Código Zero escrita por Rhyca Corporation


Capítulo 24
Capítulo 23 - Forte Três




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   Na manhã seguinte, fui um dos primeiros a chegar à sala do Senhor Manson para pegar os detalhes da missão. Bruce e Hoshitake chegaram logo depois de mim e shishou chegou atrasado por causa da bebedeira que ele havia feito na noite passada para comemorar a boa notícia.

 - Desculpe pelo impacto da notícia. – Disse o líder. – Acabei me empolgando com o fato do Blover estar vivo que exagerei um pouco em alguns detalhes da missão.

   Suspirei realmente aliviado com o que eu escutava. Mas ainda não era o momento para relaxar.

 - O general da área 6 está, de fato, preso em Gehenna. – O líder continuou. – Mas o modo que falei ontem, deu a entender que estávamos falando do Palácio de Lúcifer, que foi onde o espião Hoshitake havia se infiltrado. O Blover está aprisionado num dos sete fortes que existem ao redor do covil inimigo. Há boatos que cada um dos príncipes recém libertos habita e comanda cada uma daquelas bases, mas sempre supervisionados por Gehenna. Bem, isso não muda os fatos de que vocês estarão indo para um lugar realmente perigoso e que o menor erro pode custar a vida de vocês.

   O líder falou tudo o que eu não queria ouvir e meu pequeno suspiro de alívio havia evaporado como água jogada em uma panela quente.

 - Então há possibilidades da gente esbarrar com algum dos príncipes? – Bruce perguntou.

 - De fato não podemos descartar essa possibilidade. – o Senhor Manson explicou. – Por esse motivo, estou mandando o Hoshitake com vocês. Além de ele saber um pouco sobre espionagem, ele já esteve no covil do inimigo e saberá guiar vocês da forma menos danosa possível.

 - Boss, preciso saber de uma coisa. – Disse Alexis. – O senhor sabe em qual das sete bases o Blover está preso?

 - Na terceira base, a comandada por Mammon.

   Era só o que me faltava, ir direto para o covil do clone da Hilda-sama! Sinceramente, acho que era hora de eu tomar um banho de sal grosso viu... Totalmente alheio à minha crise interna, o líder continuou a falar:

 - Vocês devem evitar ao máximo um confronto com o príncipe. A ideia é que vocês passem o mais despercebidos possível. Fui claro?

 - Sim senhor. - Disse o shishou - Vamos ser bem discretos.

   Depois desse breve diálogo ficou acertado que partiríamos dentro de uma semana. Eu tinha arrumado todas as minhas coisas na véspera, então fiquei remoendo minhas preocupações durante todo aquele tempo. Quero dizer, eu não era um inútil completo, mas certamente não tinha capacidade de lutar contra um príncipe!

   Mas enquanto eu estava deprimido pelas perspectivas, a Organização inteira estava animada por causa do resgate. Menos a Rainha, lógico, que destruiu metade do próprio laboratório em uma crise de fúria, e agora atormentava seus pobres subordinados para que eles reconstruíssem tudo rapidamente.

   Acabei indo para o ponto de encontro mais cedo que o combinado, e me surpreendi ao ver a quantidade de gente que havia lá. Gente que eu só conhecia de vista, generais e seus assistentes. Todos estavam lá para desejar boa sorte, fazendo votos para que fôssemos bem-sucedidos na nossa missão.

   Pouco depois os outros três chegaram, e nós nos dirigimos ao nosso transporte, que só poderia nos levar até parte do caminho. Era hora de começar nossa missão kamikaze.

   A viagem durou cerca de meio dia, mas a minha impressão foi de que o tempo havia escapado por entre meus dedos. A tensão aumentava na medida em que nos aproximávamos de Gehenna. Hoshitake deu a ideia de nos infiltrarmos na base por meio de uma carroça que abastecia aquele lugar a cada 3 dias.

 - Teremos o resto da noite para descansarmos. – Falou o espião. – Por favor, não se atrasem. A carroça passará amanhã bem cedo, então acordaremos mais cedo ainda para aborda-la.

   Montamos um pequeno acampamento sem fogueira no meio da floresta para relaxarmos antes de invadir o lugar. Enquanto minha cama improvisada já estava quase pronta, shishou estava arrastando uma imensa mala que chegava a ser maior que a Hilda-sama ou a Pan. Eu duvidava muito que iríamos conseguir ser discretos com shishou no meio... Decidi perguntar o que havia naquela mala gigante:

 - São coisas para um homem sobreviver, Shion. – Alexis falou agarrando a mala e tirando-a do meu alcance. - Você ainda é muito novo para entender essas coisas.

 - Garanto que o senhor está piorando tudo ao esconder isso de mim... – Falei esperando que ele cedesse e me mostrasse o que havia trazido.

 - Senhor Schiffer, nada de bebidas aqui. – Hoshitake falou surgindo em meio às sombras. - Estamos numa missão e essa bagagem será confiscada.

 - M-mas não são bebidas! – Disse shishou após se recuperar do susto e agarrando novamente a pequena e discreta mochila. – São meus bebês...

 - Bebês? Que tipo de bebês? – Perguntei me aproximando sutilmente daquela mala.

 - Por favor, não tirem isso de mim. Eu imploro! – Shishou falou chorando como uma criança enquanto avançávamos para a mochila.

   Arrancamos aquela bolsa gigante das mãos dele e chamamos o Bruce para conte-lo. Abrimos a mochila bem devagar enquanto Alexis gritava para não fazermos aquilo. O assistente do oito tapou a boca dele alegando que não podíamos fazer barulho por causa da proximidade com a base inimiga.

   Ao abrir aquela mala nos surpreendemos com o que vimos. Kazumi estava lá dentro mordiscando alguma coisa embalada!

 - MEUS BEBÊS!! – Gritou shishou histericamente ao escapar do Bruce, tomando a forma líquida.

 - O quê o Kazumi ta fazendo aqui?! – Perguntei surpreso.

 - Você o conhece, Shion? – Hoshitake perguntou completamente alheio aos últimos acontecimentos. – Alexis, eu não sabia que você levava pessoas numa bolsa... O quê você iria fazer com ele? – O espião falou aproximando seu rosto ao de shishou enquanto fazia uma expressão assustadora.

 - Eu não ia fazer nada! – Respondeu Alexis. – Quando eu falei “meus bebês” eu me referia aos meus saquinhos de marshmallows! Mas agora este meliante comeu todos eles e não será perdoado! Devolva meus bebês, seu monstro comedor de tesouros! – Shishou falou correndo em direção ao encantador de bombas. - Vou abrir seu estômago e tira-los daí a força! Nem ouse colocar seus dentes sujos no conteúdo dessa embalagem! – Alexis falou apontando para um saquinho que o recém-descoberto segurava.

   Kazumi observava todos nós enquanto comia o ultimo “saquinho de bebês” do Alexis, não se importando com as consequências. Foi uma cena cômica ver shishou perdendo a compostura por causa de marshmallows, mas não podíamos ignorar o fato de um prisioneiro estar naquele lugar.

   Bruce apareceu na frente do Alexis e lhe aplicou uma descarga elétrica com a Rayus (Aquela maquininha que todos usam para sossegar Alexis ou mantê-lo longe de alguma das milhares de mulheres que ele tenta se aproveitar) e logo em seguida, ele virou-se para o Kazumi e o golpeou no peito com a mão espalmada. O encantador de bombas fez uma expressão que parecia que seus olhos iriam pular fora da cavidade e em seguida, ele caiu desacordado ao chão.

   Algumas horas se passaram até que o encantador recuperasse a consciência. Enquanto isso, nós do grupo designado para salvar Blover estávamos um pouco distante do Kazumi, e ele achou que aquele era um momento perfeito para nos atacar. Sem pensar duas vezes, o prisioneiro avançou em direção ao Hoshitake que se virou rapidamente a ponto de ver quem o atacava, mas sem conseguir desviar do golpe. Pássaros voaram com o movimento repentino do espião e nós nos colocamos em guarda sem entender o que estava acontecendo.

   Kazumi atravessou o assistente do 7 como se fosse um fantasma.

 - Então você finalmente acordou. – Disse o espião completamente intacto.

 - O-o que aconteceu?! – Perguntou o encantador. – O quê é você? Por que meu golpe o atravessou?

 - Acho que você está fazendo a pergunta de maneira errônea. – Falou Hoshitake. - Você deveria me perguntar o que você é, ou o que fizemos a você.

 - Você ainda não me respondeu! O que foi que aconteceu aqui?!

 - Já que insiste, terei que lhe explicar. – Hoshitake exibia uma feição maligna mesmo com várias bandagens cobrindo boa parte do seu rosto.

 - Hoshitake-san, com quem você está falando? – Perguntei assustado.

 - É verdade. Esqueci que apenas eu posso vê-lo. – Respondeu o assistente sombrio. – É o Kazumi, aquele fugitivo do qual você falou.

 - E porque só você consegue vê-lo? – Perguntei ainda mais intrigado. – Não me diga que você...

 - Não Shion, eu não o matei. Não tenho ordens para fazer isso, mas ele está como se estivesse morto. Usei uma habilidade minha que permite expulsar a alma do corpo das pessoas e com isso, somente eu posso enxerga-lo.

 - Naquele momento em que você ficou tentando controlar seu shishou, eu e o Hoshitake fomos dar um jeito nessa visita inesperada. - Explicou o grande assistente do quatro. - Estamos numa missão extremamente perigosa e ele poderia nos atrapalhar.

 - Dessa forma, ele não poderá ser visto por mais ninguém a não ser eu e não nos trará problemas. Estão vendo esta pedra? – O espião falou enquanto tirava uma pedra de um dos bolsos. – É uma pedra de projeção astral. Fixei a alma do fugitivo nela usando as propriedades da própria rocha e por isso posso vê-lo. Por eu portar esse artefato, o Kazumi terá que me seguir, mesmo que não queira. Isto também impede que ele volte ao seu corpo até que eu o liberte.

 - E o quê nós faremos com o corpo dele então? – Perguntei me sentindo um pouco mais aliviado.

 - Deixaremos aqui, junto com nossas bagagens. – Explicou Bruce. – Não podemos entrar no covil inimigo cheio de malas. Levaremos somente o indispensável.

   Durante nossa conversa, shishou ficou encolhido num canto e só falava uma coisa: “Meus bebês...”. Tentamos anima-lo de várias formas, mas nada pareceu funcionar.

 - Eu quero a cabeça dele para ficar feliz! – Disse Alexis com uma aura maligna que combinava com seu sorriso.

 - Não podemos fazer isso, shishou. – Tentei argumentar. – Levaremos o Kazumi de volta à Ordem Zero assim que terminarmos a missão. Vamos deixar que eles cuidem de tudo.

 - Então, nada feito! De qualquer forma, se eu não posso puni-lo, então com certeza ele não sofrerá o suficiente.

 - Shishou, lembre-se de que foi a Hilda-sama que interrogou ele logo quando o capturamos. Garanto que o Kazumi foi punido o suficiente... Ou até um pouco mais...

   Alexis fez uma expressão de medo profundo ao ouvir o nome da rainha serpente e logo depois, abaixou a cabeça e falou:

 - Tudo bem. Eu o perdoo por hora... Mas quando voltarmos à ordem irei providenciar para que ele tenha uma outra conversa com a Hilda, só para garantir. – Alexis ria freneticamente.

 - Tudo resolvido por ai, Shion? – Bruce perguntou.

   Acenei com a cabeça e dei um sorriso que me lembrou o Yan. Lembrei que ele queria tanto estar naquela missão, mas o líder achou perigoso para ele, que ainda era uma criança e tinha pouca experiência com lutas realmente perigosas. Quer dizer, estávamos considerando a possibilidade de encontrarmos com Lúcifer, afinal de contas, estávamos no seu território.

 - Muito bem. – Disse o grande assistente. – Estamos partindo dentro de quatro horas.


   Não demorou muito para que as horas se passassem. Escondemos nossas bagagens junto com o corpo do Kazumi e nos dirigimos rapidamente para perto da estrada que a nossa “carona” passaria. Nos dividimos de forma que eu fiquei escondido com shishou de um lado do caminho, o Bruce ficou do outro lado e o Hoshitake ficou em cima das arvores para atacarmos a carroça. Agora começava a parte teatral do plano.

   Quando a carroça chegou a uma distância consideravelmente perto da gente, Alexis levantou-se e correu para frente da carroça e foi “acidentalmente” atropelado. Eram três pessoas que estavam naquele veículo: Um comandando dois cavalos e mais dois sentados na parte traseira.

   O dono da carruagem desceu com uma feição preocupada e foi na direção daquela “vítima” para ver o que poderia ser feito. Eu e o Bruce fomos pela parte de trás para darmos conta dos outro dois restantes enquanto Hoshitake apareceu logo em seguida, completando o plano.

   Prosseguimos com a viagem com nossos disfarces até chegarmos aos imensos portões da terceira base. Dois guardas estavam na frente, provavelmente para inspecionar aquela carroça e assim aprovar a entrada dela à fortaleza. Eles olharam aquele veículo de todas as formas e ângulos possíveis e chegaram a abrir a mercadoria para verificar.

   Havia um grande saco com pães, que os guardas se aproveitaram e comeram alguns, outro saco com diversos tipos de frutas e mais um saco com algumas verduras e leguminosas. Havia também uma grande jarra com água, do qual eles também beberam.

   Nossa entrada foi permitida sem muito esforço e os portões foram abertos. Não imaginávamos o que nos esperava além daquele ponto, mas eu podia ter certeza de que boa coisa não era. Seguimos com a carruagem até que os portões fossem fechados novamente. Logo depois disso, os dois guardas começaram a tossir e não demorou muito até que caíssem no chão com os olhos esbugalhados e babando muito.

   Daí para frente, o espião nos guiou até o depósito, onde descarregaríamos a bagagem. Durante todo o trajeto, observei bem o lugar para me acostumar e não ficar dependendo somente do Hoshitake. O lugar era como uma grande cidade, mas não se viam casas. Haviam apenas prédios grandes feito de algum tipo de rocha maciça de cor escura. Não haviam vidros nas janelas e quase não se via alguma vegetação ou algo verde.

   Chegamos ao depósito sem enfrentar problemas maiores. O lugar era estranhamente abandonado, sem muita segurança e sem população alguma. Comentei isso com Hoshitake e ele me disse:

 - Mammon está aqui, isso já é segurança suficiente. Mas pode ter certeza que o caminho não vai ficar livre durante todo o tempo.

   Concordei sombriamente, então nós descemos da carruagem e tiramos nossas capas. Eu estava procurando shishou quando o vi sair de dentro da jarra que antes continha água. Compreendi que ele havia tomado a forma líquida como disfarce. Quando voltou totalmente a forma original, vi que parecia bastante indignado:

 - Fui bebido! Nunca aconteceu nada tão absurdo como isto na minha vida inteira! Espero que eles ardam no inferno!

   Hoshitake pediu silêncio, e começou a nos guiar para fora do depósito. Andamos um pouco e saímos em um grande salão. Tenho certeza que aquele lugar havia sido esplêndido e cheio de luxo, mas agora era apenas um lugar decadente. Os móveis estavam meio destruídos, e havia poeira e teias de aranha por todos os lados. Ali também era muito escuro, pois aquele recinto possuía apenas uma pequena janela, que estava bloqueada com madeira.

   Paramos naquela sala para revisar o plano e discutir algumas soluções de emergência. Bruce perguntou o que fazer caso nós nos separássemos, e shishou foi bem claro:

 - Se isso acontecer, devemos nós encontrar na cela de Richie. Não se esqueçam, ele está no nível mais profundo da prisão, na cela dezessete.

   Assentimos rapidamente, e de repente eu senti meu sangue gelar. Eu havia ouvido nitidamente o som de passos. Quando nos viramos na direção deles, meu coração parou por um momento: Lá estava Mammon, parada na entrada do grande salão, sorrindo maliciosamente para nós.


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