Em casa, tomei um banho bem quente e senti meus músculos relaxarem com o calor da água que caía sobre minhas costas. Eu não conseguia pensar, ou melhor, acreditar no que estava acontecendo. Eu não podia.

Vesti uma jaqueta por cima da blusa de manga e me olhei no espelho.

- até que estou bem ‘apresentável’. – sorri com tamanha bobeira. Eu parecia um adolescente bobo antes do primeiro encontro.

O relógio andava depressa, mas nada do que um bom e rápido táxi não ajudasse.

Cheguei na porta da escola às 17:00h em ponto. O céu já estava escuro, típico da cidade de Newark.

Esperei ali parado até ouvir o sinal da escola tocar, me avisando de que a multidão de crianças estava vindo.

Não demorou muito e vi minha doce anjinha correndo em minha direção. Com um sorriso no rosto ela correu até mim e me abraçou forte.

- papai... – ela disse. O som abafado por causa da minha jaqueta.

- como foi seu dia, minha linda? – ajoelhei de frente a ela, sem perder a atenção nas pessoas que estão saindo da escola.

- foi ótimo! – ela disse contente. – eu fiz novos amiguinhos hoje! Izabella, Kristal, David...

A voz dela foi sumindo e meus olhos se perdendo na beleza daquela mulher. Aos poucos senti meu corpo flutuar e só voltei à realidade quando percebi que ela caminhava até nós. Com aquele sorriso que sempre me deixa idiota.

- papai? Você ta me ouvindo? – Angel puxou minha jaqueta e eu pisquei várias vezes tentando recobrar a consciência. Isso foi muito difícil, confesso, já que o cheiro do perfume dela alcançou meu nariz tão rápido que eu quase entrei em transe novamente.

- parece que nos encontramos de novo, senhor Way. – ela sorriu ao pronunciar meu sobrenome. Eu retribuí o sorriso todo bobo.

- fico feliz que não tenha demorado tanto para isso acontecer – eu disse isso??

Ela sorriu sem graça e Angel segurou sua mão. Minha filha olhou pra mim e eu imaginei o que ela pensava antes mesmo dela dizer. Senti calafrios antecipados pelo corpo só de imaginar o que viria a seguir.

- papai, por que não convidamos a Mell pra ir lá em casa? Ela vai adorar minha coleção de ursinhos.

Aqueles olhinhos pequenos e brilhantes, espertos demais para uma menina de 4 anos. Eu mereço a filha que tenho, eu mereço...

- não quero incomodar vocês... – Lauren se desculpou, sem graça, mas ao mesmo tempo sorrindo timidamente.

- não é incômodo nenhum. Você sempre será bem vinda em nossa casa. – eu tentei sorrir, mas até minha maçã do rosto tremia de nervoso.

- vamos agora? Vem, Mell. Com a gente. – Angela recuperou a mente infantil e começou a fazer birra. Essa menina sabe muito bem quando deve ser insistente.

- Angel, tenho certeza que a Lauren precisa passar em casa primeiro pra resolver algumas coisas. – ela me olhou sem entender. Eu precisava de uma desculpa para arrumar a casa, não é? Me virei pra Lauren e perguntei sem nem gaguejar. - Que tal um jantar? Hoje à noite, em nossa casa. – fiquei chocado como pude ter tanta coragem.

A tensão pela demora da resposta me deixava mais nervoso a cada segundo. Como eu poderia me sentir tão bobo, tão juvenil??

Enfim, suas palavras me fizeram respirar novamente.

- mas é claro que aceito. Hoje à noite. – ela olhou fixamente nos meus olhos e depois ajoelhou de frente pra Angela, do mesmo modo que eu havia feito antes dela aparecer. – e você poderá me mostrar seus ursinhos, anjinha.

As duas se abraçam e depois Lauren ficou de frente pra mim, dessa vez da minha altura, olhos nos olhos. Mãos inquietas.

- mas antes...

- o quê?

- você precisa me dizer onde você mora.

Depois de explicar todas as formas de como chegar à minha casa (eu não poderia correr o risco dela se perder), peguei um táxi com Angela até em casa.

Pelo caminho, um sorriso estava visivelmente estampado em meu rosto. Eu estava contente, principalmente comigo mesmo.

Resolvi seguir o conselho de Frank e deixar meu coração livre. Livre pra amar de novo.