Antes das Seis escrita por Moony


Capítulo 1
Lobisomens




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Capítulo 1 - Lobisomens

Era uma manhã de sábado e o sol começava a aparecer depois de uma chuvosa madrugada de lua cheia. James tentava limpar as vestes enlameadas e Peter tomava um banho – talvez o único ato de limpeza que ele ainda se dava ao trabalho de fazer.

“Se ele não sair logo daquele banheiro eu juro que mato, ah, eu mato!” - James resmungava enquanto passava a varinha nas mangas, aspirando a lama.

Sem prestar muita atenção no que ele dizia, continuei onde estava: sentado ao lado de Remus na cama. Ele dormia profundamente, apesar de estar tão machucado. Como sempre, aliás, pensei com uma certa amargura. Olhei pro lado mais pra fazer algum movimento qualquer do que pra realmente ver alguma coisa e surpreendi James me observando com alguma espécie de piedade e compreensão.

“Ele vai ficar bem, Pad. Só precisa descansar.”

“Mas você não acha que ele já descansou o bastante? Tá dormindo demais...” - falei, preocupado. James apenas riu e jogou as vestes a um canto.

“Vou deixar pros elfos cuidarem delas...” - resmungou, soltando um olhar cansado às roupas.

Peter finalmente terminou o banho, mas saiu do dormitório logo depois. Fiquei sozinho com Remus quando James finalmente conquistou o banheiro para si.

Voltei a observar Remus. Passei, desajeitadamente, a mão no cabelo dele, para ajeitá-lo melhor. Ele estremeceu quando, sem querer, toquei num corte na sua testa. Tirei a mão dali rápido, mas ele não acordou imediatamente.

Sempre gostei de ver Remus acordar; ele transformava um simples abrir de olhos num demorado ritual. Com um sorriso involuntário, assisti-o se virar na cama, resmungando um pouco de dor, e passar um bom tempo apenas esticando os braços. Depois passou as mãos no cabelo, desarranjando tudo o que eu tinha ajeitado, e, finalmente, abriu os olhos e deu um sorriso fraquinho ao me ver.

“Bom dia, Pad.” - ele disse, rouco, pra logo depois fazer uma careta de dor.

“Madame Pomfrey vai consertar tudo isso. A gente só tava esperando você acordar pra te levar lá.”

Ele sorriu de novo e se sentou na cama. Ouvi a porta da banheiro abrindo e tomei aquilo como a deixa para me levantar – só assim eu conseguiria parar de olhar pra Remus com tanta freqüência.

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“Então, ela jogou o cabelo pro lado e disse 'Você nunca vai se tocar de como é irritante, não é, Potter?' e saiu.” - James contava, debaixo da faia à beira do lago, pra um Wormtail levemente interessado e pra mim, que não estava nem um pouco afim de ouvir pela milésima vez o que a Evans tinha a dizer dele.

“Será que Pomfrey vai liberar ele ainda hoje?” - perguntei. Já estava de tarde e Remus ainda não tinha voltado da ala hospitalar.

“Você ouviu uma palavra do que eu disse, Sirius?” - James perguntou, revoltado.

“Eu não preciso ouvir pra saber do que você está falando, Prongs, então você pode me fazer o favor de responder a minha pergunta?”

James me olhou como se eu tivesse enlouquecido, mas enfim se rendeu.

“Eu acho que ele sai de lá hoje, sim. Não foi nada de grave, só os ferimentos de sempre. Não precisa se preocupar tanto.” - ele acrescentou quando viu que eu ia abrir a boca de novo. - “Come aí e relaxa.” - e me jogou uns sapos de chocolate no colo. - “Sim, voltando à Lily...”

Girei os olhos pra cima e comecei a comer os sapos, a contragosto. Me distanciei mais deles e fiquei observando umas formigas na grama. Mesmo que todos os meses acontecesse a mesma coisa, mesmo que ele sempre ficasse bem, eu nunca ficava em paz enquanto não me certificasse de que Remus estivesse realmente bem.

Arranquei umas graminhas e fiquei picando elas, esperando o tempo passar. Ainda ouvia James tagarelando sem parar, alguns alunos nadando no lago e uns passos que se aproximavam, mas não dei atenção a nada. Continuava concentrado na minha tarefa de picotar aquelas graminhas, até os passos pararem e o dono deles se sentar ao meu lado.

Uma mão gelada tirou os pedacinhos de grama da minha mão e eu finalmente ergui os olhos.

“Você nunca ouviu a Profª Sprout dizer que as plantas têm sentimentos, Sirius?” - Remus perguntou suavemente, sorrindo.

“Você tá bem?” - perguntei baixinho, meio que com vergonha de denunciar minha preocupação exagerada.

“Estou sim. Só preciso dar uma adiantada nos deveres...”

Remus continuou a falar dos deveres enquanto limpava as minhas mãos.

“...e estamos nos aproximando dos N.I.E.M.'s, então...”

“N.I.E.M.'s?” - interrompi, exasperado. - “Nós estamos no comecinho do sexto ano, Moony! Como você pode pensar em N.I.E.M.'s agora?”

“É importante, Sirius!” - ele disse severo, mas ainda suave. - “Se nós começarmos a nos preparar logo, ano que vem não vai ter problema.”

“Eu não preciso disso. Quem vai ter problemas é o Peter.”

“Pára de implicar com ele! Com um pouco de ajuda ele vai conseguir também.”

Resmunguei um 'Espero que repita o ano', mas Remus ouviu e me deu um tapa na orelha. James e Peter vieram do outro lado da árvore só pra olhar o que estava havendo.

“Olha só que meigo, Wormtail, eles voltaram ao normal!” - James falou, fugindo das minhas ganas assassinas e sentando ao lado de Remus. - “Tudo bem, Moony?”

“Tudo.” - ele respondeu com um sorriso de quem já sabe o que está por vir. - “O que você quer?”

“Ah, nada... É só que... Bem, eu pensei...” - Prongs começou, enrolando. - “Sabe, toda vez que eu peço pro meu amigo aqui – e apontou pra mim – pra falar com a Lily ele se recusa e ultimamente não tem me dado chance de abrir a boca, então... Então, você bem que poderia falar com ela, não é?”

“Falar o quê?”

“Meta na cabeça da Evans que o James é o homem da vida dela, Moony, pra gente poder se livrar dos discursos intermináveis de 'Como eu sou injustiçado pela Lily' do nosso amigo aqui.” - falei, injuriado.

“Você é o mais sério de nós, Moony. Não deve ser difícil se aproximar dela, conversar casualmente perto de um janela, me ver no jardim e dizer 'Ah, olha lá o James...', como quem não quer nada...” - Prongs continuou como se eu não tivesse falado.

“Ela vai saber muito bem que foi você quem pediu pra mim falar com ela, James, não adianta.” - Remus disse, com ares de quem não tá nem um pouco afim de servir de cupido pros outros.

“Não se você souber inventar uma história realmente boa, de que quer nos ver juntos e não-sei-o-quê-mais ou qualquer coisa assim... Por favor, Remus... Por mim, seu amigo, irmão, companheiro de lua cheia, de dormitório, de Grifinória...” - começou a implorar, puxando as mãos de Remus para si e fingindo que ia chorar.

“Tá, tá, eu falo com ela...” - Remus concordou, puxando as mãos de volta e rindo. Ele nunca resistia a uma boa implorada. - “Mas hoje não.” - acrescentou ao ver que James já se enchia de esperança e olhava ao redor em busca da ruiva.

Prongs pareceu murchar um pouco, mas logo voltou ao entusiasmo, como uma criança grande demais. Até eu não resisti e ri também. Pobre Potter... O amor deixa as pessoas muito estranhas, conclui.

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“Eu não acho a Evans ruim; pelo contrário, ela até que é bem legal e bonita, mas eu só não gosto é desse exagero do James. Ele está se desviando da vida normal por causa dela!” - comentei indignado com Remus na noite daquele sábado, quando fazíamos uns deveres na cama dele à luz de varinhas e um lampião. Bem, ele fazia os deveres e eu segurava as varinhas...

“Você quer dizer se desviando da vida transgressora, Sirius.” - ele respondeu, sorrindo. - “Mas é assim mesmo... Ele se apaixonou e está correndo atrás do que quer. É assim que tem que ser.”

“Você até que é bem romântico pra quem nunca apareceu por aí com alguém” - não que eu queira que apareça, claro... Me recriminei por esse pensamento com um tapa na minha própria cabeça e Remus me olhou assustado.

“Que foi?” - murmurei um 'nada' e ele voltou a escrever enquanto falava: - “Não me venha falar de romantismo, Paddy... Aliás, aparecer por aí com uma pessoa diferente a cada dia não tem nada a ver com romantismo. É galinhagem mesmo.”

“Ah, qual é, Remus... Eu não sou santo e você também não é, tenho certeza.”

“Esquece, Sirius. Não estou te recriminando e nem poderia fazer isso. Apesar de que deveria te dar uma boa detenção cada vez que te encontro num armário se agarrando com alguém...”

Ele disse a última parte muito baixo, mas eu ouvi. Me limitei a rir, enquanto tinha certeza de que ele tinha ficado vermelho. Foram uns bons dez minutos sem conversa.

“Você não vai fazer mesmo?” - Moony perguntou, apontando pro pergaminho que ele terminou de escrever e que agora estava enrolando com cuidado.

“Amanhã eu faço.” - falei, afastando o lampião pra me deitar.

“Essa cama é minha, Sirius.”

“Tem espaço o bastante pra você também.” - ele se deitou, um tanto quanto desconcertado por algum motivo.

“Remus...” - chamei depois de um tempo.

“Diz.”

Me virei de lado até poder olhar diretamente pra ele, que fez o mesmo.

“'Cê acha que quando o James conseguir ficar com a Evans, ele vai... sei lá, esquecer a gente?” - perguntei devagar e inseguro se não estava sendo ridículo. Remus sorriu, compreensivo.

“Não tem nem perigo, Paddy.” - ele falou calmamente, me observando. Então pareceu finalmente se decidir sobre alguma coisa e chegou mais perto, depois se afastou de novo, pra logo depois se aproximar mais uma vez. Parecia realmente indeciso.

“O que você tem?” - perguntei, rindo.

“O seu cabelo, ele... Não fica no canto.” - explicou baixinho, pegando uma mecha do meu cabelo que me caía nos olhos e colocando atrás da minha orelha. - “Pronto... Certo, o James...” - ele comentou, querendo recomeçar o assunto provavelmente pra mim não perceber que ele começava a corar. Contive um sorriso e voltei a falar:

“Ele só pensa nela, então... Bem, eu não quero que ele esqueça a gente.”

“Ele não vai esquecer, Sirius, não se preocupe. Ele vai ficar até mais feliz, sabe. Irritantemente feliz, mas vai. - rimos – É normal que você não queira que ele namore ela pra não se afastar de gente, mas te garanto que isso não vai acontecer. James não é disso.

“Então é por isso que você reclama tanto das garotas que eu arranjo, pra gente não se afastar?” - perguntei botando na cara a mais verdadeira expressão de inocência que consegui produzir. Notei que ele corou de novo, apesar da quase escuridão da cama.

“Eu... Não, aí é... É diferente.”

“Diferente como?” - insisti, num tom quase despreocupado.

“Diferente, oras... Eu só acho que... Não é bom pra você sair por aí com toda a Hogwarts. Assim você nunca vai se ajeitar e... É, é isso. - ele acrescentou, mais pra si mesmo do que pra mim, como se estivesse confirmando que era realmente o que ele achava. - “Você não pode passar o resto da vida sendo esse cachorrão cafajeste que é.”

Remus tinha o dom (que ele provavelmente achava um defeito) de soltar algumas frases quando na verdade sua intenção era guardá-las pra si. Ou não, quem sabe...

Rindo, me transformei em cachorro sob os protestos de 'Sirius! Não faz isso aqui!' de Remus, que não resistiu e acabou por me coçar as orelhas enquanto eu latia alegremente.

“Shhh!” - ele reclamou e eu me calei.

Tinha coisas que Remus fazia quando eu estava em forma de cachorro que tenho certeza que ele nunca faria se eu estivesse na minha forma normal, como, por exemplo, coçar minhas orelhas e outros carinhos que se faz a um cachorro particularmente carente de atenção. E eu adorava, claro. Tanto que me enrosquei no colo dele, que a essa altura já tinha se sentado de novo.

“Irresponsável.” - resmungou, com um quê de riso na voz.

Continuei lá, em cima das pernas de Remus, até quase dormir... Era tão quentinho e ele continuava a me afagar...

“Você não merece, realmente não merece...” - ele resmungava, acariciando minhas costas. Sinceramente, se ele fizesse isso comigo enquanto humano eu já estaria... - “SIRIUS, SAI DAQUI AGORA!”

Remus gritou, me assustando, ao perceber que eu estava um pouco, digamos... Animado demais. Ganindo como um filhotinho assustado, subi na minha cama, mas ele não se deixou abalar pela minha cara de pobre coitado.

“Nunca mais deite aqui!” - Remus ordenou, vermelho de raiva e provavelmente vergonha também, fechando as cortinas violentamente.

“O que aconteceu aqui?” - James perguntou, aparecendo na porta do dormitório.

Me transformei de novo em gente, me acalmei mais e desci com ele pra sala comunal, lançando um olhar triste pra cama de Remus ao passar.

“Eu ouvi bem ou o Remus disse 'não deite mais aqui' pra você? - James me perguntou, entre divertido e preocupado, quando chegamos a uma mesa perto da lareira. - Ele te mandou dormir no sofá hoje?”

Rugi caninamente pra ele, que parou de rir instantaneamente e me fez comer um sapo de chocolate. Pra quê tanto sapo de chocolate, meu Deus?

“Eu só estava lá com ele fazendo uns deveres e a gente discutiu, só isso.”

“Hmm, sei.” - James resmungou, incrédulo, mas voltou a sorrir. - “Não sei porque eu ainda me preocupo com essas coisas... Vocês brigam o tempo todo.”

“É, eu sei.”

Não vi mais Remus sair detrás das cortinas da cama até a manhã seguinte. Como ele não falava comigo mesmo, fui assistir James treinar quadribol e só voltei na hora do almoço. Remus não estava na mesa, e nem na sala comunal, quando voltei pra lá. Me joguei numa cadeira qualquer e o vi descendo a escada dos dormitórios, com a mochila nas costas e uns livros nas mãos.

Silenciosamente, Remus sentou ao meu lado pôs a mochila na chão e tirou de lá tinteiro, pergaminhos e penas, colocou-os na mesa e olhou pra mim. Devolvi o olhar, como quem pergunta o que deve fazer.

“Você disse que ia fazer hoje. Começa.” - e empurrou as coisas pra mais perto de mim.

Sem dar uma palavra comecei o meu dever de Transfiguração. Quando estava quase na metade Remus, que lia todo o meu trabalho por cima do meu ombro desde que eu começara a escrever, me interrompeu.

“Não é assim, não.” - disse, se referindo a sabe-se-lá-o-quê que eu escrevi errado.

Remus se inclinou mais perto de mim até eu sentir seu cabelo roçando no meu pescoço e tirou a pena da minha mão. Escreveu a palavra certa e voltou a sua posição normal. James, que acabava de entrar pelo buraco do retrato com a vassoura na mão, assistia à cena com uma expressão que eu não conseguia decifrar.

“Se diz tão inteligente e erra besteira...” - Remus disse, impassível.

“Eu não gosto quando você fica com raiva.” - comentei baixinho, depois de um tempo.

“Eu não estou com raiva.”

“É claro que tá. Fica aí todo calado, me olhando com essa cara como se me achasse o cara mais irresponsável da face da terra...”

“E é.”

“Não estou perguntando, obrigado. Sem me dar um sorriso, me atacando por besteira, todo quieto, sem expressão, e continua assim, como se eu não fosse achar que você tá doido pra me dar uns socos se pudesse.”

Se pudesse? Além de achar que sabe o que eu sinto ou deixo de sentir você ainda acha que eu não posso te dar uns socos se quisesse?” - Remus sibilou, perigoso. Acho que fui longe demais...

“Eu não tô dizendo isso, você não entendeu...”

Mas Remus não continuou a me ouvir e simplesmente saiu da sala comunal. Olhei desolado pra James e ele me deu um olhar de 'vai atrás dele, imbecil', que me convenceu. Fui atrás de Remus, mesmo sabendo que talvez levasse umas boas bordoadas de um lobo enraivecido.

“Lobisomens...” - fui pensando, no caminho atrás de Remus, que corria para fora do castelo. - “Lobisomens e seu temperamento absolutamente incompreensível... Francamente, é pior do que mulher.”

Alcancei Remus perto da Floresta Proibida e o puxei pelo braço.

“Me solta, Black.” - e puxou o braço com uma força que eu não conhecia nele.

Black? Então agora eu sou Black?” - reclamei quase gritando e minha raiva repentina me impediu por uns momentos de perceber que ele parecia prestes a chorar. - “Remus...”

Mas ele apenas se sentou na grama, ali, no meio do nada. Simplesmente sentou na grama e pôs a cabeça entre as mãos.

“Eu não te entendo, Remus... Eu não... Não queria que você ficasse assim. Só... Só queria que você não ficasse com raiva de mim por muito tempo, só isso.” - falei em tom de desculpas. Remus não respondeu e nem ao menos se mexeu. Esperei. Esperei, esperei e esperei até ele finalmente tirar as mãos do rosto e levantar a cabeça.

“Desculpa, Sirius, eu... Eu não sei o que dá em mim.”

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa ele se levantou e voltou correndo pro castelo, mas eu percebi que ele estava chorando.

“Algum problema aí, Sirius?” - ouvi Hagrid me perguntar de lá da cabana dele, de onde devia ter visto tudo.

“Lobisomens, Hagrid, lobisomens...” - respondi pra mim mesmo, me jogando na grama.


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Notas finais do capítulo

N.A.: Hallö...
Bom, eu espero que tenham gostado ^^ Deixem reviews e façam Moony feliz xD
Merchan básico: se você gostou, dê uma olhada no meu profile se tem alguma outra fic pela qual você se interesse. Não vai doer, eu garanto o/*
Até mais...