Um Presente De Natal escrita por Valentinnes


Capítulo 12
Capítulo 12




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– Se eu sou um professor de coreano, não é óbvio que eu fale coreano? – perguntou Yesung franzindo o cenho e falando muito calmamente como se eu fosse alguma retardada, o que de fato eu devia estar parecendo.

Semicerrei os olhos para o meu presente e preferi ficar em silêncio para não dar nenhum outro fora. A mãe de Jonghyun ficou desconfiada, mas não voltou a tocar no assunto. Durante a longa viagem de duas horas, Baro dormiu encolhido na janela, enquanto eu e Jonghyun íamos tensos, pensando nos dolorosos castigos, mas havia algo que eu estava deixando escapar. Quando chegamos à capital, o sol estava começando a se pôr e a mãe de Jonghyun pacientemente levou Baro até sua casa. Tive que agitá-lo para que ele acordasse, mas ele estava muito quente e não estava nada bem. Com a ajuda de Yesung, o levei para dentro de sua casa e depois voltei para o carro da mãe de Jonghyun, já que ela havia prometido para a minha tia que me levaria até o portão de sua casa e não sairia de lá enquanto eu não entrasse. Durante o percurso, ela perguntou para Yesung onde morava e ele educamente respondeu que era no mesmo bairro que o meu, então ele desceria junto comigo. Quando ela finalmente estacionou na frente do sobrado da minha tia, senti que aquilo ia ser muito ruim, mas mesmo assim, juntei forças para soltar um sorriso torto e forçado para Jonghyun e agradecer pela carona. Yesung parou ao meu lado defronte com os portões da minha tia.

– O que eu faço? – ele perguntou em meio a um sussurro.

Rapidamente peguei a chave da minha casa e entreguei a ele, o mandando ir discretamente para lá. Embora relutante, ele seguiu para a minha casa e eu toquei o interfone da casa da minha tia. Quando ela finalmente abriu a porta, a mãe de Jonghyun deu a partida no carro. Minha tia destrancou o portão menor manualmente e quando ela o fechou atrás de mim, começou a gritaria.

– Como você pode fugir de casa assim? Você quer me matar? Seus pais ficaram preocupados! – então por ligeiros segundos, ela parou de gritar no meu ouvido, o que foi um alívio, mas esse momento de paz, não durou nem dez segundos - Amanhã mesmo você viaja para a praia – completou séria e em tom normal. Suas palavras gritadas estavam entrando por uma orelha e saindo por outra, mas sua última frase, me fez parar e virar em sua direção.

– Viajar para a praia? – perguntei me engasgando.

– Isso mesmo Maria Eduarda, amanhã às dez da manhã sai seu vôo para a praia.

Abri a boca para protestar, mas as palavras não vinham em mente, eu não podia deixar o Yesung sozinho em casa, além do mais, meus pais tinham a intenção de voltar para casa, apenas no ano novo e provavelmente o encanto de Yesung já teria sido desfeito. Sem conseguir pensar direito, apenas entrei na casa e me joguei em uma das poltronas da sala que estava milagrosamente vazia. Minha tia Laura saiu resmungando algo, e Sooyoung, que estava sentada em uma cadeira com os cotovelos apoiados sobre balcão, veio caminhando hesitante até mim.

– Por que você fugiu com o Baro e o Jonghyun? – ela perguntou sentando desconfortavelmente no sofá.

– Por que você acha que com tanta gente para fugir, eu fugiria logo com o Baro e o Jonghyun? – perguntei asperamente sem fitá-la, eu era a única que conseguia ver o quão loucos e problemáticos aqueles dois eram?

– Você que me responda – disse ela em um tom frio.

A fitei por longos segundos respirando pesadamente e voltei meu olhar para o chão. Eu ainda vestia a camiseta azul marinho que Yesung estava usando, mas não me importei. Eu não estava com a mínima vontade de tomar banho ou fazer qualquer outra coisa. Minha prima também fitava o chão, era muito difícil dialogar com ela e eu não pediria desculpas por ter sido rude, então simplesmente deixe que o silêncio reinasse, até que ela tomou coragem para perguntar em um tom mais calmo.

– E como o Baro está? – ela perguntou me observando.

– Ele está morrendo com febre e dor de garganta, pegou gripe durante a viagem – respondi respirando pesadamente, sem dar importância ao fato, mas Sooyoung levou as mãos à boca soltando um curto ‘oh’.

Fitei a ela sem expressão, e incomodada com o meu olhar, ela subiu correndo para o quarto. Acabei não jantando, meus pensamentos estavam voltados para Yesung sozinho na minha casa. As chances de ele tocar fogo nela, pareciam reais, mas pensando bem, não era uma idéia muito ruim, pelo menos eu teria uma desculpa para ir até a minha casa. Como eu não podia sair ou usar o telefone, esperei a noite para sair. Era uma e meia da manhã quando eu acordei. Sorrateiramente, peguei minha mochila e desci para o térreo. As chaves da porta e do portão estavam na cozinha, então as busquei e abri a porta, mas antes que eu conseguisse deixar a casa, escutei uma porta ser aberta e paralisei no mesmo instante, temendo que fosse minha tia. Eu não queria me virar, mas calmamente o fiz, encontrando Sooyoung no topo da escada vestindo seu pijama rosa.

– Onde você está indo? – ela perguntou em um sussurro fazendo uma careta de irritação enquanto descia os degraus silenciosamente.

– Não é da sua conta, vá para o seu quarto – esbravejei em outro sussurro.

– Então eu vou chamar minha mãe – disse ela em um novo sussurro recuando.

No mesmo instante pedi para que ela ficasse e disse que ia rapidamente na minha casa, mas eu já voltava. Insistente e irritante como ela era, me perguntou o que tinha de tão importante para eu fazer na minha casa, que eu tinha me dado ao trabalho de acordar às uma da manhã. Minha respiração automaticamente ficou mais tensa do que já estava, ela também era fã do Super Junior e eu não podia simplesmente dizer a ela que suas amigas loucas estavam certas.

– Um... Uma tartaruga! – exclamei em tom normal, sendo repreendida pela minha prima – Estou criando uma tartaruga escondida, porque você sabe né? Minha mãe não gosta de animais, e como eu estava fora, tenho que alimentá-la o mais rápido possível.

– Eu vou com você – declarou Sooyoung abrindo a porta para que ela passasse e tirando a chave da fechadura para trancá-la.

– Não – exclamei em um sussurro eufórico deixando a casa – Sua mãe vai perceber e vamos estar duplamente em maus lençóis.

– Ela não vai não – retrucou Sooyoung negando com a cabeça e trancando a porta – E qualquer coisa, eu digo que te segui e você vai estar triplamente em maus lençóis.

Que isso, eu que me desse super mal. Destracamos o portão manualmente, para evitar barulho e segui com minha prima até a minha casa, mas chegando lá, me lembrei que eu havia dado as chaves para Yesung, então seria impossível entrar. Pegando minha mochila, procurei por minha chave dramaticamente e depois conclui para Sooyoung que eu havia a perdido.

– Como você perde a chave de sua casa? – perguntou Sooyoung indignada.

Dei de ombros e me pus de volta a sua casa, mas então uma voz firme e masculina gritou meu apelido da varanda do quarto dos meus pais. Muito lentamente e em meio a uma careta, me virei naquela direção a tempo de ver Yesung me acenando sorrindo e saindo correndo. Sooyoung me observou boquiaberta.

– Tem um homem na sua casa? – ela perguntou devagar e sem acreditar.

– O apelido dele é tartaruga – disse o mais sem graça possível com um sorriso amarelo.

Sooyoung me olhou indignada e esperamos que Yesung abrisse a porta e o portão. Ele exibia um sorriso majestoso e estava enrolado em um lençol fino que me pertencia. Segundo ele, ele estava me esperando esse tempo todo. Sorrindo para aquele ser esbanjando alegria, entrei na casa sendo seguida por Sooyoung.

– Acho que eu cochilei algumas vezes, mas eu estava lhe esperando – falou Yesung fechando a porta atrás de nós.

– O que viemos fazer aqui? - perguntou Sooyoung sem ao menos se virar para trás e cruzando os braços sob o tórax. Se ela continuasse daquele jeito revoltado, seria ponto para mim, já que até o momento, ela não tinha visto ou pelo menos reparado, que aquele era o Yesung do Super Junior.

– Alimentar... a tartaruga – falei como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, o que para mim era, e segui para a cozinha. Minha prima me seguiu.

– Olha o tamanho desse rapaz, como você ainda vai fazer comida para ele? E quando você viajar? Ele vai ficar sozinho na sua casa? – sua expressão era de irritação, mas eu conseguia sentir no fundo, bem no fundo da sua voz, que ela estava preocupada com a casa.

– Você vai ficar igual ao Baro se ficar andando de pijama por ai – falou Yesung calmamente, colocando o lençol em que estava enrolado sob os ombros de Sooyoung.

Minha prima repudiou o lençol no mesmo instante e pela primeira vez ela viu a face do meu presente na claridade. Um grito escapou do fundo da garganta enquanto ela encarava Yesung.

– Não é possível – disse ela ainda com os olhos fixos em Yesung, mas rapidamente voltou-os para mim – As pessoas estão loucas atrás dele, como ele pode estar aqui no Brasil e falando em perfeito português? – e voltando-se para ele, ela completou um tom mais alto de desespero – Desde quando você fala português?

– Em falar em línguas – comecei parada na porta da cozinha - Desde quando você fala coreano hein? Pensei que estava sem memória e magicamente havia aprendido português, coreano não faz parte do seu currículo – completei cruzando os braços e encarando o olhar de desaprovação de Sooyoung.

– Também não sei desde quando eu falo coreano, a mãe do Jonghyun pediu para que eu falasse, então simplesmente... – meu presente foi interrompido por uma forte dor e fraqueza que fizeram-no ir ao chão. Sooyoung que estava mais próxima, afastou-se sutilmente pata trás, enquanto eu que ainda fazia pose parada na porta da cozinha, corri ao seu encontro tentando auxiliá-lo, mas era sempre a mesma coisa, ele ficava se contorcendo de dor no chão e quando passava, ele se lembrava de algum fragmento, mas dessa vez, houve algo diferente.

Antes que sua crise estranha passasse, um filete de sangue desceu por sua narina esquerda. Aquilo não podia ser mais assustador, considerando o quão eu estava preocupada com ele. Ele por sua vez, parou de apertar a testa e rapidamente passou o dorso da mão direita no nariz, retirando o sangue sem nem saber do que se tratava, mas seus olhos se moveram curiosos naquela direção e ele levou um susto quando viu o sangue.

– Você está bem? – perguntei sentada ao seu lado e tocando seu braço com delicadeza.

Sua face expressava dor e cansaço, diferente da imagem alegre e viva que ele exibia a segundos atrás.

– Pessoas gritando ‘Super Junior’, isso foi tudo que eu realmente consegui captar – falou ele sem delongas, olhando vagamente para o chão.

– Claro, você faz parte do Super Junior e as pessoas estão loucas, isso mesmo, estão super loucas atrás de você Yesung – disse Sooyoung parando com as mãos na cintura.

Apenas semicerrei meus olhos para ela e o ajudei a se levantar. Depois disso, Yesung me disse que não estava com fome e seguiu para o sofá com seu lençol, onde ele ficou enrolado. Sooyoung me questionou novamente sobre o que eu faria quando eu viajasse, mas novamente não respondi, apenas segui até Yesung. Sentei-me no sofá ao seu lado e analisei sua face que estava distante e pensativa. Molhei meus lábios rapidamente os separando para dizer algo a respeito da minha viagem, mas antes que eu fizesse isso, ele virou-se para mim com os olhos úmidos, era possível notar que ele lutava para não chorar.

– O que você está escondendo de mim Duda? O que está deixando de fora?

Engoli em seco com aquela pergunta sem ter o que responder. Sooyoung que observava a cena de longe, sentou na poltrona que ficava a minha esquerda e dobrou as pernas colocando uma almofada sobre elas, agora ela sentia o frio noturno tomar conta de seu corpo.

– Conte a ele Duda, conte ele a verdade – falou ela calmamente.

Respirei fundo e soltei o ar pesadamente dos pulmões, eu não queria contar a verdade por temer as consequências, mas os olhos pedintes de Yesung pousados em minha face, diziam que aquilo era o mais certo a fazer.

– Tudo bem Yesung, eu vou te contar tudo, mas agora tenho que voltar para a casa da minha tia, esteja acordado as sete da manhã – embora estivesse relutante e curioso, ele assentiu e nos acompanhou até porta, onde se despediu de mim com um beijo na testa e acenou para Sooyoung.

O tranquei ali dentro sozinho e segui para a casa da minha tia na companhia da minha prima, que só agora se dava conta que o Yesung do Super Junior estava na minha casa.

– E se ligássemos para SM e pedíssemos resgate? – sugeriu ela pensativa.

Apenas fiz uma careta e seguimos para o seu quarto. Às seis da manhã eu estava de pé, enquanto ela ainda dormir confortavelmente em sua cama. Eu precisava falar com Yesung, não só sobre quem ele era, como também sobre minha viagem. Se eu fosse de ônibus para o litoral, seria mais fácil levá-lo comigo, mas indo de avião me faltava dinheiro para comprar uma passagem para ele e mandá-lo em um ônibus sozinho parecia perigoso, então eu ainda tinha que bolar um plano e rápido. Depois que tomei um banho e vesti minha blusa verde claro que havia ficado o tempo inteiro dentro da minha mochila, segui para a cozinha e fui abordada pela minha tia.

– Hoje você não sai depois do café da manhã – avisou ela coando o café.

Entortei os lábios em uma careta, eu pressentia que ela diria isso, por isso mesmo que pedi a Yesung que acordasse as sete ao invés das seis. Quando minha tia terminou de arrumar a mesa farta para o desjejum, rapidamente peguei um pão e passei margarina. Eu fazia as coisas com tanta pressa, que minha tia me repreendeu, dizendo que todas as refeições deviam ser feitas com calma, mas não me importei. Assim que terminei, me despedi dela alegando que ia arrumar minhas malas e sai correndo para a minha casa com minha mochila preta nas costas. Meu presente ainda dormia confortavelmente em minha cama, então aproveitei desse momento para preparar o café da manhã para ele. Fiz uma porção de torradas com a torradeira e passei diversos sabores de geléias, assim como também passei margarinas em outras. Para deixar o café da manhã mais completo, descasquei uma maçã, peguei um pacote de bolachas de sal e fiz um suco natural de laranja. Coloquei tudo em cima de uma bandeja para levar para Yesung, mas quando me virei para a porta com a bandeja, quase a derrubei de susto.

– Bom dia Duda – disse Yesung animado passando pela porta da cozinha – É pra mim? – perguntou apontando o indicador direito para a bandeja.

– É sim – respondi assentindo e voltei a colocar a bandeja sobre o balcão de granito. Ele sorriu mais animado e sentou ao lado da bandeja a analisando, como se decidisse por qual comida começaria. Eu me sentia desconfortável ao lado de Yesung, sabendo que eu iria viajar e ainda não havia encontrado uma solução sobre o que fazer com ele, mas tomando coragem, comecei calmamente - Yesung, tenho que viajar.

– E para onde vamos? – ele perguntou mastigando a torrada.

Fiz uma careta.

– Eu vou viajar sozinha para a praia.

Ele congelou me fitando surpreso.

– Você vai me deixar? – ele perguntou temendo que a resposta fosse sim.


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Notas finais do capítulo

Desculpem-me os erros de gramática e ortografia e espero que tenham gostado. Não percam o próximo capítulo ;D
by: Mc =]