Running Away From Hell escrita por GabanaF


Capítulo 21
Cap. XXI — Gettin' Ready


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, como vocês estão? Espero que bem. Então, eu postaria esse capítulo quinta ou sexta por causa do feriadão, mas minha faculdade é uma das inúmeras que está querendo entrar em greve e todos os dias da semana passada foram uma loucura - e provavelmente os dessa semana também, com o tanto de trabalhos que foram cancelados/retomados pelos professores.
Minha vida escolar está uma confusão completa, por isso eu passei as últimas madrugadas estudando e escrevendo, não necessariamente nessa ordem KKK
Mas o capítulo está aqui para vocês, eu espero que gostem :)



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16 de Abril de 2012

Quarto de Santana, Condomínio, TN

05:05 PM

— Não.

— Mas Berry...

— Eu não gostei.

— Berry, o seu gosto para roupas é o mesmo que você tinha para homens, então fique quieta.

Rachel fez uma careta ofendida. Santana deu de ombros, sabendo que tinha falado a verdade. Fazia quase uma hora que Santana tentava experimentar alguns vestidos que as três haviam pegado na quase uma semana que saíram procurando mantimentos pelo condomínio.

Santana desejava que Brittany ou Quinn estivessem ali. Rachel andava tão animada em relação ao casamento que quase a fazia querer desistir dele. A Rachel que assumia a liderança de tudo que acontecia na casa lembrava irritantemente a Rachel Berry que controlava o Glee Club antigamente — e Santana odiava aquela Rachel Berry.

Ela se olhou no espelho e esqueceu a baixinha irritante ao seu lado. Rachel era uma grande mentirosa: o vestido estava lindo. Cabia perfeitamente em seu corpo; até a gaze atada a seu braço combinava com ele. Mas Santana gostava dele, principalmente, por que era de uma manga só e ela não precisava sofrer tanto para colocá-lo.

Imaginou se Brittany estava no quarto de Quinn experimentando alguns vestidos também. Suspirou, acenando na medida em que Rachel voltava a encher o quarto com sua voz irritante. Deitou a cabeça no ombro machucado, ignorando a dor fraca que se seguiu, podendo ver Brittany claramente ao seu lado ao invés da namorada chata de Quinn.

— Você não está me ouvindo, está? — A voz distante de Rachel preencheu seus ouvidos.

— Não — Santana respondeu sonhadora.

Rachel revirou os olhos e a empurrou para o banheiro.

— Vamos experimentar outro vestido — disse.

Santana bufou e desgrudou de Rachel delicadamente. Seu braço doía. Ela não queria experimentar outro, aquele estava bom. Como iria dizer à Rachel sem nenhum palavrão ou pelo menos xingá-la na frase?

— Não, eu não quero — ela murmurou manhosa. Aquilo sempre funcionava com Brittany. Inclusive se deixou cair na cama para causar mais impacto.

Rachel pôs as mãos na cintura e sorriu.

— Quinn faz isso também, não funciona comigo.

— Porque eu e Brittany não podemos provar os vestidos juntas? — Ela decidiu mudar a vertente da sua persuasão, mas não se levantou. — Assim você e Quinn também ficariam juntas.

Para sua completa surpresa, Rachel ficou vermelha e passou a encarar o chão vivamente. Santana abriu um sorriso malicioso, porém estava indignada: desde quando Quinn era mais sexualmente ativa que ela? Aquilo era um ultraje.

— Noivos não podem se vir com as roupas do casamento antes do dito evento — disse Rachel exultante, feliz por ter achado uma desculpa plausível para seu rosto corado.

Santana ergueu as sobrancelhas, o que fez a garota balançar no mesmo lugar, envergonhada. Após alguns segundos, Rachel finalmente levantou os olhos, admirando o vestido de Santana de cima a baixo.

— Acho que esse vestido pode ficar legal com o de Brittany — ela sussurrou. Santana sentou-se e fez uma pequena comemoração de um braço só. Rachel riu.

Naquele momento, Hanna irrompeu pelo quarto, fazendo Santana pular na cama assustada. Ela gritava para o nada alguns xingamentos bem fortes, e podia se ouvir aos fundos a voz rouca de Quinn gritando em resposta. Em meio aos gritos delas, Santana escutou sua namorada tentando apartar seja lá o que estava acontecendo.

— O que é isso? — exclamou Rachel, se aproximando de Hanna e fechando a porta atrás dela.

Santana franziu a testa ao ver Hanna rindo, para depois manter a expressão séria e responder Rachel.

— Quinn é uma idiota.

— Não posso concordar mais — disse Santana.

Contudo, Rachel continuava intrigada. Antes de abrir a boca para perguntar outra coisa, Hanna disse:

— Brittany mandou perguntar se Santana já tinha escolhido um vestido. — Ela foi sentar-se ao lado de Santana, descontraída.

Santana fuzilou Rachel com o olhar antes que ela pudesse dizer alguma coisa. Era o seu casamento, pelo amor de Deus. Se algum dia Rachel se casasse com Quinn, ela poderia escolher seu próprio vestido. Rachel deu de ombros e deixou que Santana confirmasse com a cabeça.

Hanna assentiu e sorriu à Santana. Aquilo era estranho. A calma que acontecia entre o grupo sempre era seguida por uma tragédia. Ela, sinceramente, estava esperando nada menos que uma bomba caísse no condomínio segundos depois de beijar Brittany e estar casada.

— Vocês duas tem uma data? — indagou Hanna tranquilamente. Santana reparou que continuava com o vestido escolhido e tentou tirá-lo, mas sem sucesso.

— Qualquer dia depois que meu braço parar de doer tanto — ela murmurou derrotada, deixando que Rachel a colocasse de pé e ajudasse a desabotoar o vestido. — Além disso, preciso convencer Rachel a não cantar Barbra Streisand, e isso pode levar um tempo.

Mais uma vez, Santana observou pelo reflexo do espelho Rachel fazer uma careta ofendida. Entre olhar para Rachel e ver o corpo cheio de manchas e queimaduras, o semblante da garota era sempre mais preferível.

Uma semana depois de várias camadas de pomada e inúmeros comprimidos para dor (que Hanna achara um hospital psiquiátrico em Nashville), algumas mudanças visíveis foram feitas. Sua pele não estava mais tão vermelha e o braço enfaixado não a fazia acordar mais durante a noite aos berros.

Santana mexeu a mão esquerda enquanto Rachel descia um dos vestidos antigos de Quinn em seu corpo — um dos raros exemplares, já que Quinn decidiu tacar fogo em tudo e viver apenas de roupas punks. Ela quase podia ver o mindinho e o anelar mexendo em conjunto aos outros. A mão enfaixada, porém, não a permitiu ir mais longe que isso.

— Você vai ficar bem — Rachel acariciou meio acanhada o ombro direito de Santana.

— É, eu sei — ela respondeu esnobe. Hanna riu.

— Rachel, Hanna. — Sam abriu a porta do quarto e parou por um tempo para encarar as duas, se demorando em Hanna. Santana franziu o cenho. — O jantar é por conta de vocês. Têm dez minutos para descer.

Hanna balançou a cabeça, séria demais para o tom divertido que usava minutos atrás. Sam se atrapalhou, corou furiosamente e saiu. Brittany contara a Santana que pegara os dois se beijando em Nashville, mas ela não entendia por que os dois mal se falavam nos últimos dias. Talvez garotas de vinte anos fossem tivessem alergia a relacionamentos, pensou Santana.

— Bem, é hora de ir — disse Rachel, beijando a testa de Santana, por mais que a garota tentasse se desviar. — Vejo você daqui a pouco.

Santana fez uma careta; Rachel Berry era muito irritante. Hanna levantou-se rigidamente e acompanhou Rachel porta afora. Santana se esparramou na cama, louca pela companhia de Brittany.

Sua noiva.

Ela ia se casar.

Santana nunca tinha se sentido tão feliz mesmo com tantas dores.


16 de Abril de 2012

Quarto de Quinn, Condomínio, TN

04:50 PM

— Isso é bem babaca.

— Você é bem babaca.

Brittany revirou os olhos antes de apartar a briga de brincadeira entre Hanna e Quinn. Santana estava no quarto do começo do corredor, obviamente naquele mesmo momento discutindo com Rachel se deveria usar ou não determinado vestido. Ela conhecia sua garota.

A ideia havia sido de Quinn. “Assim não tenho vontade de despir Rachel com os dentes”, ela dissera dando de ombros, sem ao menos se sentir envergonhada. Brittany imaginou o que acontecia dentro daquele quarto quente em que estava toda vez que Rachel e Quinn passavam a manhã inteira nele. O pensamento fez seu corpo tremer de pavor.

— Gente? — ela chamou ao estalar os dedos para que Hanna e Quinn a escutassem. — O que vocês acham desse?

Ela adorara todos, em especial aquele que usava agora. Como ela e Rachel tinham coletado um número satisfatório de vestidos, cada uma teria uma boa chance de achar um que servisse. Não era de se espantar, já que aquela velharia que morava no condomínio antes possuía rios de dinheiro.

Para Puck e Sam fora mais difícil; os dois não queriam sair por aí experimentando ternos alheios. Somente após Brittany convencê-los de que Rachel e sua performance extremamente exagerada tinham matado mais da metade dos walkers restantes, os garotos resolveram sair. Beth também ganhara um pequeno vestido escolhido por Rachel e que levara Sugar e Quinn às lágrimas.

— Eu gostei desse — respondeu Quinn. Hanna concordou com a cabeça.

— Você falou isso dos últimos três — reclamou Brittany.

— Mas eu gostei! — exclamaram Hanna e Quinn ao mesmo tempo, indignadas.

Brittany rolou os olhos, uma mania boba que pegara de Santana. Ela deu uma voltinha com o vestido bege e encarou suas costas nuas no espelho. Se ela estivesse certa, o vestido que Santana escolheria iria combinar com aquele. Brittany só precisava ter certeza de que Rachel não fosse interferir na escolha dela.

— Esse aqui tem um brilho especial — Quinn acrescentou alguns minutos depois. Sua cabeça pendia no ombro molemente e ela encarava fixamente o busto de Brittany.

Foi a vez de Hanna chamar a atenção com um estalar de dedos.

— Ela vai se casar, Quinn — disse num tom irônico. Brittany riu.

— Você perdeu sua chance, Fabray — Brittany também comentou enquanto Quinn finalmente pareceu notar o que acontecia e corou.

Hanna começou a zombar dela como uma criança de cinco anos, algo inesperado para Brittany. A mulher sempre era muito séria e fazia piadas terrivelmente sem graça (pior que as de Sam, e todo mundo sabe que as piadas do garoto são horrorosas). Talvez ela estivesse feliz por ter finalmente achado seu esconderijo onde poderia trabalhar para sempre na cura para os walkers. Ou talvez fosse Sam. Brittany achava difícil responder essa.

— Ei, gente! — ela gritou em meio a confusão que Hanna e Quinn tinham armado na cama. Brittany não ousou se aproximar com medo das garotas arruinarem seu vestido. — Hanna, vá ao quarto de Santana, ver qual vestido ela escolheu.

Manter Hanna e Quinn separadas era agora uma prioridade tanto quanto deixar Quinn e Rachel afastadas. Brittany olhou determinada à Hanna, que assentiu e logo saiu do quarto, ainda ofegando e xingando Quinn a plenos pulmões pelo corredor afora. Quinn também respondia aos gritos, e Brittany tentava calar as duas.

Pela terceira vez em menos de quinze minutos, Brittany revirou os olhos. Cuidar delas era pior do que cuidar de Santana doente — e isso vem se provando ser muito difícil na última semana.

— Você tá mesmo linda, Britt — Quinn falou depois que os gritos de Hanna cessaram no outro quarto. — Eu não acredito que vou casar vocês! Eu!

Quinn riu. O som era tão bonito que Brittany riu junto.

— Talvez um dia eu e San casemos você e a Rachel — ela disse, dando de ombros e tirando o vestido, não sentindo vergonha por estar seminua na frente de Quinn.

— É, isso seria legal — murmurou Quinn pensativa, abrindo um sorriso sonhador.

Brittany assentiu enquanto colocava o seu vestido de casamento em um cabide e o punha cuidadosamente no guarda-roupa de Quinn. Ela vestiu sua calça e sorriu para a garota de cabelos róseos deitada na cama de olhos fechados, provavelmente se vendo num altar com Rachel.

— Será que no tal de abrigo da Hanna têm um padre? — Quinn perguntou, de repente de olhos abertos, parecendo preocupada. — Ou quem sabe alguém judeu.

Ela deu de ombros, pondo a camisa de Santana que nunca mais iria devolver a ela. Quinn sentou-se resignadamente. Pela sua expressão, Brittany poderia dizer que ela estava planejando um mundo inteiro em sua cabeça. Continuou fitando-a, admirada com sua grande capacidade de concentração, até que ela balançou a cabeça e virou seus enormes e charmosos olhos verdes na direção de Brittany.

— Olha só o que eu arranjei para Santana de presente! — Quinn exclamou animada, levantando e indo até a segunda porta à direita do guarda-roupa.

Tirou de lá uma caixa de Coca-Cola pela metade. Ela arregalou os olhos, surpresa. Como Quinn arranjara aquilo? Bem, Rachel sumira por meia hora e voltara com um vestido para Beth, mas Quinn não sumira por nenhum momento de sua vista. Aquela menina era como um ninja, era impossível.

De qualquer forma, Brittany pensava — assim como Santana; ela sabia por que rendera várias conversas durante um bom tempo — que as Cocas tinham sido extintas, ou as que tinham sobrevivido já estavam fora do prazo de validade. As que estavam nas mãos felizes de Quinn já deveriam estar com os dias contados. Será que existiria uma fábrica de Coca-Cola no caminho até Germantown? Seria um presente e tanto não só para Santana, mas para todo mundo.

— Uau, Quinn, isso é o máximo! — Brittany disse no mesmo tom, se perguntando se Santana a deixaria tomar pelo menos um gole. Tinha certeza de que se uma latinha a pedisse em casamento, Santana jamais recusaria ou pensaria duas vezes como no caso de Brittany. — Você vai manter aqui até o dia do casamento? Pode levar um bom tempo.

— Não importa; elas valem até agosto — respondeu Quinn dando de ombros, voltando a guardar as latinhas no guarda-roupa. Depois, ela olhou seriamente para Brittany. — Se você contar a Santana isso...

— Ficou louca? Santana provavelmente cancelaria tudo e fugiria com as latinhas.

Ela e Quinn caíram na risada. Conversou com a garota mais um pouco, mas parou pois Rachel estava parada com um sorriso maroto no batente da porta, o que era um óbvio sinal de que Santana estava livre.

Brittany saiu do quarto delas com o peito cheio de uma sensação que ela não tinha em muito tempo.

Felicidade. Plena felicidade.


17 de Abril de 2012

Quarto de Sam, Condomínio, TN

12:07 PM

Puck tomou mais um gole de seu uísque chique que encontrara no bar da mansão e analisou o terno de Sam.

— Você vai acabar com o estoque de bebida, Puckerman — disse Sam sério, tirando o paletó e o colocando de volta ao cabide.

Puck deu de ombros. Beber não era a solução mais inteligente no meio de um apocalipse zumbi, mas ajudava a suportar a dor de cabeça, e Hanna aconselhara algumas doses por dia. Estava tudo certo. Sam e Quinn se preocupavam demais com ele.

Sam olhou para o paletó desarrumado que Puck usava e o ajeitou. O garoto acenou com a cabeça, pedindo para que Sam se afastasse. Ele gostava do seu terno desarrumado. Dava uma qualidade Puck a ele. Por que parecia meio impossível que Puck era o único que achava a ideia do casamento uma bobagem.

Não tinha muita coisa a ver, mas Puck não aprovava aquilo. Sim, seria um momento de felicidade raro entre eles, mas não agora. Hanna descobrira um local, eles tinham que ir para lá imediatamente. O atraso permanecia um peso em suas costas, talvez não tão grande quanto o de Santana, mas ainda era considerável. Uma vez que estivessem todos em Germantown, Santana e Brittany poderiam se casar quantas vezes elas quisessem.

Puck tinha pavor de Horn Springs agora. Ele bebia mais para que pudesse esquecer-se de onde estava. Em praticamente todas as noites, ele acordava aos gritos com os pesadelos que tinha, e agradecia por ter deixado Beth dormir ou com Quinn ou com Sugar. Pelo menos a garota não acordaria também gritando por causa do pai.

Os pesadelos geralmente envolviam Beth ou Quinn sendo levadas por manadas de walkers famintos. Ou um errante Shelby arrancando a cabeça de Beth, o encarando fundo nos olhos, como se tivesse alguma consciência do que estava fazendo. No pior de todos, ele via as pessoas que deixara em Lima, seus amigos do Glee, a irmã mais nova, sua mãe... Gente que Puck vira transformar em zumbi e que agora atormentavam seus sonhos.

— Eu só quero sair daqui, cara — Puck disse, sentando na cama de Sam, tomando mais um gole de uísque. — Tudo muito traumático.

— Sei como é — Sam retrucou amargurado, sentando ao lado dele, roubando-lhe a garrafa e tomando uma grande dose. — Mas nós vamos dar o fora, acredite. É só você e Santana...

— Melhorarem, eu sei — ele completou cansado.

Pelo menos sua pele estava melhor que a de Santana, ele pensou. A queimadura na cabeça não ardia tanto e o braço levemente enfaixado se movimentava sem causar uma dor terrível. Ele não perdera nenhum dedo, então se considerava em melhor estado que Santana.

— Hanna disse que pode ser de três a quatro semanas — falou o garoto, dando de ombros, entregando a garrafa de uísque a Puck. — Eu acho que vocês melhoram antes disso. Com essa ideia de casamento, no entanto, duvido que nós possamos sair daqui a menos tempo que isso.

Puck assentiu. Casamento. Talvez ele nunca tenha sentido inveja de alguém que iria se prender à outra pessoa para sempre. Ele desejava tanto que Shelby estivesse viva. Queria tanto poder ter a chance de vê-la em um vestido de noiva.

Ele suspirou. Sam pareceu perceber o que ele estava pensando e disse em voz baixa:

— Eu também gostaria de me casar com Mercedes um dia. Porém, isso não vai rolar tão cedo.

Puck tinha esquecido por completo de Mercedes. Sam meio que se apaixonara por Hanna nas últimas semanas, e aparentava estar feliz ao lado dela. Pelo pouco que ele captava nos corredores na última semana, os dois não tinham dado certo. O Puck de antes provavelmente tomaria aquela como uma chance de conquistá-la, mas o Puck de agora sentia certa pena do melhor amigo.

Ele deu tapinhas solidários no ombro de Sam.

— Você tem Beth — Sam disse minutos depois. — Eu não tenho a mais ninguém.

Puck tinha Beth. Ele piscou, surpreso. Ele tinha Beth. A sua filha, o amor da sua vida, a razão por ele ter lutado contra aquela manada de walkers uma semana antes. A razão por que ele fazia tudo, na verdade. Ele olhou para a garrafa de uísque, de repente não sentindo vontade em tomá-lo mais.

— Você tem a mim, garotão. — Puck sorriu a Sam, apertando-lhe os ombros. Sam mostrara a luz a ele, tinha o direito de retribuir o favor. — E à Beth. Na verdade, você tem a todo mundo dessa casa. Nós somos uma família.

— Péssima família — murmurou Sam.

— Mas ainda assim uma família. — O humor de Puck se renovou em poucos minutos. Ele levantou e se olhou no espelho do banheiro. O terno estava mesmo desarrumado. Ajeitou-o, abrindo um sorriso. Talvez um casamento não fosse uma péssima ideia.

Ele voltou ao quarto, encarando um Sam deprimido com o sorriso enorme no rosto. O garoto o encarou suspeito, provavelmente pensando que o uísque tinha feito àquela mudança de humor maluca. No entanto, não era.

— Eu vou entrar com Santana — anunciou Puck.

Sam arregalou os olhos, deixando a garrafa cair no chão. Ela não se espatifou, mas fez um barulho estranho.

— Não acho que terá isso — ele disse, franzindo o cenho.

— Não importa; eu ainda vou entrar com ela.

Era mais do que justo, pensou Puck, tirando o paletó e pondo no cabide do guarda-roupa. Fora Puck que ajudara Santana a admitir seus sentimentos para Brittany um ano antes. Ele era o garoto que Santana procurava quando queria transar durante o primeiro e segundo anos. O número de transa que eles tiveram era incontável. Ele é o melhor amigo de Santana e sempre seria.

— Tudo bem. — Sam deu de ombros, oferecendo a mão em punho para que Puck batesse um high-five nela. — Somos padrinhos, então.

Puck sorriu. Quem diria que sua menininha poderia mudar tanto sua opinião?


17 de Abril de 2012

Sala de Jantar, Condomínio, TN

08:14 PM

— Nós decidimos a data do casamento — Hanna anunciou no jantar de uma noite particularmente quente. Olhou para Santana, a primeira vez que ela comia na mesa com eles em quase duas semanas. Sugar estava orgulhosa dela, principalmente por que não precisaria subir todos santo dia para dar comida na boca da garota.

— E quando é? — indagou Rachel animada, praticamente dando pulinhos em sua cadeira. Quinn teve que pôr a mão em seu ombro para fazê-la parar.

— Em uma semana — disse Brittany feliz, colocando uma colher da gororoba que todos comiam hoje, que lembrava a Sugar vagamente a batatas, na boca.

Sugar e Harmony sorriram entre si. Rachel apertou as bochechas de Beth, ao lado dela na mesa. Os outros comemoraram classicamente, ou seja, sorrindo às noivas.

Ela nem acreditava. Brittany e Santana iriam se casar. E, de fato, não era algo muito acreditável. Oitenta por cento da população da Terra morta ou transformada em zumbi e eles ali, organizando um casamento. A sorte já esteve contra eles muitas vezes, mas talvez, naquela única vez, tudo pudesse sair perfeitamente — ou o mais perfeito possível.

— Creio que todos já escolheram seus vestidos e ternos — Hanna inclinou a cabeça para Puck e Sam (este último corou violentamente) —, então não precisamos nos preocupar com isso. Agora, todo mundo sabe suas funções?

— Damas de honra — Harmony disse imediatamente, apontando para ela e Sugar. Depois, franziu o cenho e indicou Beth com a cabeça. — Ah, e Beth também.

Seria mais que justo Beth também participar do casamento. Suas crises de choro durante a noite não existiam mais e a garota começava a criar frases. Um dia antes, ela tinha deixado Quinn e Rachel chocadas ao murmurar seus nomes seguidos de “mamãe, mamãe, te amo”. Quinn chorou por três horas inteiras.

— Pais — disse Puck logo em seguida. Sugar ficou alegre por não tê-lo visto mais com a costumeira garrafa de uísque do bar. — Eu digo, padrinhos. — Ele franziu a testa para Sam. — Quem as leva ao altar é o quê, mesmo?

Antes de Sam responder, no entanto, Santana soltou um grito de animação. Ela começou a se sacudir no mesmo lugar, apontando para o garoto e depois para si. Puck confirmou com a cabeça, sorrindo, e ela chorou mais. Brittany tentou acalmá-la, pois seus sacolejos a deixariam com mais dores no braço, porém, não adiantou. Santana agora chorava torrencialmente.

Havia alguma coisa nos analgésicos que Hanna conseguira na ida a Nashville que deixava Santana dez vezes emocionalmente pior do que ela já era. Sugar era a viva prova disso: na maioria das vezes em que ela ia dar almoço para Santana, a garota agradecia e tentava lhe abraçar da maneira mais desconfortável possível. Era bom ver esse lado doce dela, mas daquela forma era terrivelmente exagerado.

— Então, vocês irão levá-las ao altar — Rachel tomou a dianteira na discussão, uma vez que Brittany e Hanna continuavam consolando Santana. — Ótimo. Minha Quinn — Sugar observou o rosto de Quinn ir de um tom natural para um vermelho-tomate; ela começou a devorar as batatas enlatadas rapidamente, como se não quisesse escutar o que sua namorada iria dizer em seguida — irá seguir com a cerimônia.

Harmony arqueou a sobrancelha, finalmente pondo o prato ainda pela metade de lado. Quinn sofria um acesso de tosse pela quantidade enorme de batatas que tinha engolido em tão pouco tempo, mas Rachel estava ocupada demais com Beth para notar.

— É só isso? — indagou Harmony, quando Sugar por fim deixaria para outra hora aquelas batatas terríveis.

— Acho que sim — Hanna disse. Santana parecia mais controlada. Brittany terminava de comer seu enlatado. Sam e Puck discutiam sobre algum videogame antigo com Quinn, ainda um pouco vermelha.

— Essa foi fácil — disse Sugar, deixando que Harmony colocasse a cabeça em seu ombro e acariciando sua mão por cima da mesa.

Brittany confirmou com a cabeça, ajudando Santana e se levantar, guiando-a para fora da sala de jantar. Santana ainda deixava cair umas lágrimas em seu tronco enfaixado. Ela foi empurrada pela namorada de leve, murmurando pequenas frases sem sentido. Naquele ponto, Sugar teve certeza de que Beth falaria mais palavras com clareza que Santana.

Apenas Hanna comia as batatas distraidamente quando Brittany voltou à sala segundos mais tarde, somente para gritar em êxtase:

— Uma semana, gente! — E deu um rodopio rápido, Sugar sequer soube como. — Uma semana!

Todos a encararam voltar a subir as escadas ao saltos, perplexos.

— Sabem o que isso significa? — Puck se inclinou sobre a mesa e sussurrou em tom de conspiração. — Que a gente vai sair desse inferno em uma semana e meia.

Sam o encarou, claramente desapontado. Mas Sugar concordava com Puck. Eles partiriam para um lugar melhor — possivelmente — em poucos dias. Um futuro todo, uma nova aventura os aguardava. Ela não sabia se estava mais animada pelo casamento ou pela fuga da mansão.

No entanto, a clara revelação de Puck foi ocultada quando Hanna olhou para Rachel e, séria, afirmou:

— Você não tem nenhum papel no casamento. Eu também não.

— Somos madrinhas — Rachel respondeu dando de ombros, já se levantando e colocando Beth no colo. Quinn a acompanhava. — É meio óbvio já que, bem, eu sou quem eu sou e Santana te idolatra.

Harmony e Puck caíram na risada. Sugar controlou-se e somente deu um sorriso travesso. Sam permaneceu com o semblante controlado, porém confuso, como se tivesse esquecido o que era uma piada ruim — uma ofensa para Sugar, já que Sam era o melhor em piadas ruins entre eles.

— Sem nenhumas perguntas a mais? — Rachel perguntou. Sugar entendia que deveria manter a expressão séria durante os momentos de líder de Rachel, mas simplesmente não conseguia. Era muito hilário vê-la de tal forma.

Hanna balançou a cabeça de forma negativa, falando pelos outros que se arrumavam para sair. Era a vez dela e de Puck e lavar a louça no crepúsculo, e eles juntavam os pratos calmamente, conversando entre si. Sugar pegou a mão de Harmony e saiu para seu quarto, sentindo os passos de Quinn e Rachel atrás dela e as palavras inteligíveis de Beth.

— Eu sei que quando chegarmos a Germantown, Rachel e Quinn vão se casar — falou Sugar ao chegarem ao quarto e fecharem a porta.

Harmony estava do seu lado, trocando o vestido surrado por uma camiseta folgada que um dia pertencera à pessoa que morava naquela mansão. Sugar seguiu para o seu e procurou alguma coisa que servisse nela no guarda-roupa. O vestido que usaria no casamento era guardado ali, junto com o de Harmony. Eles combinavam, de alguma forma.

— Eu sei... — Harmony concordou, puxando o edredom para que pulasse para a cama. Apoiou-se no cotovelo e ficou admirando Sugar de uma maneira que só ela sabia fazer. — Estranho, né?

— Não tão estranho — disse Sugar, optando por usar uma camisa de um time de futebol que desconhecia. Imaginou se o time tinha virado zumbi àquela hora. — Antes disso tudo, Quinn olhava para Rachel tão... Eu não sei, realmente apaixonada. E olha que entrei ano passado. Sam diz que sempre foi assim.

Harmony riu. O quarto escurecera por completo, por isso ela usou o som da risada da garota para poder se guiar até a cama. Sugar xingou ao chutar o canto da cama, o que fez Harmony rir alto, mas preocupada.

— Estou bem — Sugar disse, se deixando cair na cama, tateando-a em busca da mão de Harmony. — Eu estou bem.

Tinha se tornado um hábito: ela não conseguia dormir sem o beijo na testa de Harmony ou sem estar agarrada à sua mão firmemente. Se ela tivesse isso, poderia dormir o ano inteiro sem se preocupar.

— Boa noite, minha irritante — murmurou Harmony, beijando a testa de Sugar.

— Boa noite, idiota — respondeu Sugar, apertando firme a mão de Harmony contra a sua.

Nenhuma horda de zumbis poderia separá-las naquele momento.


17 de Abril de 2012

Quarto de Quinn, Condomínio, TN

10:15 PM

Quinn bocejou enquanto carregava o berço móvel de Beth do quarto de Puck para o seu quarto. Rachel a seguia tagarelando sobre o casamento, levando Beth no colo. Ela tentava ao máximo ouvir o que sua namorada estava dizendo, mas era difícil com o peso que carregava e o sono que tinha.

— Rachel — chamou Quinn sonolenta logo depois de pôr o berço da filha no quarto a muito custo. Rachel parou de falar e a encarou. — Por que está tão animada com esse casamento? Não é nem o no-

Ela corou furiosamente e ficou quieta. Estava prestes a dizer “não é nem o nosso casamento”. Aquilo iria deixar Rachel sem comentar algo por um bom tempo, em choque, o que seria de algo bom. Contudo, ela apenas tossiu e arrumou o berço para que Beth ficasse ao seu lado.

— Por que é legal, Quinn. — Se Rachel tinha notado alguma coisa, resolvera por ignorar, embora Quinn a tivesse visto corar pelo canto do olho. Ela ainda segurava Beth, dormindo, em seus braços. — Você não quer que as coisas fiquem pelo menos um por cento do normal que era antes?

Quinn pegou Beth dos braços de Rachel e a deitou no berço, sem responder a pergunta. Todo mundo queria a vida normal de volta, mas, para Quinn, o que viviam todos os dias nos últimos meses — aquilo era o seu normal. Ter Rachel dormindo todas as noites ao seu lado, falando com a galera todos os dias, cuidar da filha... Eram atividades naturais para ela agora.

— Você ainda está muito presa no passado — disse ela.

Quinn passou a mão pelos cabelos loiros de Beth antes de voltar à atenção para o guarda-roupa e trocar a roupa que usava por um short e camiseta folgados. Rachel ainda estava no mesmo lugar, o semblante intrigado.

— Não é nenhuma surpresa, não é? — Finalmente Rachel abriu a boca para responder Quinn. Ela passou pela namorada como um raio e foi se trocar no banheiro. Quinn arqueou a sobrancelha, perguntando-se se tinha dito algo errado.

Rachel voltou, segundos mais tarde, e encontrou Quinn inclinada no berço de Beth, observando-a dormir tranquilamente. Ela levantou os olhos para Rachel, preocupada, mas tudo o que ganhou foi um belo gelo. Suspirou, revirando os olhos, sentindo a cama pesar mais alguns quilos quando Rachel deitou.

Pelo jeito, ela tinha mesmo tido algo errado.

— Rachel... — ela sussurrou o nome da namorada de mansinho, deixando Beth dormir em paz para que pudesse ter a completa atenção na arte que era irritar Rachel Berry. — O que foi?

Rachel, virada para a parede, grunhiu algo que Quinn entendeu como um “por favor, pare”, pois ela desenhava arabescos pelos ombros descobertos de Rachel, rindo silenciosamente. Ela desceu as mãos para a cintura de Rachel, puxando-a para mais perto, escutando claramente os ruídos que a namorada fazia.

— Quinn! — exclamou Rachel irritada num sussurro, chutando o calcanhar da garota. Quinn conteve um uivo de dor, mas isso apenas a fez apertar mais Rachel contra si. — Qual é, eu estou com raiva de você!

— Por que você passou o primeiro mês deste inferno trancada no Hospital Geral de Lima sem saber o que acontecia? — sussurrou Quinn no ouvido de Rachel, que parou de se contorcer embaixo dos lençóis. — Rach, se você ainda espera que o mundo volte ao normal, então você é a minha heroína! Pois eu não quero que volte, e não acredito que um dia irá voltar!

O silêncio que seguiu foi quebrado somente pela respiração delas. Beth roncava serenamente em seu berço. Rachel consentiu que Quinn passasse o braço por sua cintura, como fazia toda noite. Aos poucos, as mãos das duas também se entrelaçavam e elas se juntavam na posição mais confortável para Quinn em todo o planeta.

— Por que não? — murmurou Rachel, a voz derretida.

— Por que não o quê?

— Por que você não quer que as coisas volte ao normal?

Ela riu, pois essa era a resposta mais fácil de todas as questões que tinha desde que fora jogada naquele mundo apocalíptico.

— Por que eu nunca teria você.

Quinn sentiu o corpo de Rachel esquentar pelo menos vinte graus, e teve certeza de que se não estivesse tão escuro veria a namorada corar fortemente.

— E eu provavelmente nunca teria Beth de volta — ela continuou, na tentativa de não fazer Rachel uma parte tão grande na sua vida (mas na verdade era). — Eu nunca teria usado uma arma na vida, não teria a sua adaga. Em que mundo conheceria alguém tão legal quando Hanna?

Rachel, mesmo com toda a vergonha que assumira seu corpo, deu uma cotovelada nas costelas de Quinn. A garota soltou um gemido alto, dolorida, temendo acordar Beth, algo que claramente Rachel não estava se importando.

— Como eu dizia... — Quinn falou, a voz esganiçada; a sua amada namorada refreou uma risada — não acho que seria muito mais feliz do que já sou se o mundo estivesse o mesmo.

Quinn sabia que não. Ela parava para pensar de vez em quando e saía com a conclusão de que nascera para isso. Namorar Rachel, matar walkers, viver na estrada; a maioria das coisas que grande parte da raça humana não conseguira fazer nos últimos meses.

— Acho que eu também não seria tão feliz — disse Rachel depois de um tempo. Ela beijou a bochecha de Quinn num ato involuntário. — Eu ainda sinto falta de Finn, é claro, e de todos os outros, porém, talvez esse lugar, aqui e agora, seja aonde eu realmente pertença.

Rachel virou o corpo para Quinn e colocou as mãos em seu rosto, beijando seus lábios lentamente. Quinn apertou a cintura dela contra a sua e deixou que o beijo se aprofundasse, seguindo os caminhos que a língua de Rachel percorria em sua boca. Não importava o tanto de vezes que ela beijava Rachel, nunca parecia ser o suficiente.

As mãos de Rachel perpassaram por seu pescoço, arranhando-o e causando calafrios em Quinn, que deixara as suas nas costas de Rachel, puxando-a o quanto podia contra seu corpo. Quinn chupou a língua da namorada com desejo, fazendo Rachel soltar um gemido inconsciente.

O berço de Beth se remexeu. Ela levantou a cabeça, esquecendo-se de Rachel por um segundo quando alguns grunhidos preencheram o ambiente. Não durou muito, no entanto: no minuto seguinte, os ruídos de Beth eram novamente roncos fracos.

Quinn olhou para Rachel — ou para o que era o corpo de Rachel, já que a escuridão tomava o quarto completamente — e sorriu. Rachel, por outro lado, riu o mais silenciosamente que podia.

— Boa noite, meu amor — disse Quinn, distribuindo beijinhos no rosto todo da namorada, terminando com um mais demorado em seus lábios.

— Boa noite, Fabray — respondeu Rachel em sua fraca tentativa de parecer séria enquanto Quinn lhe beijava inteiramente.

Rachel se aconchegou no peito de Quinn, a respiração fraca. Ela se perguntou como uma garota poderia dormir tão rapidamente. Quinn ficou algum tempo passando a mão nos cabelos da namorada, sentindo hálito dela esquentar sua camiseta.

Antes de dormir, porém, jurou ter escutado um “eu te amo”, bem baixinho.



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Notas finais do capítulo

E aí, o que vocês acharam? Tenho que admitir que escrever o Pezberry no começo do capítulo foi hilário - e também essa nova Hanna, assim como a última parte Faberry. Sinceramente, foi um ótimo capítulo para mim (e espero que para vocês também KKK)
Em relação às minhas ideias para a minha próxima fic, agradeço a todo mundo que deu sua opinião e que eu já estou escrevendo o primeiro capítulo dela. Vou fazer algum suspense, mas se alguém aqui tem Tumblr e vai acompanhar a próxima Faberry Week, posso dizer que o tema da minha fic está lá :)
Obrigada a todo mundo que leu, deixem seus reviews com xingamentos e/ou sugestões e vejo vocês no próximo capítulo!