Um Presente De Natal escrita por Valentinnes


Capítulo 11
Capítulo 11




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- Eu pensei que vocês iam nos encobrir – falei pasma.

- Encobrir vocês durante o dia – retrucou ela com a voz ligeiramente irritada – Por que ainda estão na cidade do Papai Noel?

Abri a boca para responder, mas antes que eu conseguisse dizer uma palavra, escutei um barulho estranho do outro lado da linha e em seguida uma voz de mulher adulta. Os três garotos ainda fitavam-me curiosos, mas eu não tinha tempo de explicar nada a eles.

- Duda? É você? Onde você está? – perguntava a voz desesperada, que embora estivesse um pouco diferente, reconheci como sendo da minha tia Laura.

- Oi tia, tudo bem com a senhora? – consegui perguntar com a voz embargada – Isso é uma pergunta muito engraçada de se responder, porque eu garanto que não tem ninguém preocupado comigo e que minha mãe não está que nem louca ligando da praia e... Sabe como é né tia? Jovens costumam dormir fora de casa de vez enquanto – minha voz ameaçava sumir algumas vezes, mas consegui terminar meu curto diálogo de defesa, que a propósito, não funcionou muito bem.

- Maria Eduarda! Volte para casa imediatamente! – gritou minha tia do outro lado da linha, me fazendo afastar o celular por automático e cutucar o ouvido com a mão livre, tendo um breve momento de surdez.

Reaproximei calmamente o celular do ouvido, mas antes que eu pudesse voltar a pensar, escutei novamente um barulho estranho do outro lado da linha e mais gritos no meu ouvido.

- Duda, passa o celular para o Jonghyun agora mesmo! – ordenou brava a mãe do Jonghyun, me fazendo esticar o celular para ele no mesmo instante. Ele me fitou com o cenho franzindo, como se perguntasse o porquê daquilo e tudo o que fiz foi sussurrar – Sua mãe.

Ele pareceu congelar. Ele conhecia muito bem a mãe que tinha e pela minha expressão de pavor, ela óbvio que ela não estava nada amigável. Ele hesitou um pouco, mas acabou pegando o celular e aproximando do ouvido.

- Mãe? – ele perguntou calmamente e temeroso.

Automaticamente ele encolheu os ombros e afastou um pouco o aparelho do ouvido. Yesung fez uma careta e se aproximou de mim, perguntando se o avô do Baro estava bem. Vamos dizer que para convencer o Yesung de viajar conosco, tivemos que contar uma curta mentirinha. Dissemos a ele que um avô do Baro, muito querido por nós três, não estava bem e íamos visitá-lo com a aprovação dos nossos pais, então era complicado explicar aquela situação para ele, mas eu tentei.

- O avô dele deve estar melhor, mas a situação não é essa, nossos pais estão bravos por termos dormindo fora – expliquei calmamente cruzando os braços.

Meu presente ficou em silêncio olhando para a rua. Ele conseguia ser fofo e lindo até mesmo quando estava pensando, mas nada superava o que veio em seguida. Ele parou defronte comigo, me fitou com seu semblante sério e olhos ameaçando ficar úmidos e me perguntou com a voz baixa, o que a deixava mais fina.

- É culpa do Yesung?

Soltei um sorriso de imediato para aquela criança crescida a minha frente e dei um passo a frente acabando com a curta distância que nos separava. Erguendo minhas mãos, as pousei em suas bochechas com uma vontade enorme de apertá-las e prendi meus olhos castanhos aos seus olhos negros. Meu sorriso diminuiu, restando apenas um curto sorriso no canto esquerdo da minha boca.

- Não, não é culpa do Yesung – respondi formando um novo sorriso leve para Yesung que tocou minhas mãos sorrindo de volta.

Quando suas mãos tocaram as minhas, senti meu coração acelerar e a respiração ficar pesada. Eu nem sabia porque estava tão perto. Meu sorriso passou para um sorriso constrangido e antes que eu pudesse recuar, Baro me forçou a isso espirando bem no meu ombro esquerdo.

- Ahhhh! – gritei me afastando de Yesung rapidamente e fitando meu ombro com nojo – Baro! – resmunguei ligeiramente brava, mas no fundo eu estava aliviada.

- Desculpe, desculpe, desculpe – falou ele rapidamente com sua voz rouca e passando as mãos rapidamente pelo meu ombro.

- Estamos sentenciados de morte – anunciou Jonghyun sério, nos fazendo desviar nossas atenções para ele – É melhor irmos falar com o Papai Noel de uma vez.

- Papai Noel? – perguntou Yesung franzindo o cenho.

Engoli em seco.

- É que o avô do Baro se veste de Papai Noel no Natal – respondi o mais rápido que eu podia, antes que Jonghyun desse mais um fora. Yesung separou os lábios lentamente para dizer algo, mas pousou os olhos sobre o chão pensativo. Aquele silêncio era ensurdecedor, mas antes que eu disse algo, ele voltou a me fitar.

- Então o Papai Noel não existe? – ele perguntou com os olhos visivelmente úmidos.

Congelei completamente pasma.

- Você... Você acredita no Papai Noel? – perguntou Baro não menos pasmo que eu e Jonghyun.

- Ué, ele dá presente para as crianças que se comportaram durante o ano – respondeu meu presente com naturalidade.

- Ahn... Se você está dizendo é porque o Papai Noel existe oras – disse calmamente tomando cuidado com as palavras – Mas como ele é um bom velhinho ocupado e não pode ver as crianças, ele contrata assistentes para fazer a felicidade delas... – Baro me interrompeu.

- Fala sério Duda, essa macumba vai fazer trinta anos, não tem porque você continuar com esse discurso patético – falou Baro irritado.

O encaramos em silêncio por longos segundos até que Jonghyun finalmente se pronunciou.

- Vamos de uma vez com isso, minha mãe está vindo que nem louca para cá – disse Jonghyun e voltou a bater palmas, mas Yesung estava estranhamente silencioso.

- Eu sou velho – murmurou meu presente de cabeça baixa, mas desviou seus olhos para mim me fitando por uma fração de segundos – Eu sou velho e você não me contou – disse ele com sua voz fina e baixa, voltando a fitar o chão.

Puxei o ar pesadamente para os pulmões e fuzilei Baro com os olhos, mas ele parecia não ligar. Uma jovem saiu na porta e veio perguntar o que queríamos. Jonghyun pediu para chamar o Vinícius Souza e em poucos segundos um homem de meia-idade, alto, com uma barriguinha clássica e um sorriso simpático, apareceu na porta. Deixei Yesung e me aproximei do homem analisando seus olhos.

- Papai Noel do shopping – exclamei com animação – Você se lembra de nós três?

Ele levou a mão direita ao queixo e fitou nossas faces com cuidado. Ele estava sério, o que deixava as coisas bem tensas, já que eu o reconhecia, mas então um sorriso se formou em sua face.

- O garoto da boneca inflável – disse ele com humor fitando Jonghyun – Conseguiu sua loirona?

- Eu não me comportei tão bem quanto o desejado – respondeu Jonghyun em meio a uma careta de tristeza.

- Mas eu me comportei – disse em meio a um suspiro passando meus olhos por Yesung, que ainda estava parado e fitando o chão com os pensamentos longe – O senhor sabe como isso aconteceu? – perguntei voltando meus olhos para o Papai Noel.

Ele franziu o cenho e passou por nós três, indo em direção ao meu presente. Ele parou defronte com Yesung franzindo mais ainda o cenho e apontou para ele com o indicador direito.

- O menino do grupo japonês? – ele perguntou sem acreditar.

- Coreano – corrigi rapidamente. O bom velhinho ficou mudo por alguns segundos fitando Yesung, que desconfortavelmente fitou o homem de volta e acenou levemente com um ‘oi’ baixo e um sorriso torto.

- Que brincadeira é essa? – ele perguntou se afastando de Yesung.

- Você acha que nós três e mais a macumba viríamos da capital até esse fim de mundo, apenas para fazer uma brincadeira de mau gosto? – perguntou Baro colocando as mãos na cintura – Eu tenho mais o que fazer, virada do ano quase ai e eu vou ficar perdendo meu tempo com brincadeiras – disse Baro fazendo algumas paradas básicas para tossir, mas se mantendo sério, para dar maior credibilidade para suas palavras.

- Grupo coreano? – Yesung perguntou me fitando com seus olhos escuros.

Aquela era a casa de sua sogra, mas o Papai Noel, ou melhor, Vinícius, nos convidou para entrar. Ele pediu a sua filha, a mesma jovem que havia aberto a porta, que fizesse um suco para nós enquanto discutíamos sobre a situação. Sentamos todos em volta da grande mesa de jantar e nos encaramos sérios. Yesung continuava silencioso e com a cabeça baixa.

- Então ele simplesmente apareceu embaixo da sua árvore de natal na manhã de Natal? – perguntou Vinícius calmamente. Apenas assenti com a cabeça – Eu nunca ouvi falar de nada assim – comentou ele pensativo.

- Você realizou o pedido dela, você é culpado – despejou Baro com a voz rouca e fez uma careta de dor.

- Você está bem? – perguntou Jonghyun preocupado. Ignorei ambos e perguntei para Vinícius, se ele não tinha uma ligação externa por o Papai Noel ou se ele não tinha passado por um terreno de macumba sem perceber, mas ele negou.

- É estranho o modo como isso começou, parece uma história de conto de fadas... – ele parou de falar quando sua filha chegou com a bandeja de suco e bolachas. Os olhos de Jonghyun e Yesung se regalaram de emoção no mesmo instante, eles deveriam estar com fome.

- Sobre qual conto vocês estão falando? Seria Cinderela? – perguntou a garota sorrindo e se retirando em seguida. O homem sorriu em resposta e nos explicou que aquela era o conto preferido de sua filha. Jonghyun franziu o cenho pensativo e rapidamente exclamou:

- É isso, o Yesung é o encanto que acaba a meia-noite.

- Ahn... Jonghyun – comecei formando uma ruga de interrogação na testa – Já se passaram três meias-noites desde que o Yesung chegou.

- Isso é verdade – comentou ele derrotado, voltando seus olhos para o biscoito e se esticando para pegar um deles.

- Mas tem a virada de ano – falou Baro me encarando sério.

Respirei pesadamente e fitei Yesung que comia os biscoitos animados, como se tivesse esquecido do drama que ele estava fazendo, por saber que estava quase com trinta anos. Então eu tinha só até a meia-noite do dia trinta e um junto de Yesung. Senti meu coração se apertar e uma súbita vontade de chorar, no fundo eu tinha esperanças que cuidar dele para sempre, mas agora as coisas pareciam bem distantes. Depois que meu presente e Jonghyun encheram a barriga de biscoitos e suco, agradecemos a hospitalidade do Papai Noel e seguimos para a entrada da cidade, onde esperaríamos a mãe de Jonghyun. Durante o percurso, Yesung me perguntou novamente sobre o grupo coreano. Pensei em inventar uma mentira qualquer, mas estava difícil para mim, meus pensamentos estavam todos voltados para o que aconteceria dia trinta e um.

- Olha Yesung, creio que você não seja o vizinho da minha avó.

- Eu vou explodir a meia-noite? - ele perguntou arregalando os olhos, o que era fofo e engraçado ao mesmo tempo.

- Não Yesung, você não vai explodir – disse segurando o riso.

Jonghyun e Baro caminhavam mais a frente. O primeiro não parava de falar das inúmeras torturas em quais sua mãe ia submetê-lo, enquanto o segundo apenas escutava calado e com os braços cruzados, como se quisesse se esquentar. Ficamos na rodoviária esperando pela mãe de Jonghyun, enquanto Yesung me enchia de perguntas sobre sua origem, mas tudo que eu disse a ele, foi que ele fazia parte de um grupo relativamente famoso de coreanos, mas não cheguei a mencionar o nome Super Junior. Depois de uma hora, a mãe de Jonghyun chegou. Ele congelou por completo. Baro que estava largado no meio fio, apenas moveu a cabeça em direção ao carro e voltou a se curvar sob os joelhos. Yesung sorriu e acenou para a mãe de Jonghyun. Eu respirei pesadamente e me aproximei de Jonghyun que não conseguia se mover.

- Vai ficar tudo bem – disse em um sussurro para ele, o encorajando a caminhar em direção ao carro e cutuquei Baro com o pé.

Embora hesitando, Jonghyun sentou no banco de passageiro ao lado de sua mãe, enquanto eu, Baro e Yesung fomos atrás, eu estava no meio dos meninos. A face da mãe de Jonghyun nada expressava, mas pela sua respiração pesada e rápida, era óbvio que ela estava morrendo de raiva. Yesung era o único que sorria.

- Os seus pais, estão muito bravos e preocupados – disse a mãe de Jonghyun para mim e Baro, que rapidamente se desencostou do vidro e olhou para os lados com expressão de cansaço - Quem é ele? – ela perguntou de forma firme para o filho, fazendo referência clara a Yesung.

- É novo na escola – respondeu ele rápido, fazendo sua voz ficar mais fina que o normal.

- Aluno? – ela perguntou desconfiada. Yesung parecia ser mais jovem do que realmente era, mas ela não parecia acreditar que ele teria apenas quinze anos, que era a nossa idade.

- Professor de coreano – respondeu Baro rapidamente ao meu lado com sua voz quase sumindo.

- Professor de coreano é? Então diga algo em coreano – desafiou a mãe de Jonghyun fitando Yesung pelo espelho retrovisor.

- Annyeong haseyo noona – falou Yesung com um sorriso animado e fazendo uma voz fina e fofa, fazendo nós três ficarmos pasmos.

- Você fala coreano? – perguntei boquiaberta.


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Notas finais do capítulo

Desculpem-me a nova demora. Dúvidas, críticas e sugestões serão sempre bem-vindas ^-^ . Não percam o próximo capítulo ;D
by: Mc =]