Degustando-se de Água escrita por Bee Maciel Braz


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Não ficou muito grande, mas adorei escrever os últimos parágrafos!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/183428/chapter/5

Os passos ecoavam pelo corridor branco. Era incrivelmente pareido com um hospital, branco por inteiro, ofuscante. Também era como um hospital pelo fato de ser meu leito de morte. Eu posso estar sendo negativa, mas, são os Jogos Vorazes, e o que eu posso fazer com uma vara de pescar?

Levvy e Plutarch entram logo após Cray e eu, e abrem a porta à nossa frente. Se antes, tudo era exageradamente branco, esse aposento é totalmente o contrário. A janela que ocupa uma parede inteira mostra os prédios coloridos e enormemente espetaculares da Capital, e a mesa farta era cheia de doces e frutas, algumas delas provavelmente mutadas nos laboratórios.

Comemos correndo, por estar com Levvy no nosso ouvido, gritando que logo nossa equipe de preparação chegará. Não consigo imaginar como eles são. Aposto como estão felizes na volta dos Jogos, afinal, é um novo emprego para eles, certo? Todos na Capital devem estar se divertindo com isso, na verdade. Me impressionou o fato de Ana Gaslile não participar dos Jogos quando foi sorteada. Afinal, eles diminuíram um pouco a brutalidade da diversão deles.

Enquanto comemos, Cray e eu não nos atrevemos a nos olharmos nos olhos. Talvez a perspectiva de estar aqui, praticamente na arena, o assuste tanto quanto a mim. Sobressalto quando a porta é escancarada, e por lá entram uma mulher alta e voluptosa, com os cabelos cor-de-rosa ondulados caindo em cascata por suas costas, acompanhada de um homem magro, mas forte, cheio de tatuagens pelo corpo todo, sem sobrancelhas e cabelo verde-musgo num topete digno de Elvis. Típico.

A muher, que logo se apresenta como Adina, bate palminhas histéricamente, com um sorriso gigante nos lábios. Minha repulsa é gigante, mas eu me contenho a revirar os olhos. Logo percebo que esse é meu limite, assim que vejo que Plutarch me repreende a ver o movimento de meus glóbulos oculares.

–Vamos então, Cathrea? Aliás, que lindo nome, de onde ele veio?

–Da imaginação de meus pais – Não consigo evitar ser grossa. Adina ri com minha resposta, e deixa o homem sem sobrancelhas que a acompanhava para cuidar de Cray.

Então entro em um cômodo que me dá a impressão de uma sala cirúrgica. Ela me deita em uma maca de metal frio, então chegam dezenas de pessoas com cabelos e peles extremamente chamativos, depilando minhas pernas, axilas, buço e virilha, moldando minhas sobrancelhas, esfoliando minha pele, me enchendo de perfumes até que eu não consiga respirar.

–Linda! Linda! – Exclama Adina. Não quero me ver. Devo estar tão bizarra quanto essas pessoas.

Um espelho é colocado à minha frente, então vejo como estou: Minhas sobrancelhas bizarramente com a forma de ondas nas pontas. As espinhas e cravos desapareceram, assim como os calos de minhas mãos, marcas de pesca. Minha pele muito lisa, e artificialmente desbronzeada. Sim, desbronzeada, já que no Distrito 4 é difícil não colocar a melanina para funcionar.

–Espere até conhecer Albano! – E se retira.

Fico esperando por alguns minutos, dois, no máximo, e um homem muito branco, como se nunca tivesse visto o Sol na vida, entrou rebolando na sala. Seu cabelo era preto como piche, contrastando quase assustadoramente com sua pele.

–Olá Cathrea! – Ele começa – Pronta para se tornar estonteante? – A sonoridade da palavra é tão falsa que não consigo conter mais um revirar de olhos.

No Distrito 4 eu era feliz, eu tinha o que queria, tinha amor, uma família, amigos. E agora estou me aprontando para morrer! Como isso aconteceu?

–A sua roupa será uma surpresa, Cathrea, mas a sua pele... Vai parecer do Mar, literalmente! – Ele bate uma palma alta, pausando para rir da própria piada patética. Então ele levanta um pequeno pote onde está contido um creme verde azulado, gradiente – Essas serão suas escamas!

                                                                                   ~x~

–Qual será a nossa estratégia? Você é nosso mentor.

–Bom, Cathrea, você pesca, não? – Assinto com a cabeça – Ótimo. Sabe fazer nós, e tem força suficiente para arremessos. E você, Cray, ajuda numa peixaria, não? – Dessa vez ele assinte, também silenciosamente – Consegue suportar frio, como o que mantém os peixes na loja. No treinamento, descubram coisas novas, baseadas no que vocês façam no dia-a-dia. Depois conversamos da sua estratégia da arena.

Como um impulso vindo de todos os meus nervos, como um raio de Zeus, eu subitamente levanto de minha cadeira, fazendo Plutarch afastar o corpo, ligeiramente. Paro em frente à mesa por alguns segundos, então junto toda minha voz, encho o diafragma e finalmente extravaso minha raiva. Pelo menos parte dela:

­–Estamos sendo mantidos como porcos para o abate! Panem et Circenses*– Debocho – Vocês nunca vão aprender? Somos pessoas, temos vida, sentimentos, pessoas que gostam de nós! Não somos só objetos! Enquando os Idealizadores se divirtem, estamos aqui, presos nessa merda! – Cuspo a última palavra – Repugnantes! – Grito mais alto, e me retiro para meu quarto. Ainda pelo canto do olho, vejo que Plutarch está quase como Albano.

*Panem et Circenses: Política do Pão e Circo, criada pelos romanos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Tava sem inspiração :/
Reviews, PLEASE.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Degustando-se de Água" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.