma daquelas lembranças doía mais à mente de Santana do que ver Quinn Fabray ajoelhada ao lado do corpo praticamente sem vida de Rachel Berry. A inércia que acontecia ali era significantemente não tolerada por ela. Santana odiava ser obrigada a ver Quinn naquele estado e não poder fazer nada para ajudar. Não era seu estilo ficar parada esperando.

— San, vem aqui.

O sussurro de Brittany lhe chamou a atenção, e Santana por fim pôde desviar os olhos da cena deprimente que sua amiga fazia parte. Brittany estava perto da mata que dava entrada ao parque florestal. A garota levantou a sobrancelha para a namorada, se perguntando por que não notara que ela sumira por aparentemente muitos minutos.

— Britt, o que foi? — indagou num murmúrio temeroso, pegando a mão de Brittany por impulso e olhando acima do ombro dela. — Onde você estava?!

— Dentro do parque. Escuta — ela disse, pois Santana ameaçou começar a gritar palavrões em espanhol, apavorada —, tem uma casa há mais ou menos um quilômetro daqui. Podemos pegar o carro e ir para lá, não vi ninguém ou nenhum zumbi por perto.

Santana ficou quieta e considerou a idéia. Seria temporário, é claro, tinham que se encontrar com Sam em algum lugar próximo a Nashville, mas por um ou dois dias até Rachel se recuperar seria ótimo. E também poderiam esperar Puck ali mesmo. Ela duvidava que precisassem convencer Quinn nessa, a garota estava tão desolada e sem opções que concordaria numa boa.

— Beleza. Eu aviso a Quinn. Você pegue Rachel e coloque-a no Cadillac. — Ela ficou encarando o rosto perfeito de Brittany por longos segundos até depositar um selinho fraco nos lábios dela. — Eu te amo.

Ela sabia que não precisava ficar se declarando a cada cinco segundos, mas o fim do mundo havia aberto seus olhos. Cada tempo que passava com Brittany era precioso demais para ser jogado fora.

Santana engoliu em seco e voltou para perto da porta de trás do carro. Quinn continuava ali parada ao lado de Rachel, e então pôde notar que a face da garota desmaiada se aliviara um pouco. Quinn conferia sua pulsação, suas lágrimas pingando involuntariamente no braço de Rachel.

Ela fechou os olhos e tentou não chorar. Desabara em lágrimas demais por aquele dia. Assim como Quinn se manteve forte algumas horas antes para ela, Santana tinha que se manter forte para a garota. A questão era como, se jamais fora tão boa em esconder os sentimentos como a amiga. Era tudo sempre à flor da pele com ela.

— Quinn... — Santana se aproximou sorrateiramente, colocando a mão esquerda no ombro da garota numa demonstração de apoio que achou meio idiota. Um pequeno gesto não mostraria o tanto que ela amava Quinn e queria vê-la feliz. — Brittany achou uma casa dentro do parque. Cama, chuveiro quente, sem ninguém ou walkers por perto... N-nós... Nós deveríamos ir para lá. Até Rachel melhorar, quem sabe.

A não demonstração de sentimentos por parte de Quinn começava a perturbar Santana. Ela não poderia estar tão ruim por causa de uma garota, uma voz ficava dizendo em sua cabeça. Contudo, outra voz sempre rebatia, fazendo-a lembrar dos dias em que Brittany ficara seriamente doente e sua vida se tornara nada além de um espectro até que a outra ficasse bem novamente.

Sabia que a segunda voz estava correta. Quinn amava Rachel, ela tinha certeza daquilo desde o primeiro ano. Ver Brittany sofrer uma vez era ruim, mas para Quinn... Ela tinha visto o amor da sua vida cair de uma altura de dez metros sem poder fazer nada, perdera toda a esperança no mundo enquanto a visitava, voltara a ter o mínimo do brilho no olhar que tinha antes durante as poucas horas que Rachel estava com elas, e agora tudo voltava à estaca zero...

Santana, ao não ver nenhuma reação em Quinn, ergueu ela pelos ombros, dando espaço para que Brittany pudesse carregar Rachel de volta ao Cadillac. Santana sentou a garota no banco da frente entre ela e Brittany, deixando Rachel deitada atrás. Ela continuava sem se mexer.

— Britt, por favor, nos leve a tal casa — pediu ela cansada.

***

14 de Março de 2012

Johnson Ridge State Nature Preserve, West Union, OH

7:43 PM

A casa que Brittany tinha mencionado era algo apropriado depois de ter passado horas na estrada e enfrentado walkers para todos os lados. Santana sentia-se destruída, deitar numa cama confortável após tanto tempo não era um crime, era?

Começava a escurecer quando ela pôde finalmente experimentar os lençóis aconchegantes deixados para trás e a água quente do banheiro. Ainda se preocupava com Quinn e Rachel — a primeira permanecia estranhamente quieta enquanto continuava não vendo nenhum avanço da segunda —, mas estava garantida em relação a tudo àquilo. Alguma coisa lhe dizia que Rachel acordaria mais tarde, que na verdade era apenas Brittany lhe dizendo com um sorriso confiante no rosto, e era muito fácil acreditar nela.

— Quinn, nós tentamos fazer algo para comer — Santana disse ao entrar no quarto ao lado do seu, encontrando a amiga deitada de barriga para cima e olhos abertos encarando o teto. — Se você quiser, estamos na cozinha.

Quinn fez um som estranho que ela presumiu que fosse um sim. O quarto tinha duas camas de solteiro, e Rachel ocupava a outra. Santana não queria que Quinn se sentisse solitária e até ofereceu para que ela colocasse a cama no quarto dela e de Brittany, que tinha uma cama de casal, mas a garota recusou. Ela engoliu em seco e saiu do quarto, fechando a porta em seguida. Ao sair, pôde jurar ter ouvido um fungado alto.

— Nada ainda? — indagou Brittany ao ouvir os passos da garota perto da cozinha. Ela largara sua jaqueta jeans num dos banquinhos onde Santana agora se sentava e usava um avental que encontrara em um armário.

Santana sorriu involuntariamente, sabendo que o momento não pedira sorrisos, no entanto ela não se continha. Ver Brittany na cozinha de avental, numa casa de verdade — não uma em Lima, onde aquele inferno todo acontecia — no meio do nada, num silêncio profundo à luz de alguns lampiões era (quase) tudo que ela sonhara. Num lugar como aquele, elas não poderiam ser julgadas por nada.

— Não. — Ela suspirou ao responder, retomando o assunto sobre Quinn e Rachel. — Estou preocupada, Britt. Quer dizer, se lembra de como Quinn ficou ao ver ela no hospital? E se Rachel tiver voltado ao...

— Ninguém volta ao estado de coma, San — falou Brittany séria, tirando sua atenção do fogão e olhando para a namorada. — É uma coisa óbvia, se você passou por isso, Deus não deixaria você passar outra vez.

— Por esses dias, ando duvidando muito que esse tal de Deus esteja sendo justo — murmurou Santana, sem que a outra ouvisse.

Elas ficaram em silêncio até o macarrão instantâneo que Brittany preparava — a única coisa que elas sabiam fazer sem que Quinn lhes ensinasse — estivesse pronto. Brittany encontrara pratos e talheres de verdade durante a varredura pela casa e servia o macarrão neles.

Santana achava aquilo tudo estranho, mas não ousava comentar. Com Rachel parecendo estar permanentemente desmaiada, Quinn em estado vegetativo pelo que aparentava ser para sempre, ela não queria acrescentar mais um problema à enorme lista que tinham.

A verdade é que achar uma casa no meio de um parque florestal durante um apocalipse era suspeito. As pessoas que moravam ali — o guarda-florestal e sua família, provavelmente — não poderiam ter ido muito longe. Estavam longe da civilização, elas não tinham encontrado nenhuma televisão durante a inspeção, apenas um rádio velho que Santana tinha certeza que não funcionava há anos.

Os alimentos que haviam encontrado nos armários demorariam tempos para vencer, o que significava que havia, sim, gente morando ali. Santana queria manter as esperanças altas, mas a percepção de ir dormir para acordar com a arma de um guarda na sua cabeça durante a madrugada não era nada boa.

— Santana, você tem que parar com isso — reclamou Brittany após ter terminado seu macarrão e levar o prato a pia.

— O quê? — disse a outra garota sobressaltada. Seu prato de comida estava praticamente intocado, tamanha sua preocupação com todos ao seu redor.

Brittany apenas riu.

Isso — ela disse como se explicasse o óbvio. — Ficar muito preocupada com tudo. Nós vamos ficar bem, enfie isso nessa cabeça dura sua.

Santana considerou. Das previsões que Brittany tinha feito para ela, a maioria tinha saído como verdadeira. Ela queria acreditar naquela também. Deu um sorrisinho contido, olhando para seu prato. Apressou-se a comer, temendo que esfriasse logo.

— Brittany, nós perdemos muito por esses dias — Santana falou enquanto a namorada a observava apaixonadamente, com aquele olhar que nunca mudava apesar dos pesares. — Perdemos nossos pais, metade da galera do Glee...

— Lord Tubbington — sussurrou Brittany, triste.

—... Lord Tubbington — Santana repetiu, se perguntando se o gato na namorada tinha somente fugido quando o caos começou ou havia realmente se transformando num zumbi. — E muito mais. Você, Quinn e a baixinha da Berry são só o que eu tenho agora. Não quero perder vocês também.

Ela desviou o olhar, fixando-o na janela escura atrás da pia que projetava sombras bruxuleantes das duas. Tentou conter as lágrimas, por que mesmo suas conversas sentimentais incluindo apenas Brittany, ela demonstrara sentimentos demais por aquele dia.

Brittany pegou suas mãos e a fez olhá-la. O azul dos olhos dela fazia Santana pensar que estava mergulhando na mais profunda e pura água do oceano; trazia a ela uma estranha paz, uma gostosa sensação de sentir-se em casa.

— Santana Lopez, eu não vou deixar você. Eu sei que faço muitas promessas e essas coisas não podem ser levadas a sério hoje em dia, mas... — Brittany engoliu em seco, a voz falhando — nenhuma de nós vai se perder, ok? Vamos ficar bem.

E como se fosse para concordar com tudo aquilo, selar o acordo feito entre elas, Santana se inclinou alguns centímetros para dar um beijo apaixonado na namorada.

***

15 de Março de 2012

Johnson Ridge State Nature Preserve, West Union, OH

3:14 AM

Quinn Fabray estava morrendo.

Não literalmente, mas ela podia sentir seus órgãos parando. Seu corpo estava apenas funcionando para as funções vitais. Deveria estar morta de fome, pois não comia há horas, no entanto, a única coisa que sentia naquele momento era as batidas rápidas do seu coração.

Rachel estava imóvel ao seu lado.

Ela ouvia o coração dela, também. Ligeiramente mais devagar que o seu, entretanto, mas felizmente batendo. Deveria dar pulos de alegria, porém quanto mais a respiração de Rachel voltava ao normal, mais seu raciocínio ficava lento.

Não sabia se Rachel iria acordar daquela vez, não sabia quanto tempo ela demoraria a acordar, não sabia de nada. E aquela incerteza que estava atingindo ela mais uma vez era o que começava a roubar suas forças, sua vontade de continuar vivendo.

Tinha que continuar, uma voz gritava em sua cabeça. Por suas amigas que dormiam no quarto ao lado com um pouco de paz depois de tanto tempo. Por seus amigos há mais de quatrocentos quilômetros de distância, esperando-a pacientemente. Por sua filha e o pai dela que estavam chegando dali a algumas horas. Tinha que seguir em frente, ela insistentemente gritava.

Então, Quinn ouvia Rachel se mexer minimamente.

O que pensava sumia da sua mente. Não. Ela não poderia seguir sem Rachel. Mais do que seu amor não correspondido, ela prometera aos pais dela que faria tudo para que Rachel — sua pequena estrelinha Rachel Berry — ficasse bem e em segurança. E Quinn não quebrava promessas. Talvez nos velhos tempos, mas não agora.

A noção da verdade pareceu dar um novo ânimo ao seu corpo. Sentiu-se mais enérgica. Como se alguma força mágica misteriosa lhe tivesse dado enormes pílulas de entusiasmo e coragem. Os músculos de seu rosto não corresponderam imediatamente, mas ela tentou estampar um sorriso — o único sorriso que costumava dar quando essa desgraça toda começou: o de Rachel, para ela.

Um barulho varreu tudo de sua mente. Lembravam terrivelmente passos. Ela engoliu em seco, se levantando pela primeira vez desde que chegara. No escuro que estava o quarto, surpreendeu-se encontrar rápido o longo facão que carregava ao lado da pistola. Não poderia atirar naquele silêncio assustador, sempre atrairia mais walkers, ou qualquer seja a coisa que estava caminhando por ali durante a madrugada.

Mais passos. Quinn caminhou sorrateiramente para fora, quase batendo de frente com Santana, que abria a porta do quarto ao lado. Ela pôs o dedo indicador nos lábios, indicando que deveriam fazer silêncio. Santana revirou os olhos como se dissesse “Eu sei disso, idiota, vamos matar uns zumbis!”

Ela também estava carregada com seu facão. Santana reclamava que suas armas eram sempre potencialmente menos perigosas que as de Quinn, porém ninguém fez muitas perguntas quando ela arranjou para as duas aqueles facões. Tinham sido úteis para matar zumbis na calada da noite desde então.

Quinn descobriu que Brittany e Santana tinham trazido quase todo o equipamento de dentro do Cadillac para a casa. Os mini-bares, a grande quantidade de comida que haviam trazido — a maioria macarrão instantâneo ou qualquer coisa que cozinhasse rápido; Quinn não era tão boa na cozinha quanto elas pensavam —, e até os isopores lotados de cereais, bolachas e doces em gerais. Seria uma boa idéia se elas não tivessem que sair correndo no meio da noite.

As duas garotas caminharam de forma silenciosa até a porta da frente. Quinn podia ouvir os gemidos, sussurros indefinidos dos zumbis que estavam ali. Se sua conta não estivesse muito ruim, teria apenas dois, o que não significava que não poderia haver mais. Seu olhar se encontrou com o de Santana e elas balançaram a cabeça num acordo mudo: iriam embora assim que pudessem.

Quinn passou a língua pelos lábios, pondo a mão na maçaneta, ainda olhando para Santana. Ela estava posicionada para o ataque, o facão descansando nervosamente em seu ombro. A outra mão de Quinn formigava, pedindo para que abrisse a porta logo.

Ela obedeceu a seus instintos.

Os walkers não eram nada além de mortos-vivos sem pernas que haviam conseguido rastejar até ali. Estavam subindo os pequenos degraus na entrada, e conseguiram avançar mais rápido ao ver as garotas próximas deles.

Quinn olhou para um deles com nojo, tentando não imaginar que antes aquela carcaça meio viva e meio morta era um ser humano, talvez dono da casa que usavam, e chutou-o longe. Ela desceu a escadinha da porta de entrada com rapidez e mandou um golpe veloz na cabeça do zumbi, matando-o pela segunda vez.

Ela virou-se para Santana, vitoriosa. A garota tinha aquele sorriso esnobe tão característico de sua época em Lima Heights, com o outro zumbi morto aos seus pés. Quinn piscou para ela, voltando para dentro antes que algo mais acontecesse.

— Cara, que zumbis toscos — riu Santana em voz baixa, assim que trancou a porta da frente ao deixar Quinn entrar. — Nós nem precisávamos ter nos preocupado.

— Ah, fique quieta, eles poderiam ter nos causado um problema que faria nossas pernas tremerem — comentou Quinn de forma infame, rindo também.

Ela depositou o facão cheio de sangue de zumbi no balcão da pia. Santana soltou uma gargalhada, ainda em sussurros. Elas ficaram se encarando por um tempo, rindo da forma mais silenciosa que podiam.

Quinn mal sabia o que tinha acontecido ali. Minutos antes podia sentir seu coração diminuindo rapidamente suas batidas conforme sua decisão de ir embora e deixar Rachel se tornavam quase reais. Então, estava rindo aos montes com Santana depois de ter matado walkers pernetas. Ela não entendia, porém gostava. Em algum lugar de seu coração acelerado outra vez, sentia que ela e Rachel estavam ligadas, como um grande transmissor de emoções humanas.

Onde estavam? — Brittany irrompeu pela cozinha, usando um roupão rosa quase tão brilhante quanto à prata do facão das outras. Quinn olhou com ar de riso para Santana, que tinha sua total atenção voltada à lamparina.

— Matando walkers, desculpe — Santana respondeu, encarando o chão agora. Seus pés remexiam-se nervosos, e mais uma vez Quinn sentiu vontade de rir da cena. O que estava acontecendo com ela?

— Ah. — Brittany retraiu sua bronca por um segundo. Depois, se dirigiu à Quinn, séria: — Rachel acordou.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Vocês gostaram dos momentos Brittana? Sinto por ter acabado o capítulo no momento chave, mas não posso fazer nada, deixam vocês animadas para os próximos capítulos!
Espero reviews de vocês galera e até o próximo!