Running Away From Hell escrita por GabanaF


Capítulo 2
Cap. II — Painful


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, eu queria agradecer pela maravilhosa recepção que vocês me deram, de verdade! Sério, não esperava tanta aprovação para esse meu projeto, e com certeza ficar encarando a página de reviews que nem uma boba por horas me deu inspiração para que eu escrevesse mais se está melhor, não sei, vocês terão que me dizer.
Enfim, no capítulo anterior eu acrescentei datas e o local onde as meninas estão, além de horas, e o mesmo eu fiz nesse aqui. Acredito que, se você está num apocalipse zumbi, é uma boa ter certa direção de onde está indo. E não se preocupem, Google Maps é meu aliado nessa fic KKKKK
Não vou deixar vocês muito aqui em cima, espero que gostem deste capítulo!



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18 de Outubro de 2011

McKinley High School, Lima, OH

1:30 PM

— Rachel, você tem certeza disso? — perguntou Quinn lá de baixo, olhando preocupada para a amiga, que subia lentamente os degraus da escada. — É muito alto!

Rachel olhou para baixo e sorriu radiante, continuando a subir. Geralmente tinha medo de altura ou qualquer coisa que envolvesse escadas, mas aquilo era importante. O pôster gigante dela para a campanha de Kurt à presidência do grêmio estudantil com certeza arrancaria votos da maioria dos jogadores de futebol.

Era uma estratégia de marketing estar ali, durante o treino dos garotos, para colocar a faixa no prédio alto do colégio. Alguns haviam parado para observar, e depois serem gritados por Coach Beiste para continuar o serviço. A primeira parte do pôster já tinha sido colocada, faltava apenas ajeitar o lado esquerdo e tudo estaria pronto.

— Rachel... — ela ouviu Quinn gemer, o tom medroso da voz da garota a fazendo rir. Sua amizade com Quinn tinha começado de forma estranha no verão, mas Rachel não discutia. Quinn praticamente fazia tudo o que ela pedia; coisas que Finn jamais pensaria em fazer. — Por favor, desce daí logo!

Quinn bufou, começando a se arrepender de ter deixado Rachel se apoderar da escada do zelador para colocar aquele cartaz gigante idiota. Suas mãos tremiam ao segurar a madeira do objeto, esperando que isso não fosse afetar a confiança de Rachel a quase dez metros de altura.

Rachel encaixou a última parte do pôster no prego posto antes pelo zelador da McKinley e virou-se para dar um sorriso vitorioso à Quinn. A garota, apesar de todo o medo e revolta por ter a sensação de que algo poderia dar terrivelmente errado, não deixou de sorrir também.

Rachel era maravilhosa, Quinn se alegrava por ter uma amizade com ela. Claro, suas intenções eram outras quando apareceu na varanda da casa dela no começo do verão para pedir algumas dicas de musicais, mas estava contente por ser amiga dela.

Então, o mundo de Quinn parou por um segundo.

Ela não viu a bola de futebol voando alto por ela, não ouviu o grito desesperado de algum jogador idiota de futebol americano. Só entendeu o que estava acontecendo quando seu instinto a tirou do caminho ao ver Rachel Berry caindo em câmera lenta em sua direção.

O baque surdo do corpo pequeno de Rachel ao cair na grama despertou Quinn. Ela também estava deitada no chão, mas não hesitou nenhum segundo ao levantar-se e correr para a garota que amava.

As pernas de Rachel formavam um ângulo estranho. Ela estava desacordada, e Quinn caiu no gramado ao lado dela, sem saber o que fazer, sem saber como afastar os jogadores curiosos, lançando olhares à Rachel de pura pena.

— Ela não está morta, ela não está morta — Quinn se pegou repetindo enquanto sacudia veementemente o corpo imóvel de Rachel na estúpida tentativa de acordá-la

— Quinn, deixe Coach Beiste levá-la ao hospital! — exclamou alguém, Quinn reconheceu como Sam, seu amigo protetor de sempre. Mas não, ela sacudiu a cabeça em negação e tentava muito controlar as lágrimas. Ainda balançava Rachel à procura de algum sinal de vida.

Ao contrário de Sam, Coach Beiste não hesitou em tirá-la dali. Sentiu mãos fortes a pegando pelos ombros e jogando-a num outro corpo. Ela se debatia, se contorcia, tentado sair do abraço de urso do garoto ao ver Beiste levantar e ajeitar no colo Rachel para levá-la ao hospital.

— Calma Quinn — sussurrou a voz grave de Sam em seu ouvido.

Mas Quinn não queria estar calma, Finn estava acompanhando a garota que amava e ela não podia ir com eles. Debateu-se mais uma vez no aperto de Sam, tentando se livrar dele e para ir correndo atrás da treinadora. Não, não podia deixar Rachel morrer, não podia... Se aquilo acontecesse, seria culpa dela.

***

14 de Março de 2012

Township Line Road, Waynesville, OH

11:10 AM

— Meu Deus, meu Deus — Quinn ouviu Rachel murmurar, balançando para frente e para trás rapidamente, num ritmo contínuo.

Ela tentara confortar a garota, mas Rachel se encolhera perto da janela, o mais longe possível dela. Queria perguntar o que estava acontecendo, mas a imagem ainda fresca na memória de Santana dando dois tiros certeiros em Blaine e Kurt explicou tudo.

Santana era tudo — vadia, trapaceira, sem-vergonha, esquentada, idiota, ex-Cheerio com mania de grandeza... —, mas não sentia pena, Quinn sabia disso. No entanto, ao observá-la atirar nos dois antigos colegas de coral com lágrimas escorrendo pelo rosto, ela mudou seus conceitos.

Nunca tinha visto a garota daquela forma. Tinham se afastado pelo menos trinta quilômetros da pequena estrada e Santana ainda se sacudia no banco do carona, chorando torrencialmente. Brittany agora dirigia, com um olho na estrada e outro na namorada, acariciando seus cabelos negros e lhe dizendo palavras de consolo.

Mas Quinn sabia que não existia consolo para aquilo. Ela havia matado um amigo também — embora não gostasse nada de Finn, a história que eles tinham era demais para ser ignorada —, já tinha sentido o que Santana estava passando naquele momento: a indignação de vê-lo transformado, o horroroso ato de atirar nele e observá-lo cair enquanto tem de correr pela própria vida, e mais tarde, onde a mente a leva a pensar que poderia ter dado certo se um pequeno erro atrás fosse corrigido.

Quinn queria confortar Santana, dizer que estivera na pele dela, quando lembrou que ela tinha passado por aquilo duas vezes, em menos de um mês. Como dormia na cama ao lado de Santana na casa enorme em que se hospedavam, às vezes ela a ouvia chorando, tão baixinho que nem Brittany, dormindo abraçada à ela, escutava. No dia em que encontrara Mike, Artie e Tina na saída da cidade, Santana chorara a noite inteira, e tudo o que Quinn queria fazer era se juntar à vigília de Sam para não precisar escutar a amiga sofrer tanto.

— Quinn...

Rachel ergueu os olhos para ela. Estavam vermelhos e inchados. Quando a garota abriu a boca para responder, Rachel prontamente se grudou no corpo dela, soluçando e tremendo tanto quanto Santana.

Quinn não fez nada além de englobá-la em seus braços, fazendo sons que ouvia sua mãe imitar para ela quando criança. Eles a acalmavam durante a noite quando tinha seus pesadelos estranhos. Esperava realmente que tivesse o mesmo efeito em Rachel.

Ela tentava não chorar, tentava permanecer forte para Rachel, para Santana e Brittany por que era a verdadeira chefe ali, mas ter Rachel em seus braços, tão machucada, tão sofrida, ainda doente por causa dos meses em coma, lhe causava uma dor imensa. Tinha que permanecer forte, uma voz dizia em sua cabeça.

Permaneça forte, Quinn.

— Brittany — chamou Quinn, impressionada por sua voz ter saído enérgica. — Acho que precisamos parar um pouco.

Brittany, que oferecia colo à Santana, concordou. Ela andou mais alguns quilômetros até parar numa nova estradinha de terra, que, felizmente, não tinha nada além do Cadillac e das quatro garotas. Quinn imediatamente saiu do carro com a pistola a tira colo e pegou as chaves com Brittany para abrir o porta-malas, tirando de lá quatro banquinhos de madeira e os colocando ao lado do carro.

Quinn carregou Rachel até um deles e se agachou perto dela. Ofereceu um pouco de água, que também pegara do porta-malas, e tentou dar um sorriso. Doía ver Rachel — a grande Rachel Berry, a garota cheia de sonhos e sorrisos que poderiam iluminar toda a cidade Lima — daquela forma. Ela parecia aturdida, olhando para os lados como se esperasse que um zumbi fosse sair da mata que encobria a estradinha e atacá-la. Estava aterrorizada, e Quinn sinceramente não sabia o que fazer com aquele torpor que passava pela cabeça dela.

A poucos metros dela, Brittany conseguira algum sucesso com Santana. Ela parara de chorar e bebia a garrafa de água num gole só. Seu olhar estava tão confuso quanto o de Rachel, e ela apenas mudou a direção de seus sentimentos quando Brittany lhe deu um selinho e a abraçou.

Quinn observou tristemente a cena das duas. Desejava poder fazer isso com Rachel um dia. Pegá-la deprimida e fazer cócegas nela até conseguir ouvir a risada escandalosa dela. Queria muito sorrir para ela e melhorar tudo ao seu redor. Suspirou, abatida pelas lembranças da época em que ela e Rachel eram melhores amigas antes de ela entrar em coma. Fora o mais próximo que ela chegara a uma relação com Rachel, e nenhum apocalipse zumbi a impediria de ter aquilo de volta.

— Vai ficar tudo bem, não vai? — soluçou Rachel após alguns minutos, deixando que Quinn enxugasse suas lágrimas. — Vamos cuidar umas das outras, e nada vai nos acertar, certo?

Quinn mordeu o lábio, desejando responder àquela pergunta com sinceridade. Mas sabia que não podia. Não queria ser a culpada pelo retorno da choradeira de Rachel. Desviando o olhar daqueles grandes olhos castanhos pedintes, ela disse:

— Nós vamos cuidar uma da outra, isso eu prometo. Eu lhe disse que iríamos nos safar dessa, e não vou descansar um minuto até que nós estejamos salvas no local onde Sam está.

A boca de Rachel se entreabriu num pequeno sorriso, e Quinn achou aquilo um começo. Ela beijou a testa da garota e se levantou ao ouvir o chiado conhecido do rádio-comunicador dentro do porta-luvas do Cadillac. Sentou-se no banco do passageiro e o ligou, ouvindo a voz de Sam quase que instantaneamente.

Câmbio... Sam falando, tem alguém aí?

— Sim, Sam, é a Quinn — a garota respondeu, achando graça da seriedade dele. Podiam estar no fim do mundo, mas ver Sam Evans agindo seriamente continuava estranho. — Aconteceu alguma coisa?

Você tem que falar câmbio, Quinn, faz parte do negócio — reclamou ele, e Quinn deixou escapar uma risada. Sam fazia bem a ela, esperava que chegassem a Nashville logo. — Mas enfim... Estamos bem. Encontramos uma fazenda longe de tudo... Os donos simplesmente sumiram. Tudo está em perfeita ordem, parece que eles saíram apenas com a roupa do corpo. Tem comida, energia elétrica, uma horta... Acho que poderemos viver aqui por uns tempos.

— Esqueceu de falar câmbio — brincou Quinn, rindo. Sam bufou do outro lado da linha, irritado. Tinha se esquecido do quanto era bom importunar o garoto.

E vocês, como estão? Câmbio. — Ele enfatizou a última palavra.

— Não muito bem... — o sorriso de Quinn sumiu. Ela olhou para fora do carro e encontrou uma cena estranha, onde Santana estava consolando Rachel. Franziu a testa, observando que Brittany procurava algo no porta-malas, provavelmente alguma das bolachas que trouxera. — Santana acabou de matar os zumbis Kurt e Blaine.

Sam ficou em silêncio, e Quinn não sabia se ele estava apenas esperando que ela dissesse câmbio ou se estava digerindo a notícia. Decidiu esperar, lançando outro olhar ao lado de fora do Cadillac, vendo agora Rachel começar a conversar com Santana e Brittany, animada. Ela se perguntou o que estava acontecendo.

Cara, que péssimo. — Quinn tinha que admitir que Sam talvez não fosse o melhor com palavras de consolo. Ela ouviu gritos durante a transmissão e arregalou os olhos, imaginando um ataque de walkers na fazenda que Sam achara. — Merda... Tenho que ir, Sugar achou uma barata no banheiro. Vejo vocês em breve. Câmbio e desligo.

O rádio ficou mudo. Quinn respirou aliviada, sorrindo por que problemas idiotas como aquele ainda eram prioridades para garotas como Sugar. Ela gostara de saber que coisas normais, como acharem uma barata dentro do banheiro, continuava acontecendo. Mantinha o espírito humano em todos eles.

Rachel continuava conversando animadamente com Santana. Na antiga realidade delas, Santana odiava Rachel. Ou pelo menos Quinn achava que sim, já que toda vez que mencionava a garota em alguma conversa, ela simplesmente virava a cara e ficava emburrada. Ou talvez Quinn mencionasse demais Rachel em suas conversas, tanto que começara a irritar a garota de ascendência latina.

De qualquer maneira, seu coração apertou ao ouvir a risada das duas combinando perfeitamente. Ela não fora capaz de fazer Rachel rir no seu pior momento, e só o fato de Santana ter se aproximado causou nela uma combustão espontânea de risadas. Quinn sabia que Santana jamais deixaria Brittany ou a machucaria, mas observá-la ser uma pessoa melhor para Rachel do que ela já fora, doía. E muito.

— Sam? — indagou Brittany quando Quinn se juntou a elas.

— Sim. Encontraram uma fazenda no meio do nada. Vão ficar por lá. Estão nos esperando. Sugar achou baratas no banheiro — disse Quinn de forma monótona e rápida.

Rachel olhou para ela e riu.

— Não parece bom para você — disse ela, arrancando risadas de Santana e Brittany, o que fez Quinn franzir a testa e se perguntar quando elas começaram a compartilhar piadas internas.

— Qual é... Joan Jett, estamos tentando arranjar algo para sorrir aqui, você deveria fazer o mesmo — falou Santana, puxando Quinn para sentar em seu colo e lhe fazendo cafuné.

A garota não resistiu aos carinhos de Santana, especialmente quando ela apenas fazia aquilo com a namorada. Sorriu envergonhada, e corou ao notar que estava sendo observada atentamente por Rachel. A morena percebeu que fora pega e também ficara vermelha, fixando seu olhar na lataria do carro.

— Acho melhor irmos, não? — sugeriu Brittany, pegando seu banco de madeira e levando até o porta-malas. — Não queremos perder Sugar e suas baratas.

Fazia muito tempo que Quinn não ria daquela forma. Dividir aquela alegria contida com Brittany, Santana e, em especial, Rachel, tornava tudo muito melhor. Sentia que poderia passar por todo aquele inferno com elas ao lado.

***

14 de Março de 2012

Corboy Road, Winchester, OH

12:37 PM

Brittany continuou a dirigir o Cadillac quando elas partiram mais uma vez pela estrada. Os ânimos ainda não eram os dos melhores, mas ela conseguia ver um futuro para as quatro.

Era otimista, e todos antes do apocalipse a chamavam de burra por causa de seu grande humor e da sua enorme capacidade de ver o bem mesmo nas coisas mais terríveis, porém Brittany não era uma total idiota.

Ela sabia das coisas, via coisas que os outros não conseguiam perceber, como a bondade no coração de Santana, a insegurança em relação aos sentimentos de Quinn, a compaixão enorme que Rachel sentia por muitos, em especial Quinn e Finn... Todos a chamavam de idiota por que ela simplesmente acreditava no melhor das pessoas, não no pior.

E quando os zumbis começaram a atacar Lima, Brittany espantou a todos. Ela sabia como lidar com eles, como usar as espingardas, as metralhadoras, as pistolas... Acima de Quinn, ela era a garota mais poderosa do grupo de sobreviventes que tinham montado.

Brittany aprendera a maioria do que ensinara aos garotos em jogos de videogames e em livros que pedia emprestado a Quinn. É claro que fora difícil ler aquelas letras minúsculas dos livros gigantes sobre zumbis que a amiga tinha, mas com a ajuda de Santana, ela foi se aperfeiçoando.

Durante os poucos meses em que o mundo se transformara de forma radical, Brittany decidiu que não deixaria mais ninguém lhe chamar de burra, idiota, ou qualquer um desses adjetivos apelativos. Claro, com Santana ao lado dela, a maioria pensava duas vezes antes de falar alguma coisa, mas ela fez aquilo por conta própria. Precisava mostrar pro mundo quem ela realmente era, e ajudando pessoas durante um apocalipse zumbi era uma boa forma de começar.

— Britt, me diz o que está acontecendo — pediu Santana num sussurro, tirando Brittany de seu devaneio. — Por favor.

A verdade era que não estava acontecendo nada. Brittany não escondia segredos de Santana desde quando tinha seis anos de idade — a época em que se conheceram. No entanto, por alguma razão, ela achava que algo estava se passando por baixo de sua cabeleira loira. Perguntou-se se a grande pressão dos últimos dias — Sam ter ido embora, Quinn salvando Rachel, elas fugindo da cidade, e agora os zumbis Kurt e Blaine — estavam lhe causando também delírios.

— Estou bem, San — respondeu Brittany, tirando os olhos da estrada por um momento e dando um sorriso bondoso à Santana. — Confie em mim, estou bem.

Santana assentiu e sorriu de volta, dando um beijo na bochecha de Brittany. Ela voltou a ficar séria e a encarar a estrada como se tivesse algum objetivo ali. Tinha, por enquanto, pensou. Chegar a Sam, se abrigar na fazenda dele e desintoxicar o banheiro cheio de baratas. E sobreviver, é claro. Não poderia esquecer aquele item.

— Não vamos parar? — Rachel indagou alguns minutos mais tarde, onde o silêncio foi preenchido por um cassete do Guns ‘N Roses. Santana cantava Sweet Child O’Mine em voz alta.

— Por quê? — Quinn devolveu a pergunta, sinceramente curiosa.

Brittany adorava observar as duas garotas juntas. Sentadas no banco de trás do Cadillac, Rachel antes discutia com Quinn sobre antigos musicais da Broadway, sonho que Brittany sabia que tinha sido completamente destruído. Elas estavam distantes uma da outra, mas suas mãos se tocavam distraidamente, os dedos brincando entre si. Rachel não percebia nada, porém Brittany notou o sorriso pequeno que se formava nos lábios de Quinn, e não pôde deixar de se sentir um tanto orgulhosa.

Antes de o mundo virar de cabeça para baixo, quando Rachel ainda era Rachel e estava em coma, Brittany viu Quinn desabar. A garota forte, ex-Cheerio e durona não existiu por um longo tempo. Quinn apenas queria passar maior parte do dia ao lado da cama de Rachel no hospital, sem se importar com os xingamentos de Finn dizendo que ela não deveria estar ali ou sua mãe implorando para que ela voltasse para casa.

Uma vez Quinn voltou à mansão Fabray. O cabelo cortado em Nova York estava começando a crescer novamente, mas ninguém notou. Quinn apareceu no outro dia na escola com roupas que nenhum de seus amigos jamais pensaria que ela usaria e o cabelo tingido de rosa. Todos ficaram particularmente chocados, mas Brittany aprovou. Aquela Quinn era a mais verdadeira que ela já tinha visto nos três anos em que tinham estudado juntas.

— É quase uma da tarde — disse Rachel como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

Quinn franziu a testa, e Santana até baixou o som para ouvir a discussão com mais clareza. Brittany mudou a marcha do carro e acelerou um pouco mais.

— E…?

— Não deveríamos ter parado para almoçar?

Brittany e Santana se entreolharam com ar de riso. Quinn pigarreou, também controlando sua risada, e respondeu:

— Não temos tempo para isso, Rach. Se não percebeu, estamos com sérios problemas. Os restaurantes na beira da estrada podem nos servir comida, claro, mas nós podemos virar a comida, entende?

Desapontada, Rachel concordou. Quinn fez uma expressão de como sentisse pena e tirou do bolso de sua jaqueta de couro uma barra de chocolate e entregou à Rachel.

— Coma — disse, seu olhar se encontrando com o de Brittany, o que a acabou fazendo corar. — Ao pararmos pela tarde, eu esquento algo para você.

Quinn esquentaria algo para todas, Brittany se pegou pensando. Ela era uma negação na cozinha, Santana mal sabia fazer gelo. Quinn era a única ali com jeito para encarar um fogão e não fazer nada pegar fogo. Os dois mini-bar, que magicamente funcionavam sem uma tomada, que tinham trazido estavam lotados de comida congelada, água e vodka, que Santana insistira em trazer.

A outra parte da comida que não precisava de nenhum gelo para continuar gostosa estava enrolada em grandes vasilhas plásticas, agora escondidas no porta-malas dentre as roupas e armamentos. Brittany esperava que houvesse armários na fazenda que Sam encontrara, pois o grande porta-malas do Cadillac tinha possibilitado que elas trouxessem várias coisas, inclusive objetos esquecidos por Sam e da sua trupe.

O rádio-comunicador chiou outra vez, sobressaltando as garotas. Rachel, que dividira a barra de chocolate entre as quatro, olhou para Quinn, como se a garota soubesse quem era daquela vez. A ex-loira, por outro lado, deu um peteleco na cabeça de Santana — que recomeçara a cantar Guns muito alto — para que ela atendesse.

— Não precisava fazer isso, cara! — exclamou a outra indignada. Brittany parou o carro no acostamento da estrada vazia para que não tivesse tanta interferência. — Santana falando, câmbio.

É o Puck aqui — a voz se fez ouvir no interior do carro, cheia de preocupação e pesar. Brittany esperava uma notícia boa, talvez que eles já estivessem no carro em direção a Nashville, mas o tom de Noah não demonstrava aquilo. — A cidade foi sitiada.

Brittany mordeu o lábio. Não sabia o que era sitiada, mas pelas expressões das outras três, deveria ser algo muito grave. Ela olhou para Santana, pedindo uma explicação do que estava acontecendo, porém foi Rachel que falou num tom estranhamente calmo.

— Eles estão presos lá.

— Arranje um jeito de sair, Puck! — exclamou Santana. Brittany notou o tom desesperado da namorada e pôs a mão no ombro dela, tentando acalmá-la. — Você não pode morrer! Nem Shelby, nem Beth...! Ela é só um bebê, pelo amor de Deus!

Eu sei... — Puck parecia mais perdido que nunca. Santana tentou extravasar a raiva socando o porta-luvas enquanto Quinn tinha um semblante dolorido no rosto e era consolada por Rachel. — Por isso, então, eu burlei todo o sistema de segurança e saí agora a pouco.

A atmosfera do Cadillac mudou drasticamente. Quinn levantou os olhos e olhou incrédula para o rádio-comunicador; Brittany notou que Rachel apertava com tanta força a mão de Quinn que os nós de seus dedos estavam brancos. Santana forçou-se a inspirar e expirar três vezes antes de conseguir ouvir a risada longa e rouca de Puck pelo rádio.

— Filho-da... — Mas Santana não completou o xingamento, pois Brittany a encarava com severidade. — Onde vocês estão?

Perto de Fletcher — respondeu Puck, ainda rindo. Brittany distinguiu o choro de Beth e as broncas de Shelby por trás da voz do garoto. — Tá bom, tá bom! Shelby mandou um oi. Estamos indo para Nashville, certo?

— Exatamente, Puckerman — confirmou Santana, com uma raiva exagerada em seu tom.

Beleza. Vejo vocês daqui a pouco então.

E desligou.

***

14 de Março de 2012

Unity Road, West Union, OH

1:20 PM

— Desgraçado! — exclamou Quinn assim que Santana guardou o rádio-comunicador. — Me passou um susto do caralho, filho-da-mãe!

Rachel arregalou os olhos. Não se lembrava da grande boca suja que Quinn tinha. Ela sempre parecia bondosa e legal, não era o tipo de garota que saía por aí falando palavrões.

É claro que muita coisa mudara. Quinn não tinha a pose de boa garota mais. A jaqueta de couro e os cabelos róseos ainda causavam sérios tremeliques em Rachel. Ela não sabia exatamente o que era, mas ter aquela Quinn perto dela era muito mais interessante do que a antiga Quinn. Pelo menos seu estilo punk dizia o que poderia vir dela.

— Quinn, menos palavrões — ralhou Brittany, olhando a garota pelo retrovisor do Cadillac.

Rachel controlou a risada ao perceber que Quinn atendera a bronca da motorista, assim como Santana, que permanecia quieta em seu canto, resmungando palavras em espanhol que Rachel tinha certeza que Brittany não entenderia.

O mundo poderia estar indo de mal a pior, mas Rachel se sentia bem perto daquelas garotas. Ver Kurt e Blaine transformados em walkers tinha sido uma experiência assustadora e traumática, porém a presença de Quinn, o jeito maluco de Santana demonstrar carinho (como falar mal de você na sua frente) e a atitude carinhosa de Brittany, ajudou a dar um sorriso naquele dia aterrorizante.

— Foi mal, Brittany — desculpou-se Quinn, baixando a cabeça. Ela virou-se para Rachel e lhe deu uma piscadela divertida. — Tudo bem aí?

— Você tem que começar a perguntar isso para as outras duas — disse Rachel sorrindo, sentindo uma pontada de dor nas costas que acabou ignorando.

— Ah, elas estão ótimas — murmurou Quinn descrente, acenando displicente para Santana e Brittany. Ela se aproximou alguns centímetros de Rachel, e, estando num Cadillac, aquilo era muita coisa. — Você só viu o caminho do hospital até a estrada. O interior da cidade tinha coisas piores. Dói dizer isso, mas depois de um tempo você acaba se acostumando.

Quinn deu um sorriso triste. Rachel fez uma careta por causa da dor, que tentou transformar num sorriso. Não queria que Quinn se preocupasse ainda mais com ela. Por baixo daquela cabeleira rosa, um mundo inteiro se escondia, Rachel sabia disso.

— Quando tempo fiquei em coma? — perguntou de supetão.

Quinn se enrijeceu. Levou alguns minutos para que ela movesse a boca, e quando o fez, murmurou:

— Quatro ou cinco meses. Não sei dizer.

Ela tentava passar indiferença à Rachel, mas tudo que a garota conseguiu captar foi aflição na voz de Quinn. Parecia mais dolorido para ela falar sobre o tempo em que Rachel ficara em coma do que matar walkers que eram seus amigos antes.

Os olhos de Quinn se fixaram na paisagem que passava pela janela do carro. Rachel mordeu o lábio, a dor nas costas ficando mais forte a cada segundo. Ela não sabia se queria chorar pela dor ou pelos olhos apáticos de Quinn. Descobriu que a dor que sentia naquele momento não era nada comparada à dor com que Quinn teve de lidar todos aqueles meses.

Rachel podia não se lembrar de nada que havia acontecido antes do acidente, mas aquela conexão que tinha com Quinn nas últimas horas não era algo de momento. Sua necessidade patológica de estar perto dela quando se encontrava desesperadamente perdida diante do mundo apocalíptico onde estavam não vinha só por que ela a havia salvado do hospital de Lima.

Rachel sabia que tinha alguma coisa acontecendo entre elas antes do acidente, algo que fez Quinn ir salvá-la, que a fazia perguntar para Rachel toda hora como ela se sentia, o que fazia ela a encarar tão ternamente. Ela só queria saber o que era. Quinn não parecia tendenciosa a contar algo, e Rachel não desejava colocá-la novamente no mar de angústia por qual passava toda vez que tentava retornar ao passado.

— É muito tempo — comentou Rachel estupidamente, quebrando o silêncio. A dor em suas costas estava agora se tornando insuportável. Tentava ignorar, mas Quinn também parecia ter notado que algo estava acontecendo e franziu a testa para ela, esquecendo de sua amargura.

— O que foi? Rachel, o que tá acontecendo? — questionou Quinn alarmada, o olhar de preocupação voltando a seu rosto.

Rachel exprimiu uma careta de dor, se contraindo no banco do carro. Quinn olhava para ela perdidamente, como se fosse encontrar uma forma de salvá-la apenas balançando as mãos num ritmo louco.

Quando Rachel gritou, Brittany e Santana finalmente se viraram para ver o que acontecia no banco de trás. Rachel queria dizer que estava tudo bem, mas obviamente as coisas passavam longe disso. Ela não sabia o que tinha lhe acontecido para ter entrado em coma por cinco meses, mas a execrada dor nas costas dava uma dica.

Seus ossos doíam, os órgãos internos se remexiam violentamente. Que estúpida Quinn fora ao tirá-la daquele hospital. Tinha saído do coma, mas não estava inteiramente bem. Os tratamentos, as vacinas, todas as coisas que precisaria para seu corpo sentir-se novo outra vez estavam esquecidos há muitos quilômetros de distância.

Antes que pudesse pensar que morreria no Cadillac velho do avô de Quinn, Rachel sentiu os músculos relaxarem por completo e os olhos se fecharem por conta própria.


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Notas finais do capítulo

Bem, espero que não me matem, mas algum efeito colateral tinha que ter com a Rachel, certo? Gostaram da forma que ela sofreu o acidente? Ou foi idiota demais? Eu sei que as coisas continuam confusas, mas é para dar mais mistério para os próximos capítulos!
Beijos para que está lendo e espero os reviews com suas opiniões!