Era uma noite de inverno em New Jersey. O vento frio nos dava uma sensação estranha, de aflição. De medo, talvez. O tempo estranhamente bizarro me trazia lembranças que eu queria esquecer.

Lembro como se fosse hoje, daquele olhar assustado dela, olhando pra mim pela última vez.

As luzes do hospital cegavam meus olhos enquanto eu tentava de todos os modos me desculpar pelo que fiz. Minha voz queimava a garganta ao sair e meu corpo era forçado a se ajeitar na maca pela força bruta dos enfermeiros. Eu tentei gritar para que ela pudesse me ouvir, mas quando ouvi o bip de seu coração diminuir, percebi que já era tarde. Seu último olhar era de lamento. Ela me deixou. Ela nos deixou pra sempre.

Acordei assustado do pesadelo que já era comum há alguns anos. Depois de tanto tempo eu ainda não tinha me acostumado a minha vida sem ela. Ainda bem que eu não estava tão sozinho.

- papai! Papai! Acorde! Você precisa me levar pra escola. – Angela pulava na cama tentando fazer com que eu abrisse os olhos.

- bom dia, minha anjinha. – eu a puxei, fazendo-a cair ao meu lado na cama.

- papai, eu te amo também. – ela me deu um beijinho na bochecha. – Mas assim vamos nos atrasar e isso não é bom.

Eu sorri. Ela tinha o mesmo espírito da mãe.

- e pra quê tanta pressa, menina?

- é meu primeiro dia na escola nova. Eu quero fazer novos amiguinhos.

- então que tal tomar um banho pra ficar bem cheirosa hein? Vai pro chuveiro, anda. – ela me obedeceu sem reclamar. Eu sorri com a alegria dela. Uma tremenda ironia, pensei.

Depois de pronta, Angel, como eu a chamava desde muito pequena, já me esperava de pé na porta com a pequena mochila nas costas.

- vamos, papai!

- calminha, eu já estou indo. – ela abriu um largo sorriso.

Peguei minha carteira em cima da mesa e a enfiei no bolso da calça. Dei a mão para que Angel a segurasse e saímos do apartamento.

Pegamos um táxi até a escola. Dei um beijinho em minha filha e ela entrou correndo sem nem olhar pra trás. Ela estava realmente contente com a idéia de fazer novos amigos.

Ainda era cedo e eu resolvi caminhar um pouco pelas ruas de New York. Acendi um cigarro e caminhei mais alguns metros. Parei em frente a uma loja de guitarras e sorri ao ver que ele ainda estava ali. Grandes amizades nunca morrem.

Abri a porta fazendo um barulho estranho e algumas pessoas viraram para olhar pra mim. Senti pelos olhares que alguns me reconheceram, mas mesmo assim não se atreveram a vir até mim. Apenas uma dessas pessoas abriu os braços e veio em minha direção sorrindo. Frank, sempre ele.

- Gerard, meu camarada! Até que enfim apareceu, hein.

- é, quem é vivo sempre aparece não é mesmo? – eu esbocei um sorriso amarelado e joguei o restante do cigarro no lixo.

- e como vão as coisas? E a pequena Angela?

- ela está bem. Acabei de deixá-la na escola. É incrível como ela fica mais esperta a cada dia.

- o tempo voa... 4 anos?

- ela fará 5 no mês que vem.

- nossa, você tá mesmo ficando velho hein! – ele gargalhou. Eu ignorei suas piadas.

- e as coisas aqui na loja? Muitas vendas?

- sabe como é neh, às vezes eu acho que as pessoas vêem aqui apenas pra conseguir meu autógrafo. Um ex-guitarrista famoso que agora vende guitarras. Era pra ser irônico, não acha?

- me desculpe, Frank. – eu abaixei a cabeça. – eu não queria que nada disso tivesse acontecido.

- quantas vezes precisamos te dizer que você não teve culpa, Gerard? Foi um acidente. Já faz tanto tempo. – eu continuei calado. – olha, ninguém ficou bravo com você depois que terminamos a banda. Era impossível continuar sem você e você sabe disso. Nunca substituiríamos um amigo.

- oh, Frank. – nos abraçamos. – obrigado.

- não tem de quê. Você sempre será meu grande amigo, cara.

Confesso que a conversa que tive com Frank me deixou um pouco mais animado. Eu odiava a mim mesmo por tê-los feito perder o emprego. Quando decidi sair da banda, após o que aconteceu há 3 anos, eu não imaginava que ia ser tão catastrófico pra todos eles.

Hoje Frank vende guitarras, Bob voltou a ser técnico da banda The Used, Ray trabalhava em uma livraria na Califórnia e Mikey acompanhava sua esposa Alicia nas turnês da banda dela.

E eu? O que eu fazia? Nada, absolutamente nada. Essa era a minha atual profissão.

Pra não dizer nada, eu passava a maior parte do tempo cuidando de Angela. Ser pai viúvo de uma menina de 4 anos não é uma tarefa fácil, eu diria. Mesmo quando sua filha é um exemplo de responsabilidade e inteligência. Às vezes ela parecia ser mais adulta que eu.

A outra parte do tempo, a menor, eu dedicava a meus desenhos. Muitas vezes incompreendidos, mas era o que eu adorava fazer. Expor minhas tristezas em papel e tinta. Esse era meu jeito de desabafar toda a angústia e frustração da minha caótica vida.

Links para as Fotos dos Personagens:

Lauren: http://img223.imageshack.us/my.php?image=secondlovelaurenvy0.jpg

Gerard:

http://img55.imageshack.us/my.php?image=secondlovegerardxi7.jpg

Angela:

http://img140.imageshack.us/my.php?image=secondloveangelakc1.jpg

Lyn:

http://img55.imageshack.us/my.php?image=secondlovelynbj8.jpg