Fui para o meu quarto e deitei na cama olhando pro teto fitando o nada mas pensado em tudo. Eu magoei um garoto perfeito, lindo, inteligente, simpático... Eu definitivamente não tinha coraçāo.Toda vez que tentava culpar Noah por ter feito respiração boca-a-boca na Melissa e me deixado irritada a ponto e pegar as chaves do carro alugado dele e cair no jardim batend a testa nas pedras e aceitado a ajuda de Brian eu melembrava que a culpada era eu por não ter batido a minha cabeça mais forte nas pedras e morrido ali. Ok, talves isso fosse um pouco dramático demais. Mas o que isso importava? Eu simplesmente magoei o garoto que disse que me amava e que ainda me ama. Como uma pessoa se sente nesse momento? No minimo arrasada. E pra piorar a situação Noah ia imbora de manhã resolver sabe-se lá o que.

Mas tinha pelo menos uma coisa que eu ia gostar de ver essa noite. Levantei da cama e tomei um banho quente, colocando um jeans uma blusa azul clara com detalhes brancos e aquele meu único salto preto. Fiz uma maquiagem simples. Sim, eu usei maquiagem. Aquela era a minha última noite com Noah. Não queria que passasse despercebida.

Fui para a recepção mas não encontrei ninguém. Olhei para o relógio e vi que ainda faltavam quize minutos pros outros descerem. Me joguei num daqueles sofás grandes e macios de couro que ficavam na recepção olhando sem ver realmente o programa que passava na TV enorme. Parecia o jornal. Jornais me davam enjoo. Levantei olhando pros lados pra ver se ninguém prestava atenção e mudei de canal. Um velho que estava escondido atrás de um livro velho e amarelo começou a reclamar. Olhei pra ele com um olhar assassino. Mas aparentemente não adiantou. Ele foi reclamar com o cara que parecia gay que estava no balcão da recepção.

Alguns minutos depois o cara gay veio na minha direção e ficou na minha frente.

- Que é? - perguntei desviando meu olhar da TV pro cara.

- Boa noite, eu recebi uma reclamação do senhor Waterfall. Ele disse que estava assistindo televisão e você trocou de canal. Quando ele reclamou, você não colocou no canal de volta.

- E?

- E você tem noção de quem é esse senhor, mocinha?

- Não preciso saber quem ele é pra saber que é um velho chato e reclamão que não deixa os jovens de hoje terem liberdade de não quererem ver as desgraças do mundo. - Nossa. Em toda a minha vida essa foi a coisa mais idiota e ridícula que eu já disse. Mas eu precisava interpretar bem o papel de culta e informada perto daqueles idiotas.

- E - o senhor que estava quase morrendo repetiu com raiva - que eu estava assintindo ao jornal, minha jovem petulante. E você trocou de canal não se importando com a minha presença. Você nunca ouviu falar em primeiro os mais velhos?

- Senhor, - eu disse com ironia - primeiro que eu já ouvi falar em primeiro os mais velhos, e não primeiro as múmias que esqueceram de ser colocadas no museu. E você nunca ouviu falar que o jornal faz com que seu cérebro diminua? - o velho idiota ficou espantado e eu continuei, prendendo o riso - é, eu li que velhos... quer dizer, idosos com mais de 62 anos não podem ver jornal, porque são tantas coisas ruins, que vocês ficam deprimidos com como o mundo está uma degraça.

O cara gay e o velho idiota se olharam por um estante e depois o velho se virou pra mim.

- Ah isso faz sentido. Muito obrigada minha filha. Deus te abençõe. Vou para o meu quarto ler o meu livro e nunca mais ver televisão. E Joe, - o cara gay se virou para o velho.

- Sim senhor.

- Faça um controle de todos os quartos de todos os hotéis daqui. Os quartos que tiverem senhoras e senhores com mais de 62 anos, retire do quarto. - ele se virou - E ah, passe de quarto em quarto avisando, explicando e pedindo desculpa a todos pela mudança.

O cara que se chamava Joe se virou pra mim com raiva e eu disse:

- É isso aí Joe, vai trabalhar. Você não ganha pra isso? O quarto do terceiro andar se eu não me engano, tem uma senhora com mais de 62 anos. Pode começar por ele. - acenei um tchau pra ele e ele se virou com raiva andando e falando sozinho que nem um maluco.

Dei uma gargalhada e me joguei novamente no sofá. Alguém entrou novamente na frente da TV quando estava passando um dos meus clipes favoritos.

- Ah qual é, eu to vendo a TV não dá pra sair da frente não?

- Tsc, tsc, tsc. Não sei quem é pior. Você, por contar uma mentira tão descarada, ou o velho, por cair na mentira que nem um idiota. - Levantei minha cabeça e sorri pra Noah que sentou do meu lado colocando o braço ao redor do meu ombro e me dando um beijinho na testa.

Suspirei. Eu ia sentir falta disso. Ia sentir falta de tudo. Mas principalmente desses gestos fofos espontâneos de Noah.

- Que horas você vai imbora amanhã?

- De manhã. Mas não pensa nisso agora.

O elevador se abriu revelando Cath com Gab na sua cola. Me separei de Noah e fui andando pra saida do hotel, em direção ao restaurante com Cath e Gabe atrás de mim. Noah estava do meu lado. Enquanto eu caminhava pro restaurante, ouvi a voz de alguém no gritando lá de trás.

- Hey! Me esperem!

Era a Melissa? Parei de andar e olhei pra trás. Sim, definitivamente era a Melissa. Abri a boca formando um O de surpresa. É, ela também devia saber que o Noah ia embora no outro dia. Porque ela estava - argh! como eu odeio admitir isso - perfeita.

Ela estava usando um vestido preto tomara que caia de cetim, que tinha uma espécie de laço abaixo do peito. Estava com um salto alto preto lindo com uma caveirinha na ponta, e uma maquiagem preta pesada. Seu cabelo estava repartido no meio, sem a franjinha e com cachos grandes e loiros que caiam pela cintura. Tudo parecia que tinha sido feito sob medida pra ela. Olhei pra Noah que estava com a mesma expressão que eu.

Suspirei. É, parece que aquela noite não ia ser como eu esperava.