A Estrada escrita por ChatterBox


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Chegouuu!!! Demorou, mas chegou.
Boa leitura, queridos. ^^
Beijocas, Anonymous girl writer s2.



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Meus pés me levaram para a praia. Não sei como consegui andar tudo, não faço ideia de como fui parar lá. Mas estava sentada na areia, fitando as ondas como se elas pudessem mergulhar à distância todas as minhas dúvidas e confusões até que se afogassem.

Mas não estava funcionando. Não havia jeito que eu aceitasse que Nathan podia ser um anjo. As coisas se encaixavam, mas ao mesmo tempo não faziam o menor sentido. Só podia ser pegadinha.

Mesmo que houvesse uma explicação lógica, ainda assim ficaria falha. Não havia mesmo como alguém saber o que ele sabia. Coisas que nunca contei que aconteceram quando estava sozinha, com nenhum chance de que alguém pudesse descobrir. Essa pessoa só saberia disso se estivesse visto. E no caso eu não vi, ou seja, o meu anjo da guarda, que sempre esteve comigo, mas eu não o vejo, saberia disso. Nathan.

Argh. Impossível de acreditar. Mesmo que os anjos existissem e que Nathan fosse ele. Não fazia o menor sentido que eu o conhecesse. Por que estava aqui, então? Como humano, e como um anjo poderia se apaixonar pelo próprio humano que protege. Insano, surreal; irreal.

Não era uma garota tão atraente para que uma criatura semblante e símbolo de castidade e perfeição pudesse ser tentado de tal maneira que desistisse de tudo para ser banido à um lugar como esse, já que tudo indicava que o seu castigo era ser humano. Aqui, na terra.

Mas como isso resolveria? Não parecia ser a solução perfeita, não parecia ser a solução que Deus, o ser maior de que qualquer outro pudesse dar à esse problema. Se o problema foi de que os anjos pecaram, jogá-los no mundo material não seria a solução, só lhe daria a oportunidade de afogar todos os seus desejos.

Como isso era possível?

Ainda tinha uma voz no fundo da minha mente que dizia para mim o tempo todo que eu estava enlouquecendo em ter aceitado de que ele era realmente meu anjo da guarda. Mas a outra não podia fazer nada para detê-la, já que tudo a obrigava a continuar acreditando.

Então ali estava eu. Com um anjo em casa. Um anjo caído, talvez. Não sei. Meu anjo da guarda, em carne e osso. Uma figura divina que ousei até admirar fisicamente.

Aquilo ainda me fazia me sentir suja naquela história toda. Fui motivo de quebra de divindades, criaturas perfeitas, deixando de seguir seus caminhos para ter um corpo humano? Como poderiam sentir desejo, se eram perfeitos? Mas já era uma possibilidade descartável, já que antes eu achava que os anjos da guarda nem podiam se tornar humanos. Tudo que eu acreditava estava errado, tinha sido obrigada a ter uma visão completamente diferente do mundo agora.

Depois de horas pensando, eu voltei, caminhando de pés descalços para casa. Nem sei que rota segui, de novo, meus pés moveram-se sozinhos para voltar. E quando cheguei. Apenas entrei com as sandálias nas mãos, com o olhar distante, pensativo e insólito, andando inconscientemente para o andar de cima. Talvez meus pais tivessem me dito alguma coisa. Não ouvi, as vozes não se projetavam direito e só via metade da realidade visual.

Fui parar no escritório, não sei bem por quê. Nem sei como tive coragem de voltar para casa e enfrentar, encarar aquela nova situação grotesca e completamente incomum que me exigia.

Sentei no tapete, de costas para a porta e com o olhar perdido na janela. Não sabia nem o que estava adiante, minha visão estava desfocada, com os pensamentos perdidos em outros lugares.

Não me movi, mas sabia que alguém tinha aberto a porta atrás de mim.

Ao meu lado esquerdo, estantes de livros, uma escrivaninha com papéis e porta-lápis entre elas, que estavam encostadas na parede, um sofá ao meu lado direito, de dois lugares, cinza-musgo. Entre tudo isso, o tapete, onde eu estava ajoelhada.

Não me virei para ver quem era. Pouco me interessava. Daí gelei quando a voz me revelou sua identidade:

 - Estava na praia?

Toou preocupado e solto no ar, levemente cuidadoso e cheio de zelo.

Nathan. Talvez tivera me esquecido que ele estava lá e que ainda podia vir me confundir ainda mais.

Nada saiu da minha boca, nenhum som reproduziu-se dela, só o vago silêncio.

Ao não ouvir resposta, sua voz soou de novo, junto com outro ruído, que talvez fosse a porta se fechando atrás dele. Queria impedir que fizesse isso, não queria que entrasse, mas não conseguia me mexer.

 - Pergunta meio boba a minha, onde teria ido que voltou suja de areia? À não ser que tenha ido dar um passeio no deserto do Saara, só poderia mesmo ter ido à praia.

Corrigiu si mesmo tentando descontrair, sereno. Talvez tenha me mexido um pouco pela primeira vez, não senti quando fiz, só mudei de posição e fui parar no sofá.

Sem olhar para ele, ainda sentou-se ao meu lado, só minha visão periférica o viu, meu foco não saiu do nada.

 - Quando somos banidos... – de repente começou a explicar-me baixinho, como chegou ali, ainda cheio de cuidado. – Somos jogados no mundo material sem memória de sua vida passada, para que vaguemos e descobrimos o quanto o pecado pode nos trazer dor, mesmo sem lembrança do que nos trouxe ali. Com nenhuma família humana ou memória de qualquer aprendizado, acabamos sempre tendo um triste fim no mundo material, por isso torna-se castigo.

Não tive qualquer reação, mas absorvi a informação, atenciosa nos detalhes, mas sem precisar lhe dirigir a palavra, conseguiria que tirasse minhas dúvidas sem que precisasse falar.

No fundo não sabia porque estava chateada com ele, talvez a confusão que tornou minha vida tivesse transformado o que sinto em mágoa.

 - À não ser... – contou-me a exceção. – Que o anjo ache seu antigo protegido. Pode sentir sua presença como herança do antigo dom de anjo da guarda, precisamos saber onde vocês estão, então sentimos a proximidade de vocês; mas são poucos os anjos que conseguem reencontrar seus protegidos, são postos bem longe deles para que isso não aconteça. Quando o encontra, é uma reação involuntária, sem controle do mestre; toda sua memória retorna e também com a memória, certos privilégios, dons que os antigos anjos possuem que o resto da humanidade não tem. – pela primeira vez, em toda a conversa, a curiosidade me moveu para que olhasse para ele, virei meu rosto e te olhei nos olhos. Ele só continuou a falar. – A pesar de não ter tido nenhuma das experiências humanas, conseguimos aprender tudo, somente precisamos começar a fazer que a continuidade acontece com perfeição como se a experiência existisse. Podemos nos mover com tanta leveza e descrição que os humanos podem não notar com clareza os movimentos que quisermos.

À medida que falava, as coisas iam se encaixando com facilidade.

 - Vaguei por muito tempo, mas algo me dizia que tinha que te encontrar. Quando cheguei perto daquela rodovia, senti sua presença, e foi uma sensação tão descontrolada que não senti quando me joguei na frente do carro. Mas então te encontrei. Lembrei de tudo quando nos olhamos no hospital.

Sorriu levemente de lado para mim. Ainda não consegui dizer nada, na verdade, nem sabia o que dizer, o que eu diria para o meu próprio anjo da guarda?

 Quando viu que não respondeu só suspirou e continuou falando no mesmo tom:

 - Pode parecer estranho agora, mas não me arrependo do que fiz. Passei toda a minha vida olhando você, sem poder te tocar, vi você crescer e virar uma mulher e sem que eu pudesse controlar, tudo mudou. Não sou o primeiro nem o último que é banido por essa razão.  – pausou para suspirar de novo. – Podia ver você, mas sou como o fantasma, posso estar no mundo material, mas meu corpo está no mundo espiritual. Então por isso não me via, nem podia tocar em você, é como nos filmes, minha mão atravessava seu corpo, só podia interferir em sua matéria se estivesse em grande risco físico, como um acidente, um atropelo, e mesmo assim em último caso. Mas eu podia ouvir seus pensamentos e te assistia o tempo todo, e sou uma espécie de consciência sua, então só podia me comunicar como se fosse “a voz da consciência” e mesmo assim é completamente proibido comunicar qualquer coisa além do que o necessário.

 - Então agora, quem me protege? Estou sem consciência?

 Pela primeira vez minha voz soou naquele escritório, mais involuntariamente que sob meu controle. Ainda não me sentia pronta para conversar nada com ele.

 - Há outro em meu lugar, é claro. – respondeu. - Nenhum ser humano pode ficar desprotegido.

Olhei-o durante dois segundos nos olhos e logo desviei o foco. Devia perguntar se hipnose também era um dom de anjo, porque continuava me perdendo quando fitava os olhos brilhantes e anormais dele.

Suspirei, ainda tímida e cuidadosa.

 - Você deve estar assustada agora, mas não podia mais esconder a verdade. Não quero acabar sendo uma assombração para você, eu não queria contar daquele jeito, mas acho que fiquei tão nervoso que saiu do meu controle.

Ainda fiquei mais alguns minutos sem dizer nada, depois, resolvi tentar acertar as coisas:

 - Escuta, eu não posso dizer que perdoei você, na verdade, eu nem sei o que deveria perdoar, mas o fato é que eu estou confusa e não sei em quê acreditar. Nada faz sentido no momento, mas eu... Não quero mais ficar assustada ou estarrecida, eu vou tentar... Dar um jeito, mas só não queria que esperasse tanto de mim. Não sei se posso amar alguém que nem tenho certeza se é humano e não sei nem o que dizer sobre tudo que fez por mim.

 - Eu entendo. – interrompeu. – Agora nem deve saber o que vai acontecer daqui para frente, mas a questão é que eu não vou embora, não sei se isso é ruim ou não, mas não vou desistir de você. Não espero nada, só quero que a gente comece outra vez. Sem mentiras e tente se dar bem. Se houver algum sentimento, vai surgir naturalmente.

 - Espero que seja desse jeito.

Sorri, tentando não demonstrar minha apreensão quanto a isso.

Ergui o olhar e vi meu pai na porta. Sorriu alegremente para nós.

 - E aí? – saudou. – Vim saber se estão interessados em quebrar um galho lá no mercado, dois funcionários não vieram e podia pagar para vocês o dia.

Aquela pergunta chegou na hora certa, estava lisa, sem dinheiro nenhum praticamente.

 - Eu vou.

Respondi, me levantando já preparada para pegar no batente. Nathan veio logo depois.

 - Por mim tudo bem.


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Notas finais do capítulo

Espero ver vcs no próximo, coisas ainda vão acontecer, mudar, só ainda estou meio perdida quanto ao clímax, mas acho que vou confiar na minha criatividade.
Beijocas, Anonymous girl writer s2.



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