Vaguei por ruas lotadas de pessoas que não davam a mínima para o que eu era, ou o que eu tinha sido um dia. Eu não era mais o vocalista de uma banda famosa. Hoje eu era apenas Gerard. O Gerard que abandonou a música, a carreira, tudo, por um maldito acidente de carro.

O céu já não era mais claro, o tom de cinza escuro já tomava grande parte dele lá fora da cafeteria. De repente, distraído, me peguei olhando pro relógio e me dei conta do que estava fazendo. Ou do que eu deveria estar.

- ah meu Deus, Angela!

Deixei o dinheiro sem troco em cima da mesinha e corri em disparada até a escola onde ela estudava. Não peguei um táxi, por pura burrice. Eu teria chegado bem mais rápido...

Quando me aproximava da escola, ofegante de tanto correr, vi que Angel já me esperava na porta. Mas ela não estava sozinha. Havia uma mulher com ela e ela mantinha as duas mãos nos ombros da minha menina.

- papaiiiii... – Angela me abraçou pela cintura logo que me viu chegar.

- minha filha, me desculpe. O papai foi um irresponsável.

- tudo bem, pai. Eu estava aqui conversando com a Mell. Nem vi que estava atrasado. – ela sorriu pra mim como sempre fazia. Depois do que ela disse, percebi que eu estava sendo mal educado. Eu nem tinha me apresentado à moça.

- olá, muito prazer. Eu sou Gerard, o pai dessa mocinha aqui. – abaixei o olhar pra Angel, que empinava a cabeça para nos enxergar melhor. Estiquei a mão e nos cumprimentamos num aperto singelo.

- o prazer é meu. Me chamo Lauren Carter e sou professora de inglês da Angela.

- mas... seu nome não é Mell? – perguntei confuso.

- não, é Lauren, mas parece que sua filha queria que fosse diferente. – ela riu baixinho e corou.

- Angela... – reclamei.

- papai, Mell é um nome muito mais bonito, o senhor não acha? É bonito que nem ela, não é?

Mell, digo, Lauren, ficou com o rosto vermelho na mesma hora. Eu deixei escapar uma tosse pra disfarçar a tensão.

- filha, acho que vai chover. Dê tchau pra senhorita Carter e vamos pra casa, sim?

- tchau, Mell. – Angela tentou abraçar a professora, mas sua altura não chegava nem à cintura dela.

- tchau, minha anjinha. – me espantei e ela percebeu corando rapidamente. Esse apelido era meu. Só meu e da... – foi um prazer conhece-lo, senhor Way.

Pisquei ao ouvir sua voz. Era doce e suave como seu rosto. Uma beleza.

- igualmente, senhorita.

- me chame de Lauren. Eu não gosto muito de tanta formalidade. – sorri com seu jeito doce.

- nos vemos...

- quarta-feira. Talvez. – um silêncio predominou. – se o senhor não se atrasar novamente, é claro.

- eu não me atrasarei. Fique tranqüila.

- papai... papai...

- oi, Angel. – falei ainda preso no olhar enigmático daquela jovem.

- está começando a chover.

Entramos no primeiro táxi que parou, quando a chuva já começava a ficar mais forte. Olhei pelo vidro e vi um corpo modelado pela água da chuva caminhar em direção à esquina. Eu devia ter oferecido uma carona...