The Both Sides escrita por auter_delacor


Capítulo 7
Capítulo 7 - Os lábios que carregam uma sentença




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Psique já trabalhava há seis meses no tribunal, sua paixão pelo direito nunca esmaeceu uma vez sequer em todo esse tempo, era como se ela tivesse nascido para executar a lei. Sempre havia algo novo para prender sua atenção. Tinha um interesse maior por processos criminais. Poucos eram corajosos para trabalhar nessa área, sempre havia muitas ameaças, mas ela adorava a tensão palpável que havia naquela seção.

         As atenções sempre estavam fixadas nela. Como se não bastasse sua beleza, ela tinha uma inteligência sublime que encobria todas as outras estagiarias ávidas por propostas de emprego. Continuava no cargo de secretária, mas não por falta de opções, para ela era um requisito básico fazer no mínimo um ano como subalterna.

         Seu chefe oferecera certa vez um aumento, mas Psique recusara, ela estava disposta a passar por todas as etapas antes de chegar à advocacia. Precisaria se formar antes disso.

         Psique passava cada vez mais tempo em Port Angeles, o que deixava Rosalie possessa. Ela costumava fingir almoçar no refeitório com seus colegas. Todos a olhavam enviesado. Havia inveja demais em torno dos cargos em ascensão, e todos sabiam que mais cedo ou mais tarde ela acabaria subindo na hierarquia.

         -Podem ter certeza que ela só não abriu as pernas para o procurador ainda porque deve estar esperando o maior lance. – comentários maldosos eram sussurrados enquanto fitavam Psique envolta por seus colegas homens. A pequena beldade da legislação. Era assim que eles a chamavam.

         -Essa garota vai roubar nossos cargos, apenas por ser sobrinha daquele médico famoso de Forks. Odeio riquinhas. Elas nunca estão satisfeitas, tem sempre que roubar as coisas dos outros. – Psique certa vez escutara um desses comentários tão semelhantes aos de Renesmee. Imaginou se o problema não era com sua prima, e sim com ela.

         Chegou um pouco abalada em casa naquela tarde. Comentou com Carlisle sobre o fato de ela estar lá apenas por causa dele.

         -Sim, Psique, admito que ajudei um pouco para que conseguisse o estágio, mas pode ter certeza que nunca mais fiz nenhuma proposta a Scott sobre seu trabalho. Se ganhar algo lá Psique, vai ser apenas por seu talento natural. – aquilo aliviou o coração dela.

         A mestiça criou o costume de ficar até uma hora depois de seu trabalho para assistir aos julgamentos. Ficava extasiada quando reconhecia alguns dos advogados que iam defender ou acusar os julgados. Ela gostava mais ainda de assistir quando as escassas mulheres iam defender suas teses. Aquele mundo se dizia sem preconceitos, mas as mulheres ainda eram muito excluídas de tudo. Elas se excluíam.

         Psique detestava a imagem de fragilidade e necessidade de ajuda que a maioria delas passavam. Já havia o ponto negativo de serem mulheres, deixar que sua vulnerabilidade aparecesse podia ser fatal. Poucas eram as que realmente prendiam a atenção de Psique e faziam-na prender o fôlego em excitação.

         Mas havia um advogado em especial que deixava Psique eufórica. Seu nome era Joseph McCauley, a híbrida raramente o vira perder algum processo. A primeira vez que ela o vira foi no tribunal, ele nunca havia ido lá antes e pegou uma pilha gigantesca de processos antes de ir embora.

         -Fazia décadas que ele não vinha aqui. – uma de suas colegas comentou logo depois dele desaparecer pela porta. – Já conheceram algum homem tão educado e gentil quanto ele? Todos os caras com quem já sai eram estúpidos grosseiros.

         Psique imaginou com quantos caras ela já tinha saído. Não daria para encher nem duas mãos se ela contasse um dedo para cada um deles. Mas algo naquele rapaz chamou a sua atenção. Ele devia ser de longe o homem mais bonito que já vira, mas tinha um charme fugaz.

         Passava noites em claro pensando em Joseph sem nem mesmo conhecer-lo. Ele advogava de uma forma que fez Psique ficar completamente encantada, tinha uma paixão palpável no interior. Seu sorriso confiante e distraído ocupava sua mente, e seus olhos castanhos claros a deixavam sem fôlego. Ela nunca se sentira assim antes em relação a ninguém.

         Pensou em contar para Rosalie, Alice ou até Carlisle sobre o que sentia, mas era como se aquilo fosse seu segredo particular, não querendo partilhar com mais ninguém. Sentia-se como uma garotinha novamente, segurando em mãos algo de preciosidade extrema.

         Saiu ansiosa de casa naquela manhã. Havia escutado suas colegas conversando sobre Joseph e de um recurso que ele apresentaria diante o juiz. Aquela foi a primeira vez que Joseph começou a notar Psique. Ele já a vira antes, mas achara que não passava de uma menininha bonita e bem de grana que conseguira o trabalho apenas por seu dinheiro. Estava enganado.

         Teria de ficar até mais tarde, era um dos últimos a se apresentar, e quando finalmente saiu da bancada, a platéia estava praticamente vazia, exceto pela menina de cabelos louros. Ela estava lá desde cedo, quando os primeiros julgamentos iniciaram, e não saíra um momento sequer.

         -Quem é aquela garota? – cochichou com seu colega de bancada. Mark esticou o pescoço, mas não demorou muito para sorrir como que compartilhando uma piada. – Ela não saia daquele lugar a horas, nem mesmo se move. Parece uma estátua de mármore.

         -Só se for de uma deusa grega. – falou rindo. – É Psique Cullen, ela trabalha no tribunal, vem sempre assistir os julgamentos, geralmente sai nos três últimos. Acho até que ela bate ponto aqui. Dizem que é brilhante demais para alguém jovem. Scott falou que ela tem uma carreira fantástica pela frente. Deve ser uma dessas pessoas superdotadas.

         Joseph sempre foi muito prático. Para ele existiam apenas dois tipos de pessoas no mundo; as corretas, e as que precisam de um bom advogado. Clássico pensamento de defensor. Ele sempre preferia as do segundo grupo para representar, era como se ao defender uma delas, ele fosse capaz de tudo.

         Vinha de uma família pobre e precisara lutar muito na vida para chegar onde estava. Ganhara prestígio, e era considerado um dos melhores advogados da região. Diante do juiz, e do júri, era outra pessoa. Deixava de ser Joseph McCauley o garoto humilde e se tornava Doutor McCauley o algoz dos tribunais.

         Quando finalmente termino já estava tarde, tirou a toga ansiosamente a espera de um banho quente. Se pegou olhando por cima do ombro para a platéia agora vazia. Sentiu uma pontada de decepção em seu coração, sem nem entender o porquê, mas então seus olhos se focaram da jovem que se levantava sem tirar os olhos dele.

         Joseph estava acostumado a receber olhares de todos os tipos; dês do desprezo das concorrentes perdedoras ao provocativo de mulheres interesseiras, mas aqueles olhos o fitaram de um modo que nenhum outro o fizera. Curiosidade, admiração.

         A jovem deu-lhe as costas indo para a saída. Usava um terninho feito sobre medida ao seu corpo curvilíneo, e a saia dava uma bela visão de suas pernas douradas e longas. Ele ficou parado, aturdido com a miragem a que a menina se assemelhava. Totalmente desejável.

         -Foi um ótimo discurso Seph. – Mark bateu em seu ombro despertando-o. Depois daquele dia ele não tirou os olhos cinzentos de Psique de sua mente. Nunca se sentira assim em relação a nenhuma mulher. Conquistar seu coração sempre foi algo difícil, ele se tornara desconfiado com os anos, nunca faltaram mulheres em sua cama, mas nada além de diversão. Psique era diferente, ele sentia.

         A mestiça saiu do tribunal com o coração galopando em seu peito. Os olhos de Joseph haviam se fixado nela intensamente, como se pudesse vasculhar sua alma. Entrou no carro e percebeu que suas mãos tremiam no volante. Tirou as luvas e a sensação de ter tato novamente foi gratificante.

         Chegou em casa com uma animação diferente.

         -Demorou mais dessa vez, Psique. – Rosalie abrira a porta para ela entrar. Livrou-se dos saltos e os tinha nas mãos, junto com as luvas, sorriu para Rose e lhe deu um abraço afável. – Que alegria toda é esse? – olhou-a desconfiada.

         -Peguei um processo muito importante hoje. – e começou a tagarelar usando termos técnicos que deixaram Rosalie entediada na hora, desistiu de dar atenção a filha adotiva. Jasper e Alice estavam abraçados e a olhavam de longe.

         O vampiro estreitou os olhos para Psique que piscou alegremente para ele. Ela rodopiou sobre si mesma e sentou-se ao piano aproveitando a falta de Renesmee na casa. Ficou um tempo distraída entre as teclas e rindo bobamente.

         Acordou mais cedo que o normal no dia seguinte. Renesmee saiu do quarto com o rosto amassado e usava um pijama de flanela. Psique passou por ela sorrindo e acenou. A mais velha percebeu na hora o motivo da estupidez que acometia a outra.

         -Está apaixonada. – Psique parou de costas para Nessie, na beira da escada. Girou nos calcanhares e fitou Renesmee com um vindo entre suas sobrancelhas douradas. – Não se faça de sonsa, sei que a razão de toda essa sua alegria é algum cara.

         Psique revirou os olhos e desceu.

Analisava uma pilha anormal de papéis em sua mesa quando um coração diferente adentrou a sala cheia. As conversas diminuíram dois tons, e ficaram concentradas a direita de Psique. Ela esticou o pescoço para o lado tentando localizar a razão dos burburinhos, mas um par de olhos castanhos surgiu acima da papelada.

         -Bom dia... Eu, hã, preciso que a senhorita me arranje uns documentos. – Joseph estendeu uma lista impressa em letras garrafais. Era de duas páginas. Psique pegou as folhas e analisou rapidamente o que havia escrito. Ele deveria pedir ajuda de Pagge para isso, ela cuidava da organização de tudo, mas ela não podia recusar aquela oportunidade.

         -Certo... – ponderou um pouco fingindo demorar mais a ler. Não podia passar uma imagem de tanta eficiência. – Acho que posso te dar uma ajudinha com alguns, o resto tem que ser visto por Pagge. - procura ela com os olhos, mas não a encontra. – Enquanto ela não está aqui eu te mostro tudo.

         Se levanta com os joelhos tremendo e se esforça para ter passos decididos em direção a sala no fim do corredor. As outras cochicham do outro lado da sala.

         -Querem apostar que ela vai transar com ele em cima da mesa de Scott? Soube que ela tem um fetiche especial por escritórios com salas cheias ao lado. – foi maldoso, e isso faz Psique trincar os dentes, mas ela ignora e guarda seu ressentimento para mais tarde em meio a risadinhas invejosas.

         Ele abre a porta educadamente para ela e tenta fingir não estar espantado com sua beleza única. Fecha logo depois de estarem sozinhos e em silêncio. Psique vai para um guarda móveis e começa a remexer em várias pastas pardas. Joseph fica olhando-a de longe, mas o nervosismo o vence, passara a noite em claro imaginando essa cena.

         -Ficou até tarde no tribunal ontem. – comentou em um sussurro.

         -Costumo assistir. – ela murmura olhando-o por cima do ombro e esboçando um sorriso fraco. – Acho fascinante. – continua a procurar. – Já o assisti mais vezes senhor McCauley, quase não perde um caso. – completou sorrindo para si mesma.

         -Estive pensando. – se aproxima ficando ao seu lado. Psique tinha os olhos fixos nas pilhas. – Gostaria de sair para jantar comigo amanhã? Quero dizer... – gagueja. – Depois do expediente podemos nos encontrar. Conversar um pouco.

         Psique sente um sorriso nascer em seu rosto espontaneamente e seu coração dar uma guinada. Estava a ponto de aceitar, mas se lembra que amanhã seria lua cheia. Ela ainda não conseguia controlar suas transformações, ficaria presa até o amanhecer em um corpo que não conseguia escolher. Dá última vez ficou como uma lebre saltando durante horas.

         -Amanhã eu não posso. Tenho um compromisso de família, mas... – morde o lábio inferior parecendo profundamente decepcionada. Fez os cálculos mentais de quanto tempo a lua cheia duraria. Na maior parte das vezes ela sofria as transformações por no máximo três dias. – Sexta, podemos almoçar. – sugeriu.

         -Parece ótimo. – Psique sente que ele não está totalmente satisfeito, mas mesmo não entendendo os rituais de acasalamento dos humanos, sabia que um jantar era um passo meio apressado demais. Ela tira os envelopes que ele requisitara. – Obrigado. – os pega. – A propósito, não fomos devidamente apresentados. Sou Joseph McCauley. Seph. – estende a mão firme.

         -Psique Cullen. – ela aceita o aperto.

         Psique passou o resto das suas semanas sempre em companhia de Seph. Ele era leve e divertido, fazia-a rir com facilidade, e estar com ele era tão agradável que ela se sentia praticamente normal. Inventara uma história elaborada sobre sua vida no Alaska, e fez surgir pais advogados e que se aposentaram. Disse que veio morar com os parentes porque desejava construir a própria carreira, sem os nomes dos pais como ajuda.

         -Não adiantou muito. Os Cullen são bem conhecidos por aqui.

         -Acredite, funcionou bastante. – ela riu intimamente.

         Era uma mentirosa nata, para ser advogado era necessário saber mentir bem, mas ela quase mergulhava em suas invenções de tão bem feitas que eram. Houve uma semana, que em todos os dias se encontrava com Joseph.

         Conforme o tempo que passava com ele, Psique foi percebendo que ele não era apenas charmoso, era belo. Seus cabelos escuros estavam sempre bagunçados, e a barba permanecia por fazer na maior parte do tempo. Ela só o via alinhado nos tribunais, quando organizava os cabelos com perfeição e fazia a sombra de sua barba sumir, mas pela tarde já voltava a ser o outro Joseph.

         Ele assumia uma máscara no tribunal que ela invejava. Queria ser profissional daquela forma um dia. Aprendia coisas incríveis com ele, tornava-se uma humana comum. Mas na medida em que era bom, tornava-se complicado. Joseph sempre tinha vivências para compartilhar, desejos a serem supridos. Tinha vinte e oito anos e almejavam uma relação estável com uma futura esposa, e três filhos.

         Perguntava a Psique seus planos para o futuro, onde cursaria o direito, se queria ter filhos. Ela ficava desconcertada e era como se sua imaginação minguasse diante de um vasto e curto porvir. Ou então a dardejava com questionamentos de seu passado. O que desejava ser quando criança. Os programas que gostava quando tinha menos idade, procurava semelhanças em seus pretéritos. Psique sentia-se acuada contra a parede.

         Houve um momento em que as mentiras começavam a se transformar em uma bola de neve monstruosa. Ela começou a tentar juntar sua pseudo vida com a vida que tinha, mas com seus parcos cinco anos, mal podia imaginar coisas que Joseph sonhava a noite.

         Ela finalmente se rendeu aos pedidos e aceitou jantar com ele. Era verão, e estava uma noite quente e úmida. Convencer Rose de que sairia com colegas foi complicado, mas conseguira reter algumas horas de paz. Seph olhou para suas mãos angustiadas sobre a mesa.

         -Sempre a vejo de luvas Psique. – comentou franzindo o cenho.

         -Tenho uma doença rara, deixa minhas mãos muito sensíveis. Tenho um tio médico super protetor. – encolheu os ombros rindo. Seph esticou os dedos e envolveu a mão dela com a sua.

         -Pode ter certeza que não deixarei que nada a machuque. Quero sentir sua pele. – pediu com olhos intensos. Um tremor prazeroso percorreu seu corpo. Ela sorriu sem conseguir negar. Removeu a proteção dos dedos e as guardou na bolsa. A pele dele era morna e macia.

         Ela nunca tocara em um humano sem luvas.

         A sensação era reconfortante, e ela podia sentir a energia saindo dele para ela pelas pontas dos dedos. Sentiu que poderia machucar-lo, mas teve receio de recolher a mão e ele entender como uma retaliação. Fizeram o pedido e Psique engoliu a comida fingindo gostar.

         Fazia semanas que tinha que passar por aquele teste deplorável. Detestava a comida humana. O processamento transformava tudo em algo insosso. Como se comesse plástico. Os dois conversaram como sempre faziam, mas daquela vez foi diferente. Sentir o joelho dele se encostando ao seu por debaixo da mesa a fez arfar, as mãos dele segurando as suas, o rosto iluminado fracamente pela luz baixa do restaurante.

         Discutiram sobre quem pagaria a conta. Psique sempre se mostrava auto-suficiente e independente. Detestava parecer frágil, mas depois de muita insistência deixou que ele pagasse. Joseph se sentia totalmente apaixonado por ela.

         Saíram na rua andando lado a lado. Joseph enlaçou o braço de Psique com o seu, e pareciam um casal no auge do relacionamento. Sentara-se em um banco e sob a luz dos postes, Seph segurou o rosto de Psique com suas mãos.

         -Eu te amo. – murmurou selando os lábios surpresos dela com os seus. Movia-os com delicadeza, envolvendo as costas dela com seus braços fortes. Psique estava totalmente entregue em seu primeiro beijo. Suas línguas estavam em uma dança sincronizada, e Psique sentiu a essência dele fugindo de seu interior.

         Joseph era picante, almiscarado. Profundo e intenso. Era como se ela provasse de sua alma. Talvez estivesse, e foi à melhor sensação do mundo. Foi ele quem os separou, e arfava como se tivesse corrido quilômetros. Psique viu seu rosto envelhecer um ano. Ficou horrorizada.

         Saiu correndo enquanto ele gritava seu nome.

         Chegou em casa aflita, batendo a porta com força a suas costas. Subiu as escadas em saltos e trancou-se no quarto. Atirou as roupas do outro lado do quarto e afundou o rosto em uma almofada para abafar seus soluços. Essa era sua sina, nunca poder tocar em quem amava.

         Batidas na porta alertam a presença de Jasper. Ele devia estar sentindo o terror em seu âmago, a raiva em sua mente, o desespero de seus atos. Psique mal tem forças para abrir-la. O tio a olha lacônico. Nunca a vira em um estado tão terrível e abalado, ela se joga em seus braços.

         -Desculpe. – murmura fechando a porta em busca de silêncio. – Perdoe-me por lhe obrigar a sentir toda essa confusão dentro de mim. É como se meus sentimentos não coubessem em mim. – senta-se em uma cadeira e ele fica a sua frente.

         -Porque nunca contou a ninguém? – perguntou comedido.

         -Vocês diriam que é errado, me proibiriam. Era como se eu tivesse ciúme. Queria poder ser normal, passar por coisas normais. Amar alguém. Poder tocar alguém. Meu fardo não permite que eu tenha uma vida, queria apenas fingir. – sussurra.

         -Ele é um humano Psique. Vai envelhecer, construir uma vida, ter uma esposa e filhos. Você sabe que não pode dar isso a ele. Tem que conviver com isso. – as palavras são dolorosas, mas terrivelmente verdadeiras. Psique nunca faria Joseph feliz. – Não devíamos ter concordado com esse seu emprego.

         -Isso nunca me impediria, sabe disso tio. – murmurou cabisbaixa.

         Psique anda até a janela e encara a escuridão latente.

         -Fique em casa amanhã, pense. Mas pense muito bem no que fará. Pode prender esse homem a você, pode ter-lo, sabe disso. Mas também sabe que ele seria infeliz se arrancasse tudo que ele lutou para ter. – Psique gostava da claridade e sinceridade que havia em Jasper. Ele era metódico e não economizava verdades. Psique só não entendia como ele sabia tanto sobre Joseph.

         -Como sabe tudo isso? – pergunta com os olhos inchados.

         -Alice já desconfiava. Andamos tomando providências. – ela já devia esperar a super proteção vinda deles. Ter sua vida sempre vigiada podia ser desconfortável, mas já estava acostumada. Suspira baixando os olhos para o tapete persa.

         Concorda fracamente com a cabeça. Jasper sai do quarto e a deixa com seus próprios pensamentos amargurados. Psique se abraça e cai na cama chorando. Adormece em meio a suas lágrimas de dor.


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