Degustando-se de Água escrita por Bee Maciel Braz


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Ficou meio pequeno, rs
VOLTEEEI o/



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Fiquei espantada. Como assim, Plutarch Heavesbeen, nosso instrutor? Ele já deveria ter morrido, fora que ele foi um dos principais responsáveis pelo final dos Jogos Vorazes! O que ele estava fazendo lá? Provavelmente meu descontentamento foi reproduzido em minha face, pois assim que eu e Cray o respondemos ele abaixou até ficar na altura de nossos olhos (mesmo que Cray fosse mais alto que eu) e disse:

-Eu não queria nada disso, acreditem, mas eu fui obrigado, eles me torturaram!

Eu nada fiz, esperava que aquele crápula hipócrita tivesse sido torturado até a morte! Como ele podia ter feito isso? Os Jogos Vores haviam acabado, não poderiam voltar! Só de pensar no que me aguardava daqui a uma semana meu coração disparava, e quase saía de mim. Eu só esperava uma morte rápida, o que eu provavelmente conseguiria, no banho de sangue, do qual eu com certeza não passaria. E se eu passasse, minha morte provavelmente seria cruel. Estreitei os olhos para Plutarch e virei meu rosto em direção a Cray. Nossos olhares se encontraram, e por alguns segundos senti um bocado de esperança. Seus olhos me passavam uma sensação de proteção, e me fazia acreditar que ainda teríamos chance... "Hunpf, bobagem" pensei eu assim que desviamos o olhar. Mas eu não consegui esquecer o quanto aqueles olhos eram acolhedores e bonitos.

Fomos para o compartimento, e eu demorei a cair no sono. Estava exausta, mas não conseguia parar de me lembrar de como fora meu dia, da colheita, de quando meu nome foi chamado, assim como no meu sonho na piscina, de quando olhei para Meg desesperada e ela apenas desviou o olhar, de como eu estava com medo, e de como os olhos de Cray melhoraram meu estado, mesmo que apenas por alguns segundos. E foi assim que caí no sono.

No dia seguinte, eu acordei e o céu ainda estava rosado, provavelmente havia acabado de amanhecer. Mesmo assim desci do meu beliche e me troquei, colocando uma malha com decote em V, vermelha e uma calça jeans. Lembrei de Plutarch mais uma vez, e me perguntei se ele havia achado a fonte da juventude, porque ele deveria estar muito mais velho, a essa hora morto, na verdade, mas não. A Nova Capital deve ter esse tipo de tecnologia.

Para a minha surpresa, tem alguém assistindo TV na sala de estar, que fica logo ao lado da sala de jantar. É Cray, que está, na verdade, dormindo, enquanto na televisão, a reprise das Colheitas em todos os Distritos é exibida. Me lembro de que não assisti aos outros, mas não quero me dar ao trabalho. 

Desligo a TV, sento no sofá e fico lá, pensando, como gosto de fazer. Às vezes, na verdade, me isolo para fazer isso. Eu poderia ter assistido às colheitas, me prepararia melhor para competir, mas acho que não quero saber, porque, afinal, já vou descobri-los nos treinos coletivos. Eu não vou conseguir, tenho certeza. Não sou bem preparada, afinal, o que eu sei fazer? Nadar e pescar, grande coisa. Nem ao menos sei manusear um tridente, acabando com a tradição, se é que havia uma. Só não tendo uma habilidade que meu avô tinha. Talvez eu consiga me dar bem, por algum tempo, talvez ache alguma estratégia, mesmo que provisória. Quando me dou conta, vejo que Cray está olhando para mim, ele acordou. Sinto que estou ruborizando, e decido levantar. Vou à sala de janta e vejo a mesa farta. Pego pão e alguns queijos e me sirvo, tentando ao máximo desviar meu olhar do de Cray. Mas parece que nada quer colaborar. Pegamos o pão ao mesmo tempo, eu deixo uma colher cair e ele me ajuda a pegá-la... É, realmente, nada está querendo ajudar. Porém, isso é com o que menos devo me preocupar nesse momento, porque daqui há uma semana, minha vida estará em risco

~x~

Chegamos ao Distrito Três à tarde. Tenologia, essa palavra define tudo lá. Magnetismo, ferraria, botões ou qualquer coisa assim também serve. Até mesmo Céu parece feito de ferro, pelo cinza das nuvens pesadas. Logo saímos de lá, depois de alguns acenos e coisas mais.

Então chegamos a Capital. Majestosa, grande, brilhante.Os prédios enormes e grandiosos dão a impressão de que tudo lá foi meticulosamente planejado para que cada olho não pudesse acreditar no que via. Mas ainda é o lugar que recriou o que provavelmente vai me matar. Só de pensar nisso fico tonta, e viro meu rosto para a parede oposta, onde não há janelas. Dei de cara com Cray, e percebi que ele ruborizou, o que provavelmente também aconteceu comigo.

–Realmente incrível – comento, e logo depois continuo, com um muxoxo – Como a nossa morte pode ser feita num lugar assim.

Percebo que minhas palavras criaram um clima tenso, pois Cray pisca os olhos um pouco atordoado e estrala o maxilar. Dou de ombros. É a verdade.

Leevy chega e diz para colocarmos as roupas, que nossos estilistas já separaram, quebrando o contato visual ente nós dois. São as melhores peças de nossos guarda-roupas.

Entro em meu quarto e me deparo com um vestido sobre a cama, com um efeito gradiente, começando com azul e terminando com verde água. É realmente bonito. Feito no lugar dos hipócritas. Feito para os hipócritas me verem, se impressionar com a minha beleza.

Chego à sala de estar com minha roupa, e Leevy prepara minha maquiagem, já que minha equipe de preparação está fora do trem. Minha maquiagem, assim como o vestido, é degradê, porém começando com lilás e terminando com azul-cobalto.

Saímos do trem e uma rajada de vento toma conta de meu rosto. Lembro da brisa do mar, no Distrito 4, de meus pais, de como eles provavelmente estão amedrontados, assim como eu. Lembro de minha mãe, chorando, pedindo aos deuses – se é que eles existem – para zelar por minha vida.

Mas eu sei que vou morrer.


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Notas finais do capítulo

Não deixem de comentar, se não eu sumo de novo :(



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