Peter já havia parado de chorar. Mas ainda não tinha se separado do meu abraço. Eu já havia tentado largá-lo mais de uma vez, mas ele me apertava com muita força.

- Ehr... Peter? – falei, fazendo menção para que ele me soltasse. Mas ele apenas me olhou e riu.

Depois de uns dois minutos, ele olhou pra mim e puxou meu queixo para perto de si. Levou um segundo para eu perceber o que eu estava fazendo, e empurrei Peter.

- O que você está fazendo?! – perguntei, um tanto alterada.

- Hã... Nada...

- Você acabou de me conhecer e já quer me beijar? – levantei-me do banco, jogando o cigarro longe – E eu tenho... Namorado. Tá?

- Tudo bem, desculpe...

Saí sem responder e não olhei pra trás. Garoto folgado, credo. Corri até em casa, ainda estava chovendo. Subi o capuz de meu casaco e procurei andar embaixo de toldos e sacadas.

Ajeitei o plástico por dentro da roupa pra não borrar a tatuagem. O que eu mais queria naquele momento era chegar em casa e ver Billie; mas eu sabia que isso não seria possível. Ele estava no estúdio.

Assim que cheguei, fui até meu quarto e tirei toda a roupa molhada. Fiquei só com a roupa de baixo, ainda mantendo o plástico em cima da tatuagem. A chuva começou a ficar mais forte, caindo torrencialmente. As gotas batiam no parapeito da janela, fazendo um barulho agonizante. Liguei a tevê por alguns minutos, mas logo ela saiu do ar.

- Af... Que tédio.

Fui até a cozinha e bebi uma garrafa de cerveja na geladeira. Tirei o plástico de minha tatuagem e vi que já tinha secado; achei melhor tomar um banho.

Joguei as roupas pelo chão de meu quarto e entrei no chuveiro. Molhei os cabelos, fiquei um bom tempo só refletindo sobre várias coisas. Depois de algum tempo ouvi o barulho do telefone; mais precisamente, do meu celular. Era o velho toque com a música-tema do Superman, meu herói preferido – depois de Billie Joe Armstrong, é claro –. Simplesmente ignorei. As pessoas nunca me ligavam, só quando eu estava no banho. O celular tocou pelo menos mais umas cinco vezes, mas continuei ignorando.

Depois de uns quinze minutos, ouvi o barulho da porta. O telefone tocou novamente, e dessa vez ouvi uma voz em meu quarto, uma voz familiar. Acho que era Billie. Não consegui ouvir direito por causa do barulho do chuveiro, mas parecia ele mesmo. E parecia preocupado.

Ele começou a bater na porta.

- Maria? – ele dizia – Está aí? Sai rápido, por favor, tenho que te falar uma coisa. É importante, principalmente pra você.

- Ok! – falei, um tanto preocupada.

Desliguei o chuveiro imediatamente. Torci um pouco os cabelos, e me enrolei na toalha.

Abri a porta, Billie estava sentado na cama. Quando me viu, levantou-se rapidamente. Sua expressão estava horrível.

- Oi – falei, me aproximando e lhe dando um selinho – Tá tudo bem?

- Na verdade, não... – ele disse, e pareceu engolir em seco – Sua mãe ligou.

- E você atendeu?! – falei, ajeitando a toalha.

- Depois de ver que tinham quatorze chamadas perdidas no seu celular, sim.

- Mas o que ela queria?

- Seu irmão. Ehr, ele...

- O que tem o John?! – minha voz ficou sombria. Só conseguia imaginar a palavra “morto” saindo da boca de Billie, e meu coração acelerou.

- Ele está no hospital... Sua mãe disse que ele teve um problema grave no coração, parece que os pontos da cirurgia que ele fez... Bem, parece que os pontos abriram.

- Mas isso não é tão grave, é só costurar de novo. Já aconteceu uma vez, quando ele tinha quatro anos.

- Pois é, mas o problema é que só descobriram uma semana depois de abrir. Sua mãe disse que John já vinha reclamando de dores, mas ela achou que não era nada demais... E ele está em estado grave, no St. Patrick’s Hospital.

Minha respiração ficou descompassada, e minha visão ficou turva. Tive que segurar nos ombros de Billie para não cair. Minha toalha começou a escorregar, mas não me importei. Apenas caí nos braços de Billie e comecei a chorar. Ele me pegou no colo e sentou-se na cama.

- Não Billie, meu irmão não... Não o meu John, não...

- Ei – ele segurou meu queixo e enxugou minhas lágrimas – não fica assim, vai dar tudo certo, acredita em mim. Sua mãe falou que, se você quiser, pode ir pra L.A., visitar o John.

- Não Billie, eu não vou conseguir enfrentar isso sozinha. Pelo menos, não perto daquela... Mulher.

- Quer dizer, sua mãe?

Assenti, e fitei o chão, encostada no peito de Billie.

- Vamos pra Los Angeles hoje à noite.

- O quê? – falei, incrédula – Não posso te pedir isso. Não mesmo.

- Sou eu quem está te pedindo pra te acompanhar. Eu quero saber que seu irmão está bem. Eu também estou preocupado com ele.

Não resisti e lhe dei um abraço apertado. Agora a toalha já estava quase abaixo de meus seios, mas ainda sim não me importei. E ele pareceu não se importar com meu cabelo molhando sua blusa.

- Vou comprar as passagens – ele disse – vamos hoje à noite.

- Obrigada – falei, com a voz ainda trêmula de tanto chorar, dessa vez ajeitando a toalha.

- Por favor, fique bem – ele disse, segurando meu queixo – não chora mais, detesto te ver chorando.

E me deu um selinho demorado. Depois saiu.

Sentei em minha cama e pensei em motivos para não chorar; não encontrei nenhum.

Peguei minha mochila e coloquei algumas roupas. Eu tinha pouquíssimas coisas aqui, o suficiente para “sobreviver”, mas nem se comparava ao número de roupas que eu tinha em L.A. Juntei tudo e deixei minha mochila separada perto da porta. Coloquei uma blusa preta qualquer que estava jogada em cima da cama, um jeans meio rasgado e o clássico All Star. Eu não estava lá muito preocupada com roupa naquela hora.

(...)

Passada mais ou menos uma hora, Billie veio me chamar. Ele estava com os cabelos meio molhados e com uma mochila jogada no ombro esquerdo.

- Vamos? – ele disse. Assenti e caminhei até a porta ao seu lado.

Quando chegamos à sala, Tré e Mike estavam no sofá. Assim que me viram, correram para me abraçar.

- Ligue pra dar notícias, ok? – disse Tré.

- Com certeza, todos os dias – falei, tentando não parecer abalada.

- E fique tranquila – disse Mike – ele vai ficar bem.

- Espero que você esteja certo – falei. Minhas lágrimas estavam na ponta de meus olhos, mas não permiti que elas saíssem.

- Maria – Billie disse, pegando minha mão – temos que ir. O voo é daqui uma hora.

- Boa viagem – disse Tré – e comportem-se, ok? – falou essa parte rindo. Não resisti e ri também.

- Amo vocês – falei, enquanto fechava a porta.

Billie chamou um táxi e fomos até o aeroporto. Fui em silêncio, segurando sua mão e olhando a chuva cair na janela.

- Ei – disse Billie, apertando um pouco mais minha mão – chegamos.

Saí do táxi, e entramos no aeroporto. Eu reconhecia aquele lugar. era o mesmo aeroporto no qual eu tinha chegado de Los Angeles quando vim morar com os caras.    Fomos direto para a sala de check-in. Ficamos esperando um pouco até a voz nos auto falantes dizer “Última chamada para voo Oakland – Los Angeles, sem escala. Última chamada”

Fomos para o avião e eu logo dormi. Fiquei apoiada no ombro de Billie, e ele não reclamou – ou, se reclamou, eu não ouvi – e lá pelo meio da noite, esqueci que não tinha agradecido.

Acordei, e olhei pra ele. Ele era lindo até dormindo.

- Obrigada – falei, lhe dando um selinho e voltando a dormir.