Sabe quando você se sente completamente abobado porque acha que está apaixonado por alguém? Então... É exatamente isso o que eu estava sentindo. Se é que aquilo era possível para um cara de quase 30 anos.

E, por Deus. Aquele domingo foi um completo tédio. Não tinha ensaio, não tinha consulta com a Christa e pra completar, estava chovendo. Eu estava começando a ficar de saco cheio de jogar banco imobiliário.

Fiquei mosqueando pelos corredores do hotel praticamente o dia todo. E os dois queridos no quarto do lado não paravam de fazer barulho. Aliás, será que eles não se cansavam daquilo? Tava começando a ficar chato.

- Ray, quem tá começando a ficar chato é você. Sossega esse frofro um pouco!

- Não enche Frank. Você não tá entediado também?

- Nem um pouco.  Quantos dias de folga nós temos? Poucos. Então, eu vou é aproveitar. – e se jogou na cama.

- Você já deveria saber que o frofro não consegue ficar muito tempo sem fazer nada. – Disse Mikey, saindo do banheiro com os cabelos molhados. – Mas, eu não tenho problema com isso então... – e se jogou na cama também.

- É Mikey, você tem razão. Mas eu não tenho outra escolha, a não ser ficar aqui, esperando essa chuva passar.

- Entãããão... – começou Frank, tentando dar um tom de inocência na sua voz – você podia contar pra nós onde você conheceu a Christa, não é?

- Não, eu não posso. E como você sabe que é esse o nome dela?

- Tem gente que fala dormindo, sabe...

- Hm... e tem gente que escuta mais do que deve. Não vou contar nada. – e dei uma risadinha – Você não tinha dito que ia descobrir sozinho?

- Ah. Esqueci.

- Mas é um abobado mesmo.

- Agora, se me derem licença, eu vou tirar um cochilo, porque não tem nada melhor pra fazer. – Deitei-me na outra cama, fechei os olhos,e, por mais incrível que pareça, eu comecei a cair no sono. Não por muito tempo, porque eu logo senti um corpo se jogar em cima de mim. – Mas que porra é essa? – abri meus olhos e vi Mikey em cima de mim.

- Você não achou mesmo que nós fôssemos te deixar dormir, né?

- Na verdade, eu achei sim.

- Você se enganou, meu querido! – e ele e Frank começaram a rir.

E passamos o resto do dia assim. Um incomodando o outro, jogando vídeo-game e comendo porcaria. Não que houvesse algo melhor pra fazer, mas eu estava com vontade de sair. Então, por volta das nove da noite, fui em direção ao bar onde encontrei Christa pela primeira vez. Eu tinha esperança que de ela estivesse por lá. E eu estava certo.

Ela estava sentada em uma mesa afastada, com umas duas garrafas de cerveja por perto. Parecia um pouco triste. Eu não sabia se devia falar com ela. Fiquei me enrolando por um bom tempo até que reuni a coragem necessária para ir até ela.

- Com licença – pigarreei – se importa se eu me sentar aqui?

- Ahn? – ela me olhou. Seu rosto estava molhado, obviamente ela estava chorando. Limpou os olhos com a manga da blusa e indicou a cadeira vaga para mim. – Ah, Ray. Pode sim. – E abriu um breve sorriso.

Eu pedi um refrigerante e ela mais uma cerveja. Ficamos nos encarando por alguns instantes e o silêncio era constrangedor. Até que ela perguntou:

- O que te traz aqui?

Certamente eu não diria que estava lá apenas na esperança de encontrá-la, então, inventei uma desculpa rápida:

- Ah, eu estava sem fazer nada no hotel, então resolvi dar uma passeada.

Não conversamos muito. Eu provavelmente não teria coragem de pedir-lhe o motivo que a trazia para um bar, para beber cerveja. Então, quando eu estava me retirando, ela pediu para que eu ficasse.

- Eu não queria te incomodar com meus problemas, mas eu preciso de alguém para desabafar.

Aquilo me deixou completamente chocado. Os papeis estavam invertidos.