Código Zero escrita por Rhyca Corporation


Capítulo 28
Capítulo 27 – Teatro Decadente




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Shishou estava chegando pelos céus á um lugar imenso com um telhado de madeira velha. Depois disso, ele foi arremessado para dentro daquela construção pelo teto. Nem preciso dizer que não foi uma descida suave. Porém Alexis não sentiu nenhum dano por causa do seu corpo feito de água que amorteceu o impacto. Só depois de reclamar sozinho do modo como Mammon havia tratado ele, foi que shishou se deu conta de onde havia se metido.

   Aquele lugar era terrível. Estava imundo e quase que totalmente escuro, com um espesso tapete de poeira no chão. Por todo lado se viam marionetes e manequins, a maioria dele quebrados. Era como se ali tivesse sido um dia o backstage de um grande show. Shishou andava por ali um pouco temeroso, sem saber o que poderia aparecer.

   Enquanto ele explorava o local, algo se mexia sorrateiramente. Quando meu mestre se virou para ver o que era, os movimentos pareceram cessar. A princípio nada de diferente foi notado, mas depois shishou percebeu que uma das marionetes estava em um lugar diferente de antes.

   Antes que pudesse esboçar uma reação, Alexis foi atacado. Ele conseguiu defender a tempo, e ficou muito surpreso quando viu que o ataque tinha vindo de uma marionete. Rapidamente, aquele boneco mergulho no meio dos outros e desapareceu da vista do shishou.

   Não demorou muito até que os muitos manequins ali presentes cercassem o intruso num circulo fechado que não dava muitas opções para o invasor. Depois de algum tempo, todos os bonecos ficaram imóveis, o que assustava ainda mais o meu mestre, pois não era a mesma coisa de lutar com algo vivo. Lutando com pessoas de carne e osso lhe permite pegar o ritmo de cada ataque do inimigo, suas pretensões, bem como seu estado físico e vitalidade. E mais: não tinha como saber de onde o ataque viria.

 - Vai ficar se escondendo? – Disse Alexis. Sua voz ecoou por todo teatro, mas ninguém respondeu.

   E então, todas as marionetes avançaram no shishou, atacando-o com várias facadas na barriga.

   De volta á prisão central, eu estava enfrentado Hotstriker até ser atingido por um de seus machados de pedra. Com um pouco de esforço, me coloquei de pé novamente e lancei uma cara em sua direção. O BARON tentou ataca-la com um dos machados, porém aquilo não passava de uma armadilha. A carta lançada era do naipe de Ouros e continha outras cinco cartas dentro dela.

   Liberei os cinco projéteis de dentro do naipe de ouros e aprisionei o machado do oponente. As cinco cartas o acertaram em cheio e explodiram num forte e condensado tufão, com afiadas lâminas de vento.

   Enquanto aquela combinação o atacava, tratei de explicar meu novo golpe:

 - Isto se chama Fullhouse, minha nova habilidade. Consiste em formar um par e uma trinca, onde eu acumulo o nível das cartas de acordo com seus valores e lanço no oponente. Este golpe foi de nível 29, então acho que você não vai se mover por algum tempo. Como você mesmo disse: “Não foi só você que melhorou nesses últimos seis meses”.

   Terminei de fazer os primeiros socorros no meu ferimento e usei a bandana do disfarce como bandagem, afinal, não havia mais motivos de continuarmos disfarçados. Mammon já sabia que estávamos em seu território e, provavelmente, também já tinha tomado conhecimento do motivo que nos trazia até aqui. Por falar em ferimento, eu não fazia ideia de como meu braço ainda estava junto do corpo, devido á profundidade do corte. Estava claro que, para mim, outra luta poderia resultar em grandes danos.

   Continuei adentrando ás perigosas celas centrais a procura do General Blover, mas ao chegar ao portão que dividia as duas partes, me lembrei de algo que quase passou despercebido.

   Já no teatro decadente, a situação de shishou parecia estar sufocante. Dezenas de marionetes continuavam a pular em cima do pobre general que já não podia mais ser visto do lado de fora da montanha de bonecos. De repente, alguém surgiu em meio às cadeiras da plateia. O homem parecia ter sido empurrado e foi rolando até chegar perto do palco. Uma bolha d’água se formou atrás do homem e, aos poucos, tomou a forma humana.

   Era Alexis.

 - Parece que sua falta de coragem não o deixa lutar na linha de frente, não é? – Falou shishou.

 - P-por favor, n-não me machuque. – O homem falou deitado no chão e com as mãos na cabeça. – C-como eu vim p-parar aqui?

 - Tive que dar uma “mãozinha” pra que você aparecesse. Isso poderia ser um problema para mim. Usei as cordas das marionetes para chegar até você. Tomei a forma líquida e me dispersei pelas linhas e, ao te achar, tratei de puxa-lo para fora.

 - E-eu já disse, n-não me machuque. Eu imploro.

 - Não é estranho isso? – Disse Alexis enquanto fazia uma expressão de dúvida, brincando claramente com o “inimigo”. – Você me atacou com seus bonecos, não foi? Aquilo pareceu bem perigoso. – Shishou mudou a expressão para algo bem sério e voltou a falar. - Mas posso te garantir uma coisa: Sou muito mais perigoso do que você pode imaginar.

 - S-sim, eu sei. – Aquele rapaz falou, dessa vez, com os olhos marejados em lágrimas. – Mas não tenho escolha a não ser te matar. Tenho que fazer tudo que Mammon manda. Minha mulher corre risco de vida!

   Olhando melhor aquele homem, dava pra perceber que ele tinha cerca de 40 anos, por conta dos leves fios grisalhos dispostos irregularmente. Tinha uma feição cansada e roupas muito maltrapilhas. Também tinha um tamanho médio e era muito magro.

 - Hm... Como você se chama? – Shishou perguntou um pouco menos assustador.

 - Hector... Hector Kaoru. Me desculpe, mas tenho que te matar logo, antes que Mammon chegue. Não posso perder meu tempo falando com...

 - É, acho que fui com a sua cara... Vou te ajudar contra Mammon. – Respondeu meu mestre enquanto olhava para a parede. Seu corpo estava ali, mas seus pensamentos estavam bem longe.

 - Não, você não pode! Não é forte o bastante contra ela. Mammon vai te matar antes que perceba. É loucura! – Gritou Hector desesperado.

   Shishou ficou calado durante um tempo, provavelmente arquitetando algo. Depois, virou-se para o Hector e o chamou. O homem se aproximou e falou:

 - Faz cerca de um ano que sou escravo de Mammon. Já tentei falar com outras pessoas para organizar uma rebelião, mas ela matou todos. Consegui fugir por um milagre. Acho até que ela não sabe que eu participei. Outra vez, eu falei com um homem que veio até este teatro, para que ele derrotasse a tirana. Ele parecia forte e, por um momento, vi que havia chances de derrotar aquela mulher. No dia seguinte, a cabeça dele foi pendurada no muro que ficava ao redor de suas dependências.

   Alexis fez sinal para que ele se calasse e continuou andando. Depois disso, meu mestre fez sinal para que Hector o seguisse. Entretanto, o rapaz se negou e continuou falando:

 - Não. Não posso me rebelar contra Mammon. Ela vai acabar comigo e com minha mulher. Não posso me rebelar!

   Shishou parou na soleira da porta e falou por cima do ombro:

 - Se você não tem coragem para lutar pelo que quer, mesmo que morra, não vale a pena salva-lo. – E então ele voltou a andar.

   Hector ficou parado por um momento e começou a chorar enquanto balbuciava palavras de agradecimento, que não foram ouvidas pelo shishou. Não demorou muito até que ele pegasse duas marionetes e fosse atrás de Alexis. Os dois andaram durante muito tempo, em silêncio absoluto, até que o homem das marionetes estranhou o percurso. Eles andavam muito, mas pareciam não chegar há lugar nenhum.

   De repente Hector, que andava atrás de shishou, parou de andar e colocou uma das marionetes no chão. Alexis pareceu não perceber e continuou andando até ser atacado pela marionete, que lhe desferiu um corte na altura do abdômen.

   Meu mestre se desfez na forma liquida e, pouco depois, todo o lugar começou a desmanchar, se distorcendo e sendo preenchido por uma escuridão sem dimensões.

   E então, o Hector acordou.

   Ele estava parado - ainda no teatro – quando abriu os olhos. Não se sabia quando, mas shishou o havia colocado numa de suas ilusões em algum momento, prevendo os passos do inimigo. O velho homem olhou ao redor, com medo de ter “dormido” demais, mas sossegou ao ver que Alexis ainda estava lá. Sentado com as pernas cruzadas e exibindo uma aparência de lorde inglês, shishou olhava fixamente para aquele homem.

   O senhor Schiffer deu uma leve balançada na taça que segurava, fazendo com que o líquido rubro que estava em seu interior desse pequenas voltas até parar novamente.

 - Achei esse vinho perto de um dos camarins. – Alexis falou logo depois de dar um gole na bebida. - A garrafa estava bastante empoeirada, então, presumi que era um vinho muito antigo e que não poderia se perder num lugar desses.

 - O quê foi que aconteceu? – Hector perguntou ainda cauteloso. – Porque eu estava sonhando acordado logo depois de ter falado com você?

   O senhor Schiffer apressou-se e bebeu o resto do vinho num gole só, sem nem pestanejar. Depois disso, ele falou:

 - Vou ser bem breve, pois não vim aqui para brincar: Você tentou me matar e isso é tudo.

   O manipulador de marionetes fez uma expressão assustada e depois mudou para algo neutro.

 - Por que não me diz o nome da sua esposa? – Alexis perguntou mantendo uma classe nunca vista antes. No entanto, o velho homem permaneceu em silêncio. – Isso mesmo. Você não é casado e nunca foi. Não passa de um BARON sem nível, um capacho de Mammon.

 - Okay, você me pegou. – Falou o homem com uma cara despreocupada, dando de ombros. – Como conseguiu descobrir que era mentira? Bem, eu já faço isso há anos e nunca fui pego. Até agora.

   Shishou olhou fixamente para o dono das marionetes e soltou um suspiro.

 - Hector, Hector... Você teve o pior oponente que poderia imaginar. Não pode me vencer com uma mentira tão mal contada como essa. – Nesse momento, Hector fez uma expressão clara de dúvida. – Ninguém conhece mais de mentiras do que eu! Eu minto pra fugir do trabalho, pra beber, pra ganhar em algum jogo, pra escapar das incessantes cobranças da Hilda... Enfim, eu cresci assim! – Alexis começou a rir alto, perdendo todo aquele ar de lorde.

 - Bem, se não posso fazer da forma mais sutil, vamos lutar. E que vença o melhor. – Disse Hector, dando de ombros novamente.

 - Antes de começarmos, me responda uma coisa: Se este teatro tem um responsável, porque ele está em ruínas? Antes de achar esse vinho, vi muita coisa por aqui. Ora tudo estava empoeirado, ora com vazamentos que inundavam tudo. Eu sabia que Mammon era mão-de-vaca, mas não sabia que era tanto, hein.

 - Se isso foi algum tipo de provocação, não fez efeito. – Falou Hector completamente despreocupado. – Não sou o responsável por esse lugar. Minha missão é matar as pessoas que Mammon manda para cá, só isso. Você não passa de mais um trabalho para mim. Vou terminar com isso e aproveitar o resto do vinho, se é que você não o bebeu todo.

 - Não se preocupe, ainda tem bastante. Vamos acabar logo com isso. – Shishou respondeu com um estranho sorriso no rosto.

   O manipulador de marionetes colocou um boneco de pé e rapidamente já o estava controlando. Alexis, por outro lado, continuava sentado. A única coisa que tinha feito foi afastar a garrafa de vinho para que ela não fosse envolvida na luta.

   Hector avançou no oponente junto com a marionete. Era algo incomum ver um manipulador de bonecos lutando junto com marionete na linha de frente. Mesmo assim, parecia ser algo normal para o senhor Kaoru, que parecia estar dançando em perfeita sincronia. Ainda sentado, Alexis lançava vários jatos de água em alta pressão no oponente, porém nenhum dos jatos tocou os “dois” inimigos. Não demoraram nisso até Hector puxar uma segunda marionete atrás do shishou. Antes mesmo que meu mestre pudesse virar, recebeu um golpe de lamina na cabeça.

   Como o esperado, o senhor Schiffer se “materializou” em outro lugar, suspirando ao final do processo.

 - Mas que coisa feia. – Alexis falou fazendo biquinho. - Atacando o oponente pelas costas. Se eu não fosse feito de água, nem sei o que seria de mim...

 - Me desculpe. – Respondeu o valho homem. – Mas em momento nenhum colocamos regras nessa luta. Peço para que tenha mais cuidado, pois poderá perder a cabeça.

 - Sim, sim. Não se preocupe comigo. – Shishou respondeu com um sorriso inocente no rosto.

   Hector começou a rir baixinho, mas não conseguiu se controlar e estava rindo alto, causando ecos no teatro.

 - O que foi? – Shishou perguntou.

 - Não está sentindo nada estranho? – O senhor Hector devolveu outra pergunta. – Como, por exemplo, uma sonolência, vista embaçada, tontura e coisas do tipo.

 - A-agora que você falou... – Alexis não conseguiu completar a frase e caiu de joelhos, apoiando uma das mãos no chão e a outra na cabeça.

 - Temos um imenso banco de dados com quase tudo da vida de vocês. Sabemos suas habilidades, personalidades e até mesmo o número das suas roupas! Nesse ultimo golpe que você recebeu, tinha um sonífero fortíssimo na lamina. Como eu sabia que você não ia desviar, ficou fácil de te derrotar.

   Shishou ficou apenas olhando para o manipulador de bonecos enquanto fazia um esforço inútil para ainda continuar acordado. Rapidamente, ele foi ao chão e se desfez na forma líquida.

   Hector prosseguiu até a garrafa de vinho e, ao tentar pegá-la, percebeu um ataque vindo das costas e se esquivou a tempo, levando consigo a garrafa. Quando o senhor Kaoru virou, pode ver Alexis saindo de trás de uma das cortinas do palco. Instintivamente, o titereiro olhou para o lugar onde havia derrotado shishou e viu que o chão ainda estava molhado como antes.

 - Você me pegou novamente. – Falou o velho homem. – Como fez isso? Tenho certeza de que não foi uma ilusão.

 - De fato. – Meu mestre respondeu. – Aquilo que você derrotou era um clone meu. Não me arriscaria a lutar de cara com alguém que é mais falso que silicone (Não que eu não goste).

 - Que feio da sua parte usar um clone pra lutar contra mim...

 - Me desculpe. – Revidou shishou. - Mas em momento nenhum colocamos regras nessa luta. Peço para que tenha mais cuidado, pois poderá perder a cabeça.

   O titereiro franziu a testa sem entender o motivo da ultima frase, mas não demorou até decifrar e abaixar a cabeça a tempo de não perde-la. Alexis estava controlando a água que usou para criar o clone e investia com ataques que trariam sérios danos a quem recebesse. Com isso, os dois adentraram aos velhos camarins, como gato e rato.

   Junto com Hector, haviam mais duas marionetes que foram destruídas para defende-lo enquanto fugia camarim adentro. O manipulador de bonecos continuou fugindo de ataques que passavam muito perto dele e meu mestre o seguia de perto, mas o local tinha tanto entulho pelo caminho que dificultava para ambas as partes.

   Ao chegar num corredor bloqueado, Hector virou-se de frente para o caminho que veio e esperou por Alexis que não demorou a chegar.

 - Parece que é o fim da linha, Hector. – Disse Alexis


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