Acordar nua na cama do seu primo não é algo que eu queria que acontecesse.

Não se lembrar de nada que aconteceu na noite passada também é uma coisa que não esteja na minha lista de desejos.

Reprimi um gritinho surpreso matinal. Eu tinha que sair de lá sem que ninguém me visse. Olhei para o chão... Minhas roupas se encontravam lá... Céus, imagino como as coisas foram noite passada...

Lilian Luna Potter, tire esses pensamentos da sua cabeça e pense num jeito inteligente de sair dessa cama, pegar suas roupas, se vestir, e sair sem ninguém perceber.

Tudo bem... Uma coisa que eu tinha aprendido nas vezes em que dormi na casa dos meus tios, é que Hugo Weasley tinha um sono muito pesado. E quando eu digo pesado, é pesado mesmo.

Ah, isso seria fácil, fácil... Sorri satisfeita com a mínima sorte que eu estava tendo.

Delicadamente tirei a mão que pendia em cima de minha cintura. Me enrolei o máximo que consegui nos lençóis e me estiquei para fora da cama, sem tirar totalmente meu corpo dela. Eu ainda não estava alcançando minhas roupas. Merda! Me estiquei mais um pouco. Talvez se eu me esticar só mais um pouquinho...

POF! Caí ruidosamente naquele chão duro e gelado.

–Ai... – murmurei, um pouco dolorida, mas então me dei conta de novo de onde estava e paralisei.

Lá estava eu, nua, no chão do dormitório masculino da Grifinória, com os meninos lá dentro.

Olhei para trás para conferir como Hugo estava.

Novamente a sorte de Potter que eu levava nas costas me salvou. Sério, os meninos deviam estar numa dimensão paralela, só pode. Como eles não acordavam? Eu tinha quase perfurado o chão do quarto deles e não ouvi nem mesmo um suspiro.

Sorrateiramente, fui em direção às minhas roupas. Ótimo, minha varinha estava lá.

Eu tinha que me lembrar de agradecer meu pai por ser um Potter e por eu ser sua filha e por todos sermos abençoados pela sorte Potter.

Sorte? Sorte?! SORTE?!

Ela simplesmente foi embora no momento em que eu pisei em algum lugar em que o piso de madeira estava mal colocado, fazendo-a ranger em alto e bom som.

Mas, é claro que eles não iam acordar. Eles não tinham acordado na hora em que eu caí. Não acordariam agora. O mais lógico não seria que eles não acordassem?

Mas como eu podia pôr minhas esperanças na lógica? Não é lógico você dormir com seu primo e não se lembrar de nada que aconteceu, mas isso acabou acontecendo comigo.

Um menino que eu reconheci como Gordon fez um ruído, demonstrando que podia estar acordando...

Pensa rápido, Lily, pensa rápido...

 Bom, não acho que agir como nos filmes trouxas possa dar certo, mas é o que me vem na mente agora.

–Isso é só um sonho, Gordon... – falei com a voz mais aveludada que consegui, engatinhando na sua direção para não fazer muito barulho – Você só está sonhando...

–Quem est... - ele murmurou, os olhos ainda fechados - Lily...?

–Não... – sussurrei ainda com a voz aveludada, mas com um pouco de desespero – Isso é apenas uma miragem... Você está sonhando... Nenhuma Lily está aqui...

Ele abriu um pouco os olhos... Merda! Adeus, vida social! Adeus, pai, adeus, mãe. Adeus, dignidade. Esse era o meu fim.

–Go... - ahn? O que ‘go...’ queria dizer? Me encolhi um pouco. – Gostosa...

Ok, ok, só preciso me lembrar de respirar e...

 RESPIRAR O CARALHO, A ÚNICA COISA QUE TENHO QUE ME LEMBRAR É DE DAR BELOS SOCOS NA CARA DELE QUANDO TUDO ISSO TIVER ACABADO!

–Você só está sonhando... – falei com a voz mais calma que consegui, respirando fundo para não socar aquele moleque naquele instante – E você é um grande filho da put*... – sussurrei sem consegui me segurar.

–Eu sou um filho da put*... – ele repetiu muito sonolento. O que era aquilo? Hipnose? – N-não, mãe! E-eu... Eu só comi aquelas meias ontem a noite porque tinha perdido o jantar... – Céus, isso só pode ser um teste de Merlin, ele quer ver quanto tempo eu aguento – N-não...

Ufa! Ele tinha voltado a dormir. Ew... Espero que aquilo só tenha sido um sonho dele!

Voltei para onde minhas roupas estavam e, antes de começar a me vestir, murmurei:

–Abbafiato...

Pronto. Pelo menos com barulho eu não tinha mais que me preocupar.

Rapidamente me vesti, querendo sair daquele quarto mais que tudo. Olhei um pouco para Hugo e me perguntei o que diabos tinha acontecido e como eu tinha parado ali.

Antes de sair, encontrei uma meia meio comida perto da porta. É difícil me controlar com o pensamento de que ele comeu a própria meia rondando minha cabeça. 

Desci correndo pelas escadas tentando esquecer isso e na esperança de não encontrar ninguém.

Eu tinha que me lembrar de bater um papinho com o meu pai depois e perguntar o por que de ele ter me deserdado da sorte Potter.

Rose Weasley conversava animada com o Alvo Severo, meu irmão.

–Ei, você não estava com essas roupas ontem? – Rose fez essa bela observação antes que eu pudesse dizer qualquer coisa. Maldito dia em que me recusei a usar o uniforme.

–Ahn, Lilian, não é por nada não... – começou Alvo – Mas aquele não é o dormitório masculino?

–Ahn... – sorri amarelo para os dois e fiz carinho na cabeça de Rose – Eu... Ando meio sem roupa, Rose. E... Bem, eu acabei confundindo os dormitórios, sabe? – comecei a mexer a mão com gestos sem nexo – Eu ia para o dormitório feminino, mas os dormitórios são tão iguais, e...

–Sua mão está com um cheiro gozado. – ela comentou ingenuamente. Estranho. Diferente. Ela podia ter usado qualquer palavra pra descrever o cheiro, mas não, ela tem que usar a palavra 'gozado' só para o olhar de Alvo ficar cada vez mais duro para cima de mim.

–Mas há quanto tempo você subiu? – perguntou ele, desconfiado.

–Mais ou menos há meia hora, ok? Agora será que vocês...

–Nós estamos aqui faz tempo. - ele me cortou, gesticulando com as mãos e jogando o cabelo para o lado. - Já são onze horas - Onze horas? As coisas com Hugo foram melhores do que eu esperava.

–Ow, ow, ow... – ri nervosa enquanto ia em direção ao quadro da Mulher Gorda – Isso aqui é um interrogatório da polícia, por acaso? Bom dia, crianças. – e com isso saí do Salão Comunal da Grifinória.

Mas o que eu tinha feito? Tudo bem, só preciso fazer uma lista das coisas que sei.

 *Transei com meu primo nerd e desconhecido.

 *...

 Bom, é isso. Isso é tudo o que consigo lembrar.

Como eu posso esquecer uma coisa dessas? Ele podia ter lançado o obliviate em mim, mas isso não soa como algo que alguém faria depois do sexo. 

Fui até o lago da Lula Gigante para pensar um pouco. Algumas pessoas - ou talvez a escola inteira - me chama de vadia, e será que era verdade? Não me importo nem um pouco, na verdade. Transar não é pecado e não existe um protocolo dizendo quantas vezes você pode fazer isso por semana. Mas será que... Bom, não tem nada de errado nisso, não é mesmo? Dormir com meu primo foi só uma coisa que saiu do controle, nada disso é minha cara, não durmo com qualquer um... Não sou uma nifomaníaca... Não sou uma ninfomaníaca...

–EU NÃO SOU NINFOMANÍACA! – gritei, aproveitando que o lugar estava vazio.

–Ahn, eu tenho certeza de que você não é. – argh, que lugar vazio mais habitado. Mas o que me fez tremer não foi essa descoberta, mas sim o pensamento de que eu sabia de quem era aquela voz.

–Oh meu Merlin, Hugo! E-eu não sabia que você estava aqui...

 Ele me ignorou e andou mais um pouco até parar do meu lado. Geralmente eu não tinha vergonha dos meninos com quem eu transava, mas qual é, ele era meu... Primo.

 -Lily? - me chamou, me tirando do meu transe. Seus olhos gentis encararam meus olhos de "puta que pariu", e só queria poder dar um soco nele e sair correndo.

 Sua covarde.

–S-sim? – desviei o olhar, na esperança de que isso desviasse o assunto que eu sabia que viria.

–Nós vamos fingir que... – ele engoliu em seco – Nunca fizemos aquilo? Vamos fingir que aquilo nunca aconteceu?

–Hugo... – respirei fundo antes de falar, me controlando ao máximo para não encarnar o tomate – O que aconteceu ontem à noite?