Um Presente De Natal escrita por Valentinnes


Capítulo 1
Capítulo 1




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Era dia vinte e quatro de dezembro e aproveitando que alguns dos meus amigos ainda estavam na cidade, os chamei para ir ao shopping, assistir um filme, tomar um ovomaltine, rir das crianças chorando com medo do Papai Noel e coisas do tipo.

Baro, Amber e Jonghyun aceitaram na hora e lá fomos nós para o shopping. Como eu morava perto da casa do Baro, o esperei no ponto de ônibus e seguimos juntos para o local. Tenho que confessar que meu amigo estava com pensamentos maldosos, mas era quase natal e eu estava entediada, então nós pediríamos opinião de Amber e Jonghyun.

– Então a idéia é essa, entrarmos na fila e zoarmos com a cara do Papai Noel pedindo coisas absurdas como o kameramera do Goku.

– Essa criança tem uma mente perturbada – disse Amber ajeitando seus cabelos loiros e curtos – Mas eu topo.

– Vamos voltar a ser crianças – disse Jonghyun com animação.

– Será que se eu pedir alguma coisa kpop o Papai Noel entrega na minha casa? – perguntei franzindo o cenho.

– Com certeza que vai, via sedex ainda por cima – disse Baro, nem um pouco irônico.

Mostrei língua para ele e seguimos para o corredor onde o Papai Noel daquele shopping estava. Havia uma fila enorme no local, as crianças pareciam que haviam se esquecido de fazerem seus pedidos e escrito suas cartinhas e estavam aos montes ali, mas nem ligamos para isso e entramos na fila quilométrica.

Quando finalmente chegou nossa vez, as jovens que estavam para auxiliar o velhinho, nos olharam feio, mas Jonghyun as ignorou e foi todo saltitante sentar no colo do Papai Noel. Baro despejou um pouco de veneno, dizendo o quanto aquilo era gay, mas ele também sentaria no colo do Papai Noel, a se ia, e minha piscadela discreta para Amber, já dizia para ela preparar o smartphone que ia ter foto boa para se zoar durante as férias inteiras.

– Papai Noel – disse Jonghyun fazendo uma voz mais fina e melosa, nos fazendo rir – Eu quero uma boneca inflável de natal.

– Se você se comportou durante o ano, você vai ter meu bom rapaz – disse o bom velhinho.

– Mas será que dava para eu escolher a cor do cabelo? Porque eu queria uma loirona bem sexy.

Cutuquei Amber rindo e ela me deu um soco de leve no estômago, se nós não estivéssemos perto de tantas crianças, ela acabaria comigo ali mesmo, mas ela tentava ser legal na frente delas para dar bom exemplo.

– Ai vai depender do seu comportamento, você se comportou bem durante o ano? – perguntou o bom velhinho enxugando muito rapidamente a testa com uma toalhinha branca.

– Me comportei muito bem Papai Noel, eu só fiquei para recuperação de três matérias esse ano, olha que evolução.

O bom velhinho entortou a boca em uma careta.

– Deseje com fé, que quem sabe o Papai Noel te dá o seu presente hein? Agora vá em paz pequeno.

– Obrigado Papai Noel – disse o Jonghyun ainda com sua voz melosa e fina e deu um beijo na face do Papai Noel, o que nos fez rir loucamente.

– Agora eu vou – disse a Amber ainda rindo.

Ela rapidamente caminhou até o Papai Noel e sentou em seu colo com um sorriso amigável bem falso. Então seu sorriso desapareceu e ela começou a sussurrar, com muito custo, consegui entender que ela dizia o seguinte:

– O Papai Noel, sabe como é que são as coisas né? Ou você ta dentro ou você ta fora, então meu presente não é pra mim, não eu não sou uma pessoa egoísta, meu presente vai para você veio, porque essa pancinha aqui – ela deu uma leve batidinha na barriga falsa do bom velhinho – não dá para continuar, porque as crianças brasileiras não têm chaminé em casa, então você tem que pular a janela e pular a janela com essa pancinha não dá não, então eu quero de presente, uma esteira para eu dar para você estamos entendido? – um sorriso finalmente voltava a se abrir em sua face.

– Estamos super entendidos – respondeu o Papai Noel com humor.

Então saltitante, ela caminhou até nós e indicou o bom velhinho para Baro.

– Agora é sua vez.

Muito contragosto, afinal, ele não queria sentar no colo do bom velhinho, ele caminhou até a poltrona do mesmo e o encarou de pé.

– Sente aqui meu garoto – disse o bom velhinho dando leves palmadinhas na perna e segurando-se para não rir, até ele já estava na nossa.

Baro estreitou os olhos para o velhinho e recuou.

– Vá logo – disse Amber firmemente atrás dele.

Seus olhos escuros, até então inexpressivos, começaram a mostrar medo e sofrimento, quando menos esperávamos, ele começou a chorar.

– Eu tenho medo da barba do Papai Noel – disse ele em meio ao choro, nos fazendo rir.

– Ela não vai te machucar – disse o bom velhinho rindo baixo.

O garoto fitou a barba com medo e simplesmente saiu correndo com os braços para cima, enquanto gritava “A BARBA TÁ VIVA! A BARBA TÁ VIVA!”

– Faça seu pedido Duda que eu vou atrás dele – disse Jonghyun e saiu correndo atrás de Baro.

Arqueei a sobrancelha esquerda e fitei o Papai Noel. Ele sorriu de forma amigável para mim e eu caminhei muito lentamente até ele. Sentei em seu colo escutando a risada de Amber.

– O que você quer de natal minha querida? – perguntou o bom velhinho, que estava suando naquela roupa gigante, mas precisava do dinheiro para pagar suas contas.

– Eu quero o Yesung – respondi completamente séria.

– O que é isso? Um novo tocador de músicas mp3? – perguntou o Papai Noel franzindo o cenho.

– Não, eu quero o Yesung do Super Junior, uma boyband da Coréia do Sul.

– Se você se comportou durante o ano, é só desejar com força que você terá uma surpresa amanhã – disse o bom velhinho, tirando umas balinhas do bolso, não acreditei que ele ia me dar balinhas.

– Se você diz – disse dando de ombros e peguei as balinhas.

Comportada eu já era desde que eu havia nascido, e desejar o Yesung eu desejava desde que havia visto o Super Junior no youtube, então era bom que o Yesung estivesse embaixo da minha árvore na manhã de natal.

– Por que você ganhou balinha e eu não? - perguntou Amber saindo da fila ao meu lado.

– Porque eu sou uma boa garota – respondi com um sorriso, recebendo outro soco fraco de Amber, só que dessa vez no ombro esquerdo – Viu? Você não é uma boa garota – disse muito rapidamente com medo de levar outro soco.

Caminhamos mais um pouco e encontramos com Baro e Jonghyun que estavam sentados em um banco. Baro parecia inconsolável.

– O que aconteceu com ele? Não quer sentar no colo do Papai Noel? – disse Amber rindo.

– Ele tem um trauma verdadeiro de Papai Noel – disse Jonghyun sério, enquanto passava muito delicadamente a mão nas costas de Baro.

– Então vamos assistir a aquele filme de ação que estreou a pouco – falei dando de ombros.

– Ok, vamos – respondeu Baro se levantando muito rapidamente, já se esquecendo do choro, do trauma, de tudo.

– Você estava fingindo? – perguntou Jonghyun semicerrando os olhos para o garoto.

– Não, claro que não, eu tenho trauma sim – disse ele voltando a soluçar.

– Duda, eu posso bater nele? – perguntou Amber me fitando muito séria.

– Prefiro que o arraste até o bom velhinho e o faça sentar no seu colinho – respondi com um sorriso torto.

– Ela deixou – falou Amber para Baro com um sorriso maligno.

Baro arregalou os olhos e saiu correndo com Amber atrás dele. Enquanto ria, Jonghyun colocou o braço sobre meus ombros e perguntou o que eu havia pedido de natal.

– É segredo – disse sorrindo e sai rapidamente atrás de Amber e Baro.

Assim que o filme acabou, segui para minha casa de ônibus e fui tomar um banho. O cansaço me dominava, mas ainda tinha a grandiosa ceia de natal da minha família. Após vestir uma calça jeans, uma blusa regata vermelha e deixar meus cabelos soltos, desci com muita preguiça para o térreo.

Minha tia Laura já havia chegado e com ela vinha grátis seu marido Chilhyun e seus filhos Sooyoung e Minwoo. Abracei meus tios, soltei um sorriso amarelo para Sooyoung e dei um tapa discreto na cabeça do pirralho. Depois fui atrás da minha mãe, Lilian, que estava na cozinha fazendo a ceia.

– Vocês vão viajar amanhã? – perguntei sentando no banco de estofado vermelho e me apoiando no balcão.

– Nós vamos – disse minha mãe dando ênfase no ‘nós’.

– Eu já disse que não quero ir para a praia.

– Você não tem escolha mocinha, amanhã de manhã eu e seu pai vamos sair para resolver os últimos preparativos e na hora do almoço pegamos um avião.

Bufei e notando que minha tia entrava na cozinha, sorri e deixei o local. Outros tios meus foram chegando, mas tudo que fiz, foi ficar no meu canto ouvindo música kpop no meu ipod e sorrindo para todos os tios, falsa simpatia era comigo mesmo. A ceia de natal ocorreu como o planejado e depois da troca de presentes, segui para o meu quarto. Eu estava dobrando as roupas que eu havia ganhado dos meus tios, quando minha mãe abriu a porta.

– Você não vai dormir? – perguntou ela calmamente da porta, com a mão esquerda atrás das costas.

– Daqui a pouco – respondi sem prestar muita atenção.

– O Papai Noel mandou isso para você – disse ela tirando a mão detrás das costas.

Assim que visualizei a embalagem, senti meu coração disparar. Era pequeno e quadrado como um CD e estava embalado em papel de presente cinza. Peguei o presente em mãos e abri com o coração batendo a mil, eu sentia que era o CD do Super Junior, não podia ser outra coisa, afinal, eu passei o ano inteiro falando dele, mas então o sorriso se desfez da minha face.

– E então filha? Você gostou? – perguntou ela otimista.

– Um CD do Restart? – perguntei sem acreditar levantando o CD.

– Dizem que todos os jovens estão escutando.

– Mãe! – disse um tom mais alto, sentindo as lágrimas chegarem aos meus olhos, mas aguentei firme – Sai daqui! – disse brava, mas em tom normal.

– Filha... – a interrompi.

– E leva essa coisa com a senhora – disse esticando o CD com desprezo.

Minha mãe estava sem palavras, mas ignorei sua expressão e pedi novamente que ela saísse, sem sequer a olhar.

– Me desculpe... – disse ela recuando até o corredor com o CD do Restart em mãos.

Batia a porta e a tranquei. Sentindo uma dor imensa no peito, encostei-me à porta e escorreguei até ficar sentada no chão. Abraçando meus joelhos, chorei por estar tão longe da minha boyband preferida, por ter que obedecer a tudo que minha mãe dizia, por ter todos os meus sonhos frustrados, por ter que fingir ser uma pessoa que eu não era e por ter a certeza de que eu nunca ia encontrar meu bias, Yesung.

Acordei na manhã seguinte deitada no tapete felpudo e rosa do meu quarto. O sol entrava com intensidade pela janela de vidro e observei meu relógio de pulso. Marcava oito da manhã. Com muita preguiça, me levantei e fui escovar os dentes. Como não estava com coragem para tomar banho, me espreguicei enquanto descia as escadas do primeiro andar. A casa estava um completo silêncio e seguindo para a cozinha, quase tive um ataque do coração quando notei um rapaz deitado no chão, ao pé da árvore.

Ele estava de costas, então não tinha como identificá-lo. Embora seu cabelo negro e liso me parecesse familiar, fiquei paralisada imaginando como eu chegaria à cozinha sem fazer barulho para pegar uma faca e ligar para a polícia, mas a árvore de natal estava montada bem ao lado da porta da cozinha, o que complicava e muito, minha vida. Então o rapaz se moveu. Recuei indo em direção a escada, mas quando seu rosto virou totalmente em minha direção, paralisei. Não podia ser verdade. O rapaz bocejou e piscou os olhos diversas vezes, enquanto se espreguiçava embaixo da árvore.

Permaneci sem reação, até que ele se sentasse e olhasse tudo em volta. Fiquei agarrada ao corrimão, ainda sem conseguir ter uma reação, mas então seus olhos negros e puxados pousaram em minha face. Ele abriu a boca uma vez, tentando dizer algo, mas acabou desistindo. Meu coração batia a mil, enquanto eu o observava. Ele fitava o chão, como se buscasse as palavras certas para falar. Então ele fitou a minha face e perguntou.

– Quem é você? – e depois de uma curta pausa, ele completou - Quem sou eu?

Quase cai para trás, o Yesung estava sentado ao lado da minha árvore de natal, vestindo uma roupa social preta, muito mais lindo e maravilhoso do que eu estava acostumada a ver em MVs e programas e para completar estava com um laço vermelho em cima da cabeça.


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Notas finais do capítulo

Tipo, tive essa idéia agora e achei que seria uma boa. Fiquem a vontade para criticar, elogiar, esculachar e toda a família do ar (-q). Não percam o próximo capítulo ;D
by: Mc =]