The Both Sides escrita por auter_delacor


Capítulo 8
Capítulo 8 - O Passado Nos Persegue




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Psique não foi trabalhar no dia seguinte, nem no seguinte, nem no seguinte. Com quatro dias de faltas constantes, ela mandou um email pedindo demissão. Joseph ligava insistentemente para seu celular. Ela trocou de número uma semana depois.

         Psique mudou drasticamente de humor, tornou-se amuada e quieta, sempre pensativa. Carlisle ficou alarmado ao notar a profunda depressão em que ela se afundava. Transformou-se em uma jovem de poucas palavras e muito centrada. A única companhia que ela parecia minimamente aprovar era a de Jasper. Eles treinavam noite e dia, horas seguidas e ininterruptas.

         Criara uma doentia neurose sobre suas mãos. Não permitia que ninguém a tocasse ou sequer ficasse próximo. Passou a se excluir em seu quarto, sai de lá apenas para as aulas com Jasper ou para comer. Ocupava suas noite solitariamente na floresta. A única vez que procurou Carlisle, não parecia confiante.

         -Acho que meu problema não está somente nas mãos Carlisle. – estava sentada em uma maca, e suas pernas balançavam livremente. Os olhos encavados em olheiras sombrias fitavam-no. – Todo meu corpo agora é perigoso. - o médico não sabia o que fazer.

         Consultou um colega psiquiatra, e arranjou um modo de comprar antidepressivos sem ser necessário levar Psique. Ela se recusava a tomar, e quando finalmente aceitou, não parecia que eles surtiam qualquer efeito em seu abatimento.

         Usar luvas não era mais o suficiente, agora eles tinham que ter um cuidado ao tocar-la. Jasper parecia reagir bem ao dom dela, não se mostrava abatido e nem parecia disposto a desistir da jovem. Intensificou os treinos.

         Renesmee observava tudo com uma alegria asquerosa. O sofrimento da mestiça parecia ser o estopim para impulsionar ela para frente. Voltara a ser a menina doce e gentil com todos, sempre disposta a sair e que ria. Psique contornara o jogo se tornando sombria e melancólica.

         As noites de lua cheia não eram mais um sofrimento. Psique não conseguia deixar de se transformar, mas não sentia mais tanta dor, e adquirira o poder de decidir o que seria. A disciplina que Jasper impunha a ela parecia obter um resultado satisfatório.

         Saia de casa apenas quando o estritamente necessário, o que fazia sua beleza vacilar. Tornou-se pálida e esquálida, sua pele assumira um tom desbotado do outrora dourado. Mantinha os cabelos sempre presos, e seus olhos perderam o vigor.

         Parecia mais indefesa do que antes, mas seu olhar se endurecera e ficara frio de uma forma que assustava a todos. Calculava seus passos e não havia um momento em que dedicava a seu lazer. Três meses se passaram naquele mormaço que preocupava a todos, então os treinos com Jasper parecerem se tornarem eficazes.

         Toda semana Psique colocava as duas mãos em um tronco jovem de árvore, e tentava controlar seu poder até o ponto do impossível. A árvore secava e tombava se transformando em cinzas. Sempre era da mesma forma, Psique continha seu dom por, no máximo, duas horas de contato direto, mas depois na terceira hora até a quinta, a árvore já morria.

         Dessa vez o esforço pareceu diminuto. Podia sentir um pequeno resquício de energia penetrar suas fibras, mas conteve tudo de forma sublime. Ficou quase um dia inteiro com as mãos grudadas ao tronco flexível, e nada aconteceu. Alguns traços secos riscaram o caule delgado, mas a árvore sobrevivera.

         Psique ficou extasiada.

A alegria dominou seu ser. Fazia semanas que não se sentia tão satisfeita consigo mesma. Voltou a sorrir - não da forma infantil e delicada de antes - era um sorriso adulto, marcado por sofrimento de alguém que vivera, mas vencedor. Psique finalmente havia se tornado adulta. Ela percebera.

         Começou cogitar ir embora. Edward tinha os olhos sempre fixos nela, mas sua mente estava longe demais de seu dom para que pudesse ouvir-la. Ele acreditava que o contato direto com Bella por tanto tempo a rendeu uma grande parcela do escudo dela. Psique se sentia melhor sabendo que tinha os pensamentos somente para si.

         Estava na semana seguinte a sua recuperação, e fazia o teste com a árvore novamente. Já estava há quinze horas com os dedos fincados no cepo, não tinha nenhum traço de cansaço, aproveitava essas horas para pensar. Ponderou durante as dez horas subseqüentes. Percebeu que não podia ir embora ainda, tinha que aprender a ter controle total sobre seus dons antes de sair permanentemente das assas dos Cullen.

         À medida que ia conquistando o manejo de suas habilidades, ia voltando progressivamente a ser a mesma de antes. Não era totalmente a mesma Psique, mas voltara a sorrir e preservar sua beleza. Os cabelos foram soltos, e decaiam os ombros elusivamente, os olhos brilhavam feéricos, recobrara a aparência saudável, o que provocou o desagrado de Renesmee novamente.

         Psique saíra com Alice e Rosalie para fazer compras em Seattle, voltaram com milhares de sacolas em seus braços. A mestiça mudara completamente a forma com que se vestia. Agora tinha uma impetuosa sensualidade que fazia todos se virarem para olhar-la quando passava.

         Seu aniversário de sete anos foi em uma noite de lua cheia. Todos comemoraram em volta de um bolo gigantesco e recoberto de glacê. Somente Seth e Jacob comeram. Estavam reunidos na sala de estar conversando alegremente. Psique andou lentamente em direção ao escritório de Carlisle, sentou na cadeira de couro e alisou os livros que usara um dia em seu trabalho.

         Parecia que fazia anos.

         -Algum problema, querida? – Bella entrou na sala.

         -Não... Adorei a comemoração. – sorriu fracamente colocando os cadernos de volta a mesa. Alisou a madeira lustrosa com a ponta de seus dedos. – Estou partindo Bella. – murmurou erguendo os olhos entristecidos.

         Ela não parecia surpresa, mas Psique continuou.

         -Amo todos vocês, acreditem nisso, mas sinto que aqui não é meu lugar, preciso saber quem eu sou. Descobrir mais sobre minha espécie. Sei que sou meio vampira, mas nunca me sentiria como uma de vocês. – respirou fundo. – Sinto que a algo me esperando fora da América.

         -Tenho algo para te mostrar, pequenina. – segurou delicadamente o pulso de Psique e a guiou para fora de casa. As duas andaram por um curto caminho que seguia reto acima de uma colina. Estavam no topo, e não havia nada ali a não ser uma campina pequena e florida. Bem em seu centro havia uma lápide de mármore rosa.

         Seus olhos foram vasculhando cada minúscula pétala colorida, até estarem sobrepostos sobre as inscrições do leito de sua mãe. Os Cullen sempre falavam sobre Eve, mas Psique nunca havia sido levada àquele lugar. Ficou de joelhos e passou os dedos despidos pela pedra. Removeu algumas plantas que cresceram sobre as letras.

         -Gostaria de ter-la conhecido. – fungou.

         -Também gostaria. – Bella concordou. Agachou-se ao lado da mestiça. – Sei que está confusa Psique. E te damos todo o direito de que vá atrás de seu passado. – segurou as mãos dela. – Você cresceu, e já sabe se controlar.

         Psique e Bella voltaram para a mansão quando começava a anoitecer. Ela ergueu os olhos para o céu sem nenhuma estrela. A lua ainda estava na linha do horizonte, ela tinha uma hora e meia antes de se transformar. Carlisle e Alice estavam sentados juntos enquanto as aguardavam. Psique percebeu que eles sabiam de seus planos há muito tempo.

         Rosalie estava de braços cruzados em uma visível fúria calada, os olhos cintilando escuros de decepção. Aproximou-se dela e a envolveu em um abraço protetor enquanto afagava seus cabelos, guardando sua fragrância em seu interior.

         -Sabia que um dia fugiria de mim Psique. – murmurou. – Mas é tão jovem... Espere um pouco mais de tempo, estamos voltando agora para o Alaska. Você só tem sete anos. É uma criança. – contestava ardentemente.

         -Pareço uma criança Rose? – ela abriu os braços indicando a si mesma.

         -Mas você é. – insistiu.

         -Sabe que sempre amarei vocês Rose, mas preciso ir atrás de meu passado. O passado da minha mãe. Seguindo os passos dela é a única forma de eu desvendar o mistério que há em volta de minha espécie. Sou metade de vocês, mas ainda existe outra parte de mim perdida nesse mundo. Nunca entenderei o que sou se não fizer isso.

         -Psique tem razão Rosalie. – Edward argumentou.

         -Ficara tudo bem Rose. – ela segurou as mãos dela.

         -Você não sabe por onde começar, não tem dinheiro, o salário que ganhava não dá para sobreviver nem por seis meses. Não tem uma referência sequer. – estava furiosa agora. Gritava andando pela casa. Psique checou a lua.

         -Tenho um nome, e o último lugar que minha mãe esteve. Ela era francesa, os transmorfos se concentram entre a França, a Espanha e Itália. Deve estar em algum lugar por lá. – começava a falar efusivamente, a alegria e excitação transbordando pelos olhos.

         -São três países gigantescos. Sua mãe disse que a matilha com que ela estava se separou e cada um foi um canto do mundo. A chance de encontrar um dos seus é mínima. Um lobisomem vai acabar te devorando. Vai se machucar e se frustrar Psique.

         -Eu tenho que pelo menos tentar. – perdeu um pouco do brilho que havia, mas não desistira. – Se me ama de verdade, Rose, vai aceitar minha decisão. Não sou mais um bebê, esse momento chegaria mais cedo ou mais tarde, vocês já esperavam.

         -Deixem que ela vá. – Renesmee disse com uma naturalidade entediada. Estava sentada no tapete da casa e lia um livro. Psique pela primeira vez concordou com Renesmee. Agora ela só tinha dez minutos. Suspirou suavemente. Sabia o que fazer para convencer-los.

         -Não sou normal como pensa que sou.

         -É claro que é. Tirando seus dons, você é uma híbrida totalmente normal. Tudo em você se assemelha a ela.

         -Provarei que não. – ela saiu para o gramado. Rosalie a seguiu resmungando incessantemente. Carlisle franziu as sobrancelhas e segurou os ombros de Esme enquanto a puxava na direção do pátio. Psique parou quando a luz da lua já a encobria completamente. – Tive medo de contar para vocês sobre isso.

         Renesmee ficou de pé em um salto e esticava-se para poder ver. Ela removeu o casaco com cuidado sem tirar os olhos da bola prateada que ia subindo pouco a pouco. Quanto estava em seu ápice, tudo começou. O formigamento ocupou o espaço de seu corpo e ela sentiu todo seu ser vibrando.

         Então tudo explodiu em um milhão de cores, e onde ela estava restava apenas trapos e um gato selvagem três vezes maior que um normal. Seu belo era alvo como a neve e rajado de dourado e prata. Os gigantescos olhos azuis cinzentos denunciavam-na.

         Rosalie exclamou levando a mão a boca. A gata se sentou e girou a cabeça para Edward. O vampiro estreitou os olhos surpreso.

         -Posso ouvir sua mente. – Bella agarrou sua manga. – Ela disse que isso sempre acontece em noites de lua cheia, e que não consegue controlar totalmente. Depois de começar a ter aulas com Jasper começou a ter um controle maior, mas que ainda não é suficiente.

         -Ela está controlando seu acesso à mente dela? – Carlisle perguntou.

         -Disse que fica vulnerável nessa forma. – Edward olha para uma Rosalie chocada. – Que é doloroso se transformar, dura até que amanheça. Psique disse que vai partir mesmo que nos desagrade, mas que deseja nossa bênção.

         Rosalie afundou seu rosto no ombro de Emmet.

         -Eu te abençôo minha menina. – murmurou.

Alice ajudava Psique a organizar a mala.

         -Alice... Não acha que são malas demais? – indicou as quatro bagagens tão cheias, que foi necessário sentar sobre elas para forçar seu fechamento. – Nunca conseguirei carregar tudo isso sem ajuda. – reclamou.

         -Porque tem que ser sem ajuda? – colocou as mãozinhas sobre os quadris. – Estive olhando apartamentos para você em Paris, acho que vai gostar desse daqui. Ele fica na Champs Elysees, é maravilhoso, veja. – mudou de assunto empurrando-a um folheto impresso.

         Psique segurou o papel, mas logo o jogou de lado.

         -Quero eu mesma procurar um lugar para ficar. Nada de muito luxuoso, só prático. Não precisam comprar nada para mim. Vou me virar sozinha. – ela sempre teve aquela mania incontestável de sua independência.

         -Mas... Mas... – a vampira gaguejou.

         -E vou resumir essas cinco malas em uma só. Não preciso de tantas roupas. – foi tirando parcelas de cada uma delas e colocando numa sexta vazia. Tirou os documentos de uma pasta e checou todos. – Psique Censi. Vinte anos. Uma carta de recomendação do tribunal de Port Angeles. Ótimo. Posso arranjar um emprego em algum escritório ou coisa do tipo.

         -Mas você ama direito. – Alice tremeu no interior ao lembrar-se de quem ela era filha. Coube como uma luva. Viu as mãos vestidas de Psique em um par de luvas de pelica que iam até seus cotovelos. Não perdera o costume.

         -O direito só me trouxe problemas. – murmura amargamente.

         -Felicidades você que dizer. – rebateu.

         -Problemas. – ela garantiu virando o rosto. – Vou trabalhar em algum estágio pequeno durante a manhã para ter uma renda fixa, à noite me ocupo em descobrir sobre os transmorfos.

         -Não precisa de um emprego. – Carlisle bateu na porta aberta com o nó dos dedos. Entrou no quarto com um sorriso resplandecente. Olhou as roupas jogadas para todo o canto. – Tem uma conta na Suíça aberta em seu nome. Eu mesmo cuidei de tudo. – entregou um cartão para ela.

         -Eu... – Psique gaguejou olhando o quadrado de plástico. – Não posso aceitar papai. Já tomei demais de vocês. – empurrou o objeto de volta a ele. O médico bufou insistindo.

         -Você é minha filha. Nossa filha. Tem direito a uma parcela da herança. – falou em tom divertido. – Poderá viver sem problemas, alugar um apartamento confortável e tranqüilo. Terá mais tempo para conhecer a cidade e procurar por... Seus iguais. Aceite como seu presente de maioridade.

         Ela olhou receosa para o objeto, então sorriu aceitando.

         -Obrigada papai. – abraçou o pescoço dele se atirando em seus braços protetores. Carlisle retribuiu afagando a cabeça dela. Sentiria falta da menina acordando todos os dias, sendo posta para dormir, lhe contando sobre as novidades no emprego. Poderia chorar se fosse humano.

         Segurou o cartão de crédito e rodopiou sobre o quarto segurando ele entre os dedos. Guardou junto com os documentos com um cuidado extremo, como se fosse sua vida. Seu celular tocou e ele saiu para atender uma emergência, deixando as duas sozinhas novamente.

         -Muito bem Psique, acho que deveria realmente levar no mínimo três malas, mas já que quer algo mais enxuto, use pelo menos uma. – Alice insistiu andando em volta da cama repleta de roupas. – Se bem que para mim é necessário uma mala só para sapatos.

         -Uma mala é suficiente, além de que... – Psique deixou a muda de roupas cair de suas mãos. Sua cabeça inclina-se para o lado vagamente enquanto seus olhos se perdem na parede a sua frente. Alice arregala os olhos para a sobrinha e a empurra para o sofá olhando por cima dos ombros. – Homem... Capa... Sangue, muito sangue... Mortes. – balbuciava palavras desconexas.

         -Psique... – Alice murmurava, mas sabia que não faria efeito, na hora das visões ela ficava totalmente aparte do resto do mundo. Psique demora o que dura cerca de vinte segundos. As pupilas de mestiça voltam ao tamanho normal e ela se vira aturdida para a tia. – Há quanto tempo vem tendo visões? – Alice pergunta diretamente.

         -Nunca tive desse jeito antes. – cochicha abaixando os olhos. Psique tinha fracos vislumbres vez ou outra. Tão raros que nem os considerava importantes de serem citados. Ela geralmente tinha sonhos relacionados com o futuro. Bobagens do tipo de alguém que seria preso, de um caso que seria ganho por Joseph, de gravidez, lápis que quebrariam, e milhares de insignificâncias sem sentido. Hoje ela tinha tido uma visão completa.

         -O que você viu? – o olhar dourado da vampira estava mais atento e calmo do que o comum. Já se acostumara em estar cega ao lado da jovem, não tinha uma visão há semanas, sentia-se temerosa sobre o que acontecia sem que ela visse. Estava sedenta pelo futuro.

         -Hã... – ela esfregou os olhos tentando se lembrar claramente. – Havia muita neblina. Uma espécie de tempestade caia, era densa e mal cheirosa. Havia sangue respingado em minhas roupas, e tinha um corpo no chão. Estava virado e não podia ver o rosto. Eu, não era eu. Olhei para minhas mãos manchadas de vermelho e um grito... Uivo, não sei bem, saiu de meu peito.

         -Lembra onde estava?

         Psique se concentra ao ponto de sua cabeça latejar. Flashes passavam por seus olhos e era como se houvesse um ponto de ligação entre eles.

         -Pinheiros e colinas. Havia muita névoa. Quase não se dava para ver o que vinha a frente. Somente se podia discernir vultos. Lembrei! – dá um salto. – Havia uma cicatriz em minha mão. Achei que eram as linhas que temos, mas era uma cicatriz, como um queimadura. Em forma de estrela.

         Alice havia tido milhares de visões durante toda sua vida. Estava tão acostumada com elas, que não precisava de dez segundos para captar até um cisco em um tapete. Ela sabia como podia ser nebuloso no início. Seu rosto suavizou benevolente. Esticou os dedos e alisou os cabelos da menina.

         -Não conte a ninguém Alice, não me deixarão partir. – choraminga segurando a manga dela.

         -Sabe que não posso esconder as coisas de Edward.

         -Pelo menos até eu estar longe. – pediu mais uma vez, os olhos lacrimosos. A vampira sabia como a menina se sentia. Absurda, um ser obtuso em meio a um mundo exclusivo. Ser especial nunca era bem aceito, tornava as coisas difíceis e você passava a ser a aberração. 

         Engole em seco.

         -Farei meu melhor. – afirma.

         Psique força um sorriso e as duas terminam de organizar suas roupas em pilhas dentro da bagagem. Terminam com o anoitecer. Haviam decidido que ela viajaria no dia seguinte no primeiro avião para Paris. Renesmee estava embevecida. Seus olhos brilhavam de excitação enquanto observava Psique ir sumindo da casa pouco a pouco, levando todo seu rastro para longe, do ouro lado do oceano.

         Faltava duas horas para o vôo partir, Psique nem sequer dormira a noite, passou-a toda em companhia da família. Estava prostrada diante do espelho encarando seu reflexo. Contemplava cada mudança em seu rosto jovem. Os traços suaves e insinuantes se mesclando com a maturidade adquirida a força.

         -Está a horas nesse banheiro, querida. – Bella enfiou a cabeça no espaço que abrira. Sorriu diante do reflexo dela. – Está perfeita Psique, os franceses cairão aos seus pés totalmente rendidos. – a mestiça gargalhou satisfeita.

         -Sentirei sua falta Bella. – murmura passando os dedos pela gargantilha com o emblema dos Cullen. – Sentirei falta de todos vocês. Menos de Renesmee. – acrescentou sarcástica.

         As despedidas foram demoradas, Alice e Rosalie fizeram um alarde gigantesco antes da comitiva sair de casa. Os dez chegaram ao aeroporto com um atraso de meia hora. Vestiam-se sobriamente em cores neutras e escuras, mas mesmo assim não deixavam de chamar uma atenção desmedida.

         Renesmee fizera questão de ir junto para garantir que sua rival partisse e nunca mais voltasse, queria ter certeza do que veria.

         -Bom... – ela girou nos calcanhares parando em frente à Carlisle e Esme, os outros haviam achado melhor irem embora na frente, tantas beldades juntas chamavam muita atenção. Rose e Emmet observavam de longe, Jasper sorria enquanto aconchegava a esposa nos braços enquanto Bella e Edward se inclinavam do segundo andar a olhar-la. – Acho que é a última chamada.

         -Prometa manter contato. – Esme advertiu-a novamente.

         -Todos os dias. – indicou o laptop novo em sua mochila.

         Carlisle estava mudo, mas seus olhos falavam por si só, desde que ela decidira partir não tiveram a conversa que ele retardara por tantos anos. Engoliu em seco tentando ganhar tempo.

         -Esperei que fizesse a pergunta. – murmurou.

         -Não me importa quem é meu pai por hora. – disse convicta. – Sei que não é alguém bom, escutava Renesmee falando dele por minhas costas. Ela usava o nome dele para afirmar que eu era perigosa.

         -Escute Psique...

         -Não, Carlisle. Não estou pronta. – replica temerosa.

         -Tome cuidado com a Itália. – disse por fim.

         Psique sorriu fracamente envolvendo os dois em um abraço apertado. Sentiu o peito vincar profundamente, mas não se arrependia de suas escolhas. Descobriria tudo que precisava saber, e então voltaria para sua família. Impediu uma lágrima de escorrer.

         “Vôo 447 com destino para Paris, última chamada, portão 13”.

         -Tenho que ir. – funga se afastando. Sorri com a voz embargada. Olha os tios distantes e acena carinhosamente para cada um. Rosalie se segura para não saltar atrás dela e impedir-la, Emmet a prensa em seus braços fortes.

         Psique vai apressada em direção a entrada do embarque. Gira para os vampiros uma última vez e abana para todos ao mesmo tempo, gravando em sua memória o rosto de cada um. O ultimo rosto que vê, e a face vitoriosa de Renesmee.

         Voltarei.


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