Everlasting escrita por Fernanda Redfield


Capítulo 4
Capítulo 3: O Caminho de Volta


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas lindas!
Mais uma vez, gostaria de agradecer a todos os comentários e recomendações. Eu escrevo por causa de muitas coisas, mas os reviews e os elogios (assim como as críticas) só me deixam ainda mais aplicada em melhorar e surpreender a todos.
Sobre surpresas... Eu fiquei feliz por NINGUÉM ter acertado o que aconteceria na fanfic em seguida kkk Enganei vocês direitinho!
Mas por outro lado, temo que talvez... O rumo tomado aqui não agrade a todos, mas fiquem tranquilas, eu prometo explicar tudo mais para frente.
Sem mais, boa leitura!



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20 de Novembro de 2012, Lima, Ohio.

“I woke up one morning to find myself wrapped in the things I swore I'd never touch...”

(Too Many Words – Sick Puppies)

            Abri meus olhos antes mesmo do sol se levantar, chutei as cobertas, cansada enquanto erguia meu corpo e olhava para a janela. O sol estava subindo no horizonte, colorindo o céu em um tom que se dividia entre o rosa e o laranja... Se eu estivesse com a minha câmera por perto, até tiraria uma foto.

            Fechei meus olhos e massageei minhas têmporas, tentando amenizar aquela dor chata que estava começando a brotar em minha cabeça. Mas assim que fechei meus olhos, aquelas mesmas imagens e aquelas mesmas sensações me tomaram abruptamente e eu senti minha cabeça roda enquanto tentava me manter sentada.

            O frio, o sangue, o vidro, o grito... O sonho que me tirara o sono naquela noite estava bastante vívido em minha memória, assim como o desespero que eu senti quando consegui despertar. Eu não consegui dormir durante a noite, só meros cochilos que eram interrompidos assim que minha mente vagava na subconsciência e chegava nesse maldito pesadelo.

            Levantei-me rapidamente e minhas mãos tremiam, caminhei vacilante até o banheiro, sentindo a minha cabeça rodar e latejar. Meus braços ardiam como se estivessem cortados e jorrando sangue... Alguma coisa não estava batendo, alguma coisa parecia fora do lugar.

            Pode parecer loucura, mas parecia que eu tinha me machucado durante meu sonho... Droga! Eu tenho que parar de ver filmes de terror. Por breves instantes, eu cogitei que todo aquele sangue do sonho fosse meu. Até olhei meus braços a procura de ferimentos no espelho, mas eles estavam intactos, imaculados.

            Balancei a cabeça e me olhei no espelho do banheiro, estava pálida e meus olhos pareciam fundos e sem vida. Bufei impaciente e joguei água fria em meu rosto, escovei os dentes e optei por um banho.

            Os braços continuavam a arder, eu ainda estava arrepiada e percebi que minha respiração estava fora de ritmo... Tudo isso por causa de um sonho? Mesmo? Eu nunca me importava com o que sonhava, na verdade, raramente me lembrava. Por que aquele sonho parecia ter uma influência tão grande em mim? Por que estava tudo tão vívido?

            Saí do banho e me vesti, não tive muita paciência e optei por uma jeans surrada e uma camiseta qualquer que Puck tinha me dado quando saímos juntos no final de semana. Não, não namorávamos, éramos apenas amigos e até Rachel saíra conosco. Aliás, Rachel tem sido uma companhia bastante agradável desde que nos acertamos. Pensando nela, me toquei ao me lembrar que ainda tinha que buscá-la em casa.

            Voltei para o quarto e um frio anormal gelou meus braços e minhas pernas... Senti como se meu coração parasse e as lágrimas chegaram aos meus olhos, fechei-os bruscamente, procurando me conter, da onde estava vindo todo aquele turbilhão emotivo? Mas o que eu encontrei não foi uma resposta e sim, foram as imagens do sonho novamente.

            Frio, neve, sangue, carros, dor...

            Meu corpo estremeceu diante da dor. Eu abracei meus próprios ombros enquanto me sentava no chão, ao lado da cama e me encolhia. O que era aquele vazio frio dentro do meu peito? Parecia com o medo... Mas não, parecia mais forte, era como se... Eu não estivesse viva. Afundei a minha cabeça em meus braços e respirei fundo uma, duas, três vezes. Continuei a tremer e agora, soluçava enquanto sufocava as lágrimas que vinham sabe-se lá de onde.

            - Quinn, querida? Já acordou? – A voz da minha mãe soou como um soco de realidade naquele momento. Rapidamente, limpei minhas lágrimas antes que ela abrisse a porta. Mas Judy Fabray era minha mãe e, provavelmente, meus olhos me entregaram antes dela falar alguma coisa.

            Minha mãe soltou a porta rapidamente e praticamente correu para o meu lado, ela me ajudou a ficar em pé e me abraçou. Eu sorri diante da falta de jeito dela, ela estava se esforçando para ser uma boa mãe agora que voltara com meu pai, estava até questionando algumas atitudes dele e isso me deixava silenciosamente feliz. Senti quando ela afagou meus cabelos, depois, ela me puxou para nos olharmos e perguntou preocupada:

            - O que foi, filha? Está bem?

            - Foi só um sonho ruim, mãe... Acho que posso lidar com isso. – Respondi um pouco insegura, mas com um sorriso falso que eu esperava que ela fosse engolir. Minha mãe pode até não ter acreditado, mas afagou meus cabelos e me deixou sozinha no quarto novamente.

            Mais uma vez, eu fui invadida por todo aquele medo, agonia e vazio... Parecia que eu estava prestes a ser tomada por uma força desconhecida, algo que pudesse tirar tudo o que eu tinha sem que eu percebesse. Algo inesperado, mais forte o bastante para me mudar completamente.

            Levantei-me e procurei me concentrar em arrumar minha mochila, coloquei o que precisava para o dia e desci as escadas rapidamente, no mesmo instante que sentia o cheiro de bacon sendo frito. Parei no espelho do corredor, antes de chegar à cozinha e me arrumei mais um pouco.

            - Acabei de fritar o bacon, tem um pouco de suco na geladeira. – Minha mãe estava me mimando demais, eu dei um sorriso realmente agradecido a ela, me esquecendo por alguns instantes da minha paranóia de minutos atrás. Eu me sentei e abocanhei um bocado de bacon e minha mãe me serviu um suco de laranja. Sorri de boca cheia e ela gargalhou. – Eu sempre acabo rindo da sua fome por bacon.

            - Realmente, é fora de controle... Não sei como consegui ficar nas Cheerios por tanto tempo. – Respondi com um tom de voz culpado e dando uma risadinha, minha mãe sorriu e afagou os meus cabelos antes de sentar-se a minha frente e me olhar. Eu tinha vergonha quando ela agia daquela forma, ela estava tentando recuperar o tempo perdido comigo e, por baixo da minha pose altiva e calma, eu já a tinha perdoado há tempos. – Mãe, pode parar de me olhar.

            - Desculpe, querida... Mas você está crescendo tão rápido e eu...! – Ela ia se culpar de novo, ela parou de falar e abaixou a cabeça. Olhei por cima dos ombros e suspirei cansada, por fim, resolvi tomar uma atitude e apanhei a mão dela em cima da mesa. Minha mãe levantou aqueles olhos esverdeados que em tanto se pareciam com os meus, eu dei um sorriso e imediatamente, a expressão dela se abrandou. Ainda com a mão sobre a dela, me levantei e disse:

            - Sim, mamãe... Estou crescendo, mas você sempre será a minha mãe e eu sempre serei a sua filha. Tá?

            Ela acenou com a cabeça e eu assenti, peguei minha mochila e saí praticamente correndo pela porta... Aquela mesma situação de transitoriedade, de efemeridade me transbordou.

            Naquele dia, as coisas pareciam escapar dos meus dedos da mesma forma que as dores em meus braços ardiam ainda mais. Como se tudo estivesse relacionado, como se tudo estivesse ali para me fazer saber que existia algo dentro de mim que não se encaixava, como uma peça solta de um quebra-cabeça desmontado.

###

            Dirigir estava se revelando uma tortura. Eu estava tremendo enquanto segurava o volante e podia sentir que meus movimentos estavam mais lentos quando eu tinha que engatar uma marcha ou dar seta em alguma esquina. Estava me sentindo cansada, alheia a tudo que estava ao meu redor... Levei um susto ao receber uma buzinada, melhor prestar atenção antes que um acidente acontecesse.

            Uma melodia conhecida começou a tocar no rádio, eu não sabia qual música era, mas sorri aliviada e comecei a bater os dedos no volante no mesmo ritmo da música. Eu não sabia qual era, mas Rach com certeza sabia, porque era ela que escolhia os filmes românticos que nós assistíamos... Aliás, lembrar de Rachel sempre me fazia esquecer o que eu sentia no momento, até aquela sensação desconfortável. Desde que tínhamos nos tornado amigas há alguns meses, as coisas estavam fáceis e eu sequer me importava com minha posição social no colégio. Almoçávamos juntas e fomos vítimas de slushies juntas, só que agora parecia tudo tão simples e divertido que eu sequer me importava.

            Rachel estava mudando minha vida, aos poucos e eu estava feliz com isso.

            Voltei a minha atenção para o trânsito e saí da avenida movimentada, entrando no bairro de Rachel. Porém, assim que virei à esquina, fui novamente invadida por aquelas sensações que não batiam com o que eu pensava... Eu me esqueci de Rachel e minhas mãos começaram a suar, ficando frias. E quando virei na esquina da casa dela, segurei o volante com força, com um medo anormal crescendo dentro de mim.

            Algo estava errado, algo não estava batendo.

            O vazio chegou acompanhado daquele buraco desconfortável em meu estômago, eles não pareciam reais, não pareciam pertencer àquele local... Meus olhos, involuntariamente, foram para meus braços que no mesmo instante, começaram a arder. Freei o carro bruscamente e tentei respirar, não consegui.

            Saí do carro, desesperada enquanto ofegava e tentava lutar com a sensação nauseante de não poder respirar. Meus pulmões ardiam e eu procurei me agasalhar enquanto me escorava na porta do carro. Respirei fundo e as coisas pareceram se normalizar quando o ar frio entrou em meu peito, ouvi passos pela grama e a voz animada de Rachel Berry:

            - Bom dia, Q!

            - Ahm é... Bom dia, Rach. – Minha voz saiu extremamente falsa e insegura, eu tentei dar um sorriso e vi Rach desfazer o sorriso ao me olhar preocupada. Fiz um gesto descontraído e ela entrou no carro, ocupei o volante com um ar inseguro enquanto ela ainda me observava. Era impressionante o efeito que Rachel tinha sobre mim, estava começando a ficar desconfortável ali. Rachel pigarreou e perguntou:

            - Está tudo bem, Quinn?

            Não estava bem, eu estava surtando por causa de um maldito sonho!

            - Sim, apenas uma noite com insônia. – Eu sei que a minha voz soou insegura, aliás, eu mesma estava insegura. Eu não queria mentir para Rachel, mas ao mesmo tempo, aquelas sensações desagradáveis que estavam tornando o meu dia um inferno, pareciam demais para ela. Tentei engatar a marcha do carro, mas não consegui. Senti o olhar de Rachel cravar em mim. – E, aparentemente, uma noite sem dormir afetou meus reflexos.

            - Quinn, você está tremendo... – Rachel murmurou preocupada, próxima de mim. A voz dela entrou como melodia em meus ouvidos e eu me arrepiei com o hálito quente dela em meu pescoço, com um pouco de força, ela engatou a marcha e eu olhei para ela, ela estava muito preocupada. – O que está acontecendo?

            Rachel afagou meu braço e instantaneamente, fui envolvida em mais uma onda de sentimentos indescritíveis. Meus pelos se arrepiaram e uma sensação gélida me tomou da cabeça aos pés, por alguns instantes, senti como se meu coração tivesse parado. Afastei-me reflexamente dela e pude ver pelo canto dos olhos que ela ficara ofendida.

            Rachel virou-se para frente e eu acelerei o carro, tentando recompor-me e voltar a respirar normalmente. Em algum momento do caminho, Rachel ligou o rádio e o aumentou em um volume que impedia que conversássemos. Ela tinha os braços cruzados sobre o peito e estava de bico. Eu dei um sorrisinho diante do bico dela e ela apenas bufou, impaciente.

            Paramos em frente ao McKinley, mas eu fui mais rápida que Rachel e travei as portas do carro. Desliguei o carro e me virei para Rachel, ela estava gélida e tinha uma expressão fechada na face. Realmente, as coisas não estavam nada bem para mim. Malditas sensações!

            - Temos aula, Fabray.

            - Me desculpe, Rachel... As coisas estão muito estranhas hoje. Eu tive um sonho ruim e não consegui dormir durante a noite, acordei com dores pelo corpo e andei sentindo coisas estranhas. – Acho que falei rápido demais, porque os olhos dela se arregalaram, estava convivendo demais com ela... Tinha pegado até a mania dos monólogos. Mas aos poucos, a expressão dela se abrandou e ela segurou minha mão com um sorriso. Esperei o frio, o arrepio... Mas me surpreendi com o calor e a eletricidade. Rachel afagou meu pulso com o polegar e disse:

            - Eu sei que você pode ser extremamente fechada com seus sentimentos, Q... Mas lembra que prometemos ser sinceras, dessa vez?

            - Eu sei e me desculpe, de novo... Estou tentando lidar com tudo isso. – Rachel acenou negativamente com a cabeça e fez um sinal de que estava tudo bem, saímos do carro e caminhamos juntas até a porta de entrada. Como sempre, alguns nos olharam como se fôssemos alienígenas... Mas eu não ligava. Sinceramente? A amizade de Rachel estava me fazendo bem.

            Rachel não só impediu que eu fizesse uma besteira, como também, estava me ensinando o valor de coisas que eu tinha me esquecido... O Glee parecia ainda mais especial, a minha posição social (ou a ausência dela) não importava mais e os banhos de slushie ficavam divertidos quando tinha alguém para lhe fazer companhia. Rachel estava me fazendo diferente e eu agradecia por ela ter me dado essa chance.

            Nos afastamos quando tivemos que tomar caminhos diferentes para nossas respectivas aulas. Observando-a caminhar sozinha pelo corredor, fui surpreendida por um aperto desconhecido no peito... Uma sensação de que eu poderia perdê-la a qualquer momento.

            O dia transcorreu sem maiores crises ou surtos, as sensações foram passando aos poucos, mas eu estava com sono e a minha cabeça doía. Como não tínhamos Glee naquele dia, eu acabaria indo mais cedo para casa. Estava indo atrás de Rachel quando recebi um sms dela:

Vou voltar com Finn, se você quiser, pode ir. Beijos e obrigada, Q. – Rachel

            Eu não sei o que aconteceu no instante seguinte, eu fui invadida por lembranças das quais eu não me lembrava ter vivido. Parecia que eu estava em um dejá-vu e que aquela mensagem desencadeara tudo... Eu me vi brincando com o celular, atravessando o estacionamento e batucando os dedos no volante e cantarolando uma música qualquer.

            Minha cabeça rodou, minhas pernas tremeram e eu fechei meus olhos, tentando respirar. Mas eu ainda estava tonta e a última coisa que eu ouvi antes de desmaiar, foi a voz de Rachel próxima a mim.

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Notas finais do capítulo

Surpreendi vocês? *-*
Eu não gosto desse capítulo, até cogitei deixá-lo em terceira pessoa... Mas eu precisava colocar a confusão da Quinn e espero que eu tenha conseguido passar isso para vocês.
Muito obrigada por continuarem a ler e vejo vocês na próxima, beijos! (: