Sentei-me ao seu lado de novo e esperei que ela tomasse coragem para começar.

- Bem, antes de tudo, desculpa ficar te contando essas coisas, mas eu preciso dividir isso com alguém.

- Sem problemas. Você tem me ajudado muito, seria ótimo tentar te ajudar também de alguma forma.

- Ah, mas aquilo é meu trabalho. Fico feliz em saber que está funcionando de alguma forma... Quem sabe daqui a algumas semanas você já tenha alta...

- Nããão! - ela olhou confusa e eu percebi que tinha falado merda - Eu quis dizer... Não... Não se preocupe comigo agora, me fale dos seus problemas...

- Bom, eu era casada com esse cara, o Travis e...

- Era casada, não é mais, né? - falei por impulso

- Não...

- Eu sinto muito... – seria muito horrível se eu dissesse que fiquei meio, hm, feliz? – Mas continue.

- O Travis trabalhava em uma empresa grande, tinha dinheiro e nossos primeiros anos de casado foram até bem felizes. O problema foi quando eu decidi que queria parar de bancar a madame que passa o dia todo em casa e ir trabalhar, sabe. Eu queria fazer alguma coisa, afinal, eu era jovem e tinha acabado de me formar em psicologia.

- Entendo, também não gosto de ficar parado... Mas e o Travis não te deixou?

- Até deixou, porque homem nenhum me diz o que fazer, mas ele nunca gostou da ideia. Eu comecei a trabalhar em um consultório perto de onde a gente morava, em Los Angeles, mas eles só me deram o emprego porque eu era casada com Travis. Ele tinha nome por ali. Aquilo me deixava revoltada.

- Mas você gostava dele?

- Ele era uma boa pessoa até, mas eu me casei muito nova, por impulso... Eu era muito iludida. O tempo foi passando e eu me cansei daquilo tudo. Cansei de ser vista como a mulher de fulano, precisava ser mais eu.

- E daí você veio pra Jérsei?

- Eu precisava mudar de vida, mudar de lugar. Achei essa cidade ótima para recomeçar, abrir um consultório, sabe.

- E o Travis aceitou isso tudo?

- Não, né. Brigamos por essas coisas por muito tempo. Um dia ele disse que estava cansado de mim e dos meus caprichos e foi aí que eu saí da casa dele e nos separamos.

Ela ficou um pouco em silencio depois disso. Eu estava chocado, sem saber o que dizer, mas ao mesmo tempo queria falar algo útil, mas tudo o que saiu foi:

- Nossa... - e imendei com alguma pergunta - Tem quanto tempo?

- Uns 3 ou 4 meses... É por isso que eu não tenho muitos pacientes ainda. Psicologia é uma área difícil nesse sentido.

- Desculpa perguntar, mas se vocês já se separaram, por que você fica triste com isso?

- Aw, Ray, é tudo muito recente... Até então, não tinha contado pra ninguém. Também não conheço muita gente na cidade... Enfim, obrigada, desculpa qualquer coisa. Tenho que ir agora.

- Não tem nada que se desculpar... Amigos são para isso.

- Aw, obrigada... - e me deu um abraço

Quando Christa me abraçou fiquei arrepiado. Totalmente inesperado, eu não sabia o que fazer... Era como se ninguém nunca tivesse me abraçado antes. Não como ela. Foi uma sensação muito estranha, mas muito boa ao mesmo tempo. E eu estava me sentindo com 17 anos de novo.

Quando nos afastamos um do outro, ela pegou as chaves do carro e já ia saindo.

- Nada disso! Você bebeu, não pode dirigir... Deixa que eu te levo pra casa.

- Que isso, Ray. Eu já te dei trabalho demais por hoje e olha que você não cobra por consulta...

- Me dá essa chave logo, é sério.

- Okay então. – e me entregou as chaves do carro