The Both Sides escrita por auter_delacor


Capítulo 6
Capítulo 6 - O sufoco de uma mentira




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Sua cabeça tinha o tamanho de um pneu de carro, e era tão negra quanto o piche. O focinho de precipitou para cima, aspirando o ar e se enrugando enquanto o fazia em busca de sua presa. Deu um passo a frente se preparando para o bote inevitável.

Todos os menores músculos de Psique se retesaram, e ela fez questão de prender o ar em seus pequenos pulmões, com medo de que o alertasse de algo. Os olhos de bola de golfe do lobisomem se fixaram nela, estudando cada pena em seu corpo.

         A mestiça sentiu que não podia se mover de tanto medo. Ele estava a meros centímetros de seu pescoço emplumado quando um instinto vindo de seus ancestrais, algo no fundo de sua alma, mandou que corresse. Psique moveu as asas, que pareciam serem feitas de cimento, e subiu no ar um segundo antes da morte certeira.

O mar estava bem abaixo de seu peito, ribombando tão alto quanto relâmpagos. Bateu as asas destreinadas em direção a terra, ficando acima das árvores, caindo e subindo em um voar desajeitado.          Uivos repercutiram por toda floresta.

Voar era algo de grandeza impressionante, não havia nada com que ela pudesse fazer alguma analogia que servisse para o que sentia. Seus atentos olhos de coruja podiam captar cada minúsculo inseto sobre as pedras.

A visão de ave era totalmente diferente da de lobo, mais eficaz. A casa dos Cullen estava logo sobre sua barriga, e erguia-se majestosa com suas luzes sempre acessas. Emmet não voltara ainda, talvez por medo de dizer a Rosalie que perdera sua filha adotiva, mas Alice fazia uma balburdia lá em baixo.

Diminuiu a altura de seu vôo já se sentindo totalmente confortável com seu novo corpo. Conseguia controlar totalmente cada movimento de seus músculos. A voz de Alice se distorcia, e foi substituída pelo remexer sonoro de um camundongo debaixo de uma pedra. Por um momento Psique quase se esqueceu de quem era e cedeu ao instinto animalesco da caça. Balançou a cabeça achando melhor voltar a ser quem era antes que começasse a piar e viver em árvores.

         Passou por cima de arvoredos procurando o lugar onde se transformara. A pequena clareira cortada por um riu surgiu como um buraco no meio de um paredão maciço. Psique tentou pousar e se prendeu em galhos, rolando até chegar ao chão em forma humana e nua.

A lua estava baixa agora e totalmente encoberta por nuvens.

-Droga... – praguejou se arrastando em direção aos trapos do que foi um dia seu vestido favorito. Teria que se lembrar que as roupas não ficavam acopladas. Ergueu o rosto para o céu que começava a amanhecer embebendo a noite de dourado.

Olhou sua pele, e sentiu-se estranha por não reconhecer mais o tom outrora prateado. Voltara a ser dourada. Limpou a terra de seus cotovelos vendo a lua que desaparecia gradativamente em razão do dia que nascia lenta e nebulosamente. Ficou parada um tempo pensando o que fazer com a falta de roupas. Lembrou-se de ter visto uma cabana a alguns quilômetros dali, apressou-se indo na direção que imaginava ser a certa.

Parou diante da casa ainda adormecida e teve a grande sorte de haver roupas no varal, não estavam secas, mas era o que havia para hoje. Seu corpo era tão pequeno e esquio que tudo que colocava fazia-a parecer um galho no meio de panos.

Não pode deixar de rir ao ver-se refletida em uma bacia repleta de água ao lado da porta dos fundos. Alice a mataria se a visse naquele estado deplorável, sujo e malvestido. Começou um caminho lento e penoso de volta a casa. Olhou para o céu e se lembrou do encontro com Seth daqui a pouco tempo.

Acelerou o passo até uma corrida veloz. Chegou aos fundos da casa e saltou diretamente para a janela de seu quarto. Tomou um banho quente eliminando todos os odores diferentes em seu corpo e colocou a camisa em um saco no fundo de seu armário, ia se livrar mais tarde.

Quando já estava vestida e com os cabelos ainda molhados, Emmet bateu em sua porta quase quebrando-a.

         -Onde você estava? – tentou gritar contidamente quando Psique finalmente a abriu. Os grandes olhos cinzentos da menina mostravam uma doçura inocente que fez o vampiro relaxar na hora. Seus olhos ficam de um dourado cordial na hora.

         -Encontrei um rastro estranho... Fiquei curiosa. – encolheu os ombros em desculpa. – Não quis te deixar nervoso. – completou apertando os lábios em uma linha fina e parecendo culpada e temerosa. Vestiu as luvas de algodão enquanto esperava que ele cedesse.

         -Desculpe por parecer tão irritado... – passou a mão pelos cabelos morenos. – Fiquei preocupado, e Rose me mataria. – completou rindo alto como sempre fazia para descontrair.

         -Prometo que não acontecera de novo. – garantiu.

         -Espero que assim seja. – replicou saindo em direção ao andar de baixo. Psique sentou-se diante da janela, vendo o céu clarear até ficar cinza. A forma com que se transformara fazia seus ossos doerem, pensou em tentar por vontade própria na noite seguinte, sem a lua cheia.

         A lua cheia... Então todas as noites de lua cheia ela se transformaria sem controle de si mesma. Enganar os Cullen seria trabalhoso, eles nunca a deixavam ir caçar sozinha. Pensou em contar a Bella sobre o que acontecera, mas teve medo que a olhassem como a aberração que Renesmee dizia que ela era.

Esticou as pernas para a batente da janela e ficou com elas balançando para o lado de fora suavemente. Checou o relógio de pulso e resolveu partir logo, preferia esperar do que deixar-los esperando. Era ela quem queria estender a bandeira branca, mesmo não tento feito nada, então achou melhor causar uma boa primeira impressão.

Seria a primeira vez que veria os quileutes.

Saltou pela janela caindo em um baque silencioso e que não chamou a atenção de ninguém dentro da casa. Sorriu com sua discrição e foi na ponta dos pés pelo caminho orientado por Seth. Tinha as palmas suando por baixo das luvas quentes quando chegou ao ponto combinado. Ela estava de um lado da margem, e eles apareceriam do outro.

Havia um único ponto naquele rio em que as duas margens quase se tocavam, demarcando praticamente com uma risca o lado proibido para ela e os Cullen. Estava afastada dessa ponta, sentada despreocupada debaixo de um cipreste perfumado quando viu os primeiros lobos surgindo. Uma vontade dominadora de fugir e arreganhar os dentes a controlou, mas Psique trincou os dentes contendo-a.

Devia ser a aversão natural a lobisomens.

O primeiro era o pequeno lobo louro que vinha em um trote ansioso. Logo atrás dele havia mais sete outros gigantescos. Psique sentiu seu coração saltar de nervosismo. Apertou as mangas de seu casaco enquanto eles se aproximavam o mínimo possível e se sentavam despertos.

Seth desapareceu detrás de uma pedra e voltou vestido e humano. Avistou Psique e ergueu os braços a espera de um abraço. Ela ficou de pé e andou vacilante em sua direção. Seth estava exatamente na ponta da linha, mas ela não se arriscou e ficou parada em seu lado.

-Não tenha medo Psique. – Seth replicou.

-Porque eles estão transformados em lobos? Não confiam em mim, devo mesmo confiar neles? – retrucou menos confiante de si mesma. Olhada de longe ela era praticamente inofensiva, mas os lobos sabiam que por trás de seus membros delicados havia ossos de aço.

-Estão com receio, só isso. – afirmou decidido. Virou o rosto esperançoso para eles. O lobo negro que na noite anterior quase a devorara assumiu sua forma humana e se vestiu. Psique ouvira falar de Sam, mas nenhuma palavra poderia descrever aquele homem selvagem e aborrecido.

Seu rosto moreno mostrava desagrado, e Psique recuou um passo.

-Sua mãe um dia nos enganou, o que garante que não fará o mesmo? – cruzou os braços e arqueou uma sobrancelha para ela.

-Quero paz, apenas isso. Por qual outro motivo eu me arriscaria em vir sozinha a uma floresta repleta de lobos? Vocês me odeiam, mas nem tem motivos para isso. Acham que sou perigosa, mas posso provar que sou inofensiva e não machuco ninguém.

-Tem sede como os frios, impossível não machucar ninguém.

-Eles não machucam ninguém, se mostraram amigos confiáveis. Queria poder pelo menos não ter a inimizade de vocês perante a mim. Soube que Seth tem sofrido por me proteger, não o retaliem, ele é ótimo e carinhoso, não merece. – pediu suavemente.

-Ela não cheira mal. – Paul comentou surgindo das árvores.

Psique franziu o cenho diante do grosseiro rapaz arrogante. Ele havia brigado com Emmet uma vez, Psique pegou as dores para si imediatamente. Já o detestava só de olhar-lo. O garoto estreitou as pálpebras em curiosidade, sua visão em forma humana não o permitia de ver Psique como deveria.

-Veio aqui para pedir perdão? – sugeriu debochado.

-Pelo que? – comentou com escárnio. – Por ter nascido? Por minha mãe ter sido esperta o suficiente para enganar e fugir de mais de quinze lobos? Ou por ter um dom como o de vocês? É por isso que não gostam de mim, tem receio que uma meia vampira os use contra vocês? – Psique borbulhava de irritação.

-Calma Psique. – Seth atravessou a linha imaginária e coloca a mão quente no ombro da jovem tentando acalmar os ânimos. A mestiça franze os lábios para Paul e cruza os braços demonstrando sua irritação.

-Seu amigo foi indelicado e presunçoso. Venho aqui em busca de paz para todos, mas recebo apenas pedradas. Não devia ter concordado em vir, Seth, vou voltar para casa. – replica dando as costas ao louro, ele segura o cotovelo dela com uma delicadeza desengonçada.

-Ele não fez por mal, vai pedir desculpas. – diz dardejando Paul com as pupilas. O índio nem faz menção de zombar, dá de ombros e bufa rolando os olhos mostrando seu desdém. Psique sente algo dentro dela se encaixar, ele agia da mesma forma que Nessie. Deviam estar mancomunados. Ela sempre estava na reserva em companhia deles.

-Renesmee deve ter feito a cabeça de vocês contra mim. Ela me odeia simplesmente por existir, quase me esqueci que vocês nutrem o mesmo sentimento que ela pela mesma razão insípida. O melhor que temos a fazer é ignorar esse encontro. Danem-se.

-Uma mimadinha mal educada. – murmura.

-Escuta aqui, seu lobo pretensioso e metido – ela anda até a beirada da linha e aponta o indicador no rosto dele. Os lobos ficam atentos aos pés vacilantes dela, apenas a espera de uma razão para ataque. – Você não tem o direito de me julgar, nem mesmo me conhece.

-Não preciso nem de cinco minutos com você para saber que não passa de uma meio sanguessuga desprezível e que mancha o nome transmorfo. – retrucou quebrando a linha e indo para a parte do continente dela forçando-a a recuar. – Nunca deveria ter nascido, amaldiçoado o dia em que deixamos sua mãe viver.

As palavras a feriam como adagas certeiras. Psique se encolhe como que recebendo pedradas. Paul para de falar subitamente. A jovem tinha os olhos beirando lágrimas, e ele sentiu uma vontade de consolar-la que lhe era incontrolável, a culpa lhe consumiu freneticamente. Psique era a imagem da fragilidade, totalmente a mercê do mundo.

-Eu... – ele gagueja confuso com aquele mesclado de ódio e culpa.

-Não diga mais nada. – ela ordena se afastando. – Fui estúpida de tentar ajudar Seth, agora vejo que vocês só queriam arranjar uma razão para brigar e discutir, quem sabe até me matar. – ela não mentia. – Pena que desperdiçaram a primeira e única chance que tiveram há quatro anos.

Psique parte sem olhar para trás, deixando os lobos surpresos.

-Porque fizeram isso? – Seth esbravejou irritado. – Ela estava ansiosa por conhecer-los, esqueceram que ela é quase que como nós? Poder se transformar em lobo, peixe ou formiga não muda nada. Ela é uma transmutadora como nós, e vocês a renegaram!

-Ela bebe sangue, Seth. Nem que fosse minha filha eu a aceitaria. – Sam respondeu seriamente. Pensou no que Emily faria em relação aquela menina criança, tão indefesa. Certamente a acolheria com carinho como fizera com Renesmee.

-Nessie bebe sangue, e mesmo assim foi aceita.

-Nos obrigaram a aceitar-la, é diferente.

-Não parece obrigado o gostar dela como gosta. – exclamou se transformando em lobo e indo atrás da mestiça. Sam não podia vacilar em sua decisão. Psique estava vetada em sequer estar próxima da reserva, não queriam nada haver com aquela anomalia. Ficou um tempo vendo o caminho que Seth escolhera.

-Acho que ele fez sua escolha. – disse amargurado.

-Está apaixonado por aquela monstrinha. – Paul murmurou sentindo uma irritação desmedida. Psique tinha uma beleza excepcional, e transmitia uma fragilidade que o fazia lembrar uma flor delicada, mesmo tentando se esconder em uma armadura de arrogância, ele quase tinha a necessidade de proteger-la.

-Jacob lançou essa moda, Seth está sempre imitando Jake em tudo, já era de se esperar. – Jared debochou. – Viram como ele ficava balançando a cauda para ela? Parecia um filhotinho fascinado. – cuspiu as palavras com desprezo.

-Não nos importa o que eles fazem da vida deles. Ela não é imprinting de Seth, então não temos nada haver. – repetiu seriamente. – Vamos embora logo. – ordenou seu transformando em um salto e indo de volta para a reserva.

-Como assim? – Renesmee deu um pulo indignado. – Não aconteceu nada? Nenhum arranhão ou perna arrancada? Nem um dedinho? – juntou o polegar com o indicador quase deixando-os juntos. Paul estava comendo uma pizza gigante junto com Jacob e Jared.

         -Odeia ela tanto assim? – Paul falou de boca cheia.

         -Vocês não entendem... – ela balançou a cabeça. – Era a única chance de vocês eliminarem o problema “Psique”. Nunca terão outra oportunidade assim. – fez aspas. Sentou-se no chão com as pernas cruzadas e rosto emburrado.

         -Se a monstrinha tivesse colocado a ponta de seu dedão do lado da reserva poderíamos ter arrancado aquela prepotência de seu rostinho bonito. Mas ela ficou o tempo todo de seu lado do tratado. Parecia mesmo querer fazer as passes. – Paul deu de ombros.

         -Ela queria era sugar todo o sangue de vocês. Já contei que ela tem um gosto exótico para tipos de presas? – Jacob franziu o cenho olhando Nessie de soslaio. – Psique é perigosa, seria melhor para todos se ela sumisse. Um risco para humanos, vampiros e transmorfos.

         -Se tocarmos nela sua família vai declarar guerra, e uma guerra não é boa opção. – Sam apareceu na porta da garagem de Jacob. – Não brinque conosco Renesmee, se tem desavenças com Psique, resolva você mesma, não nos meta nessa briga.

         -Não tenho simples desavenças com ela. – revirou os olhos. – Psique é perigosa. Trará para nossas terras lobisomens e vampiros carnívoros. Vocês sabem bem de quem ela é filha. Quando os Volturi descobrirem sobre sua existência, virão para cá e nos colocarão em risco. – persistiu consternada.

         Sam ficou parado olhando Renesmee falar e destilar veneno.

         -Isso são suposições Renesmee, a menos que a garota ataque algum humano, ou cruze a linha, nada poderemos fazer. – olhou de Jared a Paul, fazia meses que ele e Jacob nem sequer se olhavam. – E não faremos nada. Repito. Nada.

         Deu-lhes as costas partindo.

         -Sam anda meio irritadinho não acham? – ela revirou os olhos voltando à atenção aos três índios gigantes.

         -Está preocupado com Emily, ela anda meio doente. – Paul respondeu. – Acho que deveríamos escutar-lo, Jared. Desculpe Nessie, não podemos te ajudar em relação à Psique. Não queremos brigas com sua família. Arranje outra forma de se livrar dela. – ficaram de pé em um salto.

         -Se arrependerão de dizerem isso. – advertiu irritada. – Quando ela invadir a reserva e secar as veias de cada um de vocês, verão que eu não mentia. Psique é um risco. – gritava enquanto eles iam atrás de Sam. – Não voltem chorando e pedindo ajuda depois. – advertiu-os.

         Jogou-se ao lado de Jacob com os braços cruzados.

         -Sei que não gosto de Psique, Nessie, mas tentar matar-la? E ainda colocar a matilha para fazer o trabalho sujo. Não te reconheço mais Nessie. – murmurou empurrando a caixa de pizza para o lado. Renesmee ficou de frente a ele, fitando-o descrente.

         -Não tentei matar-la e colocar a culpa na matilha. – bufou. – Só queria que ela se machucasse bastante e precisasse ir fazer um tratamento em um lugar bem distante. E talvez perdesse uma perna. – se aconchegou no ombro dele.

         Jacob ficou inquieto com tudo aquilo. Sentia que a presença de Psique corrompia sua antiga doce Renesmee, e a transformava em uma manipuladora calculista. Fazia dias que ela colocava na cabeça de Seth que apenas convencendo Psique em conversar com os lobos resolveria os problemas dele. Quando Psique concordou, Renesmee entrou em êxtase.

         Ia convencendo Jared de que Psique era um risco para Kim, e fazia isso progressivamente com cada um que tinha um impriting para proteger. Ela ia disseminando sua maldade como um veneno que se espalha por todo canto.

         Evolveu os ombros dela com seu braço e ficou escutando sua respiração ir se tornando um suave ressonar adormecido. Havia jurado no momento em que teve seu impriting que protegeria Nessie de tudo. Sentia agora que tinha falhado com Renesmee, falhado com ele mesmo.

         Nessie balbuciou algo ininteligível e abraçou o tronco dele com mais força. Eu te amo tanto Ness... Ele pensou beijando os cabelos perfumados dela. Prometo que tudo voltara a ser como antes. Ergueu-a em seus braços e adormeceram juntos.

Psique estava deitada no divã enquanto encarava o horizonte diante das persianas abertas. Suas bochechas estavam molhadas por suas lágrimas salgadas. Afundou-se nas almofadas damasco e recostou a cabeça no couro marrom. O dia seria ensolarado amanhã, mas agora uma fina garoa recobria toda a floresta densa.

         Ela se sentia magoada, ferida, indesejada. Ninguém nunca quis que ela nascesse, e agora todos desejavam que sofresse um acidente, que rolasse por uma encosta ou se afogasse na banheira. Começava a detestar estar em Forks, era malvista por todos.

         -Psique. – Alice dá três batidinhas na porta e entra. A jovem se estica no divã e seca os olhos sem deixar que a tia note, ou pelo menos tenta. A vampira sorri aturdida e se senta ao lado da menina. – Alguma coisa está te perturbando. Diga-me o que é. – pede segurando as duas mãos dela.

         -Não é nada titia... Só... Estava pensando. – funga dando de ombros.

         -Jasper disse que você está triste. – argumenta.

         Ela olha para suas mãos cobertas em seda negra. Fazia tanto tempo que não olhava para seus dedos despidos. Alice usava anéis nos dedos que usa para erguer o queixo de Psique.

         -O que quer que seja não fique assim, minha pequenina. – diz com o mesmo timbre maternal da voz que escutara em sua cabeça na hora em que se transformara. Aquele turbilhão de acontecimentos a fez esquecer os fatos passados.

         Respirou fundo ponderando se deveria contar para Alice o que descobrira sobre seu corpo. Repassou mentalmente a sensação que tinha ao ser loba, coruja, o extinto animal se apoderando de seu ser. Sensações em um misto confuso. Liberdade.

         -Não é nada, tia. Estou apenas um pouco cansada. – dá um sorriso amarelo. Na casa dos Cullen ela se sentia uma prisioneira, tentava com todo fervor não ter essas emoções em relação a eles, era terrivelmente grata a tudo que fizeram por si, mas sentia que ali não era seu lugar.

         -Hum... – Alice estreita os olhos. – O que acha de irmos dar uma volta em Seattle? Vermos um filme em uma sala grande cheirando a nova, e não com cadeiras repletas de buraco e mofo. – faz uma careta que acompanha um riso de Psique. – Algo com bastante violência e terror? Ou quem sabe uma comédia romântica para nos fazer chorar rios de lágrimas? Pode fingir que está chorando por causa do filme.

         Sugere beliscando a ponta do nariz dela.

         -Quem sabe uma ficção com alienígenas que dissecam humanos?

         -Me deixaria com fome, mas feito.

         Psique ri novamente e sai pelo quarto à procura de algo adequado para vestir. Alice fica parada olhando enquanto a menina se veste, sentia que algo de muito errado estava acontecendo, mas diante da mestiça estava cega ao futuro. 


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