Abri a porta e tive sorte da loja estar vazia. Menos testemunhas para mais um capítulo da minha dramática vida.
- e aí, cara? – Frank me cumprimentou.
- Frank, você pode sair agora? Preciso conversar com alguém.
- se posso sair? Eu sou o dono da loja, cara! Ninguém manda em mim não! – eu ri do jeito sempre espontâneo dele. – Justin, cuida de tudo por mim. – ele disse para um cara que estava no balcão.
- muito obrigado. – sorri de gratidão.
Saímos da loja e paramos em uma lanchonete próxima. Acendi mais um cigarro e inspirei fundo.
- isso ainda vai te matar. – Frank disse.
- olha só quem fala. – zombei.
- mas eu resolvi parar e tô conseguindo, okay? Agora larga esse troço e me conta o porquê da ‘reunião de emergência’. – ele fez aspas com os dedos.
Muito contrariado, apaguei o cigarro e respirei fundo mais uma vez, olhando pela janela e me distraindo com os carros que passavam na rua.
Frank me olhava esperando eu começar a conversa. Me virei pra ele e falei.
- acho que estou me apaixonando.
- o quê??? – ele quase pulou da cadeira com a surpresa. – você? Saindo do casulo e se deixando amar de novo?? O que aconteceu com o Gerard verdadeiro?? Devolve meu amigo!!
- não precisa fazer piada. O assunto é sério, Frank. Muito sério.
- o que tem de mais se apaixonar de novo, Gerard? Você é jovem, bonito...
- e não sou gay, okay? – brinquei me fingindo de bravo.
- você não faz meu tipo. – ele zoou. – Mas é sério, eu sempre te disse que passado é passado. Você não pode viver sozinho pra sempre.
- eu tenho a Angela.
– como se isso fosse uma desculpa. – ele me repreendeu. E estava completamente certo. – Você precisa de alguém pra amar. Uma mulher e não uma filha.
- mas é... complicado.
- quem é ela? Eu conheço?
- não, não conhece. É a professora de inglês da Angela.
- ual! Logo uma professorinha! – ele riu.
- me poupe dos seus pensamentos pervertidos, Frank. Ela não é qualquer uma.
- hum... e ela sabe disso?
- não! Não... nós só nos vimos 2 vezes.
- e você já tá apaixonado?? Nossa! Eu preciso conhecê-la para dar-lhe os parabéns. – ele ficou rindo.
- ela é linda, Frank. E em 2 dias conseguiu me deixar sem palavras e disperso do mundo todo. – eu pude imaginar o brilho dos meus olhos.
- isso é ótimo, cara.
- esse é o grande problema.
- por quê?
- eu não posso amar de novo.
- e por que não?? Não vem dizer que é por causa...
- eu fiz uma promessa, Frank. Prometi a mim mesmo que não abriria mais o meu coração pra ninguém. Não depois do que aconteceu.
- mas Gerard... você não pode se torturar assim! A Lyn não vai voltar mais, não importa quantas promessas faça. Ela não ia querer que você ficasse eternamente sozinho.
- não sei...
- pense nisso, ok? Tenho que voltar pra loja.
- não vou mais tomar seu tempo. Obrigado pela ajuda.
- não tem de quê. Eu estarei aqui sempre que precisar. Mas pense certo, okay? Não faça nenhuma besteira com seu coração.
Nos despedimos e eu voltei pra casa a pé. O tempo começava a melhorar e as nuvens pesadas no céu já começavam a ir embora. Apesar disso, o vento frio ainda continuava cortando minha pele fina e o pouco sol que surgia ainda não era o suficiente para aquecer meu coração congelado pelo tempo. Eu precisava de um banho quente para relaxar. Urgente.