Angela estava mais contente que nunca. Me pediu para colocar sua melhor roupa, um vestido rosa que ela adorava e que fora presente de Mikey alguns meses antes dele sair de turnê com Alicia.

Tudo parecia pronto. Parecia.

O principal estava faltando. A comida.

- papai!!! Esquecemos da comida! – Angela gritou e eu quase caí da cadeira.

- meu Deus, e agora?? – me desesperei. Devia faltar pouco para que Lauren chegasse, afinal já eram quase 8 da noite.

- o que vamos fazer, papai?

- tive uma idéia!

Peguei o telefone e disquei o primeiro número que me veio na mente. Ele tinha que me ajudar nessa.

Alguns minutos depois, a campainha tocou. Angela olhou pra mim assustada e eu fui abrir a porta, meio sem jeito.

- o que seria de você sem mim, hein meu camarada??

- ufa... ainda bem que é você. – respirei aliviado ao ver a cara de Frank. – Entra. Trouxe o que pedi?

- mas é claro. – ele levantou as sacolas sorrindo.

- tio Fraaaaaaank!!! – Angela quase o derrubou no chão, mas era engraçado ver que os dois tinham quase a mesma altura.

- olá, minha princesinha! Como você está? Papai está te tratando direitinho?

- sim, tio Frank. – ela riu pra mim. – Às vezes ele fica enrolado, mas eu o ajudo.

- ah, sua safadinha... – eu fingi ficar bravo enquanto assistia as gargalhadas dos dois.

Levei as sacolas que Frank havia trazido direto pra cozinha. Não havia nada de mais, mas o suficiente para me salvar de uma enrascada.

Coloquei tudo no microondas e esquentei algumas panquecas que eu havia pedido ao Frank que comprasse pelo caminho até minha casa.

Na pior das hipóteses, pelo menos não morreríamos de fome.

Eu já estava ficando mais nervoso ao olhar para o relógio e ver que a hora só passava. Nenhum sinal de Lauren. As esperanças começavam a diminuir a cada volta do ponteiro...

- Gerard, pára com isso. – ouvi Frank reclamar.

- com o quê? – perguntei distraído.

- ficar olhando pro relógio de 2 em 2 minutos não vai fazê-la chegar mais rápido. – Frank ria no sofá.

Angela veio em minha direção, segurou meu rosto com as duas mãos e disse:

- ela vai vir, papai. Logo, logo ela vai chegar. Vou no quarto arrumar minhas bonecas.

- ok. – dei um beijo em sua bochecha e foi o OK a única coisa que consegui dizer.

Como se minha doce anjinha pudesse adivinhar o futuro, a campainha tocou.

Meu coração quase veio à boca e eu tentei fazê-lo descer de volta engolindo saliva. Frank continuava rindo do meu desespero, da minha idiota sensação de juventude.

Andei até a porta, dessa vez com certeza de que não seria nenhum amigo com sacolas nas mãos. Dessa vez era ela. Tinha que ser ela.

Girei a maçaneta e abri a porta. Ela estava linda. Seus cabelos soltos, caídos pelos ombros, um vestido azul claro e sandálias brancas. Na boca, um rosado brilhante que me dava vontade de...

- hey, você não vai me apresentar sua amiga, Gerard?

Juro que tive vontade de espancá-lo até a morte depois disso. Frank podia ser meu melhor amigo, mas tinham vezes que eu tive vontade de matá-lo sem dó nem piedade.

Lauren sorria, talvez sem graça com tanta agitação.

Frank passou na minha frente a esticou a mão para Lauren, com uma cara que eu conhecia bem.

- olá, muito prazer. Me chamo Frank e sou quase da família.

Lauren apertou sua mão, ainda sorrindo e desviando o olhar para mim.

- muito prazer, Frank. Me chamo Lauren e sou professora da Angela.

- eu sei. – ele abriu aquela boca cheia de dentes me denunciando. Ai que vontade de espancá-lo...

- Lauren, o Frank já estava de saída, não é mesmo ‘meu grande amigo’? – disse as últimas palavras em tom de ironia pra ver se percebia.

- é... é... eu já estava mesmo indo. – ele olhou pra mim tentando não rir do meu nervosismo. – Foi um enorme prazer conhecê-la. – ele apertou novamente sua mão, mas não a soltou. – Cuide bem do meu amigo aqui. Ele tá precisando de alguma ajuda, sabe? – Frank riu e saiu fechando a porta por trás de si.

Senti o sangue subir rapidamente, mas tentei não transparecer. Eu não podia me dedurar.