Código Zero escrita por Rhyca Corporation


Capítulo 27
Capítulo 26 – Ninho dos Ratos




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Rainha de Copas continuava a emanar uma aura tão carregada de maldade e ira, que alguns pilares mais frágeis daquela velha construção começaram a ceder, deixando que fios da luz do sol entrassem pelas frestas recém-formadas.

   Smelpus exibia um brilho violeta enquanto continuava a atacar com seus incessantes jorros de ácido. A quantidade daquele líquido começou aumentando e escorria por todo o corpo da criatura, mas isso parecia não afetá-la e depois de um tempo lançando isso, o monstro começou a se mover.

   Bruce ficou espantado com a velocidade da lesma, que o seguia de perto. No lugar por onde ela passava, ficavam buracos profundos causados pela gosma que escorria de das bolhas que haviam em seu corpo. A criatura o alcançou rapidamente e o encurralou, fazendo uma espécie de círculo com o próprio corpo. Mal o círculo havia sido formado, ela lançou um jato daquele ácido sobre o assistente.

   Enquanto isso, vários andares abaixo, eu finalmente aterrissava. Eu havia ido parar em um lugar estreito, parecido com um corredor, o chão e as paredes feitos de pedra. A iluminação ficava a cargo de tochas, dispostas a intervalos regulares na parede. Também haviam várias celas, o que só podia significar uma coisa...

 - Não acredito! Eu caí direto no nível da prisão! Será que a deusa da sorte finalmente resolveu sorrir pra mim?

   Andei um pouco, já procurando por Blover, mas estranhamente só encontrava celas vazias. Alem disso, aquele "corredor" dava voltas e mais voltas, como se fosse um labirinto. Estava começando a achar que tinha ido parar no lugar errado quando ouvi alguém me chamar de uma das celas que eu achava estarem vazias:

 - Ei garoto... Você claramente não é daqui. O que está procurando?

   Era um homem já idoso, mas que me parecia estranhamente familiar... Estudei seu rosto por alguns instantes e então me lembrei:

 - Você é Drake Roger não é? O homem conhecido por ter treinado quase todos os generais da Ordem?

 - Ooh, então você me conhece? Estranho, não lembro de já ter te visto antes, será que a idade está afetando minha memória? - Ele falou, com uma expressão pensativa.

 - Nunca nos encontramos antes, mas eu já li sobre você. O senhor está em um monte de livros.

 - É mesmo? Bem, fico feliz de saber disso, mas você ainda não respondeu minha pergunta...

 - Estou procurando o general Blover. Vim com outras quatro pessoas para resgatá-lo, mas fomos separados por Mammon... Sabe dizer onde é a cela dele?

 - Então finalmente descobriram que o garoto Richie está vivo hein? Escute garoto, me tire daqui, e eu o levo até Blover. Ele costumava ficar na cela ao lado, mas o transferiram depois de perceberem que nós éramos conhecidos. Ele agora está no centro da prisão.

 - No... Centro?

 - Está área foi construída em espiral, o centro reservado aos prisioneiros mais perigosos. Normalmente é muito difícil chegar lá, mas já que você acabou com os carcereiros...

 - Opa, opa, espera aí. Que carcereiros?

 - O quê?! Quer dizer que você chegou aqui sem passar por eles?

   Mal Drake Roger terminou de falar, eu escutei um barulho estranho, e senti uma terrível aura assassina. Eu devia ter percebido que era sorte demais...

 - Rápido garoto, se esconda enquanto ainda há tempo. – Disse o senhor. – Você não vai querer encontrar com o Hotstriker. Ele é terrivelmente assustador.

   Eu já estava correndo quando aquele nome me fez parar. Eu tinha que me encontrar justamente com o BARON que quase me matou em FrozenShot. Aflito, me virei para o Drake Roger e falei:

 - Volto assim que eu puder para tirar o senhor daí.

   O senhor ficou me olhando enquanto eu corria para o centro da prisão.

   Minha vontade era de mostrar aquele BARON o quanto eu tinha melhorado desde o nosso ultimo encontro, mas o momento não era oportuno. Quanto mais batalhas eu evitasse, melhor seria para mim, afinal, eu não se sabia com quantas pessoas eu teria que lutar para poder sair dali.

   Depois de algum tempo, cheguei á uma porta de ferro que bloqueava o caminho. Provavelmente, era ali onde os presos mais perigosos ficavam e onde o General Blover estava encarcerado.

   Dei um jeito de quebrar o cadeado que trancava a porta e entrei o mais rápido que pude. Do outro lado havia um corredor muito mal-iluminado com pouquíssimas tochas dispostas irregularmente. Tentei espiar pela fresta da porta para ver quem estava vindo e me surpreendi.

   Hotstriker estava na frente de um grupo de homens fardados que vinham em direção ás celas centrais. Eram, pelo menos, seis homens, sem contar com o pequeno BARON que os guiava. Parecia que a deusa da sorte não pretendia dar o braço a torcer e tornava tudo pior do que já estava.

   Enquanto isso, a situação na arena de jogos não melhorava para o lado do pobre assistente que tinha sido coberto por uma cortina de ácido. As crianças estavam comemorando sua morte quando uma explosão surgiu no meio do círculo que a lesma havia formado. Aquela gosma voou em várias direções numa chuva muito fina e perigosa.

 - Vão ter que tentar mais do que isso se quiserem me vencer. – Disse Bruce ainda coberto por uma fina nuvem de fumaça.

   Os pequenos pararam e o fitaram até que a fumaça passasse e, logo depois, abriram um grande sorriso. Bruce estava com queimaduras por todo o corpo e respirava com dificuldade.

 - Fico feliz que você esteja inteiro. – Falou o Pierrot. – Assim vai sobrar sangue pra eu chorar.

 - Por mim, ele teria sido derretido completamente. – A bailarina falou desdenhando.

   Ainda ofegante, o assistente esbravejou:

 - Peço perdão aos seus pais, sejam eles vivos ou mortos, mas eu vou bater em vocês até que suas roupas fiquem limpas! Kazumi War!

   Diversas luzes explosivas apareceram ao redor do assistente enquanto ele girava. As bombas acertaram o monstro asqueroso e o partiram em vários pedaços ao explodir. Mais daquele ácido voou sem direção e acertou Bruce de todos os lados, fazendo com que ele caísse de joelhos no chão.

 - Você mal consegue ficar em pé, grandão malvado. Caia logo de uma vez para que eu possa arrancar sua cabeça fora! – Disse a Rainha de Copas envolta de fúria.

   Porém, o assistente não respondeu e, fazendo um esforço tremendo, pôs-se de pé novamente. Ele cambaleava, mas continuava indo firme na direção dos pestinhas que recuavam temerosos. A Rainha de Copas não suportou estar sendo pressionada e partiu para cima do assistente. Ao chegar perto dele, ela levou um tapa no rosto com as costas da mão e caiu inconsciente no chão. O palhacinho, ao ver sua irmã caída, também avançou sobre o oponente que lhe deu um soco. O garoto também foi ao chão, desacordado.

   Bruce continuou caminhando com a cabeça baixa até a porta de saída do picadeiro. Suas feridas exibiam uma coloração vermelha que não deixava dúvidas do quanto estavam doendo.

 - Da próxima vez, cresçam antes de desafiar alguém que vocês nem sabem a habilidade direito... Amadores...

   Enquanto Bruce acabava sua luta, eu estava me esforçando para me esconder. Tinha usado minhas cartas para ficar imperceptível, como fiz no desafio de 24 horas, mas ainda estava correndo riscos. Caso alguém esbarrasse em mim o encanto seria desfeito. E para piorar minha situação, o corredor era absurdamente estreito, ou seja, era quase impossível evitar contato físico.

   Pelo que eu pude perceber, não era comum tantos oficiais aparecerem naquela área, ainda mais acompanhados de um BARON. Os poucos prisioneiros que se encontravam visíveis, olhavam curiosos e um pouco desconfiados aquela pequena delegação que passava, se dirigindo cada vez mais ao centro do presídio.

   Eu os segui, e vi que o destino deles era justamente a cela 7. Pude ver Blover, e fiquei chocado com a sua aparência, que não lembrava em nada a descrição que haviam me dado. Ele estava muito magro, os cabelos louros muito compridos e sujos, bastante desgrenhados também. Além disso, ele estava muito machucado, o corpo coberto de escoriações e hematomas. Hotstriker falou alguma coisa com ele que eu não pude ouvir, e vi uma centelha brilhar nos olhos antes sem vida do general.

   E então, para o meu absoluto desespero, os seis oficiais e o BARON se postaram em frente a cela, claramente em guarda. Eu podia apostar que isso era coisa de Mammon, ela devia saber muito bem o que nós estávamos buscando no território dela.

   Não me restava mais nada a fazer a não ser lutar. Quanto tempo eu já havia perdido naquele lugar? O Hoshitake foi junto com a gente nessa missão para que tudo ocorresse de forma rápida e discreta, mas tivemos o desprazer de nos encontrar com o príncipe reinante assim que entramos. Era muita falta de sorte mesmo. Eu estava começando a achar que meu azar não estava afetando só a mim, mas todos ao meu redor.

   Aproveitei que o efeito do Joker ainda estava ativo e despejei meu baralho no chão, procurando pela carta de ouros. Não demorou até que eu encontrasse e pusesse meu plano em prática.

   Avancei sobre os homens que estavam junto com o BARON e os aprisionei, deixando apenas o pequeno Hotstriker de fora, para termos um acerto de contas.

   O BARON olhou surpreso para trás e, quando todos os seus capangas foram aprisionados, eu me revelei com uma porção de carta nas mãos.

 - Você! – Disse o pequeno oponente. – Você é o novato, Shion Walker. Aquele que estava em FrozenShot e que não conseguiu fazer nada contra mim. – Ele riu maldosamente.

 - De fato. – Revidei. – Mas estou aqui para provar o contrário. E não pretendo pegar leve.

   O inimigo riu me ridicularizando enquanto falava:

 - Você... Hahahaha... Você não está pensando que... Hahaha... Pode me derrotar, não é?

 - Bem, não pretendo ser derrotado por criança alguma. – Respondi provocando.

 - Criança? Que criança?

   O BARON fez uma expressão de dúvida, que deixou claro que ele não havia entendido a provocação. Aquele oponente podia ter força, mas, sem dúvida, lhe faltava um cérebro. E essa era minha vantagem. Tentei esclarecer a provocação para que meu plano pudesse funcionar:

 - Ah, achei que por você ser ridiculamente pequeno, seria uma criança. Que ingenuidade a minha...

 - O QUÊ?! Não vá provocar o mais forte dos BARONS se quiser viver. Fico mais forte cada vez que minha raiva aumenta! E você não é páreo para mim!

   Quer dizer que a força dele aumenta de acordo com a raiva? Parecia que a sorte havia tirado férias de mim e não pretendia voltar tão cedo. Sem dizer mais nada, atirei um Três de Paus num dos braços do Hotstriker e, quando ele tentou se defender, a carta atravessou seu braço e o congelou de dentro pra fora, dos dedos até o cotovelo.

 - O que foi isso? Tenho certeza de que você não usou aquela habilidade que fere internamente! Que técnica você usou?! – Hotstriker perguntou exaltado.

 - Pair (Par, em inglês). – Respondi com uma expressão de vitória. - É uma habilidade que me permite lançar duas cartas de valores iguais, como se fosse uma. Você deve te visto somente o Três de Paus, mas junto com ele, eu mandei mais um Três de Copas. Como eu sei que gelo é a sua fraqueza, tenha certeza de que todos os meus ataques serão desse elemento.

 - Idiota! – Esbravejou o pequeno oponente. – Não foi só você que melhorou nesses últimos seis meses. Prepare-se para a ira do BARON de pedra! Vou te mostrar o quanto melhorei, novato.

   O braço congelado do Hotstriker o causou pequenos danos e o gelo se quebrou, levando junto com ele, pedaços superficiais da armadura de pedra que o inimigo “vestia”. Ele agitou o braço no ar para remover o restante do gelo e começou a se alongar, retirando a tensão dos músculos do pescoço.

   Nesse meio tempo, atirei mais três cartas para impedi-lo de completar seu exercício. As duas primeiras ricochetearam ao tocar na armadura, enquanto a terceira conseguiu acerta-lo na perna esquerda, fazendo com que o oponente levasse uma das mãos até o ferimento causado. Por eu ter atirado sem olhar, deduzi que a carta que o acertou era do naipe de copas, pois não havia ferimento externo.

   O BARON levantou a vista e me fitou por alguns segundos. Embora ele não tivesse dito nada, pude perceber que se tratava de uma ameaça, onde ele já estava me matando mentalmente. Mas agora já era tarde demais para eu fugir. Me deixei levar pelos meus instintos e agora eu estava numa situação em que não se sabia como iria terminar.

   Hotstriker estendeu uma das mãos para frente e invocou seu machado de pedra. Aquela arma parecia estar diferente da primeira vez que eu tinha visto. Embora ambos os lados tivessem lâmina, o machado não se resumia somente a isso. Tinha também um cabo mais curto que o anterior e uma espécie de faca pequena na ponta mais perto das lâminas.

   Depois que parei de analisar aquela arma e seu dano devastador, pude perceber que o inimigo havia invocado outra na mão desocupada, ou seja, se tratavam de dois machados pequenos, feitos justamente para lançamentos. Eu estava com sérios problemas, mas mesmo assim, não pensei em fugir. Todos estavam dando seu melhor para vencer cada uma das lutas que provavelmente estavam acontecendo e eu não podia falhar.

   Puxei mais dez cartas e coloquei cinco em cada mão. E então, ambos avançamos ao ataque.

   O inimigo lançou um dos machados em minha direção, mas não foi difícil desviar. Continuei avançando e lancei mais duas cartas: um Seis de Paus e um Nove de Espadas. Aumentei a potencia do ataque de Paus com o naipe de Espadas e lancei várias flechas geladas de nível 15. As setas de gelo atingiram o BARON como uma metralhadora, congelando pequenas áreas com o contato e perfurando outras.

   O pequeno Hotstriker lançou o segundo machado que passou bem perto de mim, mas ainda assim, não me atingiu. Aproveitei que ele estava desarmado para usar uma combinação mais ousada. Peguei os dois Reis Negros e lancei usando a habilidade Pair, que totalizaria em 26 o nível do dano. O manipulador de pedras sorriu levemente quando as cartas chegaram junto dele.

   De repente, um dos machados me acertou em cheio no ombro direito, abrindo um ferimento profundo e me jogando no chão.

   Eu não sabia o que tinha acontecido ali, mas sem dúvida, o golpe tinha vindo de trás. O BARON tratou de explicar antes mesmo que eu começasse a especular o que havia acontecido:

 - Adoro essa cara de dúvida das minhas vítimas quando são atingidas por esse golpe. Adoro ainda mais quando mostro que sou superior á esses gatos que invadem um lugar cheio de cachorros. Não sei se ainda se lembra, mas eu posso controlar as pedras e esse machado está incluso nessa regra. Como eu tinha dito: “Não foi só você que melhorou nesses últimos seis meses”.

   Algo pesado caiu a minha frente e, ao levantar a vista, pude ver um dos machados de pedra congelado num imenso cristal. Presumi que o Hotstriker havia usado aquilo como um escudo para meu ultimo ataque. Ele podia não ser muito inteligente com diálogos, mas era muito esperto em batalhas.

   Enquanto isso, Bruce, Hoshitake e Kazumi se dirigiam às prisões, embora tivessem tomado caminhos diferentes. Já Alexis aterrissava num novo lugar. Resgatar o General Blover não seria tão rápido e sorrateiro como havíamos planejado.

   Aquele lugar era terrível. Estava imundo e quase que totalmente escuro, com um espesso tapete de poeira no chão. Por todo lado se viam marionetes e manequins, a maioria dele quebrados. Era como se ali tivesse sido um dia o backstage de um grande show. Shishou andava por ali um pouco temeroso, sem saber o que poderia aparecer.

   Enquanto ele explorava o local, algo se mexia sorrateiramente. Quando meu mestre se virou para ver o que era, os movimentos pareceram cessar. A princípio nada de diferente foi notado, mas depois shishou percebeu que uma das marionetes estava em um lugar diferente de antes.

   Antes que pudesse esboçar uma reação, Alexis foi atacado. Ele conseguiu defender a tempo, e ficou muito surpreso quando viu que o ataque tinha vindo de uma marionete.


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