Monossacarídeo escrita por Ciborgue Folks


Capítulo 2
A Garota de Rosa




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AAAAAH, QUE TÉDIO!

Cadê aquela porra do Mello que não morre logo? Eu já liguei umas quinhentas vezes pro disc 666 e adivinhem só? A alma dele nem tá na lista ainda!

Ainda bem que amanhã é dia de Ação de Graças no céu. Agora eu não sei se peço para me trazerem uns cigarros ou para quitar minha dívida com a Embratel.

Eu JURO que não sabia que o Inferno era interurbano.




10 de abril de 2004 – duas horas após o incidente

– Epilepsia fotossensível.

Foi o que a Linda respondeu quando perguntamos o que havia acontecido no salão.

Ela foi a única pessoa – fora a Emma – que deixaram entrar na enfermaria. Deve ser porque ela é o único ser humano que consegue falar alguma coisa com o Near e ser respondida por ele (isso restringe comentários, sarcasmo e essas coisas que o nanico costuma fazer). E a Emma... Bem... A Emma entrou de penetra.

– O que é isso? Um sanduíche? – perguntei.

– É só uma crise temporária por causa da exposição brusca à luz.

– E ele falou que estava bem? – Sophia perguntou.

– Ele não disse uma palavra quando nós entramos lá, mas provavelmente está. Me disseram que ele vai continuar na enfermaria por um tempo, até eles confirmarem todos os exames padrões.

– Aí gente! Alguém viu o Mello?

Ele havia sumido com os meninos do futebol desde que o Near baixou a Vera Verão; e daí eu tive que fazer a francesa.

– Ele me pediu um protetor solar faz uns vinte minutos. Deve ter ido para a quadra de esportes. – respondeu a retardada da Emma.

Tá gente. Eu devo explicações por não gostar da Emma Parkins. Antes de começar, me respondam alguma coisa: em que lugar desse mundo, uma órfã pode se achar rica e maravilhosa? Ooi, NASA chamando! Quem foi que disse pra ela que só por que ela sai por aí com um vestido Rosa-Edward-Cullen e roubar água oxigenada da enfermaria para tingir o cabelo ela é a Paris Hilton da Wammy’s House?

E fala sério... Por que o Mello foi pedir o protetor dela? Eu tenho protetor, o monitor do corredor tem protetor, o tiozinho da cantina tem protetor, e por que diabos ele foi pedir o dela? Só por que o meu era roubado?

E ainda tem gente que me pergunta por que eu não gosto desse protótipo de Barbie.

– Eu vou procurar ele. Mandem um oi pro Near por mim.

Eu não sabia por onde começar a procurar o Mello, então eu pensei no lugar aonde os órfãos vão depois de passar protetor solar: o jardim; mas como ele não chegava nem perto de ser normal, eu fui procurá-lo no telhado mesmo.

Essa é uma cena que eu jamais vou esquecer: eu subindo o último degrau da escada, Mello sob um sol de tipo, uns trinta graus, vermelho que nem o Hellboy, pensando em como roubar a vaca depois da morte da bezerra.

Daí eu caminhei até ele e sentei. Isso me até me lembraria àqueles filmes de drama ao pôr-do-sol, Titanic, Um amor de tesouro, se não fosse o meu traseiro fritando sobre as telhas. Naquele momento eu só conseguia pensar em como o Mello podia jogar Simon daquele jeito, como se estivesse sentado no sofá da sogra. Talvez ele tivesse passado protetor solar na bunda também.

– Eu tenho uma idéia melhor para você se suicidar: leite e manga. Morrer torrado demora demais.

– A Emma te contou que eu estava aqui?

– Você sabe que foi. Então por que não economiza a minha beleza e pergunta logo o que quer perguntar?

– Está bravo porque eu não pedi o protetor solar pra você.

– Não é bem isso que você quer saber.

– Está com ciúme de mim e da Emma. – ele e suas deduções extra-terrestriais.

– Perguntar não vai te matar. Continuar deduzindo essas coisas idiotas vai.

– Essa coisa de você não gostar da Emma... A gente tem que conversar sobre i...

– Ele teve epilepsia fotossensível. – disparei.

Mello se calou. Eu não sabia se era pelo diagnóstico do Near – que poderia lhe dar um problemão caso ele sofresse uma lesão cerebral – ou a minha vontade de causar uma lesão cerebral nele. Confio na primeira opção.

– A Linda falou que ele vai ficar na enfermaria...

– Se veio falar do Near poupe meu trabalho e se jogue daqui de cima logo.

– Ai Mello, você cansa minha beleza. – porque, convenha, eu sou lindo – O mínimo que você pode fazer depois de quase matar o menino é ouvir como ele está e chorar um pouquinho.

– Chorar?

– É! Se você quiser, posso até te arranjar um colírio.

– Eu não vou chorar! – resmungou – Estou feliz por ele ter se lascado pelo menos uma vez na vida.

– Ah é! Pessoas felizes adoram vir aqui em cima torrar a bunda no telhado. E, para a sua informação, se o Near abrir o bico e contar o que aconteceu quem vai ser o lascado aqui é você. Isso se a sua namoradinha não te entregar antes.

E um suspiro.

– Aqui. – ele me entregou o Simon – Leva pra ele por mim.

Sabe quando você vê uma coisa estranha? Tipo o seu tio vestido de mulher-gato no seu aniversário? Pois é, foi mais ou menos isso que eu senti quando Mello deu o Simon para eu entregar para, logo quem, o NEAR. Não era louco, não era super bizarro. Era eu quase reencarnando.

– Okay Mells. Pode mandar a mãe Dinah tirar a macumba do Simon, senão eu não entrego.

– Deixa de ser retardado Matt! Isso é só para eu ganhar tempo enquanto o Near fica intrigado demais, achando que eu estou armando alguma coisa, para me dedurar.

– Seu plano é perfeito, exceto por uma coisa: se eu achasse que alguém ia armar alguma pra cima de mim, aí que eu ia dedurar ele mesmo. É guerra!

– Não é guerra, é um jogo; e o Near vai jogar. – ele estava tão convicto que eu quase acreditei – Agora vai logo antes que o tempo de visita acabe.

Tá legal. Eu acreditei.

E lá fui eu, o quebra-galho Severino do Mello, para a enfermaria.

Quando lá cheguei... Credo! Que coisa mais Chapeuzinho Vermelho e Os Sete Anões.

Quando eu CHEGUEI LÁ, as garotas já haviam sumido para sabe-se lá aonde. Então, com essa cara de bom moço que só eu tenho, acabei entrando sem maiores alardes.

A enfermaria era uma sala bem grande com vinte camas rodeadas por uma cortina. Cada uma delas tinha uma mesinha “daquele jeito” (capengado, armengado, estrangalhado, caindo aos pedaços, como você preferir). Também havia um balcão, onde geralmente ficava uma enfermeira gostosa rodeada por umas duas ou três barangas. No final da sala havia um armário grande onde ficava todos os remédios, injeções, prontuários e essas coisas gays que eles usam para exame; era separado do resto por um vidro transparente que parecia plástico. Lá dentro sempre ficava a enfermeira Giddens com cara de ditador, meio resmungona, que girava na cadeira. Ela costumava ficar lá para vigiar a única cama que estava para o lado de dentro. Nessa cama ficavam os pacientes que estavam doentes demais para ficar com os outros na enfermaria, mas doentes de menos para serem transferidos para um hospital.

Felizmente, quando pedi informação para uma das enfermeiras, o Near estava do lado de fora da sala da Sra. Giddens.

Eu fui até a cama dele com o Simon na mão e abri a cortina.

Pausa.

Você já viu um cadáver embalsamado? Não? Então eu vos apresento Near doente = cadáver no congelador.

Pode parecer engraçado, mas eu fiquei realmente com muita peninha do bichinho. Sério mesmo! Ele não estava especificamente um bagaço, mas com aquela cara gatinho do Shrek, era impossível não xingar Mello mentalmente por fazer uma malvadeza daquelas.

– Hei amigo. – dei um sorrisinho amarelo – Você está bem?

Ele me olhou com uma cara tipo Saulo de Tarso quando voltou a enxergar, o que foi a coisa mais estranha da minha vida. Mas como alegria de pobre dura pouco, a saúde também durou. Sua pupila se contraiu assim como a sua garganta. Aí eu entrei em pânico total e comecei a gritar por ajuda. O Near se inclinou, agarrou a manga cumprida da minha blusa e quando tentou falar alguma coisa, foi interrompido por todo o sangue que ele conseguiu cuspir.

Eu sei, eu sei. Foi um lance meio Madre Tereza de Calcutá. Bizarríssimo.

As enfermeiras chegaram rápido e já foram me expulsando de perto da maca, puxando as cortinas. A Sra. Giddens saiu do “escritório particular” dela que nem Osama Bin Laden fugindo dos Estados Unidos. Resultado: eu tive que ficar uma hora esperando, sentado num banquinho do lado de fora da enfermaria até a minha bunda ficar quadrada.

E o Mello ainda diz que eu não sacrifico regalias por ele.

Depois das uma hora de vegetação, a própria Sra. Giddens foi me chamar do lado de fora.

– Ele pediu que você entrasse. Só tente não matá-lo dessa vez.

Claro! Mello teria essa cortesia quanto antes.

Quando eu entrei o Near já estava do lado da cadeira da Sra. Giddens, a um fio de receber uma passagem só de ida para o hospital. Ele me olhou com aquela cara de mês passado dele.

– Assustado? – ele perguntou.

– Ah não! Gente cuspindo sangue é praticamente parte da minha rotina.

Ele estava com aquele típico olhar de “sorriso melancólico”, mas não estava nem feliz nem triste. Pra falar a verdade, ele estava mais era me analisando – ou só querendo me comer com os olhos.

– O que você tem para mim?

– Bem, eu tenho um Simon. O Mello pediu que eu te desse.

Eu estendi até ele, e ele o pegou da minha mão. Foi justamente aí que eu notei uma marca de quando se leva uma dentada daquelas de arrancar o couro no braço, e parecia ter sido recente.

– Fale pro Mello que não precisa tentar me intrigar. Eu não vou entregar ele.

– E pode me dizer por que faria isso?

Near me encarou como se quisesse sugar todos os meus órgãos. Ele olhou para um lado, olhou para o outro, como se faz aquele povo fofoqueiro que quer que a gente guarde segredo mesmo sabendo que não vamos guardar – ou pelo menos eu. E daí ele disse beeeeeeeeeeeeeem lentamente:

– Porque... A garota de rosa me pediu.

E, pela recém-formada cicatriz, não pediu com gentileza.



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Notas finais do capítulo

Todo mundo pode ir preparando a bazuca pra atirar em quem fez isso com o pobre do Near u.u9
Ou podem atirar em mim que estou usando todo o meu sadismo para escrever de madrugada e não render textos tão bons como deveriam.
Oooou... Podem deixar um review =D
Críticas, elogios, mandatos de prisão?
Ah! Pra quem não sabe, Simon é aquele jogo da memoria que você tem que ficar repetindo a sequencia de cores - eu sei, foi resgate do tempo.



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