Código Zero escrita por Rhyca Corporation


Capítulo 26
Capítulo 25 - Arena de Jogos




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   Kazumi olhava tudo atentamente, quase filmando só com os olhos. O abdômen do Hoshitake exibia um brilho azulado no local onde a pena havia atingido anteriormente e continuou emitindo aquela luz até que o ferimento fosse curado.

 - O-o quê está fazendo, assistente? – Perguntou a inimiga.

 - Estou curando seu veneno, não está vendo?

 - Desde quando descobriu que era um veneno?

 - Desde agora. Eu não tinha certeza do que era, mas sabia que tinha algo nessa pena que me atingiu, porque tudo aquilo que eu vi não passavam de alucinações, ilusões sem nível algum. Sabendo disso, eu tinha que descobrir que tipo de substância eu havia sido infectado para poder me curar adequadamente. E você me forneceu isso muito facilmente.

   A mulher-coruja descontrolou-se e investiu contra o assistente que já esperava por aquela reação. O espião girou a foice no alto e a cravou no chão de pedra daquele local. Imediatamente depois disso, ele gritou o nome do golpe que usaria em breve:

 - Tormenta das almas!

   O chão começou a tremer e rachar em certas partes, assustando Havenna.

 - O que é isso? – Perguntou a coruja. – O que um humano sujo como você está tentando fazer?

   O espião sequer respondeu e deu continuidade ao seu ataque. Uma luz de cor semelhante ao que ele havia usado para se curar começou a sair por entre as rachaduras, cercando a mulher-coruja. Num piscar de olhos, todo chão ao redor da oponente que estava com a coloração azul se tornou um grande tornado de almas que envolveu a inimiga.

   Kazumi estava boquiaberto assistindo aquele ataque. Era algo realmente poderoso e que, sem dúvida alguma, traria grandes danos à oponente.

   O poço tremeu com os ventos que saiam daquele grande tornado e, certas partes que constituíam a parede daquele lugar começaram a desabar. O encantador de bombas gritava cada vez que alguma delas passava perto deles e Hoshitake, como sempre, estava perdendo a paciência com aquele companheiro indesejado.

   A tormenta das almas se dispersou e Havenna caiu com tudo no chão. Ela tremia freneticamente e estava com os olhos esbugalhados. Num ultimo esforço, a mulher-coruja falou cheia de orgulho próprio:

 - Sou Havenna, o BARON do poço do desespero! Não posso ser derrotada porque seus piores medos veem pela noite! O medo é minha espada e o desespero... O desespero é a minha razão de viver...

   Logo depois, o BARON de despedaçou, deixando somente um grande monte de areia.

 - Agora vamos arrumar um jeito de sairmos daqui. – O assistente falou olhando para Kazumi que ainda estava abismado com o golpe que o espião utilizou.

 - Não... Acredito... No que vi agora a pouco! – Disse o manipulador de bombas. – Você tinha esse tipo de poder e não usou até agora, Falx?! Deveria ter usado desde que encontramos com ela!

 - Fica quieto! Essa não é uma habilidade que posso usar o tempo todo. Ela exige muito de mim e geralmente a uso como ultimo recurso. E também eu precisava testar aquela mulher e ver do que ela era capaz. Mas como eu estava dizendo anteriormente, vamos arrumar um jeito de sair daqui.

 - Hihihihihi... Falx vai ter que escalar tudo isso sozinho! – O fugitivo falou segurando o riso.

 - Se você falar mais alguma, eu juro que deixo sua pedra de projeção astral aqui e ninguém nunca vai encontra-lo!

   Enquanto Hoshitake e Kazumi enfrentavam seus medos no Poço do Desespero, Bruce se via sendo levado até uma das partes mais distantes do forte. O lugar para onde ele havia sido levado ficava no extremo sul do salão principal, muito distante de qualquer um dos colegas de missão.

   Era uma sala circular, muito ampla, parecida de certa forma com um picadeiro circense, já bem destruído pelo tempo. O chão estava coberto de poeira, e as paredes apresentavam um intrincado caminho de rachaduras. Ao que parecia, tudo naquele forte era reduzido a ruínas.

   Bruce estava olhando em volta, procurando uma forma de sair dali, quando teve a impressão de ver um vulto, seguido de um som que lembrava muito risadinhas infantis. Aquilo se repetiu por alguns minutos, até que o assistente ouviu claramente alguém lhe chamar:

 - Ei você, grandão do quatro.

 - Ei, ei, aqui em cima.

   Acima de Bruce, sentadas em uma reentrância da parede, haviam duas crianças. Uma menininha vestida de bailarina e um garotinho de palhaço. As crianças não pareciam ter mais de sete anos, e suas roupas estavam puídas e encardidas:

 - Estávamos esperando por você. Aqui é a Arena de Jogos, e eu sou o Pierrot, pronto para chorar sobre o sangue da sua derrota. - Disse o garotinho.

 - Sim, sim, a Arena de Jogos. Eu sou a Rainha de Copas, e vou cortar sua cabeça se jogar errado. - A menina completou.

 - Aqui é a Arena de Jogos, e pra escapar, você deve jogar com a gente e vencer! - Os dois disseram juntos, com um lampejo de crueldade nos rostinhos de criança.

   Bruce franziu a testa e se colocou em posição de batalha. Suas mãos espalmadas estavam firmes e atentas ao menor sinal de movimento.

 - Não se preocupe assistente, nós vamos explicar as regras dos jogos. – O pequeno palhaço falou.

 - Sim, sim, Vamos explicar tudinho. Espero que seja divertido. – Disse a Rainha de Copas seguido de uma risadinha.

   O assistente continuou em silêncio e simplesmente esperou pela explicação que as crianças dariam. Os pequeninos pularam para o picadeiro e se puseram a falar:

 - Nossos bichinhos de estimação estão com fome... – O garoto fez uma expressão triste.

 - ... E estamos sem dinheiro para comprar comida para eles. – Completou a garotinha.

 - Queremos que você dê um jeito neles! – Os dois disseram juntos novamente.

 - “Bichinhos de estimação?” Desculpe crianças, mas não posso brincar com vocês agora. Tenho uma coisa para fazer antes. – Bruce tentou argumentar.

 - Não! Nada disso! – Disse o menino. – Nós dizemos como o jogo funciona e você cumpre se quiser viver!

 - Não tem outro jeito de sair daqui se não jogar! – A pequena bailarina falou batendo o pé.

   Bruce recuou um pouco. Não estava em seus planos lutar contra duas crianças. Elas continuavam em frente a ele, esperando uma resposta. Enquanto isso, os dois deram as mãos e começaram a rodar, ao mesmo tempo que cantarolavam um versinho:

 - Tem que jogar, tem que jogar, tem que jogar.

 - Okay - O assistente falou - Eu cuido dos bichinhos de vocês.

 - Yeeeey! - As crianças comemoraram - Eles vão ficar muito felizes.

 - Eu tenho um gatinho, o Puffles. Ele tá solitário e com fominha - A Rainha de Copas disse.

 - E eu tenho um lagartinho, Ryuushi. Ele também quer comidinha e carinho.

 - Puffles e Ryuushi... Não me parece que serão um problema. – Disse Bruce. – Alias, acho até que vai ser bem rápido. Me digam, onde posso conseguir comida aqui?

   As duas crianças rolaram no chão de tanto rir. Já o grande assistente ficou confuso, esperando por uma explicação.

 - Seu bobinho, espere até encontrar com eles. – Disse a Rainha de Copas.

 - Eles vão adorar te conhecer! – Pierrot falou com um sorriso medonho.

   Os pequeninos deram as mãos e começaram a girar cantarolando em uníssono:

 - Vai ter que jogaaaar! Vai ter que jogaaaar! Um gato sozinho! Um lagarto sem carinho! Vão te devoraaaar!

   Nesse momento algo pareceu explodir no meio do giro deles, deixando uma fumaça colorida no ar. Quando ela foi dissipada, os dois bichinhos de estimação foram visto claramente e isso deixou Bruce um pouco temeroso.

   Ryuushi era imenso, com cerca de dois metros e se parecia muito com o lagarto dragão da Hidelgarde-sama, exceto pelas várias características que lembravam uma vaca. Tinha quatro patas, mas somente seus membros superiores se pareciam de fato com um ser escamoso. Todo o resto do seu corpo era coberto por um pelo branco com pintas pretas e uma barriga rosada. O focinho parecia ser uma mistura mais homogenia, onde não se sabia dizer ao certo qual parte era semelhante a uma vaca e qual parte não era. Havia também uma cauda verde coberta de escamas.

   Já Puffles não lembrava em nada um gatinho fofo. Era imenso, a aparência lembrando a de uma pantera, o pelo negro lustroso e os olhos amarelos faiscando. Era esquelético, dando para contar cada uma de suas costelas, e aqui e ali era possível enxergar cicatrizes, que formavam um sinuoso caminho através do pelo bem cuidado.

 - Eles não são fofinhos? - A pequena Rainha perguntou - Eu escovo o pelinho do Puffles todo dia, mas não tenho comidinha pra dar pra ele.

 - Eu também encho o Ryuushi de cuidadinhos, mas nunca tem nada pra acabar com a fominha dele. - Disse o Pierrot, fazendo um adorável biquinho.

 - A gente conta com você pra encher as barriguinhas deles, tio! - Os dois disseram juntos, enquanto davam as mãos e sorriam maldosamente.

   Os animais rugiram, e rapidamente se prepararam pra atacar. Eram claramente bem cuidados, mas também era claro que não recebiam muita comida. Provavelmente Mammon não estava interessada em gastar seu precioso dinheiro em comida para animais que nem eram dela. Ou talvez a comida preferida deles fosse bem específica. Algo como um alto e musculoso assistente.

 - Oh meu Deus... Acho que estou com um sério problema. - Bruce disse baixinho, percebendo que era hora do banquete, e que ele era o prato principal.

   Puffles foi o primeiro a atacar, pulando para cima de Bruce e tentando acertá-lo com suas poderosas garras. Pego de surpresa, o assistente só teve tempo de desviar, se jogando para o lado e caindo dolorosamente sobre o próprio ombro.

   Não teve tempo de se recuperar, pois o bizarro dragão-vaca já soltava um jorro de fogo em sua direção. O assistente rolou para evitá-lo, mas o gigantesco felino já estava atacando de novo. Se muitas opções, Bruce também atacou, jogando uma bomba, que acertou o animal em cheio.

   As crianças, que estavam dando risadinhas, divertidas com o espetáculo, pararam abruptamente ao ver aquilo, e o Pierrot logo se pronunciou:

 - Esse ataque não é seu. Ele está nos registros como sendo de outra pessoa.

 - De fato. - Bruce disse. - Esse ataque é o Kazumi Bomb. Minha habilidade permite que eu "roube" os poderes de outra pessoa, apenas tocando-a. Coloque isso nos seus malditos registros!

 - Ta vendo, Pierrot? – A garotinha falou inconformada. – Aquele inútil não descreveu direito a habilidade desse grandão aqui! Mammon tinha que ser tão pão-dura até pra mandar um espião! – A garota ironizou.

 - Não gosto dessa situação. – O pequeno palhaço falou cruzando os braços. – Mas também não fale assim da Mammon-sama. Não se sabe o que ela poderá fazer com a gente se ela ouvir.

 - Que seja, não tenho medo dela! – A pequena respondeu um pouco alterada. – Só estou esperando o momento certo para poder cortar a cabeça dela.

   Ao que parecia, o Pierrot tinha medo daquele príncipe e só o obedecia por esse motivo. Já a Rainha de Copas parecia não ligar para o que Mammon pudesse fazer. A bailarina acabou se desconcentrando da batalha e deixando que uma chance de vitória surgisse para o assistente.

   Rapidamente, Bruce avançou até o Puffles e lhe aplicou golpes velozes em diversas partes da anatomia daquela pantera negra. O felino foi ao chão sem reação alguma. A garota virou-se revoltada e gritou com um jeito mimado:

 - O que foi que você fez com o Puffles?! Meu pobre gatinho deve estar sentindo muita dor agora, seu grandão malvado!

   O assistente ignorou as palavras ditas pela pequenina e avançou em direção ao Ryuushi. O palhacinho tomou um susto com a velocidade dos movimentos do “grandão” e sem mais demoras, ordenou que o estranho lagarto-vaca fosse ao ataque. Novamente, Bruce usou os mesmo movimentos contra aquela criatura e ela também foi nocauteada.

 - Ryuushi! – Gritou o garotinho. – Você não pode ter sido derrotado tão fácil! Vamos, levante-se! Fique de pé!

   As duas crianças estavam muito irritadas quando deram um leve sorriso maldoso:

 - Não pense que nos derrotou só com isso, assistente malvado. – Disse o Pierrot.

 - Não, não mesmo. Estamos só começando, grandão do quatro. – A Rainha de Copas completou.

   O assistente se pronunciou:

 - Olha crianças, sinceramente, eu não quero ter que machuca-los, mas...

 - Ataquem agora bichinhos! – Os pequenos gritaram juntos enquanto apontavam para trás do assistente.

   Bruce virou-se rapidamente, pronto para defender o golpe que possivelmente receberia, mas foi surpreendido com o que viu.

   Não havia nada atrás dele.

   Percebendo do que se tratava, o assistente se voltou para as crianças, que o recebeu com largos sorrisos malvados nos rostos.

 - Tarde demais, grandão. – O garotinho falou, terminando a frase com uma feição triste. – Parece que vou ter que chorar sobre o sangue da sua derrota.

 - Isso mesmo. E eu cortarei sua cabeça quando tudo acabar. – A bailarina falou por entre risinhos.

 - Tente sobreviver ao Smelpus, a lesma gigante! – Os dois disseram juntos.

   Uma imensa lesma apareceu atrás dos dois invocadores. Smelpus era extremamente asquerosa e exalava um odor putrefaço que provocava náuseas. Haviam bolhas de uma coloração violeta por todo o corpo da criatura e elas expeliam um liquido viscoso da mesma cor, que derretia tudo que tocava.

   As crianças continuavam a sorrir maldosamente, porém a expressão de Bruce deixava claro que aquele seria um oponente difícil de enfrentar. Estava claro também que ele não poderia sequer encostar por descuido naquele líquido violeta que escorria pelo corpo da imensa lesma.

   O assistente começou a correr bem próximo as paredes daquela sala, desviando dos frequentes jatos de gosma corrosiva que o monstro lançava incessantemente. Os pequenos pareciam se divertir bastante com o rumo que aquele combate havia tomado.

 - Acerta ele Smelpus! Deixe apenas a cabeça para que eu possa corta-la. – Gritava a Rainha de Copas.

 - Sim, sim. Depois que você a cortar fora, vou chorar sobre o sangue desse assistente até que seque. – Concordou o Pierrot.

   Bruce os olhou indignado e falou enquanto corria:

 - Vocês poderiam agir como crianças normais uma vez na vida? Só ficam falando de cortar a cabeça e chorar sobre o meu sangue. Se eu fosse o pai de vocês, eu os teria ensinado coisas diferentes.

 - Cale a boca! Você não sabe nada sobre a gente! – A garotinha falou irritada.

 - Mantenha a calma, Rainha de Copas. – O pequeno palhaço falou na esperança de conter a companheira.

 - Nada de calma! – A bailarina respondeu. – Esse grandão me deixou com muita raiva. Não posso perdoa-lo!

   A garota emanava uma aura assassina que chegava a fazer o lugar tremer. O Pierrot olhou desaprovadoramente para a irmã e se sentou onde estava.

 - Ei garoto, ela é sempre explosiva assim? – Perguntou o assistente enquanto corria.

 - Grandão, grandão... Você não devia ter provocado ela. Você vai ver o poder dela ao máximo e, era melhor que não visse.

 - Como assim? Você ta com pena de mim? – Bruce perguntou com medo do que pudesse ouvir.

   O garoto riu incontrolavelmente enquanto exibia um olhar psicótico que aumentava o receio de Bruce em ouvir a resposta.

 - Você não deveria ver por que... Não vai sobrar nem sangue para que eu possa chorar! Vai se arrepender de ter provocado ela! – Disse o garoto mantendo o olhar assustador.


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