Lembrar aquilo não foi uma coisa muito legal.

 Quero dizer... A noite havia sido ótima! Pude sentir todos meus hormônios se rebelarem, num protesto de ‘queremos mais’ dentro de mim quando lembrei tudo.

 E agora? O que eu fazia?

 Hugo era diferente. Ele era meigo, gentil, tímido... E mais um monte de coisas que ela sabia que ele era, mas ainda não conhecia. E na cama... Oh, na cama ele era inigualável! Mas, mesmo com toda a virilidade e masculinidade, ele, em nenhum momento, deixou de ser delicado ou gentil.

 Eu sei o quanto clichê isso soava.

 Eu tinha encontrado o cara perfeito e blá blá blá...

 TÁ, TALVEZ EU TIVESSE ENCONTRADO O CARA PERFEITO SIM, E AÍ?!

 Tudo bem... Hugo não era perfeito. Estava longe de ser. Mas, dentre todos os motivos que o impediam de ser perfeito, a cor idêntica de nossos cabelos esfregava na minha cara a pior verdade. O pior dos motivos...

 Ele era meu primo.

 Sim, ele era sangue do meu sangue. Nós nunca conversamos de verdade, para ser sincera. Nunca tínhamos trocado algum olhar cúmplice de quem se conhece há 37 anos, e nunca, quando o toquei, senti arrepios percorrerem pelo meu corpo. Pelo menos, não antes daquela noite.

 Tudo isso só colocava a prova de que não era obra do destino. Não foi algo extremamente poderoso que nos uniu, não foi algo planejado durante anos, por alguma força influente do universo. Claro, eu sei que não devia estar andando naqueles corredores naquele exato instante, Hugo não devia ter bebido também. Foram coisas fora do comum, apesar de as minhas caminhadas noturnas serem costumeiras, coisas que não costumam ser daquele jeito, o que não foi.

 Primeiro decidi que era coisa do acaso. Simples: um garoto bêbado, uma monitora estressada fora da cama na hora errada que, por uma obra travessa do universo, acabaram se encontrando e tiveram uma noite selvagem. Nada mais clichê que isso.

 Mas não era simplesmente o acaso... Não podia ser. Coisa do destino também não era. Era algo de uma força superior e sádica, que se divertia criando situações com casais que não poderiam continuar juntos.

 Merlin. Oh, maldito Merlin!

 Não iria dar esse gosto a ele. Ele, a criatura denominada mais pura, sendo o mais sádico de todos. Criando casais para depois separá-los.

 Encarei Hugo de novo. Os olhos gentis ainda me encaravam. Ainda mostravam solidariedade.

Ele iria entender, sussurrou uma voz na minha cabeça. Uma voz egoísta, que só tentava fazer o bem do jeito mais me fazia bem. Nesse caso, o jeito que apenas me fazia bem.

 É verdade. Ele iria entender.Iria sobreviver e seguiria em frente... Nada não passaria de apenas uma noite... A melhor noite de sua vida, outra parte de mim protestou.

 Não era destino, não era acaso. Era Merlin! E Merlin criava situações que pareciam eternas, mas geralmente duram 2 semanas... 2 meses, talvez. Não ia continuar com Hugo. Não podia. Iria colocar toda a ordem da minha família em risco, iria desfragmentar tudo. Iria colocar tudo isso em risco, apenas para arriscar algo novo.

Incesto. Essa palavra rodopiava pela minha mente, descendo de forma lenta até chegar no meu baixo ventre, fazendo o mesmo palpitar de desejo. Como era excitante a ideia de ter mais uma relação com meu primo... Gemer seu nome mais uma vez. Como era excitante a ideia de levar isso adiante, e viver num relacionamento a base de noites longas e quentes em Hogwarts, e rapidinhas escondidas nos encontros familiares. Minha vontade de praticar a arte do incesto quantas vezes eu pudesse, me deixava cada vez mais quente, me dando uma vontade louca de agarrar o moleque na minha frente, fazer amor ali mesmo, no jardim... Com meu primo. Mesmo estando de manhã.

 Encarei aqueles olhos gentis por uma última vez, captando algo maior que apenas eles.

 Minha decisão estava tomada.