Um Presente De Natal escrita por Valentinnes


Capítulo 2
Capítulo 2




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/183636/chapter/2

Em um momento como aquele, eu tinha que manter a calma, pois não tinha como aquele rapaz na minha frente ser o Yesung, porque primeiramente, Yesung não falava português, e segundo, não tinha como alguém brotar sem mais nem menos em outro país, sendo que ele nunca havia ido ao Brasil antes, muito menos para show. Então, tudo o que fiz foi começar a gritar e sair correndo em direção a cozinha, mas antes que eu chegasse a ela, tropecei no meu próprio pé e cai de barriga no chão, ao lado do rapaz desconhecido. Ele me fitou com a sobrancelha esquerda arqueada, enquanto eu tentava me levantar.

– Você está bem? – perguntou ele por fim, ainda me fitando com a sobrancelha arqueada.

– Você não é real – disse rapidamente me colocando de pé – Isso é um sonho, um sonho muito louco. Eu não devia ter me empanturrado de comida.

– Se você acha que eu não sou real, eu vou procurar a minha casa, se bem que eu não sei se eu tenho uma casa – disse ele se pondo de pé pensativo.

– Espera – falei rapidamente – Você não pode sair, é muito perigoso lá fora e você está sem memória, não, você não pode sair.

– O que você quer que eu faça? Que eu fique na casa de uma desconhecida que nem acredita na minha existência?

Parecia bem razoável. Então notei que preso a sua calça, havia um pequeno cartão vermelho. Sem dizer nada, segurei o cartão e li em tom normal.

– Feliz Natal Duda, faça bom proveito de seu presente, mas não se esqueça, a decisão correta nem sempre é a mais fácil – assim que terminei de ler, franzindo o cenho e fitei Yesung.

Ele também me pareceu confuso, mas ignorei sua careta e falei enquanto me afastava.

– Fique ai que eu já volto, se você mexer um músculo, coisas muito terríveis podem acontecer, então fiquei ai! – terminei minha fala bem pausadamente para que ele entendesse, para só então subir as escadas correndo.

Entrei no meu quarto batendo meu corpo contra a porta e fui direto atrás do meu notebook. Ele estava em cima da minha escrivaninha, que ficava entre meu guarda-roupa de madeira amarela e a parede branca com adesivos de borboletas rosa, atrás da porta branca para ser mais exata. O coloquei embaixo do braço e desci as escadas correndo. Parando ao lado de Yesung ou seja lá quem fosse aquele garoto, me sentei ao chão, esperando que ele me acompanhasse. Abri o notebook e o liguei. Minhas mãos estavam trêmulas e notando com o canto dos olhos que Yesung sentava ao meu lado, meu coração só acelerou ainda mais e minhas mãos tremiam igual vara verde.

O primeiro site que abri, foi um site brasileiro com notícias do Super Junior, só para ver se o Yesung havia vindo para o Brasil ou se alguém havia dado conta do seu sumiço ou coisa semelhante, mas não havia nada sobre ele, só sobre o RyeoWook, SungMin e LeeTeuk, as outras notícias eu já havia lido. Fechei o notebook apertando os dentes com força, até que Yesung perguntou novamente se eu estava bem.

– Eu acho que eu sei quem você possa ser, mas não faz sentido algum, então vamos esperar, se você for quem eu acho que é, logo darão conta do seu sumiço.

– E quem você acha que eu sou? – perguntou ele sem tirar os olhos de mim.

– Kim Jong-woon, mais conhecido como Yesung.

– E como você sabe disso? – perguntou ele.

Paralisei. Quando eu respondi a sua primeira pergunta, não pensei que ele faria à segunda. Considerando que ele estava sem memória, qualquer história de seu passado, já seria muito bom, mas no momento, achei que seria ruim iludi-lo com a história de que ele era um cantor kpop famoso, então a única solução era mentir.

– Eu acho que você é o vizinho da minha avó que mora em outro estado – disse gaguejando um pouco, mas me mantendo firme para parecer verdadeira.

– Então ligue para a sua avó, peça para ela ir a minha casa.

– Mas não é assim tão fácil, meus avôs viajaram, não tem ninguém em casa – e antes que ele tivesse outra idéia, completei – E eu não tenho o número da sua casa, a nossa única comunicação com sua família, é um blog que sua suposta irmã escreve, então se você for mesmo o Yesung, é provável que ela vá escrever um artigo falando sobre isso.

– Certo – disse assentindo a cabeça com cara de pensativo.

Olhei para ele, ambos no chão, e senti meu estômago roncar.

– Quer tomar café da manhã? – perguntei franzindo o cenho.

Ele sentou na ponta do balcão, que também servia de mesa e que ficava bem no meio da cozinha, enquanto eu pegava as coisas. Peguei a sacola com pão integral, leite, leite preto - apelido carinhoso que dei ao Nescau já pronto -, garrafa térmica com café, margarina, geléia, requeijão e a torradeira e coloquei tudo sobre o balcão de granito.

Sentei de costas para a porta da cozinha e demos início ao nosso café da manhã amigável. Considerando que Yesung estava sem memória, eu era a única que falava, até que escutei o barulho do carro do meu pai. Larguei a torrada sobre o balcão e corri até a árvore de natal, pensando no que faria. Voltando para a cozinha, ordenei que Yesung se escondesse, mas ele não queria.

– Por que eu tenho que me esconder? Seus pais podem me ajudar.

– Se eles te virem aqui, eles vão arrancar o meu e o seu couro, então vá de uma vez.

Ele tentou iniciar outra discussão, mas o chutei do banquinho, o fazendo desabar no chão. Enquanto ele engatinhava para trás do balcão, escutei a porta sendo destrancada, então o empurrei com o pé, o fazendo cair de cara no chão, pelo menos ninguém o veria, e sai correndo em direção a porta.

– Bom dia – disse bloqueando com meu corpo, a passagem para a cozinha.

– Bom dia filha – falou meu pai – Estou morrendo de sede – completou ele desviando da minha mãe, que estava na sua frente.

– Deixa que eu pego – disse rapidamente e passei correndo em direção a cozinha.

Entrando no local, notei os olhinhos puxados de Yesung sobre o balcão e rosnei para ele, o fazendo se esconder, meu pai logo surgiu atrás de mim e dei a volta no balcão, pegando um copo e indo em direção a geladeira. Yesung fez uma careta para mim enquanto massageava a bochecha esquerda, mas o ignorei e estiquei a mão para pegar a jarra com água. Não me questionem sobre como eu fiz isso, porque até hoje tenho minhas dúvidas. Eu puxava a jarra com água calmamente, quando ela bateu na jarra de suco de laranja que estava na sua frente, e a fez cair no chão, fazendo o suco espirrar na camiseta de Yesung. Se minhas mãos não estivessem ocupadas, eu tamparia minha boca para não gritar.

– Duda... – falou meu pai passando pela cadeira que agora pouco Yesung estava sentado.

– Deixe que eu limpo – disse rapidamente o empurrando para a porta da cozinha – E aqui sua água.

Enchi o copo com água e entreguei ao meu pai. Só para garantir, esperei que ele bebesse o líquido transparente, para só então pegar o copo e guardar a jarra na geladeira. Vendo que ele seguia para o seu quarto, me agachei ao lado de Yesung que segurava sua bochecha esquerda.

– O que foi? – perguntei em um sussurro.

– Você machucou minha bochecha – respondeu ele parecendo criança.

– Deixe-me ver.

Calmamente segurei sua mão esquerda e destampei sua bochecha. Havia um grande vermelho estampado na mesma. Soltei um longo e baixo ‘uh’ e me levantei para pegar gelo. Coloquei quatro pedras de gelo em um pano de prato e me sentei de frente com o Yesung.

– Me desculpe, mas quando eu digo que é para você se esconder, é porque é para você se esconder – disse enquanto levava o gelo até sua bochecha.

Pressionei o gelo em sua face com calma, para que ela não inchasse.

– Eu ainda preciso trocar de roupa – comentou ele sem dar muita importância.

– Eu vou dar um jeito, fique aqui – disse lhe entregando o pano de prato com gelo.

Caminhei sorrateiramente até a árvore de natal e analisei os cômodos do térreo. Tanto a sala de jantar como a de TV estavam vazias. A porta do lavabo estava entreaberta e a luz apagada, e me aproximando da porta da frente, olhei para o primeiro andar e não vi nada, meus pais deviam estar dentro de seu quarto. Voltei até a cozinha e chamei por Yesung, que foi me seguindo sorrateiramente.

– Seu notebook – falou ele enquanto passávamos em frente à árvore de natal.

Peguei o notebook e coloquei em baixo do braço. Até sem respirar, subimos para o primeiro andar e entramos no meu quarto. Tranquei a porta atrás de mim e toquei a madeira branca com a minha testa ofegante, havíamos conseguindo.

Soltando um longo suspiro, me revirei para Yesung e quase cai ali mesmo. Ele terminava de desabotoar sua camiseta social preta e a tirava sem nenhum pudor. Seu corpo não era tão definido quanto de Siwon, mas era definido e lindo o suficiente para me deixar sem ar. Que safadinho da parte dele, ficar escondendo tudo isso das elfs. Eu estava literalmente babando quando ele agitou a mão na frente da minha face, perguntando se eu estava bem.

– Sim, estou bem – respondi rapidamente enquanto passava a mão discretamente no canto da minha boca.

– Se tiver uma camiseta grande... – falou ele deixando sua blusa em cima da minha cama.

– Claro, claro – disse desviando meus olhos para o chão e coloquei o notebook sobre minha cama.

Corri para o meu guarda-roupa e comecei uma busca por uma camiseta grande, o que não era tão difícil, já que eu sempre adorei camisetas grandes. Peguei uma camiseta feminina xadrez, uns dois números maiores que eu e mostrei para Yesung. Ele fez uma careta.

– Eu acho que vai ficar apertado.

Guardei a camiseta e voltei a minha procura. Passando alguns cabides, sorri ao encontrar uma camiseta branca. Para começo de conversa a camiseta não era minha, eu havia pego do Baro antes das aulas acabarem e nunca tinha devolvido, e também não pensava em fazê-lo. Embora ela possuísse mangas longas, seu tecido era bem levinho, então a mostrei para Yesung.

– Acho que vai ficar bom – disse com um sorriso.

Depois de vestir a camiseta, ele dobrou as mangas até a altura do cotovelo.

– Ficou bom? – perguntou ele sorrindo.

Sorri em resposta, pensando em dizer que ele estava lindo e maravilhoso, mas batidas leves na porta me impediram.

– Entre no guarda-roupa e não sai de lá por nada nesse mundo – disse rapidamente o empurrando em direção ao mesmo.

Ele quase caiu quando o empurrei, mas dessa vez ele foi bem obediente e entrou no guarda-roupa sem contestar. Abri a porta do meu quarto arrumando minha franja, que a essa altura não estava das melhores e soltei um sorriso forçado para a minha mãe.

– Vá tomar um banho Duda, daqui a pouco nós partimos.

Franzi o cenho.

– Eu já disse que eu não quero viajar.

– Você não tem escolha – disse minha mãe séria.

– Mãe! Eu quero que você entenda algo, eu odeio mar, eu odeio areia, eu odeio sol! Então por favor, me deixe ficar. Eu fico aqui todo dia sozinha. Quando você e o papai vão a algum jantar sozinhos, eu mesmo preparo meu jantar e fico aqui sem problema algum, então pelo amor de Deus, me deixe ficar – meu tom de voz ia aumentando à medida que eu falava.

– Não Duda, você vai e não tem discussão.

– Mas mãe.

– Mas nada, você vai e pronto – ela deu a costas e seguiu em direção a escada.

Nesse momento de frustração, dei alguns passos fazendo menção de segui-la, mas parei e berrei de onde estava.

– Por que você é tão estúpida?

Minha mãe paralisou, assim como eu, era a primeira vez que eu xingava a minha mãe, pelo menos para ela. Senti meu coração acelerar enquanto ela dava meia volta e caminhava na minha direção sem nada expressar. Parando a passos de mim, ela me olhou nos olhos e disparou sua mão direita sobre a minha face. Meu corpo pendeu para a direita e lentamente o endireitei mantendo sempre a cabeça baixa. Minha franja castanha, com o corte completamente inspirado na franja do Eunhyuk que ele usava até dias antes, encobria meus olhos. Respirando pesadamente e me segurando para não chorar, cerrei meus punhos com força e corri para o meu quarto. Minha mãe tentou dizer algo, mas apenas entrei no quarto e tranquei a porta. Sentindo raiva, muita raiva, segui para a minha escrivaninha e joguei todos os livros e cadernos no chão. Enquanto eu espatifava com o abajur no chão, Yesung saiu do guarda-roupa. Ele perguntou se estava tudo bem, mas o ignorei e segui para a minha cama, jogando tudo no chão, inclusive meu notebook.

– Duda, se acalme – disse ele se aproximando.

Mas eu não queria me acalmar. Sentindo as lágrimas invadirem os meus olhos, parei e despenquei no chão. Yesung se colocou de joelhos e me abraçou enquanto eu chorava completamente frustrada.

– Vai ficar tudo bem – disse ele acariciando com cuidado meus cabelos.

Permanecemos no meu tapete felpudo rosa por um longo tempo, até que alguém bateu na porta do meu quarto.

– Duda abra essa porta, aqui é seu pai.

Não respondi, apenas continuei envolvida pelos braços de Yesung enquanto ainda soluçava.

– Você venceu Duda, você vai ficar – disse meu pai.

Parei de soluçar no mesmo instante, eu havia entendido direito?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam? Fiquem a vontade para dar suas opiniões, reviews são sempre bem-vindos, ainda mais agora que tomei vergonha na cara e estou respondendo a eles (-q). Não percam o próximo capítulo ;D
by: Mc =]